A natureza do relatório: Quem? Como? Porquê?

O quê?
Relatório de Tendências Socioculturais, com foco nas realidades de Lisboa.

Como?
Mediante uma pesquisa empírica, de campo e utilizando sete métodos diferentes.

Quem?
Estudo realizado pelos estudantes do Mestrado em Cultura e Comunicação, com o apoio  de docentes do Programa em Cultura e Comunicação e dos membros do Laboratório em Gestão de Tendências e da Cultura. Neste sentido, este é principalmente um trabalho de natureza pedagógica para desenvolver e consolidar os conhecimentos/competências dos estudantes envolvidos.

Onde?
Estudo organizado e editado pelo Laboratório de Gestão de Tendências e da Cultura, um projeto do Programa em Cultura e Comunicação e do CEAUL (Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa)Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Quando?
O processo de estudo e sistematização dos resultados teve lugar entre entre Fevereiro de 2022 e Agosto de 2022; Fevereiro e Maio de 2021; Fevereiro e Julho de 2020.

Sobre o relatório de 2022:
Este é um ano muito díficil. Depois do longo período do COVID (que ainda não terminou) o nosso contexto encontra novamente a guerra na Europa, a subida da inflação e problemas de energia, para além de outros desafios socioculturais de grande impacto. A par disto, a seca e o impacto das alterações climáticas são claramente sentidas. Com este contexto, surge o sentimento geral que não se quer pensar no futuro, pois o sentimento é atualmente muito negativo. Este relatório, de alguma forma, traduz este sentimento da mente coletiva e procura traçar orientações estratégicas para a formulação de soluções em projectos.

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CONTEXTO

Este trabalho nasce de uma experiência pedagógica de dez anos que parte da abertura, em 2012, da Pós-Graduação de Especialização em Comunicação de Tendências até ao momento atual onde a análise de tendências socioculturais tornou-se um conteúdo e tópico de investigação no âmbito do Mestrado em Cultura e Comunicação e do Doutoramento em Estudos de Cultura. A par disso, surge também da experiência de uma “escola” portuguesa em Estudos de Tendências que se começa a desenvolver em Lisboa desde 2009 e que em 2014 vê o surgimento do Trends Observer como uma rede científica que ainda hoje é uma importante referência e arquivo de base para a nossa investigação. Tudo isto, com diferentes fases e mediante vários projetos, acaba por sublinhar a cidade de Lisboa como um palco para a análise de tendências com produção científica na área. Neste contexto, surge em 2019 o Projeto/Laboratório de Gestão de Tendências e da Cultura, associado ao Programa em Cultura e Comunicação e ao CEAUL, ambos unidades da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Esta é uma articulação entre a pesquisa em desenvolvimento num contexto de centro de investigação e a formação em contexto de estudos pós-graduados. Tendo em conta a grande quantidade de informação e um processo de observação  contínua, este relatório não assume uma natureza fechada e estará em constante atualização até Dezembro de 2022. No âmbito dos diferentes métodos de análise aplicados na fase de observação e recolha (do coolhunting aos inquéritos), selecionámos um largo conjunto de dados e de resultados para apresentar abaixo no relatório, sendo que pretendemos incluir mais até Dezembro através de um processo de curadoria partilhada.

Fruto deste contexto, e com um roteiro metodológico publicado e aceite entre os pares (aliás, parte também da experiência internacional de profissionais e especialistas), surgiu a necessidade de criar um mapa de tendências socioculturais próprio. A experiência adquirida neste processo pelos intervenientes e a existência de um corpo de docentes e jovens investigadores de doutoramento permitiu formatar o briefing para o exercício de identificação de tendências (baseado nos trabalhos de Gomes, Cohen, Cantú, Lopes, 2021; Gomes, Cohen e Flores, 2018) e trabalhar o mesmo com os estudantes do Mestrado em Cultura e Comunicação da FLUL. Este ponto é muito importante para nós. Este é um exercício científico, mas primeiro que tudo pedagógico. Os objetivos passaram também por formar estudantes de mestrado e introduzir os mesmos nesta prática de análise, revendo os resultados de aprendizagem. A par disto, os estudantes do Doutoramento em Estudos de Cultura, a desenvolver investigação em Estudos de Tendências, agiram como tutores dos mestrandos e apoiaram a orientação e o desenvolvimento da pesquisa e da análise. Não é demais sublinhar a importância de todos estes estudantes, sem os quais o estudo não teria tido lugar e que aplicaram os diferentes métodos numa análise empírica, de campo e de revisão literária. A motivação de todos foi clara e daí resulta a complexidade deste trabalho.

Noutra nota que importa sublinhar, fruto dos projetos anteriormente desenvolvidos e da missão do Laboratório, decidimos dar um cunho local a este relatório. Apesar deste tipo de investigação pretender identificar macro tendências internacionais – partindo das influências da globalização e a disseminação global de mudanças nas mentalidades; a nossa pesquisa colocou Portugal e principalmente a cidade de Lisboa em destaque. Por outras palavras, trabalhamos com tendências socioculturais observadas à luz das suas manifestações no nosso contexto e os resultados sublinham essa importante orientação.

A natureza do relatório: 
Quem? Como? Porquê?

O quê? Relatório de Tendências Socioculturais, com foco nas realidades de Lisboa.

Como?  Mediante uma pesquisa empírica, de campo e utilizando sete métodos diferentes.

Quem? Estudo realizado pelos estudantes do Mestrado em Cultura e Comunicação, com o apoio  de docentes do Programa em Cultura e Comunicação e dos membros do Laboratório em Gestão de Tendências e da Cultura. Neste sentido, este é principalmente um trabalho de natureza pedagógica para desenvolver e consolidar os conhecimentos/competências dos estudantes envolvidos.

Onde? Estudo organizado e editado pelo Laboratório de Gestão de Tendências e da Cultura, um projeto do Programa em Cultura e Comunicação e do CEAUL (Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa)Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Quando? O processo de estudo e sistematização dos resultados teve lugar entre entre Fevereiro de 2022 e Agosto de 2022; Fevereiro e Maio de 2021; Fevereiro e Julho de 2020.

Sobre o relatório de 2022: Este é um ano muito díficil. Depois do longo período do COVID (que ainda não terminou) o nosso contexto encontra novamente a guerra na Europa, a subida da inflação e problemas de energia, para além de outros desafios socioculturais de grande impacto. A par disto, a seca e o impacto das alterações climáticas são claramente sentidas. Com este contexto, surge o sentimento geral que não se quer pensar no futuro, pois o sentimento é atualmente muito negativo. Este relatório, de alguma forma, traduz este sentimento da mente coletiva e procura traçar orientações estratégicas para a formulação de soluções em projectos.

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Este trabalho nasce de uma experiência pedagógica de dez anos que parte da abertura, em 2012, da Pós-Graduação de Especialização em Comunicação de Tendências até ao momento atual onde a análise de tendências socioculturais tornou-se um conteúdo e tópico de investigação no âmbito do Mestrado em Cultura e Comunicação e do Doutoramento em Estudos de Cultura. A par disso, surge também da experiência de uma “escola” portuguesa em Estudos de Tendências que se começa a desenvolver em Lisboa desde 2009 e que em 2014 vê o surgimento do Trends Observer como uma rede científica que ainda hoje é uma importante referência e arquivo de base para a nossa investigação. Tudo isto, com diferentes fases e mediante vários projetos, acaba por sublinhar a cidade de Lisboa como um palco para a análise de tendências com produção científica na área. Neste contexto, surge em 2019 o Projeto/Laboratório de Gestão de Tendências e da Cultura, associado ao Programa em Cultura e Comunicação e ao CEAUL, ambos unidades da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Esta é uma articulação entre a pesquisa em desenvolvimento num contexto de centro de investigação e a formação em contexto de estudos pós-graduados. Tendo em conta a grande quantidade de informação e um processo de observação  contínua, este relatório não assume uma natureza fechada e estará em constante atualização até Dezembro de 2022. No âmbito dos diferentes métodos de análise aplicados na fase de observação e recolha (do coolhunting aos inquéritos), selecionámos um largo conjunto de dados e de resultados para apresentar abaixo no relatório, sendo que pretendemos incluir mais até Dezembro através de um processo de curadoria partilhada.

Fruto deste contexto, e com um roteiro metodológico publicado e aceite entre os pares (aliás, parte também da experiência internacional de profissionais e especialistas), surgiu a necessidade de criar um mapa de tendências socioculturais próprio. A experiência adquirida neste processo pelos intervenientes e a existência de um corpo de docentes e jovens investigadores de doutoramento permitiu formatar o briefing para o exercício de identificação de tendências (baseado nos trabalhos de Gomes, Cohen, Cantú, Lopes, 2021; Gomes, Cohen e Flores, 2018) e trabalhar o mesmo com os estudantes do Mestrado em Cultura e Comunicação da FLUL. Este ponto é muito importante para nós. Este é um exercício científico, mas primeiro que tudo pedagógico. Os objetivos passaram também por formar estudantes de mestrado e introduzir os mesmos nesta prática de análise, revendo os resultados de aprendizagem. A par disto, os estudantes do Doutoramento em Estudos de Cultura, a desenvolver investigação em Estudos de Tendências, agiram como tutores dos mestrandos e apoiaram a orientação e o desenvolvimento da pesquisa e da análise. Não é demais sublinhar a importância de todos estes estudantes, sem os quais o estudo não teria tido lugar e que aplicaram os diferentes métodos numa análise empírica, de campo e de revisão literária. A motivação de todos foi clara e daí resulta a complexidade deste trabalho.

Noutra nota que importa sublinhar, fruto dos projetos anteriormente desenvolvidos e da missão do Laboratório, decidimos dar um cunho local a este relatório. Apesar deste tipo de investigação pretender identificar macro tendências internacionais – partindo das influências da globalização e a disseminação global de mudanças nas mentalidades; a nossa pesquisa colocou Portugal e principalmente a cidade de Lisboa em destaque. Por outras palavras, trabalhamos com tendências socioculturais observadas à luz das suas manifestações no nosso contexto e os resultados sublinham essa importante orientação.

“Colossos e Decadências: Tendências Socioculturais 2022”.
Copyright © 2022 Laboratório de Gestão de Tendências e da Cultura, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Editado e Organizado por Nelson Pinheiro Gomes

Colaboradores Autorais 2022: Beatriz Baptista; Bruna Borges; Carolina Represas; Catarina Stoffel; Karina de Castro; Lucas Silva; Maria Alves; Margarida da Costa; Mariana Bezerra; Paula Costa; Priscila Altivo; Tiago Ferreira; Vanja Favetta.
Colaboradores Autorais 2021
: Amanda Melo, Luísa D. Cortés, Ana Manhique, Lucas Corrêa, Andressa Maia, Isabel Gomes, Maria Frederico, Catarina Domingues, João de Atayde e Melo, Luíza Caxiano, Eduardo Altafim, Vanja Favetta, Érica Monteiro, Margarida Simões, Tatiana Abrahão, Júlia Rocha, Ni Min.
Colaboradores Autorais 2020: Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques, Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos, Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang, Marianna Rosalles, Francisco Mateus, Andreia Carneiro,  Caroline Rocha,  Karliete Nunes.

Editores (ADN e Textos das Tendências): Nelson P. Gomes; Suzana Cohen; William A. Cantú; Filipa Moreira; Illa Branco; João Tojeira; Manuel Pinto Grunfeld; Raquel Sodré; Sarita Oliveira.

Design e layout por William Cantú

Organização de
Laboratório em Gestão de Tendências e da Cultura
Programa em Cultura e Comunicação e Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa
FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

Publicado digitalmente em 19-09-2022, Lisboa.
https://creativecultures.letras.ulisboa.pt/index.php/gtc-trends2022

nelsonpinheiro@campus.ul.pt

A Identificação e Análise de Tendências Socioculturais

Para a estruturação desta pesquisa seguimos as abordagem de identificação de tendências propostas por Nelson Pinheiro, Suzana Cohen, William Cantú e Clarissa Lopes (2021). A mesma foi desenvolvida com base na articulação das perspetivas de diferentes autores (a sublinhar Powers, 2018; Dragt, 2017; Raymond, 2010; Vejlgaard, 2008; entre outros) e pretende informar um modelo de Trendspotting e Trendwatching, ou seja, de identificação e análise de tendências. Este exercício pressupõe três fases: (1) observação cultural e recolha de dados (Gomes, Cohen e Flores, 2018, pp. 66-73) onde a hipótese é enquadrada tendo em conta um cruzamento das fontes analisadas; uma pesquisa qualitativa com os públicos (como sublinhado por Raymond, 2010), abordando entrevistas e inquéritos; e um conjunto de coolhunts (ver Rohde, 2011; Gloor e Cooper, 2007) – o coolhunting assume aqui um papel de destaque, como prática de inspiração etnográfica/netnográfica que procura sinais criativos que indicam a emergência de novas práticas e representações no âmbito de alterações nas mentalidades. (2) A sistematização da informação (Gomes, Cohen e Flores, 2018, pp. 74-75) pressupõe uma interpretação aprofundada dos dados e a sua análise num contexto de geração de ligações por afinidade (ver também Dragt, 2017; Mason et. al, 2015) para sistematizar a informação e criar grupos de dados que permitem construir uma perspetiva clara sobre a arquitetura e natureza das tendências. (3) a última fase pressupõe o desenho e a arquitetura do ADN da tendência (Gomes, Cohen e Flores, 2018, pp. 87-77) onde, com base nos grupos sistematizados, identificamos a natureza da tendência sociocultural e construímos o seu ADN e o texto descritivo da mesma. Estes textos passam depois pelo crivo de um grupo de pares, especialistas em Estudos de Tendências e em dinâmicas socioculturais, através de um processo Delphi ou de um grupo de foco, de forma a rever o texto final à luz dos dados da investigação.

Horizonte Temporal e Escopo
As tendências não nascem e morrem de um ano para o outro e também não sofrem alterações profundas num minuto. Neste sentido, queremos reproduzir interpretações baseadas em elementos recolhidos no ano específico da análise (o mais rico em termos de alguns dados), mas não queremos desconsiderar os elementos recolhidos nos anos anteriores. Fruto do nosso conhecimento das dinâmicas das tendências (das suas mutações, articulações e transformações), é importante compreender a sua evolução num espectro mais largo. O nosso objetivo não é comercial, onde existe a pressão para apresentar “algo novo” a cada ano. O nosso objetivo consiste em monitorar as mudanças no mapa sociocultural que impactam a cidade de Lisboa e o seu macro contexto. Assim, cada relatório considera também os dados e as leituras dos anos anteriores, em ciclos de três anos, articulando os mesmos com a visão mais recente sobre novas dinâmicas e fenómenos.

Em termos de espaço, temos consciência que o processo de globalização dissemina mentalidades  num rápido ritmo e num expectro internacional (apesar das últimas discussões sobre a desaceleração da globalização). Neste sentido, estas macro tendências são também um reflexo desses movimentos de ideias estruturadas. Por outro lado, compreendemos as limitações desta perspetiva, pois cada realidade geográfica tem características específicas. Isto obriga ainda mais a uma articulação entre redes/instituições e especialistas para partilhar os diferentes objetos e as suas interpretações contextualizadas. Importa gerar uma discussão com pessoas diferentes, oriundas de espaços diversos e com experiências e visões também diversas. Este estudo, consciente de todas estas questões, contribui para uma perspetiva local, inserida num contexto que se diz ocidental, com foco nas realidades da cidade de Lisboa.

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Aplicação do Exercício

Como já foi referido, este trabalho surge de um contexto pedagógico e está inserido em unidades curriculares de 2º e 3º ciclo no âmbito do Programa em Cultura e Comunicação da FLUL. Neste sentido, o que aqui apresentamos são os melhores resultados dos nossos estudantes, num processo de aprendizagem e de desenvolvimento de competências – que traz naturais limitações em termos da recolha e análise, fruto de um processo de aprendizagem contínua.

Os estudantes de mestrado que participaram em 2020 foram organizados em cinco grupos, cada um com uma hipótese inicial e um conjunto de tópicos culturais associados. Cada grupo desenvolveu a sua pesquisa e o processo de identificação de tendências, seguindo o modelo de três fases atrás descrito que foi traduzido num briefing com instruções específicas pelo docente responsável, o Prof. Nelson Pinheiro. A investigação, desde a primeira fase até à entrega dos textos preliminares das tendências, teve lugar entre 5 de Fevereiro e 15 de Maio de 2020. Cada grupo, para além do docente responsável, teve o apoio de um tutor – doutor ou estudante de doutoramento a desenvolver investigação na área dos Estudos de Tendências. Em 2021, fruto da evoluções do contexto pandémico, cada grupo foi destacado para a monitorização de uma macro tendência identificada no ano anterior e identificação de possíveis micro tendências; e para a hipótese de uma micro tendência relacionada com as manufacturas urbanas e culturais colectivas. Em 2022, o exercício foi desenvolvido individualmente, beneficiando da experiência dos anos anteriores.
Na primeira fase os estudantes abordaram seis métodos diferentes, de acordo com o seu exercício:

Método 1 – Desk Research, Pesquisa de fontes secundárias.
Também conhecida como pesquisa secundária, procura identificar trabalhos já realizados sobre a hipótese e os seus tópicos, ao contrário do trabalho empírico e de campo realizados de raiz para a investigação. Foram considerados relatórios e outras fontes capazes de trazer dados iniciais para a pesquisa. Este exercício foi desenvolvido tanto por estudantes de 2020, de 2021 e de 2022, sendo que em 2021 também se promoveu uma breve revisão literária.

Método 2 – Clipping dos Media
Partindo da premissa de que os media sublinham questões de destaque em discussão na praça pública, este relatório beneficiou da recolha notícias dos principais jornais nacionais e de outras fontes internacionais relacionados com as hipótese em estudo.

Método 3 – Coolhunting
O método de Coolhunting foi aplicado de forma exploratória com base numa amostra não-probabilítica por conveniência. A aplicação do método foi sofrendo alterações entre 2020 e 2022, incluindo, em alguns casos, novas categiorias de análise e um processo articulado conforme exposto em Gomes e Cantú (2022). Isto, sem deixar de seguir um guião tradicional inspirado por autores como Rohde (2011) e Dragt (2018), entre outros, que implica a identificação e descrição do sinal, a sua análise face à inovação e o conceito de “cool”, bem como os insights estratégicas que sugere.
Em média, cada grupo de 2020 e 2021 identificou 20 sinais Cool e cada estudante em 2022 identificou uma média de 5 sinais. Destes, cada grupo analisou em profundidade os que consideraram mais representativos da hipótese/tendência. Na análise dos resultados foi considerado o universo total de sinais identificados por cada grupo, com destaque para os significados e insights impressos nos sinais mais representativos das hipóteses.
Em 2022, este foi o principal método do esforço analítico. A partir deste ano, sempre que pertinente, foi aplicado o guião já citado, desenvolvido por Gomes e Cantú (2021), para incluir questões de análise semiótica, de grupos de estilo de vida, entre outros elementos.

Método 4 – Análise de Conteúdo
Partindo da premissa que a produção audiovisual tem o potencial de traduzir mudanças nas mentalidades e a emergência de novas narrativas e construções simbólicas, importa compreender os significados que se encerram nestes produtos. Em 2022, inspirados pelo método da análise de conteúdo como introduzido por Bardin (1979) e Wimmer e Dominick (2011), desenvolvemos a análise para outras séries, das quais destacamos o Festival da Eurovisão.
Os grupos de 2020 recolheram informações sobre (1) os filmes exibidos em Portugal nos últimos cinco anos (1860 títulos revistos) e (2) as produções disponíveis na plataforma Netflix em Portugal. Cada grupo analisou as sinopses e os conteúdos de cada objeto e sublinharam as devidas associações com as hipóteses, de modo a compreender o peso e a expressão de cada tendência no total das produções analisadas.
Em 2022, abordámos cada música presente nos últimos anos das Eurovisão para verificar os resultados, os conteúdos e as temáticas das mesmas.

Método 5 – Inquéritos
Cada grupo de trabalho desenvolveu um inquérito para habitantes, trabalhadores ou estudantes da cidade de Lisboa a ter lugar online com recurso a comunidades das redes sociais. Os inquéritos tiveram lugar entre 20 de Abril e 9 de Maio 2020, tendo o exercício obtido um total de 496 participações, no âmbito de uma amostra aleatória. Em 2021, certos grupos decidiram também fazer questionários para confirmar as informações recolhidas. Em 2022 testámos um novo guião, mas os resultados foram estatisticamente insuficientes para gerarem insights e conclusões por si só.

Método 6 – Entrevistas
Em 2022 sublinhamos 13 entrevistas a especialistas na área da cultura e da criatividade, a maioria com ligações em Lisboa. Foi seguido o mesmo guião semi-estruturado partilhado com todos os entrevistadores que, no fim, após uma padronização sistemática e interpretativa, apresentam os principais insights derivados dos contactos. Para o efeito, tivemos em consideração as ponderações de Grant McCracken (1988) sobre o processo, o contexto de aplicação e a estrutura a desenvolver para o método.
Em 2020, cada grupo de trabalho realizou entrevistas semi-estruturadas por conveniência com indivíduos do público geral, ou com profissionais/especialistas relacionados com os tópicos das hipóteses. No total, tiveram lugar, entre 15 de Abril e 13 de Maio de 2020, um total de 51 entrevistas. Destas, 12 com o público geral e 39 com profissionais ou especialistas nas temáticas.

Método 7 – Grupos de Foco
i) No dia 04 de Maio de 2022, após uma ronda de discussões inspiradas no método Delhpi, os membros do Laboratório em Gestão de Tendências e da Cultura – com base numa recolha de dados anterior a estudantes de licenciatura e de estudos pós-graduados – definiu os principais tópicos culturais/do zeitgeist a considerar neste estudo, capazes de orientar as diferentes hipóteses e exercícios analíticos: __ Polarização  __ Distopias  __ Bem-Estar  __ Identidades  __ Género __ Ansiedade  __ Ambiente  __ Realidades Digitais  __ Tecnologia  __ Democracia  __ Desigualdades  __ Fluidez  __ Trabalho  __ Migrações  __ Guerra  __ Pandemia  __ Energia __ Crise  __ Ideologia  __ Mobilidade  __ Inflação  __ Espaço (Cosmos).
ii) Em Junho de 2022, após reunirem os dados de cada método e de tirarem as conclusões iniciais (que partilhamos neste relatório mais abaixo), cada estudante sistematizou a informação e os resultados e agruparam os mesmos por afinidades em insights (pistas estratégicas) sobre a natureza da tendência em estudo. Com isto, de seguida, estruturaram algumas bases para o ADN das macro e micros tendências.
iii) Em 2022, antes da discussão da natureza das tendências, o laboratório promoveu um grupo de foco para discutir informação adicional, perspetivas e leituras sobre diferentes dinâmicas, acontecimentos e objectos socioculturais, de forma a melhor informar posteriormente a identificação, revisão e descrição das tendências socioculturais. Tiveram lugar duas reuniões de 3 horas em Julho de 2022.
iv) Com estes dados e os principais resultados da pesquisa, incluindo os grupos de foco, os investigadores e jovens investigadores do Laboratório em Gestão de Tendências e da Cultura reviram as descrições já estabelecidas e o ADN das tendências, mediante um novo processo de grupo de foco, que deu lugar aos textos das tendências no dia 17 Agosto de 2022. Os textos seguiram ainda para um processo digital de revisão, inspirado no método Delphi, que permitiu encerrar as descrições e o ADN final das tendências no dia 30 de Agosto de 2022.

 

Referências:

BARDIN, L. (1979). Análise de Conteúdo. Translated by Luís Reto and Augusto Pinheiro. Lisboa: Edições 70.

DRAGT, Els (2017). How to Research Trends. Amsterdam: Bis Publishers.

DRAGT, Els (2018). How to Research Trends: Workbook. Amsterdam: Bis Publishers.

GLADWELL, Malcolm (2006). The Tipping Point: How little things can make a big difference. New York: Little Brown.

GLOOR, Peter e Scott Cooper (2007). Coolhunting: Chasing down the next big thing. New York: Amacom.

GOMES, N., Cantú, W. (2021). Cultural Mediations Between Branding and Lifestyles. In R. S. Goonetilleke et al. (eds.), Advances in Physical, Social & Occupational Ergonomics. Switzerland: Springer.

GOMES, N.; Cohen, S.; Cantú, W.; Lopes, C. (2021). Roteiros e modelos para a identificação de tendências socioculturais e a sua aplicação estratégica em produtos e serviços. Moda Palavra. 14(32), 228-272.

GOMES, Nelson; Cohen, Suzana; Flores, Ana Marta (2018). “Estudos de Tendências: Contributo para uma abordagem de análise e gestão da cultura”. Moda Palavra, V.11, N.22.

HIGHAM, William (2009). The Next Big Thing. London: Kogan Page.

MCCRACKEN, Grant. (1988). The Long Interview. London & New Dehli: Sage Publications.

MASON, Henry; MATTIN, David; LUTHY, Maxwell; DUMITRESCU, Delia (2015). Trend Driven Innovation. New Jersey: Wiley.

PORTA, D.; KEATING, M. (2008). Approaches and Methodologies in the Social Sciences: A pluralist Perspective. Cambridge: Cambridge University Press.

POWERS, D. (2019). On Trends: The Business of Forecasting the Future. University of Illinois: Illinois.
(2019)

RAYMOND, Martin (2010). The Trend Forecaster´s Handbook. London: Laurence King.

ROHDE, Carl (2011). “Serious Trendwatching”. Tilburg: Fontys University of Applied Sciences and Science of the Time.

VEJLGAARD, Henrik (2008). Anatomy of a Trend. New York: McGraw-Hill.

WIMMER, R.; DOMINICK, J. (2011). Mass Media Research. Boston: Wadsworth.

O nosso código sociocultural.
“Culture is ordinary” and “a whole way of Life”
(R. Williams)

macro // Narrativas Ancoradas 

Sumário: As estórias e os diferentes elementos simbólicos são as bases narrativas para criar processos de identificação, de comunicação, de desconstrução da memória e de imersão nas experiências quotidianas cada vez mais narradas e “gamificadas”.

Descrição: Esta tendência sublinha a importância dos repositórios simbólicos e os processos de construção de narrativas. O seu papel e disseminação são tão grandes, que quase ganha uma dimensão superior às restantes macro tendências. Num mundo em constante e crescente mudança – cada mais plural, fluido e líquido – estes repositórios atuam como âncoras. Eles permitem uma construção simbólica com base (1) em elementos sólidos das memórias coletivas e (2) numa personalização tanto criativa como mimética. O resultado são construções fluidas – entre o passado e a experiência individual – já não projetadas para o futuro, mas sim para um presente.
Estas estórias e narrativas são criadas com base nas fontes simbólicas e fruto de uma curadoria que procura gerir uma fluidez entre memória e a personalização criativa das estórias. São reciclagens sígnicas num constante processo de revisão dos significados, uma contínua revisitação dos símbolos que se encontram nos espaços físicos e digitais e que geram novas formas de narrar e de envolver os públicos. Isto, considerando uma imersão que ultrapassa as diferentes fronteiras do real e da perceção.
Através de estórias, os diferentes produtores de significado ganham personalidade; as narrativas ganham um maior papel como lazer “gamificado”;  os espaços criam narrativas a ser experienciadas; as comunidades geram processos de reconhecimento e identificação que transitam entre o coletivo e a construção individual; criam-se processos de relação entre públicos, artefactos e instituições; o autêntico é debatido e redesenhado/revisitado. A legitimidade do processo e das narrativas fica emaranhada na fluidez das referências e das camadas das estórias, onde o reconhecimento de autoridade tem um papel cada vez maior. A crise da liquidez começa também agora a receber as suas maiores críticas, mas a solidez totalitária ainda é uma estrutura longe do coletivo.

Tópicos do Zeitgeist: Polarização; Distopias; Identidades; Realidades Digitais; Fluidez; Guerra; Ideologia; Espaço (cosmos).

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micro // fronteiras das narrativas e do medo
O presente tem vindo a ser construído em cima de rápidas e sucessivas rupturas nas narrativas vigentes. A sensação de ameaça foi novamente introduzida pela pandemia de Covid-19, e continua a estar presente com o escalar da violência no leste da Europa, um medo construído com base numa proximidade inesperada dos maiores temores da Humanidade. É cabal que o medo e a expetativa de risco estejam mais evidentes no dia-a-dia de todos. Nestes momentos de violenta fragmentação, há oportunidades para recriar narrativas e modificar os repositórios simbólicos. O mundo ficou mudou com estas experiências dos últimos dois anos, à medida que as histórias se fizeram mais comuns e as lutas mais próximas. Isto aproxima a linguagem, as fontes de saber, a partilha de relatos e a empatia por pessoas e culturas de todo o mundo. A crescente distância aumenta esta necessidade e interesse.
Associação a macro tendências: Narrativas Ancoradas + Redesenho de Estilos de Vida.

 

Micro // realidades “gamificadas”
O processo de jogo, o escape aos acontecimentos diários, leva a uma intensificação de processo de gamificação. As mecânicas de jogos entram cada vez mais em diferentes domínios e alteram não só as realidades como a ligação entre comunidades e grupos. O lazer está rapidamente a expandir-se para o domínio digital com marcas a infiltrarem os mundos digitais, concertos no meio de vídeojogos e uma nova perspetiva sobre aventuras digitais. Aliás, há muito a dizer sobre o próprio conceito de jogo. Para muitos, as comunidades tribais digitais, estes mundos complexos já não são apenas jogos, mas a sua principal realidade, aquela a que dedicam as suas paixões e tempo. Isto gera fortes comunidades de estilos de vida com práticas e representações próprias. Nos supermercados, espaços de restauração, na escola, na praça público, em tudo vemos processos de gamificação e de articulação entre o físico e o digital. As narrativas, comunidades e dinâmicas digitais estão a crescer e têm um grande potencial no contexto do fim da fronteira entre o físico e o digital. 
Associação a macro tendências: Narrativas Ancoradas + Identidades Protagonistas + Ligações Ergonómicas

  

Micro // narrativas das origens
O orgulho das origens é algo em longo destaque nas últimas décadas. As nossas macro tendências também sublinham isto claramente. Contudo, há mutações nas mentalidades em jogo que opõem um orgulho positivo pelas suas identidades e origens que dão lugar a sentimentos de identificação, de pertença e de comunidade, até ao extremo dos localismos e nacionalismos que, além de diferenciar, também excluem – que deixam o outro de fora e que querem montar fronteiras. Este é mais um elemento que sublinha as fortes polarizações atuais e que leva a diferentes choques nos discursos e nas práticas.
Associação a macro tendências: Narrativas Ancoradas + Identidades Protagonistas.

  

micro // arquipélagos urbanos e digitais
A experiência na cidade difere entre os seus habitantes, a partir de uma matriz fortemente relacionada com o acesso ao próprio espaço urbano. No cenário das grandes cidades observamos a formação de novas zonas, dispersas no espaço coletivo mas centrais em termos de referenciais identitários, culturais e da produção de identidades. Estas ilhas compõem um arquipélago de realidades que entram em contato no convívio quotidiano, provocando encontros de descoberta e tensão entre identidades, práticas, representações e discursos mediados por diversas manifestações socioculturais. Falamos de cidades híbridas como espaços não fixos que possibilitam navegações. Aliás, como a nossa filiação identitária é plural, muitas vezes navegamos pelos diferentes espaços identitários, de realidade em realidade, de narrativa em narrativa, articulando o divergente através da vivência dos espaços. Estes últimos, para além do ambiente físico, ganham dimensões virtuais a partir de conteúdos digitais interativos que podem ser acedidos em qualquer lugar. O fluxo e a interação globais, físicos e digitais, atingem um novo escopo de possibilidades, ligando pessoas a espaços através da promoção de experiências que agora podem ultrapassar e misturar limites anteriores.
Associação a macro tendências: Narrativas Ancoradas.

   

micro // iNostalgia
O sentimento de nostalgia, já não enquanto saudade idealizada do passado, promove representações, práticas e artefactos anacrónicos, influenciando comportamentos, espaços e produtos nas dinâmicas atuais. Esta tendência tem ao seu alcance o repertório simbólico e o contexto em que habitam os artefactos e a memória coletiva. Aliás, é uma sólida micro no contexto macro das narrativas e identidades. Muitas vezes, é uma construção idealizada através da memória, da narrativa, ou da construção de outro. Uma articulação e hibridização entre a nostalgia de algo vivenciado e de algo sonhado, ou assimilado por contacto secundário. Uma convergência de memórias e de imaginários, agora com um novo “storytelling” potenciado pelas redes sociais e capaz de influenciar mitos e visões políticas. Neste mundo em constante mudança, mas também preso a uma perpetuidade consciente de crises que esgotaram o futuro, as memórias fortes e os símbolos mais sólidos são guias, uma segurança, e uma estabilidade que permitem ainda navegar as mutações de identidades e padrões de produção/consumo cultural. Esta micro tendência vai para além da coisa, sublinhando-se a importância do sentido que, sendo sempre algo individual, parte da estrutura coletiva e não privada – é partilhado, mas também cada vez mais artificial. Valendo-se de referenciais consolidados no imaginário coletivo, o desenho de experiências; de obras audiovisuais; e de outras soluções ao nível de produtos culturais e serviços recorrem à adaptação ou atualização de narrativas já existentes num constante “remake” do repositório simbólico global.
Associação a macro tendências: Narrativas Ancoradas.

  

micro // linguagens (in)flexíveis
Cada vez mais, importa estar contextualizado nos repositórios simbólicos mais pertinentes do momento. Do digital, ao mundo dos jogos, e à crescente pulverização de comunidades urbanas surgem cada vez mais dialectos com um potencial para separar e/ou juntar indivíduos. Isto obriga a uma fluência cultural cada vez mais plural e capaz de gerar articulações inovadoras entre diferentes ambientes e grupos. A crescente velocidade de mudança das linguagens, dos objetos e das práticas aliada à crescente mutação e mudança do cool promove uma necessidade de atualizar constantemente as literacias do quotidiano para manter um processo atualizado de codificação e de descodificação dos discursos e da produção cultural. As próprias ferramentas, muitas delas digitais como aplicações, moldam as linguagens. Importa ponderar estratégias à luz deste novo sistema de produção de significados e representações.
Associação a macro tendências: Narrativas Ancoradas + Identidades Protagonistas. 

macro // Identidades Protagonistas

Sumário: A discussão crescente sobre as identidades ao nível da tensão entre categorias coletivas, emergentes e reconhecidas, e a fluidez da construção individual da(s) identidade(s) que articulam os movimentos sociais coletivos e o crescente individualismo desta modernidade.

Descrição: Esta tendência sublinha uma tensão, de grande mudança, entre os protagonismos coletivo e individual. Uma tensão entre dois movimentos distintos: (1) as categorias coletivas em debate e (2) o fim das mesmas numa construção individual. Esta ambiguidade resulta num hibridismo e numa revisão constante do conceito de identidade. Uma porosidade pendular que tanto enaltece as categorias como recusa os rótulos. Uma tendência que sublinha várias representações e construções identitárias em diálogo permanente e perpétuo, na busca por um resultado final que não existe e cujo futuro imaginado muda a cada momento. A tensão entre protagonismos individuais e coletivos é uma oportunidade de construir um processo de discussão que conta com rupturas, catarses, revisitações e questionamentos.
Assim, a ânsia por representatividade surge pela urgência do auto-identificar, auto-pertencer e auto-expressar para além do que reconhecem as autoridades – órgãos governamentais e a sociedade em geral. A equidade nas relações humanas passa a ser o foco principal. Vivenciamos uma constante revisitação de categorias, que também se tornam alvo de contestações, disputas e resistência: a memória oficial parece não bastar enquanto forma de representação de diferentes grupos que coexistem nos mesmos espaços. Vemos, então, a atualização de ferramentas socioculturais para a manutenção e valorização de memórias coletivas e matrizes identitárias individuais e comunitárias, acompanhando as transformações dos modos de vida e as possibilidades sociais, económicas e tecnológicas. A procura pelas histórias fundadoras não desaparece, agregando uma proposta de reciclagem do olhar sobre o passado que permita a inclusão de matrizes identitárias não hegemónicas enquanto voz ativa; e do peso de novas dinâmicas híbridas e grupais muitas vezes baseadas na partilha de determinadas representações, artefactos e práticas de consumo.
Em simultâneo, verificamos que as denominações e formas de expressões identitárias atuais, e mais tradicionais, não são suficientes na demanda por uma auto-expressão que com o passar dos tempos se tornou mais plural do que nunca. Atualmente, vivemos a expansão de categorias identitárias, uma construção que surge de dentro de cada um para fora e para o visível. A memória é desafiada pelas vozes que surgem de dentro e pela liquidez na construção das arquiteturas identitárias individuais e grupais. Uma construção de identidades protagonistas sem fronteiras e sem restrições.

Tópicos do Zeitgeist: Polarização; Identidades; Género; Democracia; Desigualdades; Fluidez; Ideologia.

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Micro // empatia(s)
Por um lado, vemos um processo rápido de reversão da tolerância e de falta de empatia pelo outro que é diferente. Promovido por alguns discursos políticos, artigos de opinião, e pelas dinâmicas das redes sociais, há um sentimento geral de exclusão dos sentimentos, perceções e vivências do outro. O tom jocoso muitas vezes mascara o ataque, a crítica, a desconsideração. São movimentos de reação a discursos liberais das últimas décadas. Não obstante, esta é mais uma tendência de extremos, pois também temos a empatia positiva das identidades num apoio à revisão das estruturas de poder/políticas e uma maior consideração, presença e discussão das diferentes vozes. Neste momento, a polarização leva a um choque violento entre as duas visões. Sendo difícil prever a evolução futura, este é claramente um momento de reacionarismo por um lado e de resistência(s) por outro. Afinal, muitos não acompanharam as mudanças, que agora estão visíveis no mainstream e causam estranhamento e rejeição, gerando um apego ao conservadorismo para se proteger desse novo mundo desconhecido.
Associação a macro tendências: Identidades Protagonistas

 

micro // corpos políticos
Num contexto de falta de equidade na representatividade e de confiança nas autoridades e nos media, somos nós corpos políticos, os principais agentes ativos de transformação. Surge assim um movimento de grupos que procuram, de forma coletiva e individual, tomar as rédeas e promover políticas, transformando os sistemas atuais e enfrentando medos e reações adversas das classes dominantes. A expressão destes corpos políticos é múltipla e já não é uma questão física e material. Ela está latente nos discursos e na rotina online. É uma política orientada não só para ideias, mas também para identidades, sublinhando a reivindicação da existência comum, do direito ao quotidiano e a fruição do que já foi conquistado. É também a liberdade estética dos corpos livres nas suas diferentes expressões.
Associação a macro tendências: Identidades Protagonistas

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micro // polarizações
Vivemos num mundo polarizado, gerado pelas diferentes perspetivas sobre política, economia, identidades, comunidade, pertença, práticas e crenças. A polarização é uma contra força em relação à pulverização de narrativas, de identidades e de perfis, gerando novos tipos de públicos: polarizados. A polarização vem de fora (do coletivo) para dentro (para o indivíduo) como a negação de algo. Não há meio termo nem lugar para os que não estão nos polos. Sublinhe-se a necessidade de escolher um lado claro, uma escolha imposta. Podemos ser “cancelados” de acordo com o lado escolhido. A desinformação, a falta de informação, a iniquidade, e o acesso fácil – muitas vezes anónimo ou impessoal – a plataformas sociais para a partilha de opiniões promovem esta violência que se ancora no antagonismo em relação ao outro. Recentemente, vemos que os extremos das polarizações encontram-se entre si. A questão das identidades desperta questões que tocam a polarização e a intolerância, ao passo que também desperta questionamentos progressistas. Curiosamente, esse pensamento questionador e progressista também encontra eco, paradoxalmente, no discurso conservador.
Associação a macro tendências: Identidades Protagonistas

 

micro // tribos Cool
No seio desta liquidez identitária de uma perene, mas agora em destaque, tensão entre uma matriz individual e comunitária, sai reforçada a discussão sobre a construção de estilos de vida associados aos interesses e traços identitários de cada um. Tal como nas décadas anteriores, eu pertenço a grupos e contruo um estilo de vida, mas a forma como navego nos mesmos é cada vez mais líquida. Eu desenvolvo a minha interpretação das dinâmicas, representações, práticas e artefactos por trás de cada grupo e escolho aqueles que fazem sentido para mim, numa negociação constante com o grupo e com a minha própria voz. A minha identidade é um mosaico de associações, num guião que escrevo a cada dia, e com isto acabo por contribuir para a reinvenção dos próprios grupos a que pertenço nas diferentes realidades. Aliás, tentando acompanhar as diferentes possibilidades sociais, económicas e tecnológicas, sublinha-se esta tensão entre o coletivo e individual individualismo expressa nos corpos e ultrapassando a fisicalidade: vemos uma crescente pluralidade de avatars e identidades digitais que sublinham os diferentes papéis, interesses, necessidades e associações: a tribalização do digital.
Associação a macro tendências: Identidades Protagonistas + Ligações Ergonómicas

   

micro // exponencialmente real
Num mundo onde existe um excesso de produção de conteúdo e cada vez mais ferramentas e técnicas de manipulação, o consumidor quer identificar-se com narrativas originais que permitam (i) um processo de identificação; (ii) um processo de descoberta e/ou resolução de problema numa dinâmica quase “gamificada”; (iii) o desenvolvimento de competências e de ideias; (iv) um entretenimento imersivo e por vezes interativo. É verdadeiramente um “reality show”, onde rotinas são expostas, promovidas, validadas e/ou vendidas. Sim, de certa forma, os estilos de vida “estão à venda”. Isto obriga as marcas, os influenciadores e a população em geral a um escrutínio crescente – muitas vezes até uma perseguição para encontrar falhas e denunciar. Isto numa perspetiva de grande visibilidade e escrutínio público-privado, podendo homologar indivíduos, personagens, produtos e marcas, entre outros. Estas necessidades e a capacidade de escrutínio obrigam a um excesso na procura pela originalidade e sugerem a necessidade de uma transparência total. Estamos perante uma fusão e vulnerabilidade entre o físico e o digital (a queda das fronteiras), entre o próprio e o público, pelo que estas identidades protagonistas devem estar acessíveis em todos os momentos e aspetos do quotidiano, permitindo uma imersão total que cria uma tensão no conceito de real e que gera uma exposição num contexto promovido de anti-privacidade consentida. Aliás, a pandemia veio sublinhar ainda mais o fim da divisão entre espaços/momentos privados e públicos, exigindo uma hipérbole do visível em binómios como online-offline, em direto-diferido, físico-digital, ou até entre trabalho-escola-lazer, entre outros. Tudo isto resulta na necessidade de ir a novos níveis para estabelecer relações de afinidade e isso passa também por abrir portas ao nosso quotidiano, ou a formas de produção e logística, numa imersão na vida do outro que influencia grandes grupos.
Associação a macro tendências: Narrativas Ancoradas + Identidades Protagonistas + Ligações Ergonómicas

macro // Ligações Ergonómicas

Sumário: Cada vez mais, o foco está nas articulações entre utilizador, “gadget” e potencialidades de controlo/ação, bem como no fim das fronteiras entre as realidades física e digital, que sugerem uma promessa de hibridismo em construção.

DescriçãoArticulações e realidades estão a tornar-se as duas palavras-chave que estão a mudar um largo número de dinâmicas. O desenvolvimento tecnológico aposta em articular funcionalidades para os diferentes estilos de vida dos consumidores e utilizadores. Do trabalho híbrido às aulas online, são várias as manifestações que procuram uma maior articulação entre escola, trabalho, família, lazer, e outros momentos da nossa vida.
Os diferentes dispositivos promovem uma convergência entre funcionalidades, fisicalidades e estilos de vida, sublinhando a internet das coisas, muitas vezes com uma faceta de entretenimento ou até de “gamificação”. Assim, é cada vez mais clara a articulação entre estilos de vida, acesso facilitado/total e dispositivos que servem como extensão do corpo humano, sugerindo até uma naturalização do processo e o fim das fronteiras entre soluções das realidades física e digital. O fim destas fronteiras altera a forma como trabalhamos, como desfrutamos do lazer, como comunicamos e como vemos a própria realidade. As nossas realidades e identidades digitais tornam-se tão importantes, ou mais, do que as físicas: são o espaço de dinâmicas comunitárias, de acesso, de promover a voz, de criar e de ser noutro contexto. Um acesso desenhado para as necessidades e desejos de cada indivíduo e de cada comunidade ao nível dos diferentes espaços e momentos do quotidiano. Aliás, transferimos muitas atividades que antes só fariam sentido, ou considerávamos viáveis, no físico para o digital.

Tópicos do Zeitgeist: Distopias; Bem-estar; Identidades; Realidades Digitais; Tecnologia; Fluidez; Trabalho; Mobilidade..

 

micro // a pressão do agora
Com diferentes aplicações queremos acesso a produtos que chegam à porta de casa o mais rapidamente possível – da comida a jogos de computador, incluindo também vestuário, livros, tecnologia, entre outros. Tudo isto sem falar no acesso à informação e às pessoas. Contudo, há discussões sobre a sustentabilidade deste sistema, a cadeia por trás dele e o impacto que recentes eventos internacionais estão a ter na capacidade de responder a este interesse.
Associação a macro tendências: Ligações Ergonómicas + Redesenho de Estilos de Vida.

  

micro // detox digital
Surge, cada vez mais, a consciência de que há um uso excessivo do domínio virtual e de dispositivos tecnológicos. O que, consequentemente, se traduz numa decadência da privacidade, devido à grande artilha de informação na internet e nas respetivas redes sociais, incluindo cedência de dados, etc. Porém, estar-se ciente da atenção dada ao domínio tecnológico fomenta comportamentos associados à fuga do virtual. Muitas vezes, esse desejo apoia-se no uso de dispositivos que são fruto do próprio avanço tecnológico. É um paradoxo. Usam-se serviços e produtos criados pelo próprio desenvolvimento da tecnologia, com o objetivo de travar o uso excessivo de dispositivos criados por esse mesmo desenvolvimento tecnológico. Também vemos um controlo das movimentações via telemóvel, o reconhecimento facial, a medição de temperatura como bilhete de acesso a espaços públicos e privados e a partilha de dados de saúde no geral. Tudo é ampliado numa epidemia de repercussão mundial que tende a modificar as noções de privacidade, de civilidade e de liberdade. Tem lugar um processo de ação e reação: O excesso de informação, a aceleração do tempo, o aumento da pressão, a redução das fronteiras, a polarização, e este controlo, entre outros fatores, geram a necessidade de uma “desconexão” e do cuidado com o corpo e a mente. Mas num mundo onde tudo é controlado, revisto e criticado; onde o dito e o não dito são escrutinados; e onde a falta de privacidade impera cada vez mais, importa problematizar a ideia de uma observação/escrutínio, a vigilância consentida.
Associação a macro tendências: Ligações Ergonómicas + Redesenho de Estilos de Vida.

 

micro// digitalização dos estilos de vida
A ideia de que agora “tudo”, ou quase, pode ser vivido no digital coloca ainda mais em discussão a premissa de um uso excessivo da tecnologia, gadgets e do digital como um todo. A ideia de que o digital é negativo não impede em simultâneo uma migração e apropriação digital. Com a massificação do conceito de metaverso, agora “tudo é possível” neste espaço: jogos, concertos, entrevistas de trabalho, postos de trabalho, encontros amorosos, dinâmicas sociais, aulas, entre outros. Não obstante, o metaverso é uma conceção e uma promessa, ainda não é algo concreto. Essa promessa é a chave de algo que passa pela desmaterialização e que abre a porta para realidades híbridas que fazem mais sentido em várias esferas, do trabalho ao lazer. Isto gera todo um conjunto de processos de digitalização de objetos do mundo físico para a realidade digital, como os concertos digitais e lojas de marcas conhecidas que emergem videojogos, o desenvolvimento da moda digital, o imobiliário digital, os casamentos ou as salas de aula no metaverso. Para além disto, ainda há muito potencial no próprio cruzamento entre o espaço físico e digital como o Pokemon Go sublinhou e outros têm vindo a trabalhar. Não obstante, para além de questões de privacidade e controlo dos dados, há também que ter em conta como estes espaços e dinâmicas podem ser usadas para gerar mais polarização e efeitos sociais negativos.
Associação a macro tendências: Ligações Ergonómicas + Redesenho de Estilos de Vida.

 

micro// pressão da curadoria perpétua
O acesso a objetos, espaços e momentos de lazer – músicas, filmes, séries, entre outros – procura uma curadoria à medida que tenta encontrar as expressões, no momento, de desejo dos públicos. Os “influenciadores” são uma das faces desta pressão de uma curadoria que passa de uma autoridade com credenciais para uma autoridade com reconhecimento popular, e onde o conteúdo é rei. Com a pandemia, vemos uma crescente necessidade de acompanhar tudo digitalmente, o que gera um mundo permanente de “reality show/tv” sobre qualquer aspeto quotidiano em direto e que requer uma longa discussão sobre a curadoria de conteúdos.
Associação a macro tendências: Ligações Ergonómicas.

macro // Sistemas Sustentáveis

Sumário: Da ideia de sustentabilidade ainda influenciada por ideias pré-2012, passamos para uma sustentabilidade regenerativa que devolve ao meio e sublinha não só o papel individual de cada um, como também das comunidades, dos governos, empresas e demais instituições.

Descrição: A preocupação com a sustentabilidade surge a partir da constatação da finitude dos recursos naturais, o desperdício descontrolado, o consumismo e outros fatores que atuam como causas da degradação do meio ambiente. Estas questões são paradigmáticas do momento e o próprio contexto de pandemia levantou questões sobre os resultados do confinamento e do desconfinamento. Contudo, em destaque surge também o debate sobre a sustentabilidade do sistema socioeconómico. Este contexto colocou sobre a mesa os problemas críticos sobre a forma de trabalhar, de estudar e de fruir, pelo que surge um sentimento coletivo de urgência. Esta tendência pode ser observada em padrões ao nível do comportamento individual, na elaboração de legislação, na gestão, no design, na moda, nos diversos setores. Procuram-se inovações e soluções que permitam uma maior colaboração para que seja possível encontrar soluções sustentáveis para o desenho societal atual e para o modelo que conhecemos. Aqui os agentes são indivíduos, organizações e empresas que estão a adotar atitudes sustentáveis. Nas suas diversas naturezas, da ecológica à socioeconómica, não se trata de uma tendência grupal, mas sim de uma mudança de paradigma antes restrito a certos grupos e hoje amplamente debatido.
A sustentabilidade é uma pauta central. Com mais informação a circular, vemos uma crescente mutação nas atitudes e nos comportamentos. Mas a sustentabilidade não se restringe apenas a uma mudança na forma de produção e de consumo, visto que há lugares que trabalham a questão, promovendo uma nova maneira de as pessoas se relacionarem com o contexto atual e com o ambiente. Essas novas relações de interdependência demonstram uma ineficácia de muitas políticas para o impacto zero. Isto estimula tanto indivíduos como organizações a encontrarem soluções em relação ao impacto positivo e recuperação do meio ambiente. Este é o ponto mais importante e atual da tendência: já não basta reduzir o impacto após o final do ato de consumo ou durante o processo de produção, a mentalidade emergente por trás da sustentabilidade propõe agora atividades e estratégias para reverter o impacto negativo já causado e começar a contribuir de forma ativa e positiva para (i) a recuperação do meio ambiente, numa lógica inversa à da simples contenção dos danos diariamente causados; (ii) a sustentabilidade dos sistemas/estruturas sociais e dos modos de vida; (iii) novas formas de produção com impacto positivo, onde a própria ideia de reaproveitamento pode despertar a atenção, o interesse e a discussão entre grupos e gerações.

Tópicos do Zeitgeist: Bem-estar; Ambiente; Identidades; Fluidez; Migrações; Energia; Crise; Inflação; Espaço (Cosmos). 

   

micro // cooperação regenerativa
A crise ambiental e os desafios económicos e sociais no contexto pós-covid ganharam ainda mais relevância a nível pragmático e nas perceções coletivas. As desigualdades entre ricos e pobres intensificaram-se, os traumas psicológicos da pandemia mostram os seus efeitos tangíveis e a inflação complica as condições de vida numa escala global. A insatisfação e a ansiedade são percebidas a vários níveis sociais, incluindo as empresas, levadas a reduzir o seu impacto ambiental e cada vez mais focadas em atores e recursos.
As grandes cidades, onde a poluição e ritmos de vida frenéticos são o padrão, são os locais onde as ansiedades do nosso tempo impactam, com mais força, práticas e mentalidades. Com níveis de confiança nas instituições a valores historicamente baixos, indivíduos e grupos procuram cada vez mais encontrar soluções autonomamente, em sentido colaborativo.
Assiste-se ao crescimento do fenómeno do coworking, resiliente no contexto da pandemia e promovido cada vez mais por diversas instituições. São locais reunidos em torno de um sentido comunitário, em que a hibridização e a troca entre setores empreendedores e artísticos são o padrão mais evidente. Eles constroem com o local e contribuem para a mudança e regeneração das áreas em que estão inseridos, espalhando o germe colaborativo. São lugares que proporcionam aprendizagem formal e informal, característica evidente no crescente número de iniciativas de colaboração híbrida no campo universitário. Unidos por uma filosofia ecocêntrica, os atores destas últimas podem mostrar o caminho para o hibridismo entre empreendedorismo, ciência e arte/design. O trabalho colaborativo confere força aos projetos e infunde confiança nos indivíduos perante a incerteza do tempo presente.
Outras Macro Tendências Relacionadas: Sistemas Sustentáveis.

 

Micro // organismos colaborativos urbanos
Comunidades com identidades, representações, práticas e conhecimentos/técnicas específicas juntam-se cada vez mais para produzir, encontrar soluções criativas para os problemas mais presentes e juntar esforços. A dificuldade em transformar “o saber fazer” num meio de sustento e a necessidade, em certos casos, de exercícios criativos leva ao surgimento, e amadurecimento, de grupos enquanto comunidades para suprimir essa(s) necessidade(s) como estruturas cooperativas que geram um fortalecimento do ecossistema produtivo, local e criativo. Por norma, são criados espaços que permitem a colaboração, a multidisciplinaridade, a partilha e a criação numa óptica de crescente democratização dos sistemas de criação conjunta. Eles abordam instrumentos e tecnologias facilitadoras para uma produção com alto valor simbólico e de design onde a impressão de traços identitários e de estórias é muito importante. Não obstante, recorrentemente, recuperam patrimónios tanto simbólicos como de práticas, ancorados em tradições – aqui, fica clara uma relação com a nostalgia, com práticas de produção manuais, como uma passagem quase “hereditária” de conhecimentos. Por um lado, é contraposto à aceleração do mundo que permite uma valorização do local, um sentimento de fazer parte do processo e uma nova forma de compreender a sustentabilidade dos sistemas e da relação produção-consumo; sublinhe-se a procura e o interesse na impressão de identidades e na troca entre os diferentes grupos e comunidades dos espaços. São espaços que marcam a cidade, são comunidades que constroem com o local. Comunidades com uma certa autogestão política e uma autossuficiência e independência, inclusive nos seus próprios códigos de comportamento. No fundo, estamos a falar de organismos dinâmicos que traduzem mentalidades e necessidades emergentes com um propósito positivo. Eles querem provocar uma consciência e participação ativa e cidadã, muitas vezes com uma leitura crítica e criativa das questões do mundo para encontrar por soluções concretas para os problemas encontrados. Não são realidade novas, especialmente fora das grandes cidades. Mas nos principais centros urbanos há uma crescente consciência da finitude dos recursos que atua como motivação e, cada vez mais, há uma visibilidade e exposição destas comunidades. A sua crescente transformação no seio das macro tendências e a ressignificação das práticas coloca estes movimentos noutro patamar, potenciado inclusive por cultura colaborativa assente tanto no património como na tecnologia e no digital. É mais um sinal do sonho do mundo colaborativo.
Outras Macro Tendências Relacionadas: Sistemas Sustentáveis + Narrativas Ancoradas + Identidades Protagonistas +  Ligações Ergonómicas.
Parceria: a análise desta tendência, e da anterior, e o trabalho envolvido em ambas partem de um desafio e briefing da DISE/Direção Municipal de Economia e Inovação da Câmara Municipal de Lisboa, num contexto de parceria com a divisão para compreender a natureza das manufacturas culturais e criativas da cidade. 

macro // Redesenho de Estilos de Vida

Sumário: Esta tendência sublinha as mudanças nas práticas, mentalidades e comportamentos que estão a surgir nos coletivos fruto das diferentes crises que assolam a Europa nos últimos anos (pandemia, guerra, inflação, energia, efeitos das alterações climáticas, entre outras).

DescriçãoEsta é uma macro tendência profundamente afetada pela pandemia, pelas guerras, pela fome, pelas desigualdades, pelas alterações climáticas, entre outras crises como a inflação. Este é ainda um processo de mudanças visíveis que, para alguns, sugere até uma desaceleração da globalização. Perante o contexto dos últimos meses, todo um conjunto de práticas foram alteradas desde a forma de trabalhar, de estudar, de viver em família, já para não falar na questão do lazer. Existe uma grande mudança nas relações, um medo de abrir o espaço privado, e isto teve resultados rápidos que ainda não compreendemos na totalidade. O controlo, a organização e a disciplina pessoal são formas de lidar com uma falsa sensação de segurança, pois as alterações decorrentes do passado recente e do próprio presente obrigam a uma procura pelo equilíbrio. Assim, está em discussão o trabalho híbrido ou remoto, a construção de soluções de formação híbridas, os momentos em família no metaverso, a alimentação, entre outros. Para além da fluidez, vemos uma maior emergência do papel do próprio indivíduo como coautor e responsável pelas suas escolhas de estilos de vida, seja pela forma como lida consigo e com o mundo, por exemplo ao tomar consciência das suas práticas ambientais. O olhar para dentro trouxe muitas questões sobre o papel dos indivíduos perante o mundo, mas também trouxe um holofote sobre como lidamos com o nosso bem-estar mental, o exercício físico e o corpo, com o papel do trabalho na nossa vida, como lidamos com o planeta e todos os papéis que representamos como indivíduos dentro da coletividade social. A flexibilidade e a transparência são palavras em alta diante de um sistema social em rápido movimento, e perante um mercado de trabalho com uma rotatividade sem precedentes e que tem de criar formas de se manter atrativo. A pandemia foi um momento para reavaliar valores e prioridades e um gatilho para uma alteração ainda maior nas mentalidades. 
A grande mudança prende-se com os sentimentos negativos que surgem com o fim de uma crise para se entrar logo de seguida em novas. Se a questão da saúde mental já era uma pauta muito discutida, a situação só piorou. Neste contexto, perdemos a esperança no(s) futuro(s) e nos cenários que nos apresentam, fruto do trauma de tantas crises seguidas. Já não é apenas uma questão de promoção da distopia, mas um abalo muito forte na prospeção positiva por um futuro melhor. Isto é cada vez mais substituído por tentar viver cada dia o melhor possível, pois as perspetivas comunicadas sobre o futuro são desoladoras. O olhar e o foco agora estão no presente, quase promovendo uma negação do porvir num sentimento pré e pós-apocalíptico – um limbo. O processo deste próprio limbo, o fim da certeza, do mundo conhecido, vai afetar a tendências nos próximos meses e sublinhar um sentimento de “purgatório”. 
Assim, esta macrotendência é marcada por uma dualidade baseada no contraste entre o “novo” e o “retorno”. A reconstrução de um mundo melhor e mais justo parece, agora, mais uma utopia e sonho coletivo que rapidamente vai caindo no esquecimento. Vivemos em tempos em que não há mais uma fronteira nítida entre o possível e o inimaginável.

Tópicos do Zeitgeist: Polarização; Distopias; Bem-Estar; Ansiedade; Ambiente; Realidades Digitais; Tecnologia; Democracia; Desigualdades; Trabalho; Migrações; Guerra; Pandemia; Energia; Crise; Inflação.

   

micro // frugal e indulgente
O afeto e as relações sociais também estão a passar por um processo de acomodação. Depois do isolamento da pandemia surgem novas formas de se relacionar com o outro. As tecnologias cumprem um papel muito importante nessa questão – além da, agora, antiga possibilidade de uma comunicação à distância. Este novo momento também impacta o lazer. Parte das atividades recreativas que foram transferidas para casa mantém-se, não mais pela necessidade do isolamento, mas porque surgiram novos hábitos e porque pode ficar mais barato; em tempo de “vacas magras” e de instabilidade, ficar em casa é uma boa opção já normalizada para muitos. Não se pode afirmar até quando esse movimento vai durar, mas em 2022 ainda é muito visível o desenvolvimento de atividades em casa, sejam atividades físicas, cozinhar, estar com amigos, cuidar de plantas e de animais de estimação, entre outras.
Por outro lado, os eventos e atividades presenciais e ao vivo voltaram com força. Festas, espetáculos, viagens e a restauração, setores que ficaram basicamente parados durante os últimos dois anos, estão a procurar recuperar o tempo perdido. A demanda reprimida da população mundial por interação social, em 2022, está, finalmente, sendo extravasada através de um consumo em alta de experiências e de objetos. Isto é fruto não só dos longos períodos de confinamento, mas também de uma desconfiança sobre o futuro e sobre o que será possível. Surge então um duplo movimento, aparentemente em contradição, onde a casa se mantém como um palco de experiências, mas onde também queremos sair para os jardins e consumir intensamente experiências.
Outras Macro Tendências Relacionadas: Redesenho de Estilos de Vida. 

   

micro // viver a casa
As mudanças causadas pela pandemia modificaram vários aspetos do quotidiano e um dos mais afetados foi a relação com a casa. Para muitos, a casa passou a ser um espaço multifuncional e em 2022 segue nesta escalada de agregar cada dia mais funções. Uma conceção da própria casa como único universo existente, disponível ou acessível. Este ambiente precisou ser readaptado e ressignificado para responder às mudanças, tanto físicas e estruturais, como o fato de ter ganha uma mesa na sala para o trabalho remoto, por exemplo, ou seja, pelo fato de se entender a casa como lar, escritório, centro de jogos, estufa, entre outros. As dinâmicas neste espaço mudaram radicalmente e onde os integrantes de uma mesma família tinham os seus próprios ambientes, agora os espaços são ambivalentes e possuem diferentes propósitos. A visualização mista do físico e do digital no espaço também está também a alterar a mesma como espaço de lazer e atividades. Importa reforçar que esta tendência está relacionada com transformações no trabalho e na educação. Isto levará à diminuição de fluxos nos grandes centros, ao aumento do nomadismo digital, diminuição do trânsito, ofertas de trabalho e de estudo a nível global. Isto está a levar até ao fim de certos espaços comerciais e empresariais e a uma nova visão sobre espaços digitais profissionais.
Outras Macro Tendências Relacionadas: Redesenho de Estilos de Vida + Ligações Ergonómicas. 

 

micro // o futuro está cansado
As constantes crises, incertezas, flutuações e problemas esgotaram uma perspetiva positiva sobre o futuro, um desejo de projetar e de pensar em cenários. O sentimento geral é de aproveitar o momento, sobreviver às diferentes crises com o máximo de saúde física e mental possíveis e aguardar pela nova inevitável crise que vai surgir. No audiovisual as distopias ultrapassam rapidamente as utopias e o número de narrativas sobre o contexto negativo aumentam. Em paralelo, os indivíduos estão também cada vez mais aborrecidos com a falta de autenticidade que rodeia as diferentes realidades, especialmente as digitais. Isto só aumenta o sentimento geral atual de desesperança na mudança positiva. 

Eis o que descobrimos na forma de insights.
Social “Culture eats Strategy for Breakfast”
(P. Drucker)

// Insights da tendência I

» Surgimento de narrativas que, cada vez mais, sublinham indeterminação, virtualidade e a ideia do “agora”, intituladas de Narrativas do Futuro. Ganham espaço as narrativas conspícuas capazes de atravessar a linha entre o real e virtual, a ficção e não ficção, bem como géneros e media. (A. Maia, I. Gomes, M. Frederico)

» É preciso compreender as narrativas não pelo que são, mas pelo que poderão significar para o seu destinatário. A rememoração como elemento das narrativas contemporâneas parece ser um padrão relevante. O resgate de memórias perdidas e a reapropriação de determinados passados históricos tem ligações recorrentes com narrativas de resistência e tem tomado constante espaço no debate público. (A. Maia, I. Gomes, M. Frederico)

» Neste mundo pandêmico, a instabilidade emocional nos fez olhar ainda mais para o passado e procurar aquilo que dá sentido à vida. O simples ganhou espaço nas narrativas diárias ao observarmos no passado apenas aquilo que é essencial para o nosso bem estar. Neste processo o passado simbólico é resgatado através de narrativas que dialogam entre os diversos espaços, personificando assim a linguagem do simples e essencial (A. Melo e L. Cortés).

» Observamos várias referências a um conjunto de acontecimentos marcantes do século XX, que sublinhamos como Grandes Narrativas. Ainda com um certo distanciamento temporal, elas são fatores de  influência no modo de pensar do mundo ocidental contemporâneo devido ao forte impacto que tiveram na construção das identidades e na ordem global como um todo. Entre outros tópicos abordados com frequência, temos a polarização entre comunismo e capitalismo, guerras no Médio Oriente, e migrações e refugiados. (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques)

» Uma das formas de manifestação da necessidade de compartilhar vivências e experiências passadas é através da produção de filmes e séries biográficos, baseados em fatos e em adaptações de histórias clássicas que apostam em referências do imaginário comum para criar processos de identificação, reconstruir representações do passado ou ainda sanar uma certa curiosidade por realidades diferentes, valendo-se de um discurso de autenticidade e veracidade atribuídos pela ideia de “real”. (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques)

» Considerando um contexto de intensificação de fluxos simbólicos, económicos e dos próprios indivíduos pelo mundo, incluindo crises financeiras e políticas, a nostalgia é ressignificada enquanto mecanismo de fuga emocional, adquirindo outras camadas através da comercialização de objetos ou até mesmo vivências. Cria-se, então, um Mercado da Saudade, com a retomada de elementos culturais característicos no âmbito do mainstream, que passam por um processo de atualização e de revalorização. (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques)

» A ideia de nostalgia, associada a símbolos de um passado distante, grandes feitos remotos e modos de vida anacrónicos, é atualizada, distanciando-se de uma áurea analógica. Numa nova nostalgia – a nostalgia dos Millennials -, observamos a reprodução e valorização de obras audiovisuais das décadas de 80 e 90, para além de remakes e da referenciação desse conteúdo em outros produtos. Objetos que fizeram parte da infância dos adultos de hoje ganham versões atualizadas, como as máquinas fotográficas instantâneas ou as consolas de jogos. (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques)

» Narrativas de diferentes momentos históricos, protagonizadas por diferentes grupos, compartilham os mesmos palcos, formando camadas de história que compõem o ambiente urbano. Assim, os espaços na cidade atuam de forma a reforçar ou suprimir memórias de determinados agrupamentos, criando e promovendo uma memória oficial em detrimento das demais. (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques)

» Apesar de observarmos a multiplicação de  fontes de estórias e narrativas que geram o reconhecimento de diferentes matrizes identitárias, a família, devido ao papel que ocupa enquanto instituição pioneira na socialização dos indivíduos e na apresentação de visões e possibilidades de mundo, ainda possui um papel de destaque no processo de mediação de valores e realidades. (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques)

» Como um reflexo direto do impacto das grandes narrativas nas identidades coletivas, a nacionalidade e a ideologia política ainda figuram como fatores determinantes no reconhecimento identitário, seja através da afirmação ou, pelo contrário, num movimento de negação. Isto tem reflexo na polarização cultural do tecido social, expressa na composição multicultural das grandes cidades, com habitantes que assumem a sua condição de imigrante enquanto fator identitário, e no discurso reproduzido sobre o passado, especialmente no contexto posterior à Segunda Guerra Mundial. (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques)

» As Metrópoles são arquipélagos de realidades que se tangenciam no convívio urbano. Desse encontro, surgem disputas, também de viés identitário, movimentando um fluxo de afirmações e de contestações. Assim, a identidade das grandes cidades é marcada pela confluência e contato de várias culturas que resultam de vivências heterogêneas de um mesmo espaço. (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques)

» Num cenário de múltiplas identidades e agrupamentos/tribos cada vez mais específicos de consumidores, as marcas que procuram traçar uma ligação com o seu público para além do produto e/ou serviço material que oferecem acabam por se destacar. As expectativas giram em torno de posicionamentos relacionados com causas, propósitos e motivações, apontando para uma a personificação das marcas que passam a figurar no imaginário como entidades dotadas de opinião e deveres cívicos. Elas são julgadas a partir de diversas formas de manifestação pública, como campanhas publicitárias ou ainda parcerias com influenciadores e outros formatos de brand avatars. Este nível de ligação com o público exige posições claras sobre questões complexas – não ficar em cima do muro -, um recorte preciso para se dialogar com coerência por entre discursos/narrativas e as ações concretas. (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques)

» Temos um movimento de afirmação através da cultura, da arte e do entretenimento que traz visibilidade a grupos sociais tradicionalmente excluídos através da auto-representação, além de comunicaram realidades e necessidades de mudança a públicos que não teriam necessariamente um compromisso com estas causas. (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques)

» A otimização de tarefas quotidianas através da dinâmica de “gamificação” parece ser um processo em constante atualização e ainda distante de encontrar uma aplicação e/ou modelo ideal que prenda os usuários a longo prazo. (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques)

» Estabelecimentos comerciais, como lojas e restaurantes, ganham novas formas de atração, para além do serviço e produtos comercializados: a identidade como experiência. Através de uma promessa de vivência que amarra o ambiente, o produto e a imersão do público em determinado contexto, as narrativas identitárias são expostas e contextualizadas, provocando a sensação de pertencimento e de participação do público, que de ente passivo, se torna parte operante da estória proposta nesses lugares. (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques)

» O espaço urbano das grandes cidades e as suas atrações desligam-se do ambiente exclusivamente físico, ganhando dimensões virtuais a partir de conteúdos interativos que podem ser acedidos em qualquer lugar do mundo. Com a pandemia do Covid-19 e a disseminação em massa de opções de lazer digital, isto ficou ainda mais evidente. (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques)

» A procura do consumidor por vivenciar uma experiência memorável associada aos produtos que escolhe (além do bem material em si), pode ser desdobrada em duas matrizes diferentes: uma pautada pela inclusão do público em diferentes graus do processo de produção; outra que se vale da promessa de experiência e prestígio fornecida por marcas consolidadas e pelo seu capital simbólico. A primeira, diretamente associada a uma cultura maker e à sensação de proximidade e inclusão fornecida pelo pôr a mão na massa, ainda que de modo fugaz e contextualizado; a segunda, reflexo direto da identificação de valores e estatuto impressos nas marcas, em que o simples reconhecimento visual de um logotipo já carrega referências quanto a estilos de vida, identidades e aspirações. (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques)

» A memória coletiva serve de base para o desenvolvimento de narrativas acerca do passado e a sua construção no presente. Considerando o contexto da globalização, as memórias coletivas nacionais são questionadas, com uma crescente percepção de que se tratam de construções. Observamos, então, a maleabilidade identitária dos grupos e das comunidades, através do exercício de indagação sobre versões do passado e características identitárias apresentadas como rígidas e determinantes pelas estórias reproduzidas de geração em geração e exaltadas em monumentos, datas comemorativas e outras expressões simbólicas. (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques)

» Somando resultados de diversas etapas da pesquisa, constatamos que a nostalgia habita a mente coletiva: as pessoas consideram-se nostálgicas, reconhecem traços na cidade e observam uma orientação nesse sentido tanto em relação a comportamentos como produtos comercializados. Disto, observamos uma divisão entre o que realmente está ancorado numa existência passada (vintage) e o que simula essa bagagem histórica (retro). No ambiente urbano, diversos estabelecimentos valem-se da memória coletiva e do sentimento de nostalgia para posicionarem-se como tradicionais, criando narrativas que atendam a essa vontade de ligação com o passado. (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques)

» A procura por um consumo mediático mais ativo, característico da Era Digital, e por opções imersivas de entretenimento ainda encontram limites em termos de produções audiovisuais.  Os conteúdos interativos para cinema e televisão que se valem de um conceito híbrido entre jogo e o formato audiovisual convencional enfrentam barreiras em termos tecnológicos, narrativos e de próprio interesse do público, que não ainda está familiarizado com um “meio termo” entre esses dois campos. Assim, vemos um campo em desenvolvimento ainda incipiente, mas com potencial de desenvolvimento futuro. (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques)

» Através de amplos catálogos, plataformas de SVOD como Netflix, Hulu e Amazon Prime Video, agregam públicos com os mais distintos perfis. Tal qual o papel centralizador da televisão analógica nas décadas de 60 e 70 enquanto atividade familiar e eletrodoméstico de destaque na sala de estar, a nova televisão também atua pela premissa de centralização, desta vez ligada às plataformas de acesso, e não mais o aparelho em si, e ao consumo do mesmo tipo de conteúdos. Trata-se de um apanhado de nichos servidos de forma conjunta, respondendo à transformação do audiovisual enquanto meio de comunicação massivo para uma formação heterogénea de tribos que recorrem ao mesmo meio para aceder a conteúdos diferentes. (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques)

» Entre as muitas práticas sociais afetadas pelo contexto do Covid-19, a rotina de trabalho e a vivência do espaço urbano sofreram grandes modificações. O home office instaurou-se como medida de proteção à saúde e viabilização da manutenção dos postos de trabalho; a circulação pela cidade mantém-se dentro de restrições e muitos dos espaços de convívio terão de ser repensados, inclusive após a pandemia. Nesse contexto, a questão do direito à cidade; o acesso a opções de lazer para populações vulneráveis, bem como ao próprio trabalho; e as condições de infraestrutura fora das áreas centrais afetam as dinâmicas sociais e podem impulsionar desigualdades já existentes. (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques)

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// Insights da tendência II

» O protagonismo das identidades no âmbito individual não se constrange no indivíduo. Há uma expansão espacial das identidades, que se dá para além de seus corpos, para os espaços onde habitam e transitam. Seja por meio da decoração, do consumo de objetos ou experiências, em todos os pontos de contato com o mundo exterior há um transbordamento de códigos de auto-expressão, que pode vir a criar ou desfazer pontes. (Karina de Castro)

» Há um claro movimento de deslocamento da representatividade calcada na luta pela superação das mazelas das identidades oprimidas para um lugar de êxito e alegria. Não que as lutas tenham sido completamente vencidas, mas algumas batalhas sim, abrindo espaço para que outras facetas dessas identidades ganhem protagonismo: No lugar da dor, o gozo; no lugar da miséria, a potência criativa; no lugar da vergonha, o orgulho. (Karina de Castro)

» Na esteira do deslocamento vem também uma quebra de expectativas do outro. O pertencimento, pleiteado em voz aguda pelas minorias à sociedade hegemónica tem ecoado em vozes mais graves, preenchendo os espaços já conquistados ao impor um tom de normalidade: Eu sempre estive aqui, esse lugar também é meu, que bom que agora você percebeu. Do contrário, você que lute! (Karina de Castro)

» No âmbito das identidades culturais, há uma pujança da arte pós-colonial. Ela funciona como um espaço de reelaboração do passado e fonte de novas utopias para a construção do futuro. Suas manifestações diversas ao mesmo tempo que questionam ou reafirmam identidades nacionais, buscam a fusão com outras culturas que se desenvolveram como galhos de uma mesma árvore: a mesma origem colonial e/ou mesmo território geográfico de origem. (Karina de Castro)

» A invasão da Ucrânia por parte da Rússia no presente ano trouxe de volta para a mesa a questão dos migrantes e refugiados, que, infelizmente, muitas vezes sofrem discriminação nos países para onde fogem. (Beatriz Baptista)

»  Por todo o mundo volta-se a abordar a problemática do aborto e de este ser ou não legalizado, mesmo em países que já haviam concordado com a legalização. Esta questão traz de novo problemas relacionados com os direitos das mulheres e as escolhas que estas tomam com o seu próprio corpo. (Beatriz Baptista)

» Consolidação de plataformas online que cultivam o culto do eu: Observou-se desde os tempos pandémicos a consolidação da rede social TikTok e da plataforma OnlyFans. Ambas as mencionadas, na medida em que cada utilizador partilha conteúdos sobre si próprios, expondo-se ao mundo, cultivam o culto à sua própria pessoa e à sua própria Deste modo, salienta a primazia da categoria individual sobre a coletiva. (Beatriz Baptista)

» A pandemia trouxe um grande impacto sobre a luta pela equidade das relações humanas, promovendo disparidade de empregos e rendas entre homens e mulheres, além do crescimento da discriminação racial e das desigualdades sociais. O parodoxo no processo de construção de identidade, que visa tanto reformular e enaltecer categorias identitárias quanto recusar rótulos, tem se tornado mais forte do que nunca. Algumas denominações tradicionais têm sofrido ressignificações, já que não conseguem mais expressar as transformações nos modos de vida e mentalidades da sociedade contemporânea em suas definições “originais”. (J. Rocha, Ni Min)

» Mesmo que num estado ainda emergente, as possibilidades do uso de novas tecnologias para a expansão das capacidades do ser humano aumentam em número. É um movimento que já existe há alguns anos e está num processo de consolidação. (Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos)

» A temática do transhumanismo não é nova. Porém, ainda aparece  muito relacionada com as novas tecnologias, por vezes com um certo ar de ficção científica, apesar da existência de um movimento e de especialistas que chancelam suas teorias. Diversas tecnologias e experiências recentes indicam que a expansão do corpo humana e a sua articulação com a máquina ou os aprimoramentos genéticos serão possíveis num futuro não tão distante. (Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos)

» As questões identitárias figuram como temática pioneira, presente em mais de metade dos formatos e géneros dos conteúdos audiovisuais analisados para a hipótese, sejam eles ficção ou documentários. As produções sobre esta temáticas fazem-se necessárias em resposta à busca de autoconhecimento e representatividade. (Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos)

» 18,6 % dos respondentes dizem não se encaixar nas denominações de auto-expressão de orientação sexual mais tradicionais. (Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos)

» No que diz respeito a tópicos essenciais­­­­­ a serem discutidos nos próximos cinco anos aparecem os temas igualdade, discriminação, política, autoridades e diversidade.  Os temas género, identidade, diversidade, igualdade e representatividade (palavras naturalmente associadas) estão muitas vezes ligadas a expressões como discriminação e intolerância. (Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos)

» A discriminação é entendida como algo muito presente, de forma estrutural e enraizada, mantida pelos grupos que possuem o poder, que tem medo de o perder, e que mesmo com toda a luta é muito difícil ser combatida. (Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos)

» A desconfiança articula-se, na maior parte das associações, com tecnologia e autoridade. As redes sociais aparecem como a estrutura de menor confiança, seguidas pelos governos municipal e nacional. (Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos)

» Há também um entendimento de valorização de autoridades genuínas, não políticas, mas que tenham estudado, sejam especialistas e tenham capacitação para falar de um determinado assunto, o que em tempos de debates virtuais é cada vez mais importante. (Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos)

» As redes sociais e notícias associadas aparecem como meios e conteúdos menos confiáveis no contexto da pandemia. Em contrapartida, essa desconfiança tem feito com que as pessoas evitem acreditar em notícias falsas, confirmando fontes e a veracidade dos fatos. (Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos)

» Entende-se a desconfiança, em muitos casos, como uma ferramenta de proteção contra as opressões sofridas, que são sentidas de forma muito forte, até mesmo contra a própria vida. A raiva também é referida, principalmente relacionada com a política e as autoridades. (Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos)

» A política também é vista de forma mais ampla e como ferramenta de transformação. Os nossos corpos também são políticos e tudo o que produzimos tem, ou pode ter, um posicionamento político. (Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos)

» No âmbito do conceito de género vemos a possibilidade de ampliação do mesmo dentro das próprias categorias tradicionais, bem como a liberdade para se expressar da forma que preferir. (Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos)

» A igualdade surge como um conceito de aceitação da diferença. Uma palavra que pode se articular com este conceito é equidade, o entendimento dessas diferenças e desigualdades presentes na sociedade para que as pessoas sejam tratadas de forma mais proporcional e justa. (Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos)

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// Insights da tendência III

» É clara uma aposta nos meios de lazer online (videojogos) como processos de cimentar a ideia de uma marca para com os seus consumidores. Também a utilização destes videojogos para a marca abrir o seu público-alvo, de modo a obter mais clientes. (Tiago Ferreira)

» Ultrapassamos a fase de consciência do uso digital de forma sensata e moderada para o uso do digital no seu esplendor máximo através da criação de anúncios, postos de trabalho e ainda mais formas de lazer no meio digital numa forma de abuso digital. (Tiago Ferreira)

» As avanços tecnológicos e a pluralidade de opções digitais criam uma sensação de autossuficiência nas pessoas, que podem sempre optar por suas preferências de entretenimento e lazer. Isto gera, além de imediatismo, maior senso de individualidade, afastando-as cada vez mais do convívio social. (Lucas Silva, 2022)

» Os sinais analisados e a pesquisa evidenciaram o cruzamento com a macrotendência Redesenho de Estilos De Vida. Opções de produtos, serviços e campanhas apontam possibilidades de fácil acessibilidade e adaptação ao digital, mudança de comportamentos e hábitos. Como alimentação saudável e opções do quotidiano, por exemplo. (Lucas Silva)

» As inovações tecnológicas, como parte do quotidiano das pessoas, passam a ser exigência para produtos que venham a ser lançados. Produtos com uma única função tendem a dar espaço para outros que agreguem além da inovação, questões multitarefas. (Lucas Silva)

» O número de horas passadas em média por cada pessoa na Internet é de quase sete horas. Muitas pessoas dormem diariamente menos horas do que as passadas na Internet. O peso e importância do acesso e conectividade à rede nunca foi tão expressivo. (Maria Alves)

» A sociedade também acelerou o uso do digital para suprimir as suas necessidades. O comércio eletrónico, as entregas de refeições, as transações bancárias eletrónicas, entre outros, promoveram os atos digitais. Através deste processo podemos concluir que poderá haver uma aceleração no uso de tecnologias que exijam menos contacto humano (chamados contactless), como por exemplo, a utilização de drones e de veículos autónomos. Sendo assim, percebe-se que a sociedade começa a desvalorizar o contato físico, seja com produtos ou serviços. (E. Monteiro, M. Simões, T. Abrahão)

» Como resposta à tão fácil e intensa ligação à tecnologia e à internet surgem contra-movimentos. Este tem como foco ideias, projetos e objectos cujo objectivo é restringir e limitar o uso excessivo e o acesso ao virtual e à tecnologia. (Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang)

» É notável a existência de vários sinais e serviços relacionados com o bem-estar do indivíduo e com o seu respetivo conforto. Isto através de serviços que facilitam a vida no que toca à poupança de tempo e ao conforto, embora também facilitem o isolamento. Exemplos disso são as transferências bancárias e a encomenda de comida para casa através de aplicações. (Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang)

» Possibilitam-se novas experiências que sublinham, cada vez mais, a automatização e o conforto humano.  (Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang)

» Durante épocas difíceis, como o atual contexto de pandemia, evidenciam-se comportamentos, serviços e práticas  no que toca à solidariedade e à compaixão. Sublinhou-se o acesso e a disponibilização de serviços, muitos deles gratuitos, potenciados por redes e ferramentas tecnológicas durante a época de isolamento.  (Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang)

» Estão em emergência vários produtos e novos serviços que facilitam a interação, a mobilidade e a personalização.  (Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang)

» É evidente a queda das fronteiras, outrora existentes, entre o mundo físico e o mundo virtual. Agora, mais do que nunca, o virtual assume uma importância vital para que o físico possa continuar a decorrer com normalidade. (Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang)

» A tecnologia e a inovação também geraram uma nova forma de arte –  a Arte dos novos media. Os indivíduos desejam um tipo de imersão artística mais interativa, de modo a possuir uma experiência mais personalizada e única.  (Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang)

» Os comportamentos, sinais, práticas e serviços relacionados com estes tópicos não surgiram apenas em uma indústria ou em uma área, mas sim nos diversos aspetos da vida, por exemplo, na indústria do turismo, na educação, na medicina, no entretenimento, entre outros.  (Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang)

» São tidas em atenção as novas formas de tecnologia e inovação no trabalho e na formação empresarial, de modo a facilitar a comunicação empresarial e o seu desenvolvimento a longo prazo.  (Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang)

» O público geral aparenta estar alerta e ciente do impacto das novas tecnologias. Consideram que as suas grandes vantagens são, por exemplo, a disponibilidade e um fácil acesso à informação, a eficácia e rapidez na comunicação, a acessibilidade a serviços inovadores e personalizados, o progresso na área da medicina, e mais fontes de lazer e entretenimento. Porém, o público não ignora as suas possíveis desvantagens como, por exemplo, o afastamento do contacto físico entre as pessoas, o vício nas novas tecnologias e nos respetivos dispositivos, o sedentarismo e a substituição de pessoas, em postos de trabalho, por robots.  (Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang)

 

// Insights da tendência IV

» A sustentabilidade já não se refere exclusivamente a práticas virtuosas de redução do impacto ambiental, mas passa a assumir um significado mais amplo, abrangendo o estilo de vida das pessoas como um todo. Procura-se sustentabilidade ao nível do equilíbrio psicofísico do indivíduo e da sua relação sintomática com o ambiente, num esforço de consciencialização que abrange os campos do trabalho, da alimentação, do consumo, do lazer e das mais diversas práticas do quotidiano. (Vanja Favetta)

» O macro contexto socioeconómico instável do período pós-covid e a confiança nas instituições políticas e governamentais a níveis historicamente baixos, aceleraram o processo de procura por soluções e problemas atuais a partir de processos coletivos e colaborativos, a todos os níveis da sociedade. (Vanja Favetta)

» Há uma percepção de que esforços isolados  e desenvolvimento de ações ainda que sustentável, porém sem integração comunitária e colaborativa em nível mundial não serão suficientes para conter as desastrosas consequências ambientais que presenciamos na atualidade. A necessidade das ações comunitárias globais são cada vez mais valorizadas e exigidas por lideranças nacionais como saída para contenção das mudanças climáticas. (Priscila Altivo)

» Os meios de comunicação de massas e as grandes marcas tomaram uma posição positiva em relação à sustentabilidade ambiental e social. Existe uma reciprocidade entre a as mensagens que incorporam nas suas peças de comunicação e os interesses do público. Programas e campanhas que tenham a sustentabilidade como princípio estão a ter sucesso.  (Carolina Represas)

» A atual situação económica do país impossibilita o acesso a rendas acessíveis, o que força, em muitos casos, a coabitação. No entanto, este fenómeno não afeta apenas a vida pessoal de cada um, impactando também a vida profissional, especialmente se esta estiver relacionada com áreas criativas e culturais. Há um número crescente de comunidades criativas que são formadas pela necessidade de encontrar um espaço onde seja possível desenvolver uma atividade, e que se consolidam através da partilha de experiências e conhecimentos. (Margarida da Costa)

» Há uma urgência cada vez maior em criar soluções de habitação, o que motiva a procura por habitação comunitária. (Margarida da Costa)

» A crescente preocupação com a sustentabilidade das nossas ações e o efeito que as mesmas têm no meio ambiente, promoveu o crescimento de Economias Circulares, ou seja, economias que têm como base a preocupação de uso eficaz dos recursos, assim como a diminuição da pegada ecológica, criando novos modelos de negócio, que procuram diminuir o uso de matérias-primas “virgens”, utilizando, em muitos casos, produtos que são considerados “lixo”, e priorizando produtos reutilizáveis, recicláveis e com ciclos de vida mais longos. (Margarida da Costa)

» No contexto da responsabilidade social, o aumento exponencial de projetos comunitários e cooperativos, aliado ao aumento de cidadãos em situações de pobreza e/ou que não têm acesso a cultura, conduziu a um aumento da preocupação e responsabilidade sociais. Deste modo, assiste-se ao proliferar de projetos, associações e organizações sem fins lucrativos que têm como missão a inserção e inclusão social, criando oportunidades de emprego, dando espaço para exporem os seus projetos pessoais, ou oferecendo formação.

» Os meios de comunicação de massas e as Grandes Marcas são poderosos agentes da mudança, podendo até transformar e moldar o mainstream. Ao estarem a dar o “bom exemplo” em relação à proteção do meio ambiente e a fazer escolhas sustentáveis, induzem essas escolhas como o caminho a seguir. (Carolina Represas)

» A procura de soluções para o estado avançado de degradação em que o meio ambiente se encontra desperta uma nova forma de ação baseada na regeneração, um passo à frente da sustentabilidade. A fusão com o meio ambiente numa relação de simbiose entre o ser humano e o planeta são agora a meta mais ambiciosa a alcançar. Criações que o consigam fazer podem ter muito sucesso. (Carolina Represas)

» Ao presenciar em tempo real o desenrolar da degradação do meio ambiente e o caos proporcionado pelas crises pandémica e de guerra atuais, sentimentos de ansiedade e impotência apoderam-se do ser.  Ao sentir pouco controlo sobre a situação, atua e dirige a sua atenção sobre algo que consegue mudar: ele próprio, através de práticas de selfcare. A onda de procura pela sustentabilidade de estilos de vida é uma consequência da instabilidade ambiental e social. (Carolina Represas)

» As comunidades organizam-se por afinidades e interesses compartilhados, tendo como propósito maior criar uma sensação de pertencimento. Atender a essa demanda pode ser benéfico para as instituições que a explorem. (E. Monteiro, M. Simões, Tatiana Abrahão)

» Com a mudança de postura dos consumidores nos últimos anos, reforçado pelo movimento Maker, as empresas e instituições podem entregar os seus produtos e serviços “inacabados” com a possibilidade de inclusão dos consumidores em seus processos (e.g. design, autenticidade, funcionalidade). Dar acesso às plataformas de criação como forma de colaboração e criação de novos produtos mais aderente à realidade e preferência aos consumidores pode ser uma vantagem competitiva. (E. Monteiro, M. Simões, Tatiana Abrahão)

» As manufaturas culturais têm como principal objetivo facilitar a criação e a produção de novas soluções para problemas atuais através da colaboração entre os seus participantes, que podem desenvolver as suas ideias sem ter medo de errar. O movimento “Maker” procura estimular a inovação, através de um trabalho satisfatório e significativo, que permite que os seres humanos voltem a ser criadores e produtores ao invés de somente consumidores. (J. Rocha, Ni Min)

» Há uma procura por soluções a problemas atuais a partir de processos coletivos e colaborativos, em que a sociabilidade tem uma importante relevância.  A cultura maker provoca uma vivência ativa e cidadã em seus participantes, com uma leitura crítica e criativa em relação às questões do mundo, bem como uma procura por soluções concretas para os problemas encontrados. (A. Melo, L. Cortés)

» Há um movimento de democratização da cultura maker e de sistemas de cocriação em geral. Esse caminho é feito a partir da simplificação dos meios necessários para a realização dos projetos e do acesso às ferramentas necessárias. Em meio ao isolamento social decorrente da pandemia, há a necessidade de repensar formas de produção da cultura maker, que migram para ambientes digitais ou híbridos. Isso faz com que a ideia de comunidade se expanda para além das fronteiras físicas e ideias e práticas circulem de maneira mais livre. (A. Melo, L. Cortés)

» Está presente na cultura maker o entendimento de que a educação ultrapassa o ambiente escolar e de que esse processo deve estar em sintonia com as inovações presentes na sociedade. A pandemia nos fez repensar novos modelos educativos em meio ao ambiente digital. Existe a necessidade de novas formas de aprender que envolvam valores pertinentes para a cultura digital, como inteligência socioemocional, criatividade, autonomia, habilidades multitarefas, senso de comunidade, democratização do conhecimento, cidadania e capacidade crítica. (A. Melo, L. Cortés)

» Os espaços compartilhados deixam de ser apenas coworkings onde diversos indivíduos trabalham de forma individual em um mesmo espaço, e passam a ser espaços para os participantes co-criarem e partilharem conhecimentos entre si. Os setores abrangidos passam a ser mais abrangentes e não apenas limitados a setores de tecnologia e marketing, mas também da culinária, literário, artístico, entre outros. Os espaços compartilhados começam a apostar no desenvolvimento de espaços direcionados para o “DIY” (Do It Yourself) principalmente a partir do mote da reutilização, são criados espaços, dentro do conceito de oficina, em que as pessoas poderão aprender a transformar os seus próprios pertences, nomeadamente a restauração de móveis. (C. Domingues, J. Atayde e Melo, L. Caxiano)

» O mundo das Manufaturas tem cada vez mais o seu enfoque no B2C, ou seja, na relação Business to Consumer, principalmente com o impacto da pandemia na economia. As Manufaturas têm conseguido se adaptar e até impulsionar a produção criativa assente no ambiente, na sustentabilidade e em novas lógicas de comunidade. A adaptação de velhas dinâmicas incorporadas em novos projetos e produtos parece ser uma constante nas manufacturas culturais. A ligação é talvez a palavra-chave para esta indústria daqui em diante – onde o jogo das memórias, das sensações, das experiências, da inclusão, das narrativas individuais e coletivas assume um ponto assente na criação do produto. (A. Manhique, L. Corrêa)

» A cocriação na sua transversalidade e multi/interdisciplinaridade é cada vez mais valorizada. Vemos produtos que requerem a comunhão de diferentes áreas de interesse. Para além disto, a experiência também é cada vez mais entendida como uma comodidade – um produto – manufaturado por indústrias que percebem a importância de um mundo e mercado virtuais e digitais. (A. Manhique, L. Corrêa)

» Proliferação de uma série de novos espaços criativos tendo em comum o facto de serem criados “por baixo”, por iniciativa comunitária. Esta descentralização se concretiza na prática do código aberto e na viabilização da ligação entre indivíduos e comunidades. Em teoria, a cultura maker dispensa a detenção do direito autoral, sugerindo uma revolta contra a centralização do poder. (E. Altafim, V. Favetta)

» A pandemia impulsionou não apenas o DIY, mas também as empresas a participar nessas práticas para manter o poder de produção. As empresas refletem as dinâmicas da cultura maker, passando a adotar  práticas co-criativas dentro de suas próprias estruturas. (E. Altafim, V. Favetta)

» As empresas são chamadas cada vez mais a serem parte ativa da mudança. Entretanto, “zerar”
o impacto negativo não é mais suficiente, agora precisamos regenerar. Nesse contexto, as empresas têm a oportunidade de liderar um processo de transformação global em prol do impacto positivo. (E. Altafim, V. Favetta)

» As marcas precisarão ir além. Neutralizar o impacto com compra de créditos de carbono ou práticas de reflorestamento têm os seus dias contados. O desafio atual é dar para o meio ambiente muito mais do que se extrai, essa é a lógica da regeneração. Isso impacta as empresas a diversos níveis e é relevante desde as cadeias de fornecedores até às expressões em campo comunicativo, bem como na mobilização em prol das causas. (E. Altafim, V. Favetta)

» A pandemia tornou evidente e indiscutível a relação de interdependência entre o indivíduo e o meio ambiente, facto que pode influenciar uma aceleração da consciência socio-ambiental. A procura de soluções sustentáveis para o sistema societal é acompanhada e potencializada com as redes sociais, canais estes que permitem a partilha e a articulação entre indivíduos e comunidades. (E. Altafim, V. Favetta)

» Com o aumento da população urbana, as cidades tomam centralidade no debate mundial sobre a necessidade de novas práticas e políticas de produção. As manufaturas culturais podem ser entendidas como um projeto de resolução de desafios urbanos urgentes. (A. Maia, I. Gomes, M. Frederico)

» A ideia de bens comuns promove um dissenso à propriedade privada e à “financeirização”, propondo diferentes alternativas de acesso a espaços e produtos. A partilha de conhecimentos e saberes se mostra como elemento crucial de uma experiência comunitária. (A. Maia, I. Gomes, M. Frederico)

» A sustentabilidade amplifica-se, abrangendo cada vez mais indivíduos. As atitudes com baixo impacto ambiental são cada vez mais expressivas e visíveis. (Marianna Rosalles, Francisco Mateus)

» Trazer as práticas de sustentabilidade para o quotidiano tem sido uma constante, visto que a questão deve ser tratada como uma forma de promover o bem-estar.  Desconsiderar a sustentabilidade é cada vez mais inaceitável. (Marianna Rosalles, Francisco Mateus)

» Deixando de estar restrita ao campo da ecologia, a palavra sustentabilidade passa a ter um novo significado, referindo-se a formas de manter empreendimentos durante a pandemia. (Marianna Rosalles, Francisco Mateus)

» Adotar a economia circular é uma forma de promover um novo modelo econômico que promova o uso sustentável dos recursos e consiga diminuir o desperdício, de forma a conseguir a melhor partilha e ressignificação de produtos. (Marianna Rosalles, Francisco Mateus)

» A sustentabilidade faz as pessoas procurarem experiências e produtos que as façam se sentir conectadas a um bem maior, de forma a se colocarem como parte de uma rede de ligações, onde as suas ações têm um impacto. (Marianna Rosalles, Francisco Mateus)

» Dando mais atenção à natureza, podemos ser inspirados a criar produtos mais inteligentes e sustentáveis. A criatividade e a sustentabilidade podem unir-se através da ressignificação de materiais e objetos que seriam descartados. (Marianna Rosalles, Francisco Mateus)

» As empresas podem ser inovadoras sem abrir mão da sustentabilidade, procurando uma organização voltada para a diminuição da produção de resíduos. (Marianna Rosalles, Francisco Mateus)

» As ações comunitárias são capazes de reforçar a união entre as pessoas por meio do desenvolvimento de ações sustentáveis na cidade.  Aliás, a ampliação dos espaços verdes no ambiente urbano pode proporcionar, por meio do contato com a natureza, um maior bem-estar aos seus moradores. (Marianna Rosalles, Francisco Mateus)

» As pessoas procuram atividades e lugares que proporcionem experiências naturais e ecológicas como forma de fugir ao stress e poluição das grandes cidades. (Marianna Rosalles, Francisco Mateus)

» A reciclagem como forma de ressignificar materiais pode ser utilizada por empresas para fabricar novos produtos. (Marianna Rosalles, Francisco Mateus)

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// Insights da tendência V

» Há uma reflexão sobre propósito individual e o papel do trabalho nas nossas As pessoas estão apreciando cada vez mais o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, não estando mais dispostas a voltar para o ritmo anterior à pandemia e nem sacrificar tanto em troca apenas de compensações financeiras. (Paula Costa, 2022)

» Há uma tensão entre o desejo de grande parte das empresas em voltar para o modelo totalmente presencial e colaboradores que desejam mais flexibilidade através de um hibridismo, ou até mesmo manter-se no modelo home office, que foi experimentado durante a pandemia e conquistou muitas pessoas. Essa tensão, associada à evolução tecnológica e um mercado super aquecido, está estimulando um número recorde de demissões, movimento que ficou conhecido como “The Great Resignation”, que começou nos EUA e está se espalhando pelo mundo. (Paula Costa, 2022)

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» O aumento do teletrabalho tem contribuído para um crescimento dos valores de sedentarismo, tendo este último um papel de destaque na mudança de hábitos alimentares, no aumento da confiança na Televisão, no consumo de Redes Sociais e serviços de streaming – visto que se está mais em casa e se procura cada vez mais informação e forma de entretenimento-, além do desenvolvimento e expansão dos espaços multifuncionais. Tal poderá resultar numa modificação completa do espaço doméstico, na sua estrutura e distribuição, bem como nos equipamentos que a complementam. (Catarina Stoffel)

» A deslocação a parques foi alvo de um aumento, o que pode resultar da crescente adoção de animais de companhia durante a pandemia, do fim das restrições de circulação ou atuar como estratégia de atenuação da ansiedade inerente a este período. Numa mesma esfera, pode constituir uma forma de combate ao crescente sedentarismo. O crescimento das visitas a parques pode também ter impacto no campo ecológico, com um aumento do investimento na construção e manutenção dos espaços verdes. (Catarina Stoffel)

» Em tempos pandêmicos, e ainda mais digitais, a aceitação de quem nós somos pelo olhar do outro passa por uma esfera real e simbólica de apropriação e venda de um estilo de vida. As “nossas narrativas estão à venda”, assim como também estamos dispostos a consumir aquilo que se iguala ao estilo de vida com que nos identificamos (A. Melo e L. Cortés).

» O ser humano vive uma luta constante para atingir o bem-estar físico e emocional. Equilibrar esses dois pontos sensíveis é algo de difícil equação. O volume e o ritmo laboral (rotina produtiva) somados à transformação contínua nas formas de interação social (cada vez mais digital) exercem uma influência relevante nesse desequilíbrio. (Andreia Carneiro,  Caroline Rocha,  Karliete Nunes)

» Em muitas situações, a busca pelo autoconhecimento e autocuidado está associada à nostalgia. Nesses casos, retornar a locais e situações do passado traz um sentimento de bem-estar e de satisfação.  (Andreia Carneiro,  Caroline Rocha,  Karliete Nunes)

» A imprensa, de maneira geral, reserva um espaço relevante para notícias sobre saúde mental, principalmente aquelas provocadas e/ou reforçadas pela pressão laboral, ritmo de vida e ambiente digital. Também há vasto material sobre atividades de busca pelo autocuidado. Aqui verificamos como a atual pandemia monopoliza atenções e comportamentos. Diariamente se dedica um elevado número de tempo com as estatísticas relacionadas com a doença, a nível nacional e internacional.  (Andreia Carneiro,  Caroline Rocha,  Karliete Nunes)

» A TV e o cinema, principalmente nos últimos anos, têm abordado com mais frequência estórias relacionadas com a procura pelo bem-estar físico e emocional. Também há uma quantidade considerável de narrativas relacionadas com os efeitos da presença e exposição digital massiva no quotidiano. (Andreia Carneiro,  Caroline Rocha,  Karliete Nunes)

» No período de pandemia, em Portugal, o confinamento não foi sentido de maneira tão dura como em outros países porque muitos portugueses aderiram ao isolamento social por iniciativa própria. O maior choque não foi a obrigação do confinamento, mas o desmantelamento da antiga rotina e a incerteza sobre como será a nova rotina pós-pandemia e que mudanças isso ocasionará. (Andreia Carneiro,  Caroline Rocha,  Karliete Nunes)

» Pelo fato de já estarem familiarizados com alternativas digitais de interação, os indivíduos adaptaram-se à imposição das mesmas como forma privilegiada de comunicação com o mundo exterior. No entanto, o excesso de tecnologia promove o stress entre as pessoas.  (Andreia Carneiro,  Caroline Rocha,  Karliete Nunes)

» Os indivíduos tendem, mesmo após a pandemia e o confinamento, a ficar mais tempo em casa (por receio de uma segunda vaga de infecções). Por esse motivo, as casas estão a tornar-se espaços mais aconchegantes e também mais funcionais para a prática do teletrabalho. Mais plantas, mais espaços para lazer e relaxamento. (Andreia Carneiro,  Caroline Rocha,  Karliete Nunes)

» Antes da pandemia, as pessoas já se sentiam mentalmente cansadas e pressionadas por resultados. Após o início do confinamento, elas continuam cansadas e sentem-se mais pressionadas. Além disso, estão cada vez mais reféns do ambiente digital para a realização das mais variadas tarefas. (Andreia Carneiro,  Caroline Rocha,  Karliete Nunes)

» A privacidade (principalmente digital) já era motivo de preocupação antes do início da pandemia, e consequente isolamento/distanciamento social. No entanto, essa preocupação foi relativizada com a necessidade de rastreamento da população para contenção da disseminação do vírus. Isso reacendeu o debate sobre o tema e pode resultar na flexibilização das normas sobre preservação de dados.  (Andreia Carneiro,  Caroline Rocha,  Karliete Nunes)

» As intervenções artísticas podem ajudar a melhorar a saúde e o bem-estar, contribuindo para a prevenção de problemas mentais e físicos. (Andreia Carneiro,  Caroline Rocha,  Karliete Nunes)

» Instituições de saúde e governos tendem a investir em prevenção para evitar surtos virais futuros e/ou dar uma resposta mais rápida a situações de disseminação de doenças; Isso inclui monitorar a saúde tanto da população local quanto das pessoas que realizam deslocamentos (turistas, por exemplo). (Andreia Carneiro,  Caroline Rocha,  Karliete Nunes)

» O comportamento preventivo deverá ser seguido pela população. Por isso, é previsível que tenham lugar maiores cuidados higiênicos, investimento em saúde preventiva e equipamentos de monitoramento individual da saúde. (Andreia Carneiro,  Caroline Rocha,  Karliete Nunes)

Sinais Cool e Criativos

Budweiser consagra casamento feliz entre gamers e artistas emergentes
(análise de Carolina Represas, 2022)

Fonte
Descrição: A Budweiser, uma das marcas premium da ABInBev é conhecida por promover artistas de música urbana emergentes. Há dois anos lançou a BUDXRECORDS, uma produtora que tem vindo a trabalhar na descoberta desses novos talentos à espera de se tornarem famosos, mas que carecem de oportunidades para serem ouvidos. Este ano, cria um Royalty Free Bot para ajudar os artistas a partilhar a sua arte com o mundo, boicotando ao mesmo tempo o Twitch, uma das plataformas de streaming mais populares da modernidade. Todos os dias dezenas de streamers utilizam música de fundo para animar as sessões de streaming. Contudo, caso não possuam os direitos de autor para essa música, são bloqueados e banidos da plataforma. Este bot alojado ao Discord (uma das apps de comunicação mais populares do mundo), contém nele milhares de músicas de artistas emergentes, disponíveis 24h por dia, 7 dias por semana.
Natureza cool: É relevante por corromper a hegemonia presente no meio artístico em questão e dar espaço a artistas emergentes. Age como força de mudança. É actual e viral. Lançado apenas em 2022, conta já com milhões de gamers e artistas a usufruir do bot, passando a contribuir para questões de construção e posicionamento identitário. Irreverente por priorizar a partilha e promoção da arte ao capitalismo, boicotando ao mesmo tempo uma plataforma monopolizadora do negócio, o que lhe dá um caráter instigante. Apresenta uma proposta de descontinuidade pois cria uma relação de simbiose entre o streamer e o artista nunca antes vista, que os permite prosperar.
Insight: Se existem necessidades e desejos que não estão a ser respondidos, também existe uma oportunidade de criar algo novo. Assim, em vez de haver uma saturação em certas zonas do mercado, o espaço em branco é aproveitado quer pelo lado de quem cria as empresas, quer pelo lado de quem se associa a elas à procura de progredir profissionalmente.
Macro Tendências Relacionadas: Ligações Ergonómicas; Sistemas Sustentáveis

 

Confeere confere que o telemóvel é um “reality blocker”
(análise de Carolina Represas, 2022)

Fonte
Descrição: A instalação “Reality Blocker” do artista português Confeere pode ser encontrada na estação de comboio de Entre-Campos em Lisboa. Visa chamar a atenção para a questão da tecnologia, ao explorar a forma como esta cria um muro entre as pessoas e a realidade. Construída a partir da utilização de tecidos recicláveis, é também um apelo à transição para uma economia circular na indústria têxtil, contribuindo assim para o desenvolvimento sustentável e para colmatar o problema do desperdício. De acordo com o artista, o ser humano está cada vez mais só e virado para os ecrãs dos vários dispositivos tecnológicos a que tem acesso, abstraindo-se daquilo que acontece à sua volta. Esta peça, sendo permanente, simboliza isso mesmo. A figura está presente dia e noite, apenas focada no telemóvel, ignorando completamente tudo o que a rodeia.
Natureza cool: É relevante porque vem com a intenção de agitar o mainstream, chamando a atenção para os factores que imploram por ser mudados na sociedade contemporânea e por isso, é também actual. Instalado numa estação de comboios com um grande fluxo de pessoas a passar diariamente por ele, fotografado e partilhado pela maior parte delas nas redes sociais até se tornar viral. Com mais de 3metros, não passa despercebida a sua irreverência para qualquer que seja a geração a que o observador pertença. Tem um cariz instigante por criticar a realidade à qual o ser humano se habituou, e mesmo sabendo que é construída através de decisões e corrosiva, nem sempre tem a força interior para a mudar. A proposta de descontinuidade está, ao nível físico, na instalação em si que se destaca na rua como um objecto estranho e faz com que as pessoas gravitem à volta dela. No abstrato, personificando uma mensagem de auto-confronto que apresenta a tecnologia como algo negativo e o seu uso como um acto auto-destrutivo. Uma mensagem destas em contraste com a necessidade que o mundo cria de estarmos presentes nas redes sociais para podermos desempenhar tarefas do dia-a-dia (no trabalho, por exemplo), acaba por torná-la um fator diferenciador e de descontinuidade em relação ao mainstream.
Insight: A arte urbana ajuda a que o ser humano se confronte com os problemas do mundo e da sociedade, trazendo à tona a consciência do que é necessário para a mudança positiva.
Macro Tendências Relacionadas: Ligações Ergonómicas; Sistemas Sustentáveis.

 

NASA: Continuamos sem planeta B, mas…
(análise de Carolina Represas, 2022)

Fonte
Descrição: Pela primeira vez na história, os cientistas cultivaram plantas em matéria de solo lunar recolhida pelos astronautas Apollo 11, em 1969. Os investigadores levaram a cabo esta experiência sem saber se alguma coisa brotaria da dura terra da lua, com o objetivo de perceber se poderia ser utilizada para cultivar alimento para uma nova geração de exploradores lunares. Apenas 381 quilos de solo e rocha lunar foram trazidos de volta por seis tripulações Apollo e a maioria foi “guardado num cofre”. Após 53 anos, a Nasa distribui finalmente 12 gramas para os investigadores da Universidade da Florida no início do ano passado. A tão esperada plantação teve lugar em maio deste ano, num laboratório do Instituto de Ciências Agrárias e Alimentares da Universidade, conduzida por Robert Ferl. Os cientistas plantaram talos de agrião em matéria devolvida por Neil Armstrong, Buzz Aldrin, e outros caminhantes da lua há anos atrás, e as sementes, brotaram.
Natureza cool: É relevante, pois através da ciência são abertas portas à possibilidade de viver e de gerar vida fora da Terra, pondo fim ao fruto das estruturas sólidas que alicerçavam a nossa irredutível existência no planeta. A nostalgia alocada ao facto de a matéria lunar pertencer à missão da Apollo 11, torna a descoberta mais relevante ainda. Está relacionado com o passado, presente e futuro impactando um mar de gerações do presente e possivelmente das ainda por vir, logo, é viral. Apesar de a partir de terra lunar de 1969, é actual pois as sementes brotaram em maio de 2022. É instigante na medida em que desperta nos cientistas uma curiosidade em saber até onde a descoberta pode levar a humanidade, e irreverente ao desafiar a crença de impossibilidade de gerar vida fora do planeta azul. A proposta de descontinuidade está no cariz 100% pioneiro do acontecimento, e no “abrir mãos” por parte da NASA ao fornecer matéria lunar para o avanço da ciência e humanidade.
Insight: É possível gerar recursos fora do planeta Terra que garantam a vida do ser humano.
Macro Tendências Relacionadas: Sistemas Sustentáveis

 

Real no virtual – Os impactos da crise climática na cidade mais importante do mundo virtual.
(análise de Paula Costa, 2022)Fonte
A crise climática é um assunto que, mesmo urgente e de grande impacto em toda a humanidade, ainda é muitas vezes negligenciado. Com vista a conscientizar a população sobre as consequências do Aquecimento Global, a Greenpeace realizou uma ação em que projeta os efeitos reais dos eventos extremos na cidade mais importante do mundo virtual: Los Santos, réplica hiper-realista da cidade de Los Angeles. Com o nome de Los Santos +3ºC, o projeto pretende mostrar como os efeitos da crise climática serão desastrosos caso as pessoas não se mobilizem o mais rápido possível em prol da causa. Além disso, o Greenpeace reforça que muitos dos efeitos já podem ser observados atualmente em diversos lugares do mundo e que a tendência é eles se tornarem cada vez mais frequentes e extremos.
Natureza Cool: O sinal é extremamente atual e relevante, pois sublinha o tema da crise climática, que é muito importante e urgente para todos nós – ou, pelo menos, deveria ser. A imersão ativa no game foi experienciada apenas no mês de fevereiro de 2022, com transmissões ao vivo de streamers famosos. No entanto, o projeto ainda pode ser visualizado e outras formas de interação com a causa, derivadas da ação com o game, como a assinatura da petição do Greenpeace, também estão ativas. Ele é instigante por ser a primeira experiência que promove o debate de questões socioambientais no mundo virtual utilizando a imersão possibilitada pelas tecnologias do metaverso. É irreverente, pois traz um assunto sério para um contexto não tão usual, com os personagens do jogo podendo participar de diversas missões, como distribuir máscaras, entregar água potável e resgatar refugiados. É viral, pois o uso dos games e do metaverso como plataforma/meio de conscientização social e debate de temas importantes tem grande capacidade de propagação. Também traz uma ideia de descontinuidade, pois traz à tona a noção de que o universo gamer, bem como o ativismo socioambiental, vão muito além dos estereótipos antiquados que vêm sendo propagados há décadas.
Tribos Urbanas e Estilos de Vida: O sinal é relevante para a comunidade gamer, tendo em vista a relevância que o jogo já possuía antes mesmo do projeto do Greenpeace. Também é de interesse do público que acompanha inovações tecnológicas, em especial novidades do metaverso, pois ele apresenta uma experiência pioneira no mundo digital. Além da tecnologia, a sustentabilidade e a preocupação com o meio ambiente são centrais no projeto. Portanto, ele também é relevante para o público que se interessa por essas questões.
Inovação e Fórmula Cultural: A fórmula cultural utilizada aposta no hiper-realismo e na relevância do jogo na comunidade virtual/gamer para lançar luz para um assunto de extrema importância, a crise climática. A narrativa foca em mostrar imagens de antes e depois de pontos turísticos de Los Angeles, que são muito conhecidos ao redor do mundo, buscando chocar o público sobre os potenciais eventos extremos. Ela também reforça que o projeto baseou-se em informações científicas e previsões reais do que pode acontecer se não fizermos nada para mudar essa situação, dando bastante destaque para citações de grandes meios de comunicação. O vídeo promocional não é apresentado apenas como uma divulgação de um game ou, ainda, um projeto do Greenpeace, mas como uma experiência imersiva e um “call to action” a todas as pessoas. Mais do que um jogo, é um apelo para a mudança agora, em prol do futuro do planeta.
Insights: O metaverso e os games estão evoluindo em ritmo intenso, com tecnologias cada vez mais complexas e maior quantidade de adeptos ao redor do mundo. Há grande oportunidade de utilizar os games não apenas como uma fonte de diversão, mas também como plataforma para divulgação e discussão de assuntos e causas relevantes. Devido a sua capacidade de interatividade, imersão e alcance de públicos diversos, os games e o metaverso tem o potencial de servirem como novos meios para se comunicar e conectar com as pessoas de uma forma mais dinâmica. Ainda há muito a se explorar nesse universo, tanto em prol de causas sociais, mas também com objetivos comerciais.
Macro Tendências Relacionadas: O sinal relaciona-se com a macro tendência dos Sistemas Sustentáveis, dado que a preocupação com a sustentabilidade é central, com a mentalidade de urgência e de colaboração para conter danos, reverter impactos negativos já existentes e agir no presente em prol de um futuro melhor. A gamificação e o hiper-realismo da experiência interativa, que promove a convergência entre o mundo real e virtual, também sugerem uma relação deste sinal com a macro tendência das Ligações Ergonómicas.

 

E se você pudesse ser outra pessoa temporariamente? The Cookie Factory
(análise de Paula Costa, 2022)

Fonte
Descrição: O tema da privacidade online é bastante complexo e vem sendo intensamente debatido. Para que servem os dados, como eles funcionam, como podemos nos proteger? As empresas investem, cada vez mais, em tecnologias de inteligência artificial (IA) para coletar dados pessoais por meio de cookies – pequenos arquivos que identificam os usuários – e utilizá-los para gerar conteúdos e experiências mais personalizados, o que pode ser benéfico ou prejudicial às pessoas. Visando conscientizar as pessoas sobre os potenciais riscos, além dos desafios éticos da IA, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) lançou uma extensão – The Cookie Factory – que brinca com a possibilidade de assumirmos, temporariamente, uma identidade totalmente nova e, assim, enganarmos os algoritmos. “Os usuários podem criar um perfil falso temporário que substitui seus próprios cookies em todos os sites que visitam regularmente, incluindo Amazon e YouTube”. Dessa forma, a pessoa consegue navegar numa web que foi direcionada e personalizada para a sua nova persona, observando as diferenças do seu perfil original.
Natureza Cool: O projeto é relevante, pois trata de um tema que afeta a vida de todos nós, a privacidade digital. Além disso, o fato de ser algo tão inovador e divertido chama atenção, pois, em certa medida, difere do que estamos acostumados a ver em iniciativas de grandes entidades como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. A sua dinamicidade, inúmeras possibilidades de uso e personalização de identidades também apontam para a sua característica viral e instigante – você pode criar uma nova persona e ser quem quiser. Além disso, a ideia de enganar o sistema e burlar os algoritmos é irreverente. O usuário tem a possibilidade de hackear o que é esperado dele, indo contra o mainstream. Somado a isso, pode-se afirmar que o projeto é extremamente atual e relevante, pois, além da extensão “The Cookie Factory” ter sido lançada em novembro de 2021, ela não é um projeto isolado. Na 41ª Conferência Geral da UNESCO, que ocorreu no mesmo mês, em Paris, a organização lançou o primeiro conjunto de regras globais sobre a ética na Inteligência Artificial. O enquadramento universal da IA, aprovado pelos 193 Estados-membros da UNESCO, é o primeiro texto oficial a nível global sobre o tema e vai servir como base para definir os princípios legais da IA no mundo. Sendo assim, o “The Cookie Factory” aponta para um momento de descontinuidade e mudança no mundo atual.
Insights: A inteligência artificial está evoluindo para um nível de complexidade e sofisticação cada vez maior, o que torna difícil para as pessoas acompanharem as inovações digitais e, de fato, entenderem as técnicas e processos por trás de tudo que é usado no dia a dia. Ao mesmo tempo que a IA pode ser benéfica, ela também possui riscos, como perigos relacionados à privacidade e desinformação, o que levanta intensas discussões sobre o seu uso. É importante ver como as novas tecnologias devem ser enquadradas de forma a maximizar seus potenciais benefícios e diminuir riscos. As empresas devem observar como os diferentes públicos reagem ao uso da IA, e qual o nível de maturidade e consciência eles têm em relação a esta. Alguns usuários podem ser mais receptivos à mudança e à experimentação, enquanto outros primam por meios mais tradicionais – no entanto, o que é comum a todos é a preocupação crescente com a segurança de dados pessoais.
Tendências Relacionadas: O sinal cool relaciona-se com macro tendência Ligações Ergonômicas ao manifestar o desenvolvimento tecnológico e a articulação de soluções com fronteiras cada vez menos definidas entre a realidade física e digital. As contradições entre o acesso total, a segurança digital e o movimento de desconexão são sublinhados. Além disso, também tem relação com a macro tendência Identidades Protagonistas, ao apontar para uma revisão do conceito de identidade e recusa de rótulos.

 

Geladeira Smart faz compras sozinha e indica opções de alimentação
(análise de Lucas Silva, 2022)

Fonte

Descrição: Focada em lançar eletrodomésticos inteligentes, a Amazon está a desenvolver um projeto intitulado “Project Pulse”: uma geladeira “smart” que consegue entender hábitos de consumo e avisar sobre produtos em falta, prazos de validade, ou até mesmo realizar a compra de maneira autônoma, ligando a geladeira a outras cadeias de alimentos da empresa. O projeto pretende ainda que a geladeira elabore receitas, crie listas de alimentação saudável e dê dicas ao usuário. Com o desenvolvimento da tecnologia e empresas fabricantes de eletrodomésticos como parceiras, é um produto que pelo acúmulo de tecnologia de ponta deve inicialmente ser atrativo somente para consumidores de alto poder aquisitivo. Apresenta a junção de inovação e adaptação de produtos às exigências atuais e padrões tecnológicos, além de dedicar-se também a outra questão que habita o imaginário coletivo, de alimentação saudável, de acordo com as preferências de cada consumidor.
Natureza Cool: A interconectividade dos artefatos é presente em abundância, e um projeto que une questões de saúde, praticidade e tecnologia, possui relevância e natureza cool. É relevante por tratar-se de uma inovação digital com eletrodomésticos atrelados a partes mais práticas do dia a dia, sendo inovador em questões pertinentes. Atual e irreverente, uma vez que provoca artefatos tradicionais e nossas relações com eles, viral pois chama a atenção para mais um item com internet das coisas a facilitar a rotina das pessoas, instigante por seu potencial de aprofundar os benefícios do digital a itens tidos como tradicionais. Apresenta uma proposta de descontinuidade ao apontar a quebra no conceito padronizado de geladeiras, no que esse sinal suscita possiblidades de maiores atributos e responsabilidades ao produto.
Insights: A facilidade e praticidade atreladas ao conceito ganham maior sustentação ao aprofundar as hipóteses de sugestões de receitas, e estilos de alimentação, buscando maior saúde do usuário. Aprender hábitos de consumo e funcionar como lembrete sobre produtos em falta, pode ocupar um espaço irreversível na vida dos consumidores, que com o produto em seu quotidiano sublinha uma tradicional quebra de costumes, hábitos e comportamentos.
Relação com outras tendências: Ligações Ergonómicas
Referências:
https://mundoconectado.com.br/noticias/v/20917/geladeira-inteligente-da-amazon- avisara-quando-a-comida-acabar – consultado em 25 de maio
https://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2021/10/geladeira-inteligente-saiba- qual-deve-ser-o-proximo-passo-da-amazon.html – consultado em 25 de maio
https://smartme.pl/en/project-pulse-amazon-with-its-own-smart-refrigerator/– consultado em 25 de maio
https://www.tecmundo.com.br/produto/226427-amazon-trabalhando-geladeira- inteligente-sugere-pratos.htm – consultado em 25 de maio
https://newvoice.ai/2021/10/06/amazon-pode-ter-geladeira-que-identifica-habito-de- consumo-da-pessoa/ – consultado em 19 de junho
https://techbreak.ig.com.br/amazon-estaria-trabalhando-em-geladeira-smart-capaz-de- fazer-compras-sozinha/ – consultado em 19 de junho
https://techcrunch.com/2021/10/05/amazon-is-reportedly-working-on-a-smart-fridge- that-tracks-whats-inside/?guccounter=1 – consultado em 20 de junho
https://www.businessinsider.com/amazon-is-building-smart-fridge-that-monitors-your- buying-patterns-2021-10 – consultado em 20 de junho

 

Samsung Galaxy for the Planet
(análise de Lucas Silva, 2022)

Fonte

Descrição: Como um projeto fixo da empresa em diminuir o impacto ambiental com seus produtos, a Samsung lança “Galaxy for the Planet”. Campanha que preza pelos valores de sustentabilidade através de tecnologias de inovação, que abrangem um projeto ainda maior da empresa, em chegar a nenhum impacto ambiental até o ano de 2025, e construir um futuro melhor para as pessoas. A campanha envolve as cadeias de produção da empresa, e visa a utilização de materiais ecologicamente corretos, como por exemplo a redução de plástico nas embalagens de produtos, que perdem sua utilidade logo após a abertura, e até mesmo a energia utilizada em carregadores para os smartphones, que mesmo no modo de espera seguem a consumir energia. A empresa anunciou inicialmente o compromisso de zerar o uso de plásticos em seus produtos e a campanha está ancorada em quatro principais metas: Reduzir o descarte de lixo eletrônico das fábricas em aterros, incorporar material reciclado em todos os novos produtos, além das já mencionadas ações que visam os carregadores e a eliminação de plásticos das embalagens. Para o vídeo mundial de lançamento da campanha (ver referências), o grupo sul-coreano BTS juntou- se à marca, com os acessos na plataforma Youtube totalizando quase 2 milhões de visualizações até a data de consulta.
Natureza Cool: O marketing atravessa ao longo de sua história diferentes propostas, se considerada desde a Revolução Industrial o aumento de ofertas e demandas. Na fase atual, há o marketing de propósito, que cada vez mais complementa o trabalho das marcas em cima do que é feito pelas empresas além dos produtos e serviços que vendem. Tal iniciativa, abrangendo as cadeias de produção da Samsung, apresenta o propósito da marca em estar enquadrada em valores atuais, como os indicados nessa campanha. Não há mais como separar marcas de propósitos humanos e ecológicos, e tendo isso em consideração, a campanha “Galaxy for the planet” é um sinal de natureza cool e disruptiva. Relevante por sua proposta e com impacto direto na vida dos consumidores e do planeta. Viral já que chama a atenção para revolucionar processos e apresenta um gene criativo e inovador com potenciais de propagação da mensagem, além da utilização do grupo sul-coreano BTS que somente no vídeo da campanha já alcançou excelentes números de visualizações. Atual, pois está a desenvolver uma campanha que discute o agora como preparação para um futuro próximo com uma data estipulada (ano de 2025). Irreverente no que provoca as demais marcas a acompanharem tal projeto e provoca o mainstream de produção de aparelhos eletrônicos. Instigante ao chamar atenção para um propósito claro e do interesse de todos. Proposta de descontinuidade em propor uma quebra com a linha de produção existente e que envolve malefícios ao planeta, com a campanha é apresentada uma evolução para trabalhos futuros das marcas.
Insights: A característica principal desse sinal está em perceber como aponta um potencial para o futuro, no sentido de caminho a ser seguido, e que as lições a partir disso estão totalmente relacionadas com o propósito das pessoas e das marcas, cada vez mais em voga. Por tratar-se de uma campanha com ideais que vão ao encontro dos princípios mundiais de pessoas e marcas, indica caminho a ser seguido por todas as empresas que possuem potenciais de economia criativa em seus processos. Para o futuro, pode sugerir um rumo único para as empresas e consumidores, com a exigência de tais conceitos tornando-se padrão nos processos de escolha e compra.
Macro Tendências Relacionadas: Sistemas sustentáveis, no que tange às condições de produção e propósitos da empresa aos valores ecológicos. E redesenho de estilos de vida aos consumidores passarem a optar por marcas que apresentem ideologias que sejam comuns às suas e às do planeta. No momento de escolha de compra e consumo, ter também isso em mente.
Referências:
https://boksburgadvertiser.co.za/445309/pioneering-sustainability-the-samsung-galaxy- s22-series-is-win-for-both-humans-and-the-planet/ – consultado em 18 de maio
https://www.tudocelular.com/mercado/noticias/n178155/galaxy-for-the-planet- samsung-celulares-2025.html – consultado em 18 de maio
https://www.clubedecriacao.com.br/ultimas/galaxy-for-the-planet/ – consultado em 18 de maio
https://www.ambientemagazine.com/galaxy-for-the-planet-reflete-o-compromisso-da- samsung-em-prol-da-sustentabilidade/ – consultado em 18 de maio
https://www.beecircular.org/post/samsung-programa-galaxy-for-the-planet – consultado em 19 de junho
https://www.nerdsite.com.br/em-nova-campanha-bts-defende-a-prevencao-das- mudancas-climaticas-confira/ – consultado em 20 de junho
https://www.youtube.com/watch?v=9Poo70B4oCM – vídeo da campanha com grupo BTS – consultado em 20 de junho
https://br.adforum.com/creative-work/ad/player/34651464/galaxy-x-bts-galaxy-for-the- planet/samsung-galaxy – consultado em 20 de junho
https://www.samsung.com/pt/explore/brand/reimagine-a-better-planet/ – consultado em 20 de junho

 

Coca-Cola lança a primeira bebida do Metaverso
(análise de Lucas Silva, 2022)

Fonte

Descrição: Como excelente contributo ao trabalho de marca, a Coca-Cola Creations, plataforma global de inovação para colaboração, criatividade e conexões culturais da empresa, protagonizou mais um feito que lhe confere credibilidade e relevância: Lançou Coca-Cola Byte, um refrigerante criado dentro do jogo Fortnite. Com o propósito de unir as pessoas para compartilhar momentos, dentro de uma ilha na plataforma do jogo, um acesso via pixels conferia aos usuários momentos para compartilhar. Com a proposta do compartilhamento de emoções a acontecer dentro de jogos ou na vida, é um lançamento da marca que inova, chama atenção e contribui com os propósitos de comunicação. Além do lançamento de Byte e de produtos de vestuário ligados ao universo gamer, a marca também lançou um outro jogo dentro do metaverso, de realidade aumentada, que usuários podem acessar através dos códigos existentes nas latas físicas do refrigerante, que estão em edição limitada a circular em países como Argentina, Brasil, China, Chile, Colômbia, Estados Unidos, México e Paraguai. O vídeo da campanha, publicado no canal oficial da marca no Youtube, apresenta o código de acesso para a ilha de Coca-Cola construída no Fortnite.
Natureza Cool: Relevante, uma vez que lida com aspectos do momento como a aproximação dos conceitos da marca ao universo gamer, além de sublinhar uma necessidade de empresas acompanharem a presença massiva dos consumidores no metaverso. Viral pois foi lançado inicialmente na plataforma digital, de maneira criativa chamou a atenção dos consumidores e com foco também em um público específico de apreciadores de jogos online. De maneira atual, irreverente e instigante, discutir e dialogar com questões do momento, provocar outras marcas a criarem seus produtos também no digital, e contém alta possibilidade de engajamento junto ao público. Apresenta proposta de descontinuidade ao quebrar a tradicional forma de lançamento de produtos e união de diferentes possibilidades, como real e digital. Dados levantados na pesquisa de desk research, acerca da quebra de fronteiras entre físico e digital, encontram sustentação também neste sinal.
Insights: é evidente a necessidade de marcas unirem suas criações de universo físico e digital, e entenderem como não há mais a opção de não estar também dentro de conteúdos que satisfaçam públicos distintos. A aproximação a um público da cultura gamer, com cada dia mais adeptos, aponta um caminho que certamente deve apresentar mais novidades em produtos e serviços em breve.
Macro Tendências Relacionadas: Ligações Ergonómicas
Referências:
https://forbes.com.br/forbes-tech/2022/04/como-a-coca-cola-criou-a-primeira-bebida- do-metaverso-no-fortnite/ – consultado em 18 de maio
https://www.meioemensagem.com.br/home/marketing/2022/04/05/coca-cola-lanca- bebida-com-sabor-de-pixel.html – consultado em 18 de maio
https://www.tecmundo.com.br/internet/236776-coca-cola-lanca-sabor-byte-inspirado- metaverso.htm – consultado em 18 de maio
https://es.digitaltrends.com/tendencias/coca-cola-sabor-pixeles-metaverso/ – consultado em 18 de maio
https://www.istoedinheiro.com.br/menos-acucar-mais-tecnologia-coca-cola-aposta-em- edicoes-limitadas-para-conquistar-millenials/ – consultado em 18 de maio
https://exame.com/casual/coca-cola-lanca-novo-sabor-em-edicao-limitada-inspirada-no- metaverso/ – consultado em 19 de junho 2022
https://www.invest4news.com.br/coca-cola-lanca-primeira-bebida-criada-no-metaverso/ – consultado em 19 de junho 2022
https://pt.ign.com/fortnite/110627/news/coca-cola-apresenta-edicao-especial-para- fortnite-e-mundo-real – consultado em 20 de junho 2022
https://www.moneytimes.com.br/coca-cola-com-sabor-de-pixels-conheca-a-bebida- criada-no-metaverso/ – consultado em 20 de junho 2022
https://www.gazetadopovo.com.br/bomgourmet/produtos-ingredientes/coca-cola-pixels/– consultado em 20 de junho 2022

 

Em Hellmann’s Canada cria ilha virtual solidária no jogo Animal Crossing.
(análise de Catarina Stoffel, 2022)

Fonte da Imagem: Twitter Hellmann’s Canada
Descrição: Em 2020 a marca Hellman’s criou, através de uma parceria, uma ilha virtual no jogo Animal Crossing: New Horizons, onde os jogadores poderiam, por tempo limitado, converter desperdício alimentar das suas colheitas virtuais em alimentos reais a serem doados para a Second Harvest, uma organização que angaria bens alimentares para pessoas carenciadas com vista a combater a fome.
Para terem acesso à ilha, os jogadores necessitavam de um código – em número limitado – fornecido pela marca através de mensagem privada no Instagram. Após entrarem na ilha, dispunham de 15 minutos para entregarem os alimentos expirados e visitar o espaço virtual, disfrutando de vários conteúdos, incluindo downloads gratuitos.
Leitura Semiótica: A leitura semiótica deste objeto prende-se com a ligação que se estabelece entre o mundo real e virtual, além do modo como este último é construído. Neste sentido, a marca utiliza um problema real – o desperdício alimentar e a fome – e alia-o a um espaço virtual de combate ao mesmo.
Adicionalmente, a ilha construída no jogo – ela própria oferecendo uma solução para desperdício virtual fruto do tipo de jogabilidade do Animal Crossing: New Horizons – também contém zonas lúdicas, bem como espaços para os jogadores desfrutarem de, por exemplo, conteúdo gratuito.
Ainda que o acesso ao espaço virtual seja livre, este está limitado a um número de códigos de entrada oferecidos pela marca, o que pode constituir uma forma de promover uma noção de espaço limitado e restrito e, assim, aumentar o valor da marca. Esta ideia parece ser reforçada quando se considera a causa – o combate à fome e ao desperdício alimentar dado que o objetivo seria juntar o maior número de pessoas, e não limitar.
Contudo, pode também ser um modo de a Hellmanns garantir aos jogadores uma experiência semelhante ao que seria um encontro restrito com a marca no mundo real. Esta noção de exclusividade é, novamente, reforçada quando se considera que a ilha esteve disponível apenas durante cinco dias.
Deste modo, é construída uma ligação próxima entre a marca e a ampla comunidade de jogadores de Animal Crossing: New Horizons, que se unem com um propósito comum.
Noutra esfera, apesar de a ilha em questão ser criada num jogo que aparenta ser para crianças, várias são as faixas etárias que jogam o mesmo, com cerca de 11 milhões de jogadores no mundo (The Guardian, 2020), o que pode indicar a razão pela qual a Hellmanns optou por esta plataforma e incluiu vários espaços lúdicos na sua ilha virtual.
Natureza Cool: o objeto em análise é relevante dado o modo como considera a quebra das barreiras entre o mundo virtual e o real; é atual visto que se aplica a um jogo virtual, sobretudo de grande sucesso no presente; é viral porque cria um espaço apelativo, de acesso limitado, num espaço digital já por si muito frequentado; é irreverente ao desafiar a ideia do mundo digital como impermeável ao mundo real, atribuindo-lhe, além dessa osmose, uma aplicação física e solidária; é instigante pois incita à curiosidade dos jogadores para explorar a restrita ilha virtual e o seu potencial; e, por fim, contém uma proposta de descontinuidade uma vez que oferece uma nova forma de unir o mundo virtual ao digital, com objetivos de caráter humanitário.
Estilos de Vida: Este objeto integra-se na comunidade dos Tech Freaks, mais especificamente nos Gamers, dado que alia o espaço virtual de um jogo de grande sucesso com uma causa solidária.
Inovação e Fórmula Cultural: Ao analisar o trailer promocional da campanha em questão é possível denotar que o principal foco se encontra no combate ao desperdício alimentar, sendo a maior parte do vídeo dedicada a explicar como este fenómeno ocorre no jogo e pode, através dele, ser combatido no mundo real.
Neste sentido, ainda que todo o vídeo consista em imagens do jogo – nomeadamente da jogabilidade, do desperdício virtual e de como se processa a troca de alimentos expirados por doações reais –, apenas no final do mesmo são revelados algumas imagens da ilha criada pela Hellmanns, bem como do conteúdo exclusivo que a mesma oferece.
Insights Estratégicos: Este objeto alia o mundo virtual ao real, quebrando as barreiras entre ambos, numa campanha de combate ao desperdício alimentar. Num mundo em que, “A perda e o desperdício alimentar, no seu conjunto, chegam a atingir um terço dos alimentos gerados em todo o planeta” (Peralta, 2021) e com o aumento da fome mundial, resultante da pandemia Covid-19, ações humanitárias como esta são cada vez mais relevantes.
Adicionalmente, apela a uma comunidade em crescimento – jogadores de Animal Crossing: New Horizons – criando uma ligação entre a mesma e a marca Hellmanns.
Macro Tendências Relacionadas: O objeto em análise relaciona-se com as macrotendências Ligações Ergonómicas e Sistemas Sustentáveis, dado que esbate as fronteiras entre o real e o digital para reduzir o desperdício alimentar e, em última instância, a fome mundial.
Referências:
Hellmanns. 2020. “Hellmann’s® new Animal Crossing island converts players’ virtual food           waste   into    real    food   for    people    in    need”.   Newswire.    Disponível    em https://www.newswire.ca/news-releases/hellmann-s-r-new-animal-crossing-island- converts-players-virtual-food-waste-into-real-food-for-people-in-need-877929637.html (Consultado a 6 de junho de 2022)
Peralta, H. 2021. “Um terço dos alimentos produzidos no mundo é desperdiçado”. Diário de Notícias. Disponível em: https://www.dn.pt/sociedade/um-terco-dos-alimentos- produzidos-no-mundo-e-desperdicado-14049871.html (Consultado a 6 de junho de 2022)
MacDonald, T. 2020. “It’s uniting people: why 11 million people are playing Animal Crossing:        New        Horizons”.                The        Guardian.        Disponível        em https://www.theguardian.com/games/2020/may/13/animal-crossing-new-horizons- nintendo-game-coronavirus (Consultado a 6 de junho de 2022)

 

Em terras de filtros e harmonizações quem é REAL é rei.
(análise de Bruna Borges, 2022)

Fonte: Wunderman Thompson, 2022.
Descrição: Com quase 7 milhões de downloads, segundo o Wall Street Journal, a plataforma BeReal traz um conceito diferente das demais redes sociais da atualidade, uma espécie de antítese ao Instagram. Isto chamou a atenção da Geração Z. O BeReal promove autenticidade através de uma proposta simples: em algum momento do dia, uma notificação aparece no celular do utilizador e ele terá 2 minutos para tirar uma foto, usando as câmaras frontais e traseira do seu celular. A foto poderá ser compartilhada entre amigos ou em formato público, alcançando milhões de utilizadores do BeReal. A aplicação foi lançada em 2020, mas agora em 2022 teve o seu pico de downloads nas plataformas Apple e Google, fazendo sucesso entre os que estão ávidos por uma novidade.
ADN Cool: O aplicativo torna-se relevante, ao passo de fomentar uma comunidade farta das narrativas manipuladas, dos filtros, das fake news, invocando uma exposição da realidade como ela é. Com alma jovem e descolada, o aplicativo viraliza entre a Geração Z e tem em seu ADN o imperativo de se manter atual no contexto contemporâneo. Sua irreverência está em ser normativo, transformando o cotidiano em entretenimento para a comunidade envolvida. Recorre, de forma publicitária, ao seu público com o head: “é a sua chance de mostrar aos seus amigos quem você realmente é, pelo menos uma vez.” Instigando o consumidor a se conectar nesta comunidade que demanda pelo verdadeiro “pertencer”. Como antagônica aos moldes das redes sociais atuais, propõe a descontinuidade dos padrões foto/vídeo perfeita para o feed.
Insights Criativos: O aplicativo nos traz a perspectiva da institucionalização da transparência, onde marcas devem ser transparentes ao se conectar com os seus consumidores, parceiros, concorrentes. Criando comunidades de marca sólidas, com abertura para um branding formado pelo diálogo e cocriação entendendo que o vínculo entre as partes é mais forte que apenas a compra de um produto e/ou serviço.
Tendências Relacionadas: Ligações Ergonómicas, Narrativas Ancoradas e Identidades Protagonistas com ênfase na micro Exponencialmente Real.

 

A livraria de mulheres para mulheres e sobre mulheres
(análise de Beatriz Baptista, 2022)

Fonte: Livraria das insurgentes – Home | Facebook

Descrição: Em abril de 2021 surge uma livraria itinerante, com base na Sirigaita, dedicada a criar um espaço plural para diálogos interseccionais, na medida em que constroem um catálogo inclusivo e diversificado. A livraria apela ao feminismo e à divulgação de livros escritos por mulheres, com o intuito de visibilizar as vozes femininas, não binárias e oprimidas pelo sistema cis-heteropatriarcal.
Natureza Cool e insights: É instigante porque até hoje, no mercado editorial do livro, a autoria masculina, heterosexual, branca e ocidental é a predominante, e a Livraria das Insurgentes vem expor aquilo que não é partilhado ou divulgado. Contém uma proposta de descontinuidade e é relevante ao ceder um catálogo que contém livros, narrativas e estudos, em diferentes línguas, que viabilizem olhares não hegemónicos, não eurocêntricos, insurgentes e decoloniais. è viral por se utilizar a ideia por detrás deste projeto para outros, como por exemplo na área do cinema. É atual por abordar as questões da hierarquia de género e inferioridade das mulheres. É irreverente por pedir alteração, por exigir mais atenção à mulheres e ao que estas produzem.
Tendências relacionadas: Identidades Protagonistas

 

 

Feminismo, Interseccionalidade e Não Binarismo
(análise de Beatriz Baptista, 2022)

Fonte: NEM QUE A GAJA TUSSA (@nemqueagajatussa) • Instagram photos and videos
Descrição: Em contexto pandémico (junho de 2020), surge de uma preocupação para com a forma como a sociedade patriarcal portuguesa trata as mulheres e quaisquer outras minorias existentes em Portugal. Cresce, assim, este coletivo feminista que pretende lutar e promover uma visão intersecional, não binária e contextualizada. Este projeto passa pela tentativa de aproximação pluralista, contínua e multidirecional, que, dialogando com outros coletivos, se desenvolvessem trabalhos em conjunto para se atingir a diversidade, inclusividade, não hierarquização e, em geral, ter-se uma sociedade portuguesa mais aberta.
Natureza Cool: É viral porque se podem fazer inúmeros projetos e campanhas com estes valores e objetivos em mente. É atual por serem questões de que se fala e é necessário continuar-se a falar. É instigante pois as propostas que propõem são bastante atrativas. Contém uma proposta de descontinuidade por clamar por uma mudança e tentar quebrar a sociedade patriarcal portuguesa. É relevante e irreverente por ser um atrevimento e fazer impacto junto daqueles que acreditam que o pensamento passado é o correto.
Macro Tendências relacionadas: Identidades Protagonistas

 

A Barbie já é Trans!
(análise de Beatriz Baptista, 2022)

Fonte: Mattel Creations

Descrição: Para comemorar o 50º aniversário da atriz Laverne Cox e para marcar o Mês do Orgulho de 2022, em finais de maio a Mattel desenvolveu a primeira Barbie trans, que faz parte da Barbie’s Tribute Collection, a nova coleção desta boneca que pretende homenagear mulheres influentes e visionárias de todo o mundo. Esta nova Barbie pertence a uma estratégia da marca de trazer diversidade e representatividade ao público mais jovem.
Natureza Cool e insights: É relevante, irreverente e contém uma proposta de descontinuidade por se tratar precisamente da Barbie, uma boneca que acompanha o crescimento das crianças (essencialmente raparigas, contudo também já se tentou destituir esse estigma) há inúmeros anos; introduzir as novas concepções de identidade em algo que estava pré-estabelecido desde há longos tempos atrás, em que representava a beleza inatingível, cis branca e hétero, que todas as mulheres sabiam inalcançãvel, mas que todas em criança sonhavam poder vir a ser assim, é trazer a diversidade e representatividade para a vida dos mais novos, mostrando que não existe só uma beleza e que tudo é aceitável, quer seja a cor da pele, quer seja o género com que se identifica, quer seja em poder amar quem quiser. É viral já que a ideia de inclusividade pode ser instituída em mais objetos e produtos. É atual por ser um tema muito presente e do momento. É instigante por chamar a atenção de toda a população por tocar em questões de nostalgia, toda a gente sabe no que consiste e quais eram os valores da Barbie.
Tendências relacionadas: Identidades Protagonistas; Narrativas Ancoradas

 

Shine Turbine: o gerador de energia eólica portátil
(análise de Maria Alves, 2022)

Imagem do gerador Shine Turbine em ambiente de natureza. | Fonte

Descrição: A energia eólica tem sido uma forte aposta de vários países, incluindo Portugal, para gerar energia de forma mais sustentável. No entanto, até há pouco tempo a sua acessibilidade ao público em geral era restrita. A empresa Aurea criou o Shine Turbine, um gerador de energia eólica acessível ao público em geral e que cabe numa mochila.
Leitura Semiótica: Nesta análise, o foco está nos signos conotativos vento, gerador de energia e portabilidade. O vento é um recurso inesgotável, gratuito e que existe em todo o lado, com maior ou menor intensidade. Por sua vez, gerador de energia remete-nos para eletricidade, conetividade, tecnologia, acesso. Já portabilidade relaciona-se com acessibilidade e praticidade.
Leitura do ADN Cool: Este sinal é relevante, uma vez que somos cada vez mais dependentes de dispositivos carregados a eletricidade, tratando-se esta inovação de uma solução para gerar eletricidade em locais onde o acesso seria difícil. É viral, pois o conceito de tornar portáteis e mais acessíveis dispositivos que anteriormente dificilmente seriam utilizados pela população em geral e/ou em locais mais isolados tem tendência a crescer devido à cada vez maior necessidade de ter acesso facilitado a todo o tipo de coisas e tecnologias. É atual, porque responde à necessidade de conetividade e também à procura por energias mais sustentáveis e económicas. É irreverente e instigante pelo facto de provocar a rotura entre a ideia de energia eólica como associada a grandes infraestruturas (normalmente pertencentes a países ou a empresas) e mostrar a energia eólica como acessível, portátil e prática.
Estilos de Vida e Tribos Urbanos: Podemos identificar dois possíveis grupos de aderentes a este aparelho portátil: um grupo relacionado com turismo e atividades de aventura e natureza; e um grupo de pessoas interessadas em estilos de vida mais sustentáveis.
Inovação e Fórmula Cultural: A narrativa é construída em torno da portabilidade do dispositivo, da geração de energia com vento (recurso gratuito e sustentável) e da conetividade e acesso a dispositivos móveis até nos locais mais isolados.
Insights Estratégicos: O gerador portátil de energia eólica Shine Turbine apresenta-se como a solução para um acesso fácil, económico e sustentável a energia em qualquer lugar com algum vento. Surge num contexto no qual o acesso à eletricidade é cada vez mais importante, mesmo nos locais mais improváveis, tanto por motivos de segurança, comodidade, como pela necessidade constante de conectividade. O principal grupo de pessoas interessado neste gerador relaciona-se com turismo de natureza e atividades de natureza. Ora, o número de pessoas cujo emprego é partilhar as suas viagens e experiências é cada vez maior, pelo que ter um dispositivo que produza eletricidade em qualquer lugar poderá ser importante para o seu trabalho. Da mesma forma, como consequência da pandemia, a crescente aderência ao teletrabalho também poderá motivar pessoas a trabalhar em contexto de viagem.
Macro Tendências Relacionadas: Este sinal poderá ser associado à macro tendência Sistemas Sustentáveis, uma vez que permite um acesso facilitado à produção de energia elétrica portátil, sustentável e gratuita.

 

Casa do Xisto
(análise de Margarida da Costa, 2022)

Fonte

Descrição: A Casa do Xisto é uma residência artística, de cinema e artes visuais, localizada na aldeia de Macieira de Rates, Barcelos. Fundada em 2021, a Casa do Xisto pretende ser um “laboratório de expressão livre”, que preserva as artes relacionadas com a cinematografia e que tem como objetivo “promover a inclusão social através da prática artística”, facilitando o acesso à cultura e à prática da mesma, num meio rural e de baixa densidade populacional, que privilegia a natureza como fonte de inspiração. Desde a sua fundação, no ano passado, a Casa do Xisto já apresentou um filme, intitulado Filmes do Xisto, no festival de cinema Porto/Post/Doc25, na cidade do Porto, que também foi exibido no festival Doc’s Kingdom 2021 – O Movimento das Coisas, o que levou a uma participação num programa da Antena 3. A Casa do Xisto é um sinal cool, uma vez que se encaixa em todas as categorias que suportam esta classificação: relevante, viral, atual, irreverente, instigante e contém uma proposta de descontinuidade. Este projeto é considerado relevante, na medida em que responde a uma necessidade, neste caso dos produtores e criadores cinematográficos, de encontrar espaços propícios à criação artística que não sejam no meio urbano. Tem a possibilidade de viralizar, uma vez que o interior de Portugal está cada vez mais despopulado, havendo espaço para a criação de mais residências artísticas deste género. Este é um projeto atual, uma vez que o acesso a imóveis, quer para habitação, quer para outros fins, é um processo cada vez mais difícil devido aos aumentos dos preços dos mesmos, assim como das rendas, uma situação que se verifica com maior gravidade nos grandes centros urbanos. Ao deslocar as indústrias criativas e artísticas para o interior, diminuem as dificuldades financeiras em manter os espaços. Além disso, a solidão dos habitantes do interior, especialmente dos mais idosos, é outro problema que assola esta região e que, com a criação de mais residências artísticas que tenham uma índole social, pode começar a ser solucionado. A Casa do Xisto é irreverente, na medida em que propõe trocar os grandes centros urbanos, associados à criação e produção cultural e artística, por um espaço rural e no interior, o que contém uma proposta de descontinuidade, já que é dada primazia ao ambiente rural em detrimento do urbano, como sendo fonte de inspiração para a criação, tendo em vista a inclusão social. Finalmente, este projeto é instigante, na medida em que despoleta a atenção pública para zonas do país com menos população, o que pode levar à resolução de problemas, especialmente de cariz social, relacionados com o abandono e o pouco acesso a produtos culturais.
Macro Tendências Relacionadas: Identidades Protagonistas; Sistemas Sustentáveis

 

Rizoma – Mercearia Comunitária
(análise de Margarida da Costa, 2022)

Fonte

Descrição: A Rizoma é uma cooperativa multissetorial sediada em Arroios, Lisboa. Apesar de a sua principal função atual ser de mercearia cooperativa, a Rizoma está dividida em vários setores: Agricultura, Comercialização, Cultura, Serviços e Habitação. Uma vez que uma cooperativa assenta numa organização comunitária, é pedido a cada novo membro que faça uma doação de capital social (15€ é o valor mínimo) e que, a cada quatro semanas, faça um turno de três horas na mercearia. A mercearia da Rizoma caracteriza-se por apostar em produtores locais, assim como em produtos regionais e sazonais, tendo sempre em vista a responsabilidade ecológica, preferindo produtos com “a menor pegada ambiental possível”. Adicionalmente, a cooperativa tem também uma perspetiva educacional, uma vez que ensina os integrantes a gerir uma iniciativa, assim como se preocupa em saber qual a origem dos produtos, assim como o modo de produção empregue. A cooperativa pretende estabelecer relações transparentes, quer com produtores (apostando em relações diretas), quer na gestão da mesma.
A Rizoma é cool, uma vez que a sua relevância está patente no facto de procurar dar resposta a problemas que afetam a maior parte de nós, nomeadamente o acesso a produtos hortícolas de qualidade e cuja produção não afeta tanto o meio ambiente como a produção massiva, e a habitação a preços acessíveis. Por estes serem problemas hodiernos, está patente também a atualidade do projeto. A Rizoma é um projeto que pode ser viral, uma vez que tem a capacidade de ser reproduzido em vários pontos do país, especialmente tendo em conta que a sede, em Lisboa, não está localizada particularmente perto de grandes pólos de produção agrícola. Este é um projeto irreverente, na medida em que transporta o consumo de produtos agrícolas, produzidos através de meios mais “tradicionais”, para um meio citadino e urbano, promovendo uma gestão comunitária e horizontal, algo que em meio urbano não é tão comum. Pode ser considerado instigante, na medida em apresenta respostas não comuns para problemas que afetam a sociedade, o que pode conduzir a soluções mais eficazes e sustentáveis. Por fim, a Rizoma contém uma proposta de descontinuidade, uma vez que apresenta soluções para variados problemas sociais, que não condizem com aquelas “mais conhecidas” e que, habitualmente, constam em, por exemplo, programas do Governo.
Macro Tendências Relacionadas: Sistemas Sustentáveis

 

Residências Refúgio
(análise de Margarida da Costa, 2022)

Fonte

Descrição: O projeto Residências Refúgio foi criado em 2021 e tem como propósito apoiar a inclusão de pessoas requerentes de asilo e em situação de refúgio, que habitam no eixo da avenida Almirante Reis, em Lisboa, e que têm necessidades que se prendem com barreiras linguísticas, acesso a emprego e a serviços. Dotado de uma equipa de mediadores que falam Árabe, Somali, Francês, Inglês, Português, Fula, Mandinga, Kikongo, Ucraniano, Russo, Tigrínia e Bambara, o projeto tem como objetivo principal melhorar as condições de vida dos cidadãos requerentes de asilo e/ou em situação de refúgio. Simultaneamente, o Residências Refúgio desenvolve um programa de debates, conversas, workshops e outras atividades culturais. Destacam-se atividades como workshops de construção de currículos, cursos de português, jam sessions, e ainda um grupo de artesanato dentro do projeto, intitulado Art & Craft Refúgio, que reúne participantes do projeto Largo Residências.
É um projeto relevante, pois pretende dar resposta a um problema social que, cada vez mais, afeta cidadãos do mundo inteiro. Pode ser considerado um projeto viral, uma vez que pode ser replicado em mais pontos do país, e em outros países, uma vez que a guerra na Ucrânia veio aumentar exponencialmente o número de cidadãos na Europa que requerem asilo. Devido a este aumento da vaga de imigração e de requisições de asilo, as Residências Refúgio são consideradas um projeto atual, que dá resposta a um problema também ele atual. É irreverente, pois não só tem uma função de inclusão social e de solução de problemas também sociais, como também promove a cultura e a criação artísticas, através de uma programação cultural vasta e do grupo Art & Craft Refúgio. Este projeto pode ser considerado instigante, pois gera curiosidade entre o público em conhecer os produtos finais gerados pelo grupo de artesanato, assim como despoleta a atenção pública para os diversos problemas e dificuldades enfrentadas pelos cidadãos em situação de asilo ou refúgio. Este projeto contém uma proposta de descontinuidade, pois propõe-se a solucionar problemas e questões que afetam não só as centenas de cidadãos que habitam no eixo da avenida Almirante Reis, mas outros que se encontram na mesma situação social e que habitam outras localidades, portuguesas e estrangeiras.
Macro Tendências Relacionadas: Identidades Protagonistas; Narrativas Ancoradas; Sistemas Sustentáveis

 

Oceanix Busan: Primeira cidade flutuante do mundo
(análise de Carolina Represas, 2022)

Fonte: Observador

 Descrição: Oceanix Busan é o nome da primeira cidade flutuante do mundo a ser construída na Coreia do Sul em 2025, junto a Busan, a segunda cidade mais povoada do país. A antecipação da subida do nível da água do mar provocada pelo derretimento dos glaciares, graças às alterações climáticas, está no cerne deste projeto social e criativo. O número de refugiados climáticos é cada vez maior, e em parte composto por cidadãos que vivem em zonas litorais e perdem as suas casas devido a este problema. Pensada e financiada pela UN-Habitat (programa da Organização das Nações Unidas) prevê-se que a Oceanix Busan futuramente seja a nova morada de 12.000 pessoas e que tenha a capacidade de receber 100.000. O projeto será energeticamente sustentável através da instalação de painéis solares flutuantes e no topo das casas e edifícios, para que os seis hectares ocupados pela ilha sejam bem aproveitados. A cidade estará dividida em três zonas distintas: alojamento, restauração e investigação marinha da região.
Natureza cool: Tanto o projeto social e criativo como o programa da organização por trás são relevantes, pois conseguem dar resposta a situações graves que afetam parte da população mundial e estão na iminência se agravar ainda mais. Apesar de ainda não ter sido dado início à construção da cidade, todos os meios e investimentos estão a ser mobilizados e preparados para que flua até 2025. Assim, o projeto, o programa e o processo são atuais. Não são apenas os habitantes do litoral da Coreia do Sul que ficaram sem casa e necessitam de ajuda. A subida do nível da água do mar afeta linhas costeiras de todo o planeta, arriscando submergir a habitação de outras pessoas que podem precisar de ir morar para uma cidade flutuante como a Oceanix Busan. É uma ideia com potencial de se tornar alvo de repetição, e por isso, viral. Longe de estar perto das ideias pré-estabelecidas, conhecidas e vividas até aos dias de hoje. O mainstream é viver numa casa bem assente no chão e por isso esta cidade é irreverente, ainda que não pelos melhores motivos contextuais. Motivos que são problemas a crescer. Esta solução criativa tem o poder de instigar e inspirar outras organizações ou governos a implementar ideias parecidas ou iguais que deem casa a refugiados climáticos. A proposta de descontinuidade, para além de tudo o que já foi dito sobre a natureza irreverente que também aqui se aplica, está na construção ecológica e sustentável da cidade desde raiz. Esta é uma cidade sem um passado poluente, que não precisa de fazer a transição verde porque foi desenvolvida a pensar sê-lo desde o começo.
Macro Tendências Relacionadas: Sistemas Sustentáveis

 

Degradação da linha da costa à frente dos seus olhos
(análise de Carolina Represas, 2022)

Fonte: CoastSnap

Descrição: CoastSnap é uma aplicação e um projeto científico que depende da colaboração de cidadãos de todo o mundo que, ao capturarem fotografias repetidas no mesmo local permitem aos cientistas acompanhar as transformações da linha costeira ao longo do tempo. Entre os motivos para estas mudanças estão processos como tempestades, subida do nível do mar, atividades humanas e outros fatores. Através da fotogrametria, uma técnica especializada, é possível identificar a posição da linha costeira desde as fotografias do público até uma precisão semelhante à das equipas profissionais de levantamento costeiro. Estas podem ser tiradas num dos “berços” oficiais da CoastSnap ou noutro local que o participante ache pertinente, desde que esse local e o tempo exato da captura sejam devidamente registados na aplicação. Quanto mais fotografias existirem de um determinado sítio, melhor será a compreensão de como essa linha costeira está a mudar ao longo do tempo.
Natureza cool: É relevante por ser um projeto com a capacidade de fazer os cidadãos sentir que participam e podem ser úteis num projeto dedicado ao controlo do bem-estar do planeta, fazendo com que se envolvam a um nível mais profundo com a causa. Esta ideia precisava de se tornar viral para que os seus objetivos fossem alcançados. Foi o que aconteceu. A adesão por parte do púbico é registada diariamente e por isso é atual, assim como a necessidade de resolver os problemas que trata. É irreverente, no meio de uma paisagem selvagem há a possibilidade de uma pessoa se transformar num observador e contribuir para uma causa global. As transformações capturadas revelam danos, resultado em parte das alterações climáticas geradas pelo ser humano, que se sente instigado ao confrontar-se com elas através de imagens reais que o próprio captura.
Insight: Os danos causados pelas alterações climáticas estão a acontecer à frente dos nossos olhos ao ponto de ser possível observá-los e captá-los com a câmera de um smartphone.
Macro Tendências Relacionadas: Sistemas Sustentáveis; Ligações Ergonómicas

 

Realidade aumentada até às formas de Governo
(análise de Carolina Represas, 2022)

Fonte: The Biz in

Descrição: O governo municipal da Coreia do Sul, declarou que irá criar uma cidade virtual representativa de Seul no Metaverso para fornecer um novo modelo de serviço público online. Para apresentar o projeto, em Outubro de 2021 o presidente da câmara Oh Se Hoon conduziu uma conferência virtual utilizando o avatar que o vai passar a representar na plataforma. Futuramente o objetivo é criar um continente Seul Metaverso, dando resposta à procura pela posse de espaços digitais que, desde a passagem do Facebook a Meta, aumentou exponencialmente. Até 2023, a meta é programar a cidade virtual de Seul que pretende fundir a procura pública com a tecnologia privada, transferindo serviços de consultoria e civis prestados no mundo real para esta cidade do Metaverso, permitindo até viagens turísticas ao interior da mesma. Esta visão inclui o uso da tecnologia inteligente já instalada na cidade real, tais como inteligência artificial para monitorizar esgotos e estações de tratamento da água, que passam a estar interligadas com a cidade virtual a que todos podem ter acesso.
Natureza cool: É relevante porque cria soluções para melhorar a sustentabilidade dos estilos de vida dos cidadãos e o bom funcionamento da cidade. Ao suprir processos burocráticos morosos através da realidade e inteligência artificiais, é ganho tempo livre na vida das pessoas e criada margem de manobra para que haja um melhoramento dos serviços públicos da cidade.
A sua implementação é atual assim como a tecnologia e serviços emergentes em que se baseia. O sucesso desta ideia e projeto pode levar a que este se torne viral, que seja alvo de imitação e repetição por parte de outros países e cidades. Pela primeira vez a realidade virtual é utilizada pelo governo para fins não lúdicos, como vídeo jogos ou concertos, e recomendada em vez de opcional. Tal é irreverente, assim como o facto de o mundo real e a realidade aumentada se fundirem ao ponto de tarefas desempenhadas num influenciarem diretamente as dinâmicas do outro. Instigante para os mais resistentes à mudança, ou seja, aqueles que desejam manter os métodos tradicionais, para outros países e cidades que invejem a iniciativa pioneira e o sucesso do método, e para os amantes do progresso tecnológico. Este projeto propõe que os cidadãos de Seul alterem parte das suas interações e hábitos diários normais adquiridos desde cedo na vida e passem a exercê-los de forma totalmente nova numa outra realidade, fruto das descobertas mais recentes da era tecnológica. Esta radical mudança aloca uma proposta de descontinuidade à ideia.
Insights: O pragmatismo é um bem essencial exigido na vida acelerada e preenchida das pessoas, e a realidade aumentada surge como uma hipótese de o facilitar e aplicar. É preciso ser capaz de abandonar estruturas sólidas que regem e organizam a vida do ser humano para que novas possam emergir. Nesta era tecnológica em que diariamente surgem novas hipóteses de fluir na vida, cada passo dado é dado rumo ao desconhecido e por isso confiança e discernimento são chave de ouro.
Macro Tendências Relacionadas: Ligações Ergonómicas

 

Burguer King põe o veganismo à prova
(análise de Carolina Represas, 2022)

Fonte: Burguer King

Descrição: O Burguer King de Leicester Square em Londres serviu apenas produtos veganos entre 14 de Março e 10 de Abril de 2022. Para além dos produtos veganos já existentes no menu, a cadeia de restaurantes incluiu 15 novos artigos que aguçaram a curiosidade de milhares de consumidores que se deslocaram ao local para os experimentar. As reformas desta edição limitada com o período de um mês passaram também pela remodelação do logotipo, que passou a verde, e do espaço em si, de forma a que a imagem conjugasse com a iniciativa.
Natureza cool: O desígnio de um mês vegano é promover a sustentabilidade ambiental e combater as alterações climáticas através da redução do consumo de carne e dos produtos de origem animal, o que, numa altura em que o planeta está prestes a esgotar os recursos naturais, reveste-se de uma grande relevância. Esta iniciativa teve lugar no início deste ano e por isso é atual, assim como os problemas que funcionam como a sua força motriz, na qual se baseia e se inspira. Com o mercado vegano alimentar a crescer e a valorizar exponencialmente, este foi provavelmente um teste de mercado realizado com a consciência de que ser 100% vegano é um comportamento que pode e se está a tornar viral. A notícia espalhou-se rapidamente e milhares de pessoas quiseram fazer parte dela, desde carnívoros a veganos, piscitarianos a flexitarianos. É irreverente aos olhos dos consumidores fiéis à carne e aos produtos tradicionais do restaurante, que podem ter ficado com receio de no futuro poder não encontrar certos produtos na carta. Para outras cadeias de fast food como a em questão, cujo produto principal é a carne de origem animal, esta atitude do concorrente revela coragem e confiança. Tendo tido sucesso torna-se mais instigante ainda, levando a concorrência e os consumidores a pensar em novas possibilidades de negócio e nutrição. Tem a capacidade de incentivar mentalidades emergentes a florir ainda mais e de despertar outras possivelmente adormecidas. A proposta de descontinuidade é clara. Os produtos de origem animal sempre foram os dominantes na carta e na oferta, e nesta edição limitada desaparecem completamente propondo uma quebra e uma reformulação completa da ideologia base do negócio. Também do lado dos clientes se apela à experimentação de um comportamento e alimentação diferentes dos escolhidos até então, motivados pela sustentabilidade ambiental e do próprio estilo de vida.
Insight: Os negócios que movem massas têm um poder acrescido para mudar mentalidades e o mercado. Estas empresas já passaram pela fase de criar uma relação profunda com os consumidores, nos quais geram emoções fortes. Com a comunicação e produtos certos aliados à confiança na marca que o público confere, até as mudanças mais radicais podem ser bem-sucedidas.
Macro Tendências Relacionadas: Sistemas Sustentáveis

 

Google e a Tribo
(Vanja Favetta, 2022)

Fonte

2021 viu a conclusão do primeiro projeto de colaboração entre a Google e um povo indígena. E’ o que aconteceu com o “Google Aotearoa”, em Auckland, na Nova Zelândia, o primeiro escritório oficial da Google no país, concebido pelo estúdio de arquitetura Warren and Mahoney em conjunto com o consultor cultural Anzac Tasker e expoentes da tribo local Ngāti Whātua, uma sub-tribo da maior tribo local “iwi”.
À base do projeto esteve a intenção de refletir a tradição e a alma do território em que está inserido, pondo ao centro a natureza, elemento central para a Nova Zelândia e seu povo. Como a revista de interior design “Frame” afirma (1), através da colaboração com a expoente da tribo Te Aroha Grace, emergiu, numa série de workshops, o tema recorrente do “te tai” (a maré), simbolizando metaforicamente o dar e receber da natureza. A Google, como o chefe de interior design da Warren and Mahoney afirma, ter-se-ia comprometida numa relação deste gênero com a tribo, mostrando a vontade de desenvolver uma colaboração a longo prazo, que vá além deste projeto específico. Se verdade, isto seria um sinal relevante, sugerindo que no futuro, um maior número de grandes corporações poderiam implementar ativamente colaborações com tribos e povos locais, parte da tendência crescente ao cuidado para com o quê é local, perto do foco de produção/consumo de produtos e serviços, em sentido sustentável. Do ponto de vista da aplicação prática, a metáfora do “te tai” foi implementada através dum teto digital imersivo, onde estão projetados cenários audio-vídeo da Aotearoa (nome original da Nova Zelândia), permitindo uma mudança de ambientes e identidades ao longo do dia e imergindo os visitantes numa viagem “desde as cimas das montanhas até às margens das costas escarpadas”, promovendo uma experiência imersiva das pessoas na natureza, tema recorrente nos dias de hoje e prática ativamente procurada por um número crescente de pessoas.
Este projeto da Google configura-se como extremamente atual, uma vez que assistimos, neste anos, a uma atenção sem precedentes por parte dos media o do público geral para o sustentamento e a sobrevivência dos povos indígenas, além de promover a projetação e construção de edifícios em sentido sustentável, pois a nível prático, o projeto utilizou materiais provenientes do território e comprometeu-se com o LEED Gold (Leadership in Energy and Environmental Design), um símbolo de sustentabilidade e leadership a nível global.
Segundo a Frame, não se trata exclusivamente dum projeto de design, mas sim de um projeto de diálogo e respeito. Segundo as palavras de Anzac Tasker, o consultor cultural envolvido no projeto, esta colaboração entre a Google e a tribo neozelandesa pode ter grande impacto e potencial de inspiração a nível global: “Alinhar os conhecimentos das nossas autoridades indígenas e da Google constitui um grande exemplo para o resto do mundo sobre a forma como estes projectos devem ser abordados. É emocionante ver o que podemos alcançar juntos aqui em Aotearoa, e demonstrar o valor multifacetado destas relações no palco mundial”.
Macro Tendências Relacionadas: Identidades Protagonist
Fontes da análise (1); (2).

 

Visa Future Card
(análise de Vanja Favetta, 2022)

Fonte

Visa FutureCard é um novo cartão de crédito da VISA, lançado em 2022 pela empresa americana de fintech “Future”, que oferece cashback em compras amigas do ambiente. O cartão, sem taxas nem interesses, oferece cashback instantâneo de 1% em todas as compras e de 5% sas compras a zero ou baixa emissão de carbono, como a utilização de bicicletas partilhadas, transportes públicos, compras de roupa de segunda mão e “carne”, “lacticínios” e “ovos” vegetais, recarga elétrica de automóveis ou bicicletas, e muito mais. A Future afirma aceitar só produtos e serviços que têm um impacto ambiental significativamente menor da maioria das alternativas, oferecendo ligações diretas a parceiros quais a “Patagonia Worn Wear” e a “Levi’s Second Hand”.
Além de ser o primeiro cartão deste tipo, o que é interessante, é que o foco comunicacional no website oficial deles está na sensibilização dos indivíduos sobre o próprio impacto ambiental. De facto, encontra-se em primeiro plano uma ligação direta ao “FutureScore”, uma ferramenta para calcular as próprias emissões em carbono. Ainda, entre as FAQs, as perguntas “Why does fighting climate change start with me?”, e “Why don’t you just plant trees?”, pergunta, esta última, à qual a Future responde que esta é uma solução factualmente insustentável, uma vez que seriam necessárias 7.600 árvores para compensar as emissões dos próximos 10 anos duma família americana média; muito mais eficaz é resolver o problema à raiz e incidir sobre os próprios hábitos, em sentido regenerativo e não com o objetivo único de reduzir o impacto ambiental.
Macro Tendências Relacionadas: Sistemas Sustentáveis

 

Corrente, Lisboa
(análise de Vanja Favetta, 2022)

Fonte

A Corrente é um espaço multidisciplinar lisboeta nascido no começo de 2021, situado na freguesia de Arroios. A revista Time Out define-o como “um espaço colaborativo e multidisciplinar de portas abertas para artistas, marcas, eventos comunitários, projectos independentes e artesãos” (1).
Dados angariados na Desk Research confirmam como o fenómeno do co-work, depois de um óbvio abrandamento durante a pandemia, esteja em rápido crescimento, sendo Portugal dos países que hospeda o maior número destes sítios, em relação à sua população, tendo os mesmos obtido apoio direto também por grandes corporações e instituições públicas. A Corrente poderia parecer só mais um destes, mas o foco no esforço inclusivo e comunitário é o quê o diferencia da maioria, pois, a ideia é que os residentes do bairro façam parte da comunidade e possam também desenvolver eventos no espaço, estando o mesmo sempre aberto a pop-ups e iniciativas da mais diversa natureza.
Este sinal confere força à hipótese de que, neste caso no contexto dos grandes centros urbanos, os desafios levados pela pandemia, juntamente com uma série de outros fatores sócio-económicos a nível macroscópico, estejam a impulsionar de forma crescente os indivíduos a juntarem esforços para atingir objetivos comuns. Cada vez mais, como neste caso, assiste-se à colaboração e hibridação entre artes e saberes diferentes, numa perspectiva geral de mudança de estilos de vida em sentido sustentável.
Macro Tendências Relacionadas: Sistemas Sustentáveis
Fontes da análise (1)

 

A garrafa da FreeWater que constrói poços de água
(análise de Tiago Ferreira, 2022)Fonte
Descrição
: A FreeWater é uma empresa que disponibiliza água de nascente de forma gratuita através da venda da imagem da embalagem para fins publicitários. Esta empresa pretende, ainda assim, evitar o uso de plástico, pelo que utiliza garrafas de metal e embalagens de papel ao mesmo tempo que doa 10 cêntimos de dólar para a construção de poços de água em áreas desfavorecidas através da fundação Well Aware.
Natureza Cool: É relevante pela forma como quebra a indústria de venda de garrafas de água, ao mesmo tempo que ajuda a construir poços de água em áreas subdesenvolvidas. É instigante porque permite ao consumidor a aquisição gratuita de um bem que é utilizado todos os dias. É irreverente por não se reger pelas mais mínimas técnicas da indústria de 14 água engarrafada e por não ter qualquer custo para com o consumidor. Pertence ao campo do atual pois está inserido numa época em que tudo o que se assiste é publicidade e por ajudar à construção de poços em áreas sem acesso a água potável. Por último, contém uma proposta de descontinuidade da necessidade de compra de água de nascente engarrafada e, num segundo nível, da descontinuidade de não existência de água potável em certas regiões subdesenvolvidas.
Insights: Mudar a indústria e ajudar os mais necessitados, simultaneamente, é a ideia da FreeWater. Todos nós gostamos de algo grátis e a maneira desta empresa fornecer algo essencial ao ser humano de forma gratuita é uma obra de arte. Quanto maior for a oferta das garrafas, maior será o alcance da publicidade, a consequente procura e maior será o dinheiro doado, acabando sempre numa situação de ganho final para todas as partes envolvidas.
Tendências Relacionadas: O sinal enquadra-se na macrotendência de Narrativas Ancoradas por mudar a narrativa do consumo de água engarrafada, ao mesmo tempo que se enquadra na macrotendência de Sistemas Sustentáveis através da sua preocupação em utilizar materiais mais sustentáveis na elaboração das suas embalagens e da construção de poços em áreas menos desenvolvidas.
Macro Tendências Relacionadas: Sistemas Sustentáveis

 

A experiência virtualmente fresca
(análise de Tiago Ferreira, 2022)

Fonte: Cerveja Heineken Silver na Decentraland, Heineken.
Descrição e contexto: A Heineken Silver é uma cerveja virtual da empresa Heineken que foi lançada na Decentraland, um das plataformas do Metaverso, de uma forma irónica. Numa época crescente para o Metaverso, a plataforma Decentraland permite que os seus utilizadores provem a Heineken Silver na companhia dos seus amigos virtuais e sem se preocuparem com as limitações da vida real. Ainda assim, de acordo com o comunicado de imprensa, o anúncio do Heineken Silver no Metaverso não passou de uma piada irónica, sendo que a mesma já se encontra na vida real.
Semiótica e mitos: O sinal apresenta uma forma de quebrar as barreiras da socialização e consumo de bebidas. Numa primeira leitura, demonstra aspetos como diversão, despreocupação e socialização no ponto de vista do consumidor. No ponto de vista do produtor demonstra uma forma de menosprezar o Metaverso e os seus utilizadores, da mesma forma que os utiliza para ganhar reputação. É um sinal que, mesmo assim, aposta no crescimento do Metaverso como uma área de exploração capaz de retribuir os investimentos criados tanto na publicidade como na criação de eventos.
Natureza Cool: Este sinal é relevante pois é a primeira vez que uma marca utiliza o Metaverso com a principal plataforma para anunciar um novo produto, bem como ser lançado no mesmo Metaverso. É instigante, pois é uma novidade numa plataforma do Metaverso e por ser a primeira empresa a fazê-lo. É irreverente por quebrar as barreiras definidas até ao momento, sendo uma inovação no setor. Possui a viralidade de causar interesse pelo produto devido à forma como é anunciado. Detém atualidade por estar inserida numa área de constante crescimento e curiosidade como o Metaverso. No entanto, contém uma proposta de descontinuidade de várias coisas, como da prática de Branding, da prática de beber uma cerveja com os amigos e da atual forma de socializar num bar.
Estilos de vida e tribos urbanas: Colocar os óculos de realidade virtual e beber cerveja é mais fácil do que ir até a um bar com o mesmo intuito. A ideia da Heineken foi bem conseguida, possibilitando os seus utilizadores que utilizam a Decentraland para socializarem com os seus amigos de diferentes partes do mundo da mesma forma que fariam se vivessem perto uns dos outros. Este sinal possibilita a ingressão numa nova forma de descontração sem sair do conforto de casa, juntando a ideia do espaço privado com a utilidade de socialização mundial. A tribo urbana que mais representa este sinal é a tribo geek e tech savvy na medida de estarem sintonizados com a evolução deste tipo de socialização e do hardware necessário.
Fórmula cultural: A aposta online de uma bebida com menos teor alcoólico é utilizada como ferramenta de colocação da marca numa nova área. A área do Metaverso é crescente e possui características que permitem a determinada marca ser considerada como pioneira em certos acontecimentos, sendo a utilização da plataforma Decentraland utilizada para isso neste exemplo. Não obstante, com o foco que é dado ao seu sabor, é utilizada a repercussão da sua cerveja online não ter sabor para ridicularizar o pouco sabor das cervejas concorrentes.
Insights estratégicos: A utilização do Metaverso demonstra o reconhecimento desse mesmo espaço como algo que permite o crescimento de um produto e de uma marca. Através do mesmo, a marca terá a hipótese de o utilizar em novas campanhas de publicidade como forma a elaborar uma presença mais assídua no meio digital, sendo este um passo importante para o seu posicionamento no meio em questão.
Macro Tendências Relacionadas: O sinal enquadra-se na macrotendência de Ligações Ergonómicas por ter utilizado um espaço de acesso constante e imediato como ponto de partida da cerveja.

 

A tela virtualmente colaborativa
(análise de Tiago Ferreira, 2022)

Fonte: Tela final do movimento de 2022, Reddit r/place.

Descrição e contexto: A comunidade r/place do fórum Reddit é uma comunidade que surgiu com o intuito de explorar a forma de como os humanos interagem numa larga escala. A tela é formada com a colocação, por parte de cada utilizador, de um pixel a cada 5 minutos, podendo este ser sabotado ou utilizado para criar uma imagem combinada. Toda a transformação de 2022 pode ser vista aqui.
Semiótica e mitos: A ligação entre os fóruns presentes neste site e todos os seus participantes é uma elevação de entreajuda quem tem como final a pintura de uma tela. É a personificação de conexão dos internautas através do sentido de cooperação, entendimento e resolução. Uma tela cooperativa com informações de diversas culturas num só espaço que demonstra a grandiosidade cultural que existe na atualidade.
Natureza Cool: Este sinal é relevante através da forma que atribui um espaço criativo a cada utilizador e por se incorporar numa espécie de realidade para quem o utiliza. É instigante, pois é apenas o seu segundo acontecimento[1] e por causar interesse no seio dos internautas. É irreverente devido ao facto de utilizar a Internet como meio para a pintura de uma tela. Ainda assim, é viral porque desperta o interesse de quem participa e de quem está à sua volta e por não ser um evento que possui datas específicas de ocorrer, pelo que poderá nunca mais ser feito. Detém a atualidade necessária a ser cool devido à sua elaboração ter sido no início do mês de abril. E, não obstante, contém uma proposta de descontinuidade da falta de entendimento, entreajuda e cooperação entre diferentes culturas.
Estilos de vida e tribos urbanos: A tribo urbana que este sinal representa é a tribo geek e a tribo artista. Ainda assim, existe uma possibilidade da tribo nacionalista ingressar neste sinal devido ao facto da criação de grandes bandeiras e representações de acontecimentos nacionalistas na tela. Durante os quatro dias em que aconteceu este feito, os seus participantes viviam esta situação, devido a ser uma tela aberta aos inscritos no site e sem qualquer regra, sendo que as criações podiam ser destruídas e ocupadas por outros inscritos. O facto de ser possível a elaboração de peças cooperativas demonstra que os seus intervenientes estavam sempre ligados à tela.
Fórmula cultural: A criação de uma tela comum para a comunidade se expressar, tão simples quanto isto. Num site com cerca de 430 milhões de utilizadores mensais, o Reddit é o espaço indicado para este tipo de experiências cujo alvo é explorar a forma como os seres humanos interagem em larga escala.
Insights estratégicos: A experiência possui, em si própria, um carácter que faz com que se queira participar ao pintar um pixel que ficará para a história. O facto de ser algo feito apenas no contexto do Reddit, em que toda a sua comunidade é conhecida por uma enorme entreajuda, é a questão principal do projeto devido à alta probabilidade de não ter o mesmo resultado em qualquer outro site. Assim sendo, é demonstrada a capacidade que o digital possui em colocar em prática diferentes projetos apenas mediante a escolha acertada do local que possuí o público-alvo.
Macro Tendências Relacionadas: Ligado à macrotendência de Ligações Ergonómicas, a tela do r/place é um espaço em que a funcionalidade tecnológica permite a criação de algo que converge para o estilo de vida dos consumidores e utilizadores. É um acesso simples e constante a um “jogo” cooperativo através de uma ligação web.
[1] A primeira tela colaborativa do r/place aconteceu em 2017.

 

À boleia da realidade virtual.
(análise de Tiago Ferreira, 2022)

Fonte: Realidade aumentada da Holoride, Vídeo da Holoride.

Descrição e contexto: Basta colocar uns óculos de realidade virtual e a viagem de automóvel nunca mais será a mesma. A realidade aumentada da Holoride tem a capacidade de utilizar cada movimento do carro para aprimorar o videojogo, de forma a que não existam cenários iguais. Permite a que os passageiros do banco de trás ingressem numa fantasia para não se preocuparem com a viagem. A Holoride é uma empresa alemã que, segundo a mesma, torna veículos em parques de diversão e, para isso, utilizam óculos de realidade aumentada. Numa parceira com a gigante automóvel Audi, os carros que utilizem a versão MIB 3 da marca irão ter esta possibilidade já a partir de junho de 2022.
Semiótica e mitos: Um novo mundo enquanto viajamos pela estrada, sendo que esta ajuda a criar diferentes cenários. Conforto, diversão, praticidade e descontração. Ainda assim, este sinal reflete a necessidade de adequar velhos hábitos e formas de viver – como a viagem de automóvel – a tempos presentes. É um sinal de evolução da indústria automóvel e da necessidade de esta possuir objetos ligados ao dia a dia das pessoas.
Natureza Cool: O sinal é relevante por introduzir algo a uma indústria extramente fatigada que não possui opções de diversão e descontração aos passageiros. É irreverente por não seguir o que as outras marcas fazem, sendo que é um produto disruptivo neste sentido. É instigante por permitir uma melhor digestão do tempo de viagem, especialmente para crianças, como também por possibilitar a vivência de um mundo diferente que é a realidade aumentada. É viral devido a se enquadrar numa enorme indústria e por ser algo que quebra algumas barreiras e contém a atualidade necessária por ser algo lançado apenas em junho de 2022. Ainda assim, possui uma proposta de descontinuidade da típica viagem de automóvel aborrecida e com pouco por fazer, possibilitando agora uma diversão e entusiasmo para quem usa o dispositivo.
Estilos de vida e tribos urbanas: Este sinal provoca uma mudança dos estilos de vida no sentido de que uma viagem de automóvel não voltará a ser a mesma após a utilização da realidade aumentada da Holoride. No que toca a crianças – apesar de se englobar noutras faixas etárias –, estas já não vão estar constantemente a questionar o tempo restante da viagem, mas sim desejar que a viagem não acabe. A tribo aqui representada é, na sua maioria, a tribo gamer.
Fórmula cultural: Mudar a forma como se fazem viagens de automóveis através de uma tecnologia já existente, embora através de uma nova funcionalidade e local. Este produto permite a diversão e descontração por parte de quem o utiliza, em detrimento de viagens em automóveis sem esta característica.
Insights estratégicos: Este produto resolve a complicação de fazer longas viagens com crianças e adolescentes. Através da realidade aumentada, estes vão entretidos e sem causar problemas a quem vai nos bancos da frente. Ainda assim, a utilização desta tecnologia numa marca de gama alta, também através dos modelos de gama mais alta, indica o conhecimento do público capaz de adquirir o produto. O que foi feito foi somente a resolução de um problema do setor automóvel através de um produto já em circulação, tendo, somente, mudado o seu local de atuação. Isto é feito não só através do conhecimento do próprio mercado, como também dos mercados envolventes que, uns menos que outros, são capazes de solucionar diferentes problemas de setores totalmente diversos.
Macro Tendências Relacionadas: O sinal adequa-se, claramente, à macrotendência de Ligações Ergonómicas por permitir um acesso facilitado a uma aplicação de lazer que satisfaz o desejo do consumidor que vai entediado durante uma viagem. Ainda assim, insere-se na macrotendência de Redesenho de Estilos de Vida por providenciar uma outra forma de viver a viagem de automóvel.

 

A ilha musical do Spotify
(análise de Tiago Ferreira, 2022)

Fonte: Ilha do Spotify no Roblox, Spotify News Room.

Descrição e contexto: A aplicação de streaming de música, podcast e vídeo Spotify tem agora uma ilha no videojogo Roblox, um jogo online de mundo aberto que permite vários mundos virtuais dentro dele. Através do videojogo, o jogador pode criar novas músicas, conhecer os seus artistas favoritos e colecionar roupas exclusivas. Ao longo do tempo existirá experiências temáticas para os utilizadores da ilha, sendo que a primeira será uma homenagem ao género musical K-Pop.
Semiótica e mitos: Muito semelhante à ilha da Coca-Cola no Fortnite, este sinal remete para a diversão e descontração por parte do jogador. Ainda assim, num nível superior, constam definições como integração, expansão e desenvolvimento da própria marca Spotify em colaboração com a marca Roblox.
Natureza Cool: O sinal é relevante por estar inserido num videojogo conhecido e jogado mundialmente, ao mesmo tempo que é uma grande marca da indústria de streaming representada. É instigante por ser uma novidade no jogo e na forma de aproximação do Spotify ao seu público. É irreverente por juntar duas marcas de setores diferentes no mesmo setor – videojogos. É viral porque está inserido num videojogo que é utilizado por imensas pessoas. Possui atualidade por ser algo lançado há menos de um mês, aquando da elaboração deste relatório. Por último, contém uma proposta de descontinuação da não presença da marca Spotify no mercado de videojogos.
Estilos de vida e tribos urbanas: Este sinal possui uma mudança de vida no processo de escolher o tipo de jogo e o mapa que se queira jogar. Com a nova ilha do Spotify, o jogador pode agora optar por um novo espaço virtual onde pode continuar o seu processo de jogar. A tribo urbana aqui representada é, claramente, a tribo gamer.
Fórmula cultural: Os gamers procuram sempre inovações e diferentes formas de jogar. Dentro do mesmo jogo – que neste caso é o Roblox – a ilha do Spotify permite uma diversificação do conteúdo consumido enquanto que a marca aposta em novos horizontes com vista na atração de novos clientes.
Insights estratégicos: O Spotify procura atrair novos clientes, expandido a zona de atuação da marca. À medida do que o Spotify está a fazer noutros mercados – a aposta de publicidade no mercado desportivo, sendo que o seu nome consta como o patrocínio das camisolas de jogo e no nome do estádio do clube de futebol FC Barcelona, por exemplo –, o videojogo Roblox é apenas mais um local que a marca entendeu como benéfica para atingir o seu objetivo. Muito semelhante ao sinal da ilha da Coca-Cola, é realçada a necessidade de utilizar um espaço não possuidor de marcas como forma a lançar uma disrupção de forma a que a marca disruptora possa colher tudo o que esteja para ser colhido no espaço antes de outras marcas se inteirarem do setor.
Macro Tendências Relacionadas: Este sinal está ligado à macrotendência de Ligações Ergonómicas pelo facto de possuir um acesso melhorado, através de diferentes formas, à marca Spotify. Isto permite estarmos sempre conectados à marca, mesmo não estando na sua própria aplicação.

 

A Caixa digitalmente acessível
(análise de Tiago Ferreira, 2022)

Fonte: Imagem do site da CGD, Caixa Geral de Depósitos.

Descrição e contexto: A instituição financeira portuguesa Caixa Geral de Depósitos lançou uma nova forma de utilizar o conceito de homebanking através de inteligência artificial: uma assistente digital. Através da fala, é possível pedir um crédito, transferir dinheiro, pagar contas, consultar movimentos e saber o saldo da conta.
Semiótica e mitos: Este sinal demonstra leituras conotativas de descontração e de facilidade bancária, o que costuma ser uma coisa associada a grandes dificuldades. Ainda assim, o sinal consegue elevar-se ao que a própria instituição retrata: o facto de ser uma própria assistente pessoal. Este detalhe poderá fazer com que o cliente se sinta numa posição de poder e, nada obstante, permite uma maior facilidade na utilização de recursos com maior vantagem para a instituição financeira, como os créditos pessoais. O que numa primeira leitura conotativa parece ser uma interface com uma maior utilidade para o cliente pode acabar por ser precisamente o contrário.
Natureza Cool: Este sinal é relevante, pois permite ao cliente utilizar várias funcionalidades de uma aplicação de uma forma fácil e descomplicada. É atual por estar inserido numa época em que as empresas se viram – ainda mais do que no passado – para os meios digitais e as suas funcionalidades. Retrata-se como viral por ser a primeira aplicação de uma instituição bancária portuguesa que permite tal feito e por permitir uma facilidade de utilização por parte do utilizador. A maior relevância neste sinal consta no facto de pessoas invisuais ou sem capacidade de utilizar – na maneira mais comum – um dispositivo móvel poderem, através da voz, tratar de diversos assuntos bancários. Por último, contém uma proposta de descontinuidade da própria utilização da aplicação da maneira tradicional, como também das dificuldades que existiam em praticar várias funcionalidades menos fáceis.
Estilos de vida e tribos urbanas: A tribo representada neste sinal é a tribo digital que gosta de inovações que descompliquem a sua vida. A utilização desta nova característica permite ao utilizador uma descomplicação em tratar de assuntos bancários, permitindo a facilidade em pagamento de serviços, transferências, consulta de IBAN e afins.
Fórmula cultural: Tratar de processos bancários nunca foi mais fácil. Esta atualização da Caixa Geral de Depósitos possui características novas no mercado nacional, sendo a primeira a fazê-lo. Com um intuito de descomplicar a vida dos seus utilizadores, a CGD apostou num mercado não utilizado em Portugal, o que promete respostas por parte dos seus competidores.
Insights estratégicos: A utilização da inteligência artificial para este sinal é algo que importante. A dificuldade em tratar de procedimentos bancários – desde a simples consulta de saldo, até à mais difícil tarefa de desbloqueio de conta – passa a ser uma coisa do passado, permitindo que o utilizador não desespere em certos processos demorosos. Uma vez mais, a utilização da inteligência artificial, embora já utilizada noutros contextos a nível nacional, é uma clara aposta em construir uma ponte de significados com o intuito de alargar o seu mercado para diferentes grupos sociais, ao mesmo tempo que ajuda a cimentar os clientes efetivos, pelo que é uma aposta em aberto.
Macro Tendências Relacionadas: Ligado à Macrotendência de Ligações Ergonómicas, esta atualização da aplicação da CGD permite um acesso melhorado, contínuo e diversificado aos mais diversos produtos que a Caixa oferece. Com esta nova funcionalidade, o utilizador tem a sua informação disponível não à distância de clique, mas sim à distância de apenas um comando vocal.

 

Endereço digital via Google
(análise de Mariana Bezerra, 2022)

Fonte

Descrição: O Google vai disponibilizar endereços eletrônicos para 100 mil moradores que vivem na favela de Paraisópolis, uma das regiões mais pobres e violentas da cidade. A iniciativa em conjunto com a empresa Americanas S.A e a startup logística Favela Brasil Xpress e o G10 Favelas pretende democratizar e facilitar o acesso de serviços de entrega na região que hoje sofre com esta questão por ser uma área com muitos pontos de loteamento ilegal, sem endereço oficial. Além disto, a partir do momento que o cidadão possui um endereço, diversos aspectos da sua vida são facilitados, inclusive o acesso a saúde local, cadastro para busca de emprego e etc.
Leituras Conotativas: Ao trazer o foco para uma questão social tão importante o Google apresenta uma alternativa completamente pautada em tecnologia para uma população que em grande maioria sequer tem acesso à internet. A iniciativa funcionará com a instalação de placas com o endereço virtual. Em posse deste “endereço” determinado por um código, o utente de Paraisópolis poderá utilizá-lo através da plataforma Address Maker, aplicação gratuita que permite que se crie endereços utilizando o Plus Code.
Natureza Cool:  Este sinal dialoga traz à tona não só uma questão social envolvida, mas também apresenta uma demanda latente por inclusão presente na sociedade, o que o torna atual, relevante e instigante pois provoca um questionamento a quebra um paradigma até então apresentado pela estrutura tradicional de classificação de endereços e chama atenção para uma população até então à margem da sociedade. Ao se atrever a ir contra este padrão mainstream, esta inovação se torna irreverente e chama tenção para uma proposta de quebra de descontinuidade.
Insights: Democratização ao acesso de serviços como entrega através de e-commerce; Inclusão de uma parcela da população no mapa populacional, geográfico da cidade.1.5  Tendências relacionadas.
Tendências Relacionadas: Narrativas ancoradas; Identidades Protagonistas e Ligações Ergonómicas.

 

Nike desconstrói o consumo e cria o conceito que desmonta sustentabilidade nos pares do novo ISPA
(análise de Priscila Altivo, 2022)

Fonte: Nike News

Descrição: Em busca da máxima inovação em sustentabilidade a equipe da Nike ISPA (Improvise; Scavenge; Protect; Adapt) criou uma tecnologia anti desperdício que permite que um tênis de alta performance com a vantagem a adicional de poder ser desmontado e reciclado. A tecnologia inovadora pretende estabelecer o futuro do design para calçados sugerindo um sistema circular de reuso desmontável ainda de boa duração e qualidade.
Natureza Cool: É atual, pois lançamento está previsto para o início de 2023. É relevante porque a tecnologia que permite o calçado de ser desmontado facilita o processo de reciclagem sem quebras, o que reduz a emissão de carbono na atmosfera e abriria novas possibilidades para seu ciclo de vida. É disruptivo porque questiona a participação ativa das marcas e pretende normalizar a evolução do design de sapatos para alcançar processos de fabricação e utilização mais sustentáveis.
Macro Tendências Relacionadas: Sistemas Sustentáveis

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// Os sinais Cool de 2021.
09-02-2022, a equipa do Lab.

Encontre aqui os sinais identificados pela equipa do Lab como alguns do mais impactantes do ano ou capazes de traduzir as mentalidades do momento. 

 

 

 

Programa Bairro Feliz
(análise de Érica Monteiro, Margarida Simões, Tatiana Abrahão, 2021)

Fonte

Descrição: A rede de supermercados Pingo Doce criou a iniciativa Bairro feliz para apoiar com até 1.000€ uma causa escolhida pela comunidade local da loja, para tornar o bairro mais feliz nas seguintes áreas: saúde, bem-estar e desporto; apoio social e cidadania; cultura e património, turismo e lazer; educação e ambiente, e causa animal.
Natureza Cool: É atual: lançamento em 05 de maio de 2021; É relevante e irreverente por incentivar a vizinhança a mobilizar-se para a melhoria da comunidade; Gera curiosidade dos moradores e reforça o envolvimento do Pingo Doce nas comunidades locais; O potencial de crescimento surge frente à crise econômica mundial e a demanda por estabelecer conexão entre marcas e comunidade local; É disruptiva no momento que promove um impacto positivo na comunidade onde se insere as lojas da rede de retalho.

Adidas MakerLab (Singapura, NY)
(análise de Érica Monteiro, Margarida Simões, Tatiana Abrahão, 2021)

FonteAdidas

Descrição: A loja trabalha com o conceito “cultura maker” onde estão disponíveis para os consumidores a personalização de peças de roupas esportivas da marca, variando de impressão a quente, impressão direta e patches de bordado. Além disso, a fabricante convida artistas locais para a criação de novos produtos e designs. Há ainda um espaço chamado “Adidas’s Runners”, para workshops virtuais e eventos gratuitos para membros do programa de fidelidade do Creators Club da marca. Na loja asiática, inclui uma masterclass de futebol do esportista Fandi Ahmad. A decoração da loja é feita para exposição de artistas locais.
Natureza Cool: É relevante para os usuários que queiram customizar um produto da marca e para os artistas locais que podem divulgar seus trabalhos nas lojas de alta circulação. Tem potencial de ganhar escala em outros mercados, já que a empresa é multinacional. É atual: inaugurado em abril de 2021. É irreverente e instigante já que une ideias de “faça você mesmo” com a colaboração de artistas locais no compartilhamento de seus ofícios. É disruptiva já que a marca Adidas está dividindo seu espaço e colaborando com os artistas locais. A Adidas aposta em modelos de inovação aberta (descentralizado), na colaboração (parceria local) e na cultura maker.
#neweuropeanbauhaus
(análise de Eduardo Altafim, Vanja Favetta, 2021)

Fonte

A “New European Bauhaus” é um dos mais recentes projetos da União Europeia, que visa concretizar os propósitos do European Green Deal envolvendo diretamente a participação dos cidadãos.  Configura-se como uma iniciativa criativa e interdisciplinar que se coloca na conexão entre arte, cultura, inclusão social, ciência e tecnologia, exortando todos os europeus a propor as próprias ideias e submeter os próprios projetos que miram a construir uma Europa mais sustentável e inclusiva, podendo eles ganhar apoio financeiro direto e aproveitando das interligações entre profissionais de diferentes setores que a plataforma incentiva. O projeto configura-se como extremamente interessante, uma vez que, como visto nas seções anteriores do presente trabalho, Estados e entidades supranacionais visam cada vez mais procurar soluções co-participadas entre os próprios Estados e entre Estados e cidadãos. O projeto apresenta-se relevante e atual também em relação aos temas de sustentabilidade e de capacitação dos indivíduos. A “New European Bauhaus” é um dos mais recentes projetos da União Europeia, que visa concretizar os propósitos do European Green Deal envolvendo diretamente a participação dos cidadãos.  Configura-se como uma iniciativa criativa e interdisciplinar que se coloca na conexão entre arte, cultura, inclusão social, ciência e tecnologia, exortando todos os europeus a propor as próprias ideias e submeter os próprios projetos que miram a construir uma Europa mais sustentável e inclusiva, podendo eles ganhar apoio financeiro direto e aproveitando das interligações entre profissionais de diferentes setores que a plataforma incentiva. O projeto configura-se como extremamente interessante, uma vez que, como visto nas seções anteriores do presente trabalho, Estados e entidades supranacionais visam cada vez mais procurar soluções co-participadas entre os próprios Estados e entre Estados e cidadãos. O projeto apresenta-se relevante e atual também em relação aos temas de sustentabilidade e de capacitação dos indivíduos.

Magic Bus – Makerspace móvel para crianças
(análise de Júlia Rocha, Ni Min, 2021)

Fonte

A ideia de reciclar um ônibus escolar antigo e transformá-lo em um makerspace para crianças é relevante, por alguns motivos: reflete a mentalidade de economia sustentável ao dar uma nova utilidade ao ônibus; promove o espírito de criação e colaboração entre “makers” e “designers” para tangibilizar um novo projeto; fomenta o desenvolvimento da comunidade local através de um espaço dedicado à educação “maker” para crianças. É viral, porque é uma ideia com um propósito interessante que tem potencial de ser reproduzida por “makers” de outros lugares em outros ônibus ou veículos maiores. É atual, porque aconteceu há um ano e meio. É irreverente, porque é inovador à medida que une a mentalidade de reciclagem criativa através da transformação artística e funcional do ônibus com a de uma educação que promova o desenvolvimento dessas mesmas habilidades em crianças. É instigante, porque gera curiosidade em ver o processo de transformação do ônibus e como ele será utilizado pelas crianças depois. Contém em si uma proposta de descontinuidade ao demonstrar o crescimento do interesse pela cultura do “criar/fazer em conjunto” através da reciclagem de um veículo para transformá-lo em um espaço que promova o mesmo mindset para crianças.

INEDIT Project
(análise de Andressa Maia, Isabel Gomes, Maria Frederico, 2021)

Fonte

Descrição: O INEDIT é um projeto que pretende criar uma iniciativa europeia aberta de um ecossistema do fazer coletivo para a co-criação sustentável de móveis. Segundo texto de apresentação, a iniciativa pretende demonstrar por meio da sua plataforma dupla – digital e física – a potencial inovação em torno de uma manufatura social e no interior de uma economia circular, construindo designs globalmente e produzindo localmente.
Natureza Cool: Podemos considerar este sinal como cool, devido: a sua relevância, estando engajado com diversos conceitos de uma mentalidade atual e colaborativa; Nesta proposta o consumidor imagina e co-desenha o móvel que deseja, recebendo feedback da comunidade e de profissionais, a partir de aprovado o design da mobília é encaminhado a um produtor local para fabricação, criando uma cadeia de valor, criatividade e produção ética. Este sinal é também irreverente propondo um novo modelo de produção que é ao mesmo tempo global e local, desenvolvendo valor e engajando o consumidor no processo de criação do seu móvel, estimulando a criatividade e inspirando novas ideias e modelos, apoiados também em um pilar de personalização. É instigante, rompendo com o padrão vigente de produção: industrializado, centralizado e uniformizado e propondo um novo modelo, descentralizado e comunitário de criação. A mentalidade por trás deste sinal tem grande potencial de replicação e extensão, podendo vir a ser viral. Criando comunidades de criadores e produtores autogeridos e auto suficientes, estabelecendo um novo modelo de manufatura cultural. E finalmente podemos perceber uma proposta de descontinuidade, o objetivo do projeto é impactar a cadeia produtiva em diversos níveis, de forma a estabelecer uma nova abordagem do fazer coletivo, de modelos de negócio, e do uso da tecnologia em uma produção mais consciente e humana, focada em atender necessidades e criar novos
produtos.
Insight: Em um mundo cada dia mais global e urbano é importante aliar o local e o global criando novas formas de produção que dialoguem com ambas demandas. Estas demandas tendem a ir de encontro a uma produção mais humana e ética, comprometida com a economia circular e o fazer coletivo de forma comunitária e inovadora. Aqui os consumidores convertem-se cada dia mais em prosumers, procurando oportunidades que os permitam conjugar consumo e produção..

RUTE
(análise de Amanda Melo, Luísa D. Cortés, 2021)

Fonte

Descrição: Instruções para construir um kit de educação maker. Kits prontos costumam custar entre U$100 e U$300, com valores acima de U$2.000 para escolas. Com as informações do site, é possível montar um kit como esse a partir de sucata e algumas poucas peças compradas, com valores entre R$6 e R$32 (o equivalente, hoje, a U$1,16 e U$6,19, respectivamente).
Natureza Cool: A iniciativa é relevante, irreverente, atual e com uma proposta de continuidade por apresentar uma solução para o problema da falta de acesso ao ensino de qualidade, especialmente quando esse ensino envolve práticas alternativas, como a aprendizagem voltada a projetos. Ela é viral devido à sua natureza democratizante.
Insights: A cultura maker e sistemas de cocriação colaborativos devem ser acessados por todos. É preciso simplificar os meios necessários para a realização desses projetos e seu acesso.

Making Education Makers at Home
(análise de Amanda Melo, Luísa D. Cortés, 2021)

Fonte

Descrição: A FabSchool abriu uma chamada para que educadores, makers, designers e qualquer pessoa interessada disponibilizasse o arquivo aberto de seu projeto. A plataforma abriga todos os projetos enviados, que podem ser utilizados gratuitamente para projetos educativos, especialmente aos alunos com aulas à distância, em contexto da pandemia de Covid-19.
Natureza Cool: A iniciativa é viral, pois há um alto teor de replicação da mentalidade open source, como é possível observar em outros sinais cool deste relatório. Ela é atual e relevante, pois utiliza-se dessa mentalidade para solucionar um problema recente: a educação no contexto da pandemia e das aulas remotas. É irreverente, instigante e traz uma proposta de descontinuidade, pois democratiza a cultura maker na educação, possibilitando a mais pessoas o acesso a práticas alternativas de aprendizagem, o que possibilita mudanças sociais profundas a longo prazo.
Insights: A educação não deve ser entendida apenas no ambiente escolar e de responsabilidade dos educadores, mas deve abranger e estar em sintonia com as inovações presentes na sociedade. O modelo pedagógico conteudista não é o único possível, e cada vez mais iniciativas têm surgido com propostas de aprendizado por projetos. A pandemia nos fez pensar novos modelos educativos em meio ao ambiente digital.

Camiseta Simples – A primeira T-shirt comprada através de assinatura anual
(análise de Eduardo Altafim, Vanja Favetta, 2021)

Fonte

Descrição: “Camiseta Simples” é a última ideia vanguardista em perspectiva sustentável da marca brasileira de roupa “Reserva”, já conhecida por ser a única marca de moda da América Latina a possuir o certificado BCI (Better Cotton Iniciative), que estimula a produção sustentável de algodão.  Trata-se de uma coleção de T-shirts que é comprada através de uma assinatura anual e inserida dentro de um ciclo 100% sustentável: ao aderir à assinatura, o comprador terá direito a três camisetas por ano, uma no ato da compra, e as outras a cada 5 meses, além do mesmo valor em cashback a cada mês para novas compras. Ao final do ciclo de cada camiseta, a mesma é devolvida para a Reserva, que vai reciclar a peça e torná-la num novo produto, eliminando qualquer desperdício de tecido.
Natureza Cool e Insights: Com esta coleção, a Reserva pretende introduzir uma nova ideia de consumo de roupa, em linha com as expectativas do seu público, pois a ideia foi desenvolvida a partir de uma pesquisa que envolveu 3 milhões de clientes e seguidores das suas redes sociais.

Máscaras biodegradáveis que podem virar flor no seu quintal
(análise de Andressa Maia, Isabel Gomes, Maria Frederico, 2021)

Fonte

Descrição: Concebido e realizado em Utrecht, Países Baixos, a marca Marie Bee Bloom, da designer gráfica Marianne de Groot-Pons que afirma “também poluir a terra com os seus desenhos para impressões e embalagens, por isso quer fazer algo pela a terra. Ao mesmo tempo, quer trazer de novo à ribalta o tema “roaming e afundamento do plástico descartável e a sua proibição a partir de 1 de Julho de 2021”. Depois de ter tropeçado durante semanas sobre todas as máscaras descartáveis azuis na rua, acordei uma manhã com a ideia de uma máscara biodegradável com sementes de flores no interior. Terra feliz, abelhas felizes, natureza feliz, pessoas felizes. Vendo a máscara com o nome de Marie Bee Bloom. Bloom para o mundo!” (Marianne de Groot-Pons).
Pode ser plantada para trazer flores para o seu jardim. Isto é possível graças às sementes de flores incorporadas no acessório original. A máscara é feita de papel de arroz e contém sementes de
flores. As suas tiras são feitas de pura lã de ovelha. Até a cola utilizada para fixar certas partes é feita com amido de batata e água. Permite ao mesmo tempo ser um fertilizante orgânico repleto de nutrientes, que pode ser utilizado nos jardins ou em vasos contribuindo assim dar um destino mais correto à quantidade de máscaras que vão para o lixo diariamente. São também mais caras do que as máscaras descartáveis normais. O seu preço é de 3 euros (aproximadamente 3,58 dólares) cada ou, mais precisamente, a partir de 15 euros (ou aproximadamente 17,88 dólares) por cinco máscaras.
Natureza Cool: É relevante, está alinhado com o momento atual em que nos encontramos, está em sintonia com as mentalidades emergentes, age como força de mudança, provocando alterações entre si  e nas mentalidades associadas revela novos modos de responder a necessidades atuais. Tem potencial para marcar e ter impacto. Está na Média.
É viral, está a gerar um buzz e uma corrida ao site e entrevistas nos jornais. Tem um índice de contágio elevado, pelo seu caráter “inovador”, O caráter inovador das máscaras poderem ser biodegradáveis ocorre motivado pelo desenvolvimento de um produto e que, resultará num outro permite a sua utilização como fertilizante, tornam jardins mais floridos, que certamente impactará nas redes sociais e nos próprios locais, na melhoria do conforto e na qualidade dos espaços urbanos, oferecendo material de cor, textura, movimento e perfume à população urbana, contribuindo assim o equilíbrio psicofisiológico dos citadinos no seu recreio e lazer.
É atual e irreverente. Faz parte dos tempos atuais, existem de todas as cores e texturas, grandes marcas internacionais criaram os seus próprios modelos, estes processos têm-se tornado mais dinâmicos, as máscaras faciais fazem agora parte da nossa vida quotidiana e são susceptíveis de permanecer assim durante meses, senão anos, por esta razão através da observação da sociedade, podemos encontrar indícios de mudanças e comportamentos e de mentalidades emergentes que sustentem a implementação de novos conceitos, produtos, serviços como exemplo as máscaras biodegradáveis.
Apresenta em si uma proposta de descontinuidade, propondo novos significados e
funções para as máscaras faciais.
Insight: Como já mencionado, carrega em si uma proposta de descontinuidade com o fim da pandemia, mas ficam os jardins a florescer, desfrutando das flores e das abelhas felizes e uma mensagem feliz: Plante a sua máscara no jardim ou num vaso de flores; Use-o da forma correta, manuseie-a com cuidado; NÃO é plástico! Não sabemos se as máscaras biodegradáveis vão alcançar o mainstream, seguindo o percurso de difusão. No entanto, fica claro que se trata de uma manifestação de tendência e um sinal cool, alinhado ao espírito do nosso tempo.

The Tales of Courage and Kindness Story Collection – Disney
(análise de Andressa Maia, Isabel Gomes, Maria Frederico, 2021)

Fonte

Descrição: A coleção “Contos sobre Coragem e Gentileza” consiste no lançamento de 14 novos contos para as princesas da Disney, na forma de uma coletânea digital e gratuita. O projeto tem uma pretensão global desde a escolha de autores e ilustradores de diversos países para criação das estórias, como também de crianças que representam os personagens. Os contos baseados em princesas da Disney se ancoram nas histórias de 14 crianças que demonstraram coragem e gentileza em suas vidas, impactando todos ao seu redor. Cada estória te convida ao final a conhecer estas crianças e a pensar como as ações de cada indivíduo podem impactar a sua comunidade.
A natureza cool deste sinal pode ser percebida na própria proposta de mudança e adaptação de histórias clássicas da marca. Em um mundo que revê constantemente seus valores e repositórios se vê necessária a recriação de narrativas que se alinhem melhor com os desejos e padrões de comportamento atuais. Neste caso as estórias se utilizam também de um grau de personalização, se ancorando em narrativas reais e corporificadas de origens culturais diversas. O sinal se mostra extremamente atual e relevante, ecoando expressivas demandas em ascensão, propondo novas formas de interagir e se relacionar com as princesas e contos de fada. Tem potencial de viralização, o conteúdo de alta capilaridade somado a distribuição digital e gratuita tornam o objeto acessível e facilmente partilhável. Apresenta descontinuidade em forma, conteúdo e apresentação, desenvolvendo uma nova experiência de engajamento com a literatura de fantasia da Disney. E é também irreverente e instigante, rompe com os padrões estabelecidos e possui características atrativas e inspiradoras, interagindo com o público a partir de perguntas e propostas de ação a cada leitor.
Insight: A personalização de estórias e narrativas se torna cada vez mais um índice de grande importância para criação de narrativas, estas parecem ganhar mais corpo, poder de engajamento e interatividade com seu público ao se ancorar à vivências individuais e corporificadas.

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Outdoor Studio de Yoga
(análise de Amanda Melo, Luísa Cortés, 2021)

Fonte

Descrição: Aulas de yoga e fitness feitas ao ar livre, porém dentro de cúpulas individuais e transparentes nas quais as temperaturas excedem 100 graus Fahrenheit (para assistir ao vídeo das aulas acesse https://youtu.be/e_4M1OtAELc).
Natureza Cool: A pandemia trouxe fortes mudanças no nosso estilo de vida, tanto na nossa rotina diária, quanto na rotina de muitos profissionais que tiveram as suas atividades  suspensas. Com o medo do vírus e toda a instabilidade emocional que ele trouxe, as pessoas procuram aliar o seu bem-estar com um sentimento de segurança em relação a sua saúde. Com isso, os espaços outside foram valorizados, bem como atividades que proporcionam o melhor para a mente e o corpo em um ambiente livre do vírus, pois ao mesmo tempo que o contato com a natureza é fundamental, o distanciamento entre as pessoas ainda é primordial. Totalmente adaptado ao novo mundo que foi redesenhado, o sinal é atual, pois teve início em 2020, e relevante ao conseguir unir tudo que é necessário nesta nova realidade, sendo assim, também é viral e responde à toda descontinuidade necessária para uma sociedade saudável no corpo e mente. A estrutura física do sinal é instigante e irreverente ao provocar os limites entre a liberdade de estar em um ambiente externo e ao mesmo tempo totalmente recluso em uma cúpula sem contato físico com nada e ninguém.
Insight: O consumidor está em busca de saúde e de uma qualidade de vida aliada a uma experiência que lhe proporcione contato com o ambiente exterior. No atual mundo pandêmico, a criatividade se faz necessária para unir em uma mesma experiência a aproximação com o meio ambiente e o distanciamento social.

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// Os sinais Cool de 2020.
22-12-2020, a equipa do Lab.

Encontre aqui os sinais identificados pela equipa do Lab como alguns do mais impactantes do ano ou capazes de traduzir as mentalidades do momento. 

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Projeto “Now Upon a Time”
(análise de Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques, 2020)

Fonte: Springwise. Acesso em 5 mar 2020.

Descrição: O projeto usa tramas originais de contos de fadas, mas muda detalhes para apresentar personagens femininas mais fortes e modelos mais positivos para meninos e meninas. A agência norte-americana The Martin Agency refaz as histórias e produzem novas versões visuais on-line, podcasts e audiolivros gratuitamente.
Natureza Cool: Ao revisitar histórias infantis e nos colocar em contacto com a nostalgia, essas narrativas são repensadas para melhor servir e inspirar o público infantil. Sabendo que os contos de fadas são fortemente estereotipados pelas questões de gênero, onde a mulher indefesa deve ser salva e o homem é sempre ativo e deve prover um resgate, o projeto chega para desconstruir esses padrões e iniciar um nova geração com outra perspectiva ligada ao seu desenvolvimento pessoal e não aliada ao seu gênero. Observamos que as narrativas que envolvem a desconstrução do estereótipo de gênero já estão sendo muito mais abordadas nos livros, álbuns de música, podcasts e em propagandas publicitárias. Reinventar histórias que estão em nossa memória e ressignificá-las é uma ótima maneira de não propagar questões limitadoras ligadas ao gênero.
Insight: Histórias e crenças que são impostas desde a infância estão a cair por terra quando temos criadores de narrativas empenhados em desconstruir qualquer estereótipo ligado a raça, gênero e orientação sexual.

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#AsianBeauty
(análise de Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques, 2020)

Fonte: Twitter. Acesso em 18 março 2020.

Descrição: Anteriormente utilizada para sexualizar corpos asiáticos, a #AsianBeauty entrou para os Trending Topics do Twitter no dia 16 de março ao ser ressignificada pelos usuários como forma de reafirmação da identidade asiática.
Natureza Cool: Usa as redes sociais para uma campanha que traz a identidade como fator principal e ajuda a combater um estereótipo ligado às mulheres asiáticas. Ressignifica uma hashtag e a coloca como um meio de capacitar as mulheres asiáticas a partir de sua própria identidade.
Insight: Retratar assuntos como preconceito racial, objetificação e aceitação para ressignificar e se apropriar da hashtag com uma conotação positiva é também um meio de relembrar as origens e ascendências.

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The Meet Vincent van Gogh Experience
(análise de Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques, 2020)

Fonte: Meet Vincent van Gogh Experience. Acesso em 20 março 2020.

Descrição: O Van Gogh Museum traz uma experiência multissensorial das obras mais importantes de Van Gogh. As actividades sensoriais permitem sentir e tocar em elementos da vida do artista, como puxar uma cadeira e sentar-se à mesa ou subir ao monte de feno, em Arles. A exposição reúne obras do grande pintor de uma forma inovadora, visto que é possível interagir com as obras de arte expostas.
Natureza Cool e Insight: Ao alinhar narrativas experienciadas com obras de arte, o museu quebra um estereótipo de ser um lugar somente para observação. Nesse caso, o museu é um lugar onde é possível tocar, sentir, senta-se à mesa e interagir com grandes obras da pintura. Proporcionando, assim, experiência, curiosidade e interesse de uma maneira diferente quando relacionada a uma exposição de artes plásticas.

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Festival – “Eu Fico em Casa”
(análise de Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques, 2020)

Fonte: Instagram. Acesso em: 17 março 2020.

Um festival via múltiplas plataformas online, criado em tempos de pandemia, onde diversos músicos portugueses uniram-se em um projeto musical virtual feito a partir de suas casas para o público que assistia também de suas respectivas residências.
Natureza Cool e Insight: Com a impossibilidade de sair de casa por conta de uma pandemia, músicos tornam shows acessíveis transmitidos via redes sociais para entreter o público. Mesmo em tempos difíceis, a arte toma protagonismo ao oferecer projetos culturais gratuitamente para espectadores em suas casas. Muitos festivais surgiram a partir dessa ideia. Abrangendo outras formas de expressão, além da música. Vê-se um movimento grande nos vídeos em direto nas redes sociais para levar entretenimento a quem está isolado em suas casas. Sem poder reunir multidões em festivais artísticos, a cena criou um festival online que consegue conectar virtualmente pessoas e promover um momento de lazer no meio de uma grande crise. A conexão entre artista e público ficou mais próximo, já que a interação online acontece muito mais e melhor do que quando um artista apresenta-se de cima de um palco. Mas não são só pontos positivos, a questão enfraquece a artistas e trabalhadores técnicos como roadies, técnicos de som e iluminação, por ser um modelo pouco sustentável economicamente, já que as lives estão acontecendo de maneira gratuita.

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O hiper-realismo de Filipe Custic
(análise de Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos, 2020)

Fonte: Instagram.

Descrição: O corpo da obra do artista plástico multidisciplinar espanhol-sérvio de 26 anos, utiliza-se do hiper-realismo para explorar a fisicalidade do corpo humano através de diversas plataformas como instalações, esculturas, fotografia e artes digitais.
Natureza Cool: O trabalho de Filip salta aos olhos e causa estranheza ao retratar o corpo humano de forma não convencional, trazendo uma nova estética transhumana ainda pouco explorada. Nos incita a desafiar os limites do próprio corpo e sua materialidade e as diversas formas possíveis de representação de nossas identidades através dele. As obras do artista dialogam com a crescente necessidade do indivíduo de expressar sua identidade além da condição humana física, com a liberdade de não se enquadrar em nenhuma categoria já estabelecida, criando seus próprios códigos, reforçado pela avanço da tecnologia, que permite uma nova visão do EU pós-humano.
Insight: Marcas e instituições devem estar atentas às novas representações de identidade, que vão muitas vezes além da materialidade do próprio corpo, entendendo que as categorizações já hoje pré-estabelecidas não são mais suficientes. Vale reforçar o uso da tecnologia para expressão destas novas identidades.

.Inovação e Diversidade: a poderosa combinação por trás da nova formação da Barbie
(análise de Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos, 2020)

Fontes: Barbie MattelForbes.

Descrição: Uma nova linha de bonecas Barbie acaba de ser lançada reforçando-a como a boneca mais diversificada do mundo. Nesta edição esportistas profissionais são transformadas em modelos e são homenageadas no Dia Internacional da Mulher.
Natureza Cool: O sinal se torna cool por ser uma iniciativa que diz respeito à quebra de estereótipos e raças, não há um padrão de pele ou cabelo. Assim criam novas maneiras de ajudar as crianças a aprender a desafiar os estereótipos de gênero. As bonecas se apresentam com características externas diferentes das Barbies mais populares, a exemplo da boneca negra inspirada na atleta britânica Dina Asher Smith. A ação do fabricante, lançando produtos diferentes dos habituais inspira por se constatar uma adaptação a resposta das necessidades de várias meninas, pois ao alargar o olhar até a posição daquelas que por algum motivo não se sentem representadas, o fabricante também acaba se aproximando tanto do público mirim quanto dos seus pais.
Visto que hoje se busca um mundo cada vez mais igualitário onde todos possam ter os mesmo direitos, existe um grande potencial de crescimento nesta ação, uma vez que estas modelos atuarão como fontes de motivação para que meninas se vejam em mulheres de sucesso e possam inspirar-se a lutar pelos seus sonhos.
Insight: Mais empresas e marcas precisam desenvolver ações como esta, que além de homenagear pessoas que lutaram e se dedicaram para alcançar um objetivo, ao criar uma linha que saem do padrão ortodoxo, transportam-se do seu status para dialogar com minorias, mostrando-se assim mais próximas delas e compreensiva às suas necessidades.

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Consubstantiation : um Drag show somático e pós-mimético por Dinis Machado (análise de Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos, 2020)

Fonte: http://www.dinismachado.com/consubstaciation.html

Deslocando-se de uma perspectiva de género e de identidade sexual binários, a performance desenvolve-se a partir da criação de um imaginário de “um espaço entre”, tanto sexual como de género, e da sua personificação: um corpo humano que se aproxima de um género-objecto. Por se tratar de uma performance disruptiva, a estranheza das características da apresentação como a utilização de formas geométricas e outros objetos usados na construção de narrativas identitárias contribuem para um olhar mais “naturalizado”  ao que referem-se características pessoais e consequentemente, de identidade de gênero.

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VTREE SOLAR
(análise de  Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang, 2020)

Fonte: https://www.publico.pt/2017/02/14/p3/noticia/primeira-arvore-tecnologica-solar-do-pais-fica-em-lisboa-1827612

Equipamento, em forma de árvore, que, através de energia solar, acumula e gera energia eletrónica, com o objectivo de fornecer wifi e bateria a telemóveis. O primeiro dispositivo deste tipo colocado em Portugal foi instalado na Praça do Comércio, em Lisboa, em 2017.
Vtree Solar chama à atenção por, atualmente ser um aparelho de acesso público pouco comum. Não costuma haver nas ruas um dispositivo no qual se pode, gratuitamente, carregar o smartphone a aceder à internet. Para além disso, gera debate acerca da constante necessidade (seja por razões recreativas ou profissionais/académicas) de estarmos ligados ao mundo digital e da importância do uso de energia renovável. O seu potencial de replicação é notável a partir do momento em que o conceito de Vtree Solar já foi posto em prática em várias regiões do Mundo, como por exemplo na Roménia, no Brasil e no Chile.
O conceito de um dispositivo como Vtree Solar faz-nos refletir acerca de questões relacionadas com a sustentabilidade e com a necessidade de estar constantemente ligado ao virtual. Contudo, mantendo sempre uma faceta que remeta para a  natureza. Por essa razão, o design do dispositivo assemelha-se a uma árvore e é colocado em locais ao ar livre. Através de Vtree Solar, estes dois universos (a natureza e a tecnologia digital) não são apresentados como opostos. Há uma junção de ambos que permite ao utilizador sentir-se mais chegado à natureza, mesmo enquanto usufrui de um serviço facilitado pela tecnologia digital.

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QSTAMP® – Sensor Alimentar
(análise de  Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang, 2020)

Site oficial:  http://qstamp.io/
Fonte:https://www.publico.pt/2019/11/12/p3/noticia/sensor-para-alimentos-criado-por-portugueses-chega-ao-publico-em-2020-1893395

QStamp® é um sensor criado pela startup portuguesa Mater Dynamics. Através de um formato em autocolante transmite informação sobre a temperatura, a luz e a humidade das embalagens de alimentos, com ajuda da sua aplicação.
QStamp pode considerar-se atrativo porque é inovador, especialmente por se apresentar no combate ao desperdício alimentar. Inspira e simplifica o dia-a-dia do consumidor, enquanto sujeito ativo na tomada de decisões mais conscientes e sustentáveis. Além disso, faz-nos refletir também acerca do tipo de alimentos que consumimos. O formato subtil e discreto de QStamp (um autocolante) apresenta a possibilidade de ser replicado em outros setores diferentes do setor alimentar, como o setor da saúde, por exemplo. Ajudando, assim, à gestão de novos serviços, tratamentos e  produtos de outras áreas.

A criação de etiquetas inteligentes aborda questões como a tecnologia, a sustentabilidade e a sociedade. Através da mesma, é possível produzir discursos sobre a importância que a tecnologia representa para a sociedade atual e para a natureza, mais especificamente na luta por um planeta mais sustentável e uma vida mais saudável. Desta forma, através do controlo de vários parâmetros, é possível acompanhar, a cada momento, a evolução do estado do produto através de um simples smartphone.

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INMOTION – RECUPERAÇÃO FÍSICA VIA VIDEOJOGOS
(análise de  Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang, 2020)

Fonte:https://www.publico.pt/2017/12/13/p3/noticia/os-videojogos-tambem-podem-ser-receitados-pelo-medico-1828970

O projeto InMotion, criado por um grupo de alunos do Instituto Técnico de Lisboa, dedica-se à reabilitação física através do conceito gamification, juntando o conhecimento de três áreas (tecnologia, engenharia e medicina). A recuperação física é feita através de fisioterapia, com exercícios adequados a cada articulação. Para além disso, uma câmara permite medir e monitorizar a evolução do utilizador e enviar estes dados para o médico ou fisioterapeuta, oferecendo um novo índice de avaliação.

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AI GAHAKU
(análise de  Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang, 2020)

Fonte:https://ai-art.tokyo/en/?fbclid=IwAR2dFoT1EZ9__49AZGVJB4EtgDY6RdxcQyaJi1N1x1wPAnK6ACsJFy72EFE

Homepage do site AI Gahaku, acedido em Abril de 2020

O robot Gahaku de inteligência artificial, criado pelo programador japonês Sato, transforma fotografias submetidas no site, pelos utilizadores, em retratos de séculos passados.

Numa era em que a maioria do processo fotográfico é feito de modo digital ou analógico, retratos pintados à mão são raros. E é exatamente por isso que AI Gahaku é atrativo. Numa época consumida por tantos dispositivos tecnológicos, surge curiosidade em saber como a nossa aparência seria retratada através de uma prática que era mais comum nos séculos pré-digital. É atrativo porque não é comum.

Al Gahaku pode ser inspirador na medida em que tem o poder de gerar uma análise acerca de questões de nostalgia e representação de estéticas mais antigas. Gera debate sobre o porquê de, atualmente, haver uma romantização e curiosidade acerca do antigo, séculos XVI, XVII, etc, especialmente de elementos estéticos e artísticos  relacionados com as épocas referidas.

O conceito de AI Gahaku será fácil de viralizar porque pode observar-se um crescente interesse em eras diferentes da História. Neste caso, interesse na estética da arte do passado e na em retratos de pessoas  desenhados em telas e pintados com tinta. O interesse por estéticas de décadas passadas continua a existir. Continua presente um fascínio por objetos vintage, retro e antigos, sejam eles referentes aos anos 50 do século XX ou reproduções contemporâneas de feiras medievais.

O ADN criativo de AI Gahaku assenta, essencialmente, em sensações nostálgicas e na possibilidade do regresso a períodos passados. A curiosidade humana é, muitas vezes, estimulada por conceitos pouco comuns e diferentes. A pintura não é uma prática pouco comum nem diferente, mas a conceção de um retrato pintado é, nos dias de hoje, pouco comum. E é isso que suscita interesse. No Mundo de hoje, já conhecemos a aparência de selfies e de fotografias digitais. AI Gahaku tenta reproduzir uma prática pouco utilizada, actualmente. Temos curiosidade em saber como seríamos retratados através de técnicas de pintura respetivas a séculos passados. O potencial de viralização de um conceito como o de AI Gahaku – o interesse em estéticas de eras passadas – é visível através de, por exemplo, o surgimento de aplicações para smartphones que aplicam filtros com pouca definição e com algum pó a fotografias tiradas com dispositivos digitais. Simulando, assim, fotografias analógicas, que, embora não necessariamente um símbolo de épocas antigas, eram mais usadas quando não havia qualquer acesso à tecnologia fotográfica que há actualmente. É quase como houvesse, de certo modo, uma vontade de voltar ao antigamente.

.Boring Phone

Boring Phone
(análise de  Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang, 2020)

Fonte:https://boringphone.com/
Homepage do site Boring Phone, acedido em Abril de 2020

BoringPhone é um telemóvel smartphone minimalista, que inclui apenas funções consideradas necessárias e úteis. O seu slogan é “O único telemóvel que requer menos do seu tempo”. BoringPhone é isento de funcionalidades consideradas distrativas que possam prejudicar a produtividade do utilizador ou causar-lhe stress e ansiedade provenientes de um constante uso da tecnologia. As funções do BoringPhone incluem chamadas, mensagens, câmera, GPS, podcasts, música, ferramentas úteis, HotSpot (Wi-fi), MP3, calculadora, fotogaleria, bloco de notas, calendário, relógio, rádio, gravador de áudio e lanterna. As funcionalidades não incluídas neste telemóvel são acesso a Emails, Navegador de Pesquisa, Redes Sociais e Loja de Aplicações.

BoringPhone torna-se atrativo porque está fora da expectativa que se tem acerca de um smartphone, não está dentro da norma. É um telemóvel que oferece mais funcionalidades que os primeiros telemóveis que apareceram no mercado. Contudo, por opção, não oferece tantas quanto o modelo actual de telemóvel inteligente. Fá-lo por escolha, está a marcar uma posição. Pode gerar debate em torno de como, actualmente, usamos grande parte do nosso tempo a utilizar dispositivos tecnológicos. Incentiva uma análise acerca do modo como nos servirmos da tecnologia e dos respectivos aparelhos que temos à nossa disposição. Coloca questões como “Quanto tempo passamos, realmente, online?”, “Devemos focar a maioria da nossa atenção no mundo não-virtual? Ou um equilíbrio de ambos?”. No geral, o conceito de BoringPhone coloca em perspetiva o modo como vivemos num mundo tão consumido pela tecnologia. O conceito de BoringPhone até já está a ser adaptado e colocado em prática por outros serviços. Um exemplo é o Hotel Bellora, na Suécia, no qual o valor da estadia varia consoante o uso da internet, por parte do cliente do hotel. A ideia por trás de ambos os projectos, BoringPhone e Hotel Bellora, é a mesma: o incentivo a não usar tanto as redes de tecnologia que estão à nossa disposição, uma desconexão virtual.
ADN por trás do conceito de BoringPhone é incentivar o pouco uso de dispositivos tecnológicos nos quais passamos demasiado tempo simplesmente a scrollar, sem propósito. O conceito de desconexão incentiva a uma utilização do nosso tempo noutras actividades que nos façam estar mais presentes, atentos e focados no próprio momento em que nos encontramos. De certo modo, promove a poupança de saldo e energia (se utilizarmos pouco o telemóvel não é necessário carregá-lo com dinheiro e bateria tão frequentemente). Além de tudo isto, promove também a privacidade, porque não permite acesso a redes, aplicações e sites nos quais, normalmente, se partilham detalhes sobre a vida quotidiana de várias pessoas. O conceito de BoringPhone assenta na desconexão tecnológica e na privacidade.

Esta busca pela privacidade que, nos dias de hoje, parece um conceito longínquo e antiquado, está a ganhar cada vez mais popularidade. É uma ideia que pode ser transferida para outros projectos e objectos. Um exemplo de uma outra manifestação desta microtendência é a “pulseira do silêncio”, uma pulseira que, quando activada, proíbe dispositivos de inteligência artificial como a Alexa e a Siri de recolherem informação. No geral, o ADN de BoringPhone assenta, sobretudo, na desconexão digital, num retorno à privacidade e na boa gestão de tempo pessoal.

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AMAZON GO GROCERY – Just walk out
(análise de  Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang, 2020)

Site: https://www.amazon.com/b?ie=UTF8&node=20931388011
Fonte: https://www.retailconnections.co.uk/articles/amazon-go-grocery-the-web-giants-first-cashier-less-supermarket/
Alison Clements, Amazong Go Grocery : The Web giant’s first cashier-less supermarket, acedido em Abril de 2020

É uma aplicação baseada na tecnologia de compras e de pagamento móvel. Amazon Go Grocery tem mudado a maneira como as pessoas compram e experienciam as compras em supermercados. A tecnologia de Just Walk Out detecta quando um item é removido ou colocado de volta nas prateleiras, enquanto regista tudo isso num carrinho de compras virtual. Assim que o utilizador terminar de fazer compras pode simplesmente sair da loja. Não tem que esperar em filas ou passar por uma caixa registadora. O pagamento e o recibo serão feitos através da sua conta na plataforma da Amazon.
NATUREZA COOL: A aplicação Just Walk Out torna-se atrativa pois ajuda a gerir e a poupar tempo. A aplicação permite fazer compras no supermercado, sem ter que esperar nas filas das caixas registadoras, para pagar. Just Walk Out possibilita o debate acerca dos prós e dos contras das novas tecnologias (tema que irá estar desenvolvido mais a fundo no sector do Insight). O conceito de Just Walk Out, uma aplicação que permite a automatização de serviços, já está presente noutras áreas e é visível em outros setores, como por exemplo aplicações de bancos e transferência de dinheiro. Aplicações como a MBWay e a Moey permitem que o utilizador realize as funções que pretende através de um simples clique, onde quer que esteja, sem ter que se deslocar. Surgem cada vez mais aplicações que têm a possibilidade de descartar o contacto humano nos mais diversos serviços.
O ADN criativo de Just Walk Out baseia-se numa melhor gestão de tempo e na ajuda a utilizadores que sofram de ansiedade ou de distúrbios anti-sociais. Este tipo de aplicação pode contribuir para a análise acerca dos prós e contras de novas tecnologias cada vez mais assentes na automatização. Uma aplicação como a Just Walk Out pode ser útil e eficaz ao permitir uma melhor gestão do tempo em vidas muito ocupadas e ajudar também quem tem dificuldade em lidar ou em comunicar com outras pessoas, como no caso de distúrbios ou condições mentais relacionadas com a ansiedade.  No entanto, pode também ser um tipo de aplicação perigosa, porque se se tornar popular e usada por grande parte da população, contribuirá para o aumento da taxa de desemprego, pois serão cada vez menos os funcionários  necessários para o atendimento ao público nas caixas registadoras de determinados supermercados.

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Embalagens de televisores Samsung se transformam em objetos
(análise de Marianna Rosalles, Francisco Mateus, 2020)

https://news.samsung.com/global/samsung-to-introduce-eco-packaging-for-its-lifestyle-tv-lineup

A Samsung criou novas embalagens para sua linha “Lifestyle” de  televisores com o intuito de prolongar a vida útil das caixas transformando-as em novos objetos. As caixas  “eco-packaging” além de serem feitas a partir de material reciclado, podem se tornar casas de gatos, revisteiro, prateleiras para decodificadores e suportes para controle remoto.
A proposta da Samsung é atrativa uma vez que ressignifica o ciclo de vida das embalagens criando alternativas ao descarte. As caixas trazem uma proposta sustentável que vai além do material de fabricação e repensam a relação do indivíduo com um material de iria para o lixo.
Essa criação é inspiradora uma vez que instiga as empresas a mais do que se preocupar meramente com a reciclagem, pensar em novos destinos para os resíduos para que eles tenham uma função, tornem-se objetos utilitários.
Há um potencial de crescimento uma vez que foi uma iniciativa inovadora que eleva a discussão das embalagens a um outro nível, o de pensar formas de transformá-las de modo que possam ser inseridas na vida das pessoas e não apenas descartadas.
É preciso que as empresas vão adiante em termos de sustentabilidade e não fiquem apenas focadas em seu material mas sim em pensar em como transformar seus resíduos em algo utilitário.

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Disco de vinil feito a partir de plásticos descartados no mar leva a sustentabilidade para a música
(análise de Marianna Rosalles, Francisco Mateus, 2020)

Em 2019 a música “In the Anthropocene” do cantor Nick Mulvey ganhou um vinil de 10mm feito com plásticos descartados no mar da Cornualha. Este é considerado o primeiro LP 100% sustentável do mundo. https://www.youtube.com/watch?v=qBuE-Z_DPwE&feature=emb_title
O vinil contém a música “In The Anthropocene” do artista Nick Mulvey que aborda a questão da preservação ambiental, mas além da parte poética, o disco chama a atenção por ser feito com plástico descartado no mar, mostrando que é possível dar outros fins ao lixo.
Nos faz pensar que é possível dar um ressignificado ao lixo plástico que é descartado muitas vezes de forma incorreta, visto que ele é um material que demora para se decompor e que impacta negativamente o meio ambiente.
O “ocean vinyl” aproveita o crescente mercado de discos de vinil que tem lançado títulos clássicos e novos, alguns deles em edições especiais, em que o disco é prensado em cores diferentes, ao invés do preto padrão. Um disco feito a partir de materiais reciclados chama a atenção dos consumidores de vinil e também dos artistas.As gravadoras e fábricas de discos podem utilizar materiais reciclados como alternativa ao vinil, isso mostraria que o mercado de música física está se adaptando não somente ao consumo digital, mas também a um cenário onde os produtos sustentáveis vêm ganhando cada vez mais importância entre os consumidores.

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Massagem sem contacto humano
(análise de Andreia Carneiro,  Caroline Rocha,  Karliete Nunes, 2020)

Fonte:https://capsix-robotics.com/

A Capsix Robotics desenvolveu uma nova tecnologia, única no mundo, permitindo o cuidado do corpo com um robô colaborativo! O sistema se adapta à morfologia do paciente e permite uma interação em tempo real.
Com a soma de respostas físicas e mentais causadas pelo estresse, há um desgaste que atinge o corpo humano que é causado por esse processo, que pode até gerar nódulos nos músculos. Esses nódulos podem ser desfeitos ou prevenidos com pressão e toque adequados, sendo o robô massageador de grande atrativo, para além da autonomia, pois pode ser utilizado a qualquer momento sem a necessidade de terceiros com um sistema completamente moldável e independente ao corpo.
O robô massageador possui potencial de replicação pois com a possibilidade de surgimento de outros vírus, o contato humano poderá ficar cada vez mais raro, implicando em soluções que possam atender as demandas de estresse e tensão.

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Roupa com filtro de proteção contra patógenos
(análise de Andreia Carneiro,  Caroline Rocha,  Karliete Nunes, 2020)

Fonte: https://www.bioscarf.com/

Com o surgimento cada vez mais constante de patógenos, como vírus e bactérias, a Bio Scarf lançou o G95, o primeiro equipamento com tecnologia de filtragem integrada para ajudar na proteção da poluição do ar, alérgenos, bactérias, fumaça, PM2.5 e outros contaminantes transportados pelo ar que podem ser nocivos para a saúde.
É atrativo pela facilidade de obter a proteção contra patógenos e ao mesmo tempo poder. É inspirador porque oferece uma tecnologia incorporada à roupa e descarta o uso de máscara a parte.
Tem potencial de replicação massificado, já que é prevista a chegada de novos vírus no planeta, que forçam mudanças de comportamento e no uso de tecnologias que possam auxiliar na proteção contra esses patógenos.

Capítulo 1 

1.1. Das Narrativas à Memória: conceitos e articulações
(Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques, 2020)

» Identidade

Para encontrarmos uma definição de identidade recorremos ao teórico cultural Stuart Hall que afirma que “Cultural identities come from somewhere, have histories. But, like everything which is historical, they undergo constant transformation. Far from being eternally fixed in some essentialized past, they are subject to the continuous “play” of history, culture and power. Far from being grounded in a mere “recovery” of the past, which is waiting to be found, and which when found, will secure our sense of ourselves into eternity, identities are the names we give to the different ways we are positioned by, and position ourselves within, the narratives of the past” (HALL, 1994). Ao apresentar três conceitos de sujeito que foram sendo modificados ao longo do tempo (Iluminismo, sociológico e pós-moderno), Hall considera que esse terceiro é o predominante na sociedade contemporânea – uma versão fragmentada do sujeito e que, ao contrário das outras, deixa de enxergar a identidade como permanente e passa a considerá-la como definida histórica e não biologicamente (HALL, 2005, p. 10-17).

Hall enxerga a globalização como uma possibilidade de “levar a um fortalecimento de identidades locais ou à produção de novas identidades.” (HALL, 2005, p. 84).

Fonte: Google Trends <https://trends.google.com.br/trends/explore?q=identity> Acesso em: 01 mar 2020.

Fonte: Google Trends <https://trends.google.com.br/trends/explore?q=identity> Acesso em: 06 mai 2020.

No início deste trabalho desenvolvemos uma pesquisa no Google Trends com o objetivo de dimensionar o interesse do público geral nos assuntos relacionados à hipótese. Em março de 2020, notamos que há uma linearidade na busca pela palavra “identidade” na internet, no período de 12 meses, mesmo com pequenos altos e baixos. Em maio do mesmo ano, realizamos novamente a pesquisa, e é possível perceber que a linearidade contínua – embora esteja em queda.

De acordo com “Proudly Local, Going Global”, um dos artigos que faz parte de uma série que destaca o relatório das dez principais tendências mundiais do consumidor em 2020, o orgulho e o poder na cultura local se tornarão mais definidos e relevantes em 2020. Segundo o artigo, a tendência “Proudly Local” captura o desejo do consumidor de adotar e apelar para um senso de individualidade e identidade nacional crescente a partir da inspiração local (EUROMONITOR, 2020).

No artigo “How to Prepare for the 2020 Consumer”, os estudiosos apontam que há uma preferência crescente por produtos e marcas locais, vistos como mais autênticos e representando melhor a individualidade. Ainda segundo o mesmo artigo, marcas de nicho iniciam sua rota global para o sucesso acentuando suas credenciais locais. Ao mesmo tempo, as multinacionais estão se tornando mais sofisticadas na modelagem de seus produtos para gostos e preferências locais, sem perder sua identidade de marca principal. Sendo assim, as marcas precisarão considerar os gostos e preferências locais e adaptar seus produtos e serviços de acordo. Sintonizando-se com a tendência Proudly Local, Going Global é uma estratégia de negócios atraente para conquistar e reter a lealdade do consumidor (EUROMONITOR, 2020).

» Experiências

De acordo com a perspectiva de Walter Benjamin, a experiência encontra-se ligada com o conceito de corpo, técnica e vivência. As áreas urbanas, a modernidade e a nova temporalidade efêmera, veloz e de consumo momentâneo vão ao encontro de uma nova percepção de sentidos, a uma nova sensibilidade, que é traduzida na construção de novos espaços empresariais e lúdicos que facilitam a mobilidade na cidade moderna (BENJAMIN, 1995). A cidade educa os sentidos e a sua percepção cria uma memória que sobrevive ao choque e à velocidade da vida moderna. A forma de comunicação da experiência é a narrativa, transmitida através de representações artísticas (cinema) e literárias (romance, jornal – com maior rapidez, comunicação a longa distância). Destaca a narrativa oral que entra em declínio na vida moderna (BENJAMIN, 1995).

Benjamin considera que a experiência é um processo complexo que exige um tempo longo de reflexão, que, de forma alguma, é compatível com o carácter quantitativo e qualitativo do tempo veloz da era moderna e da sua produção massificada. O ritmo da experiência e da narrativa é um trabalho artesanal, manual, anterior ao surgimento do capitalismo e do modo de vida moderno. As transformações sociais da vida moderna e o ritmo veloz quotidiano da metrópole, muito devido ao desenvolvimento tecnológico, contribuíram para o empobrecimento da memória, afectando a percepção sensorial. Desta forma, o conceito de experiência dá lugar ao conceito de vivência (BENJAMIN, 1991).


Fonte:
 Google Trends <https://trends.google.com.br/trends/explore?q=experience> Acesso em: 03 mar 2020.

Fonte: Google Trends <https://trends.google.com.br/trends/explore?q=experience> Acesso em: 06 mai 2020.

A pesquisa no Google Trends do termo “Experience”, diferente de identidades, evidencia uma queda considerável no interesse do público – o início do declínio do gráfico foi no começo de março, mas obteve o ponto mais baixo na segunda metade desse mês. O contexto desse período é marcado pelo início do distanciamento social, por causa da covid-19, em diversos países ocidentais, o que pode ser um dos motivos pelos quais o interesse em experiências tenha decaído.

» Narrativas

Segundo Jane Stadler, pesquisadora da comunicação, as narrativas oferecem um meio de compreensão e análise da própria vida do indivíduo, e uma forma de conectar-se com as vidas dos outros. Segundo a autora, estruturas instigantes e atípicas de narrativas aumentam a relação entre narrativa e identidade, além de evidenciar as limitações de narrativas com estruturas formuladas. A autora também realça a relação entre biografia e identidade pessoal (STADLER, 2008, p. 5). Stadler também reflete acerca do cinema, afirmando que, nesse contexto, o entretenimento não é restrito ao prazer de se associar e compreender a história de outras pessoas, mas inclui, também, os prazeres visuais do voyeurismo – que envolvem assistir aos corpos celestiais de estrelas do cinema interpretando papéis românticos e heróicos (STADLER, 2008, p. 57). Segundo Singer, o fenômeno do cinema como uma instituição social afirma e apoia o prazer de assistir ao providenciar um contexto que facilita o cultivo dessas possibilidades, legitimando-as ao reconhecer a necessidade desse tipo de espaço e, também, criando-o (SINGER apud STADLER, 1990, p. 43). A relevância da narrativa cinematográfica é expressa por Stadler, que afirma que ela é um “meio de comunicação visual com a habilidade de evocar e representar o material de forma cativante e realista (apesar de entendermos que seja apenas uma representação), o filme é uma forma de narrativa com qualidades de expressão e impacto que difere de qualquer outra” (STADLER, 1990, p. 39). A autora ainda afirma que outros meios de comunicação não são capazes de articular a experiência humana com a mesma precisão, impacto ou ênfase como um filme consegue. A autora acrescenta: “Narrative film is a medium in which the stories of human lives and the cultural contexts in which they are situated are inscribed in a way that can foster understanding of people, issues, and circumstances the viewer might not otherwise consider” (STADLER, 1990, p. 39-40).

Walter Benjamin aborda a narrativa em um contexto mais amplo, afirmando que, na modernidade, a individualização da narrativa substitui as formas coletivas de narrativas orais pré-modernas. O autor também reflete acerca da relação entre experiência e memória, e afirma que ela é o motivo do colapso da narrativa (BENJAMIN, 1936, p. 440).

» Nostalgia

De acordo com Holbrook e Schindler, pesquisadores de consumo, “a nostalgia é uma emoção pessoal e é considerada uma atitude positiva ou preferência em relação a objetos, pessoas, lugares ou coisas” (HOLBROOK E SCHINDLER, 1991).

Já no âmbito dos estudos da memória e da cultura, Stauth e Turner afirmam que “a nostalgia constitui tanto uma forma de conhecer o mundo – ou melhor, uma forma de conhecer mundos – e um discurso sobre o conhecimento. Como um discurso sobre o conhecimento, a nostalgia tem sido associada tanto com a melancolia quando com uma resposta conservadora às incertezas da modernidade” (STAUTH E TURNER apud RADSTONE, 2010, p. 188).

Em relação ao modo como a nostalgia opera no indivíduo, Radstone afirma que ela “costura, juntos, o subjetivo e o objetivo, o psíquico e o social. Na nostalgia, afeto e significado são unidos e conhecimento e crença falam a língua do tempo” (RADSTONE, 2010, p. 189). De acordo com os estudos de Sedikides et. al. (2016), ser nostálgico não é estar preso ao passado – e que, na verdade, sentir-se assim aumenta a vitalidade e deixa o indivíduo mais preparado para lidar com o presente e com o futuro. Segundo os resultados da pesquisa, voluntários que participaram do teste relataram sentimentos de “autocontinuidade”- o que, para os pesquisadores, significa que ao olharmos para o passado, temos uma melhor compreensão de quem somos. Por isso, relembrar temos melhores cria sensações positivas, que ajudam a romper o aspecto negativo da solidão.

A pesquisa de Autio (2013), desenvolvida pela Wageningen University, observou que muitos consumidores da Finlândia consideram a comida local uma escolha mais sustentável do que a comida convencional, pois ao consumirem os alimentos produzidos no próprio país, eles apoiam a economia local e contribuem para o crescimento das comunidades. Além de apreciarem o melhor sabor da comida local por ser mais saudável e saborosa, eles consideraram itens produzidos, processados por eles ou que eles mesmos caçaram ou pescaram, como sendo a comida local mais autêntica, pois esta ideia está associada à produção caseira e artesanal. O objetivo da pesquisa foi observar como a nostalgia está associada à produção de comida local, especificamente como isto justifica certas compras. Foi analisado também como sentimentos nostálgicos são manifestos por estímulos sensoriais, como, por exemplo, a forma que a comida é exibida e exposta. Como conclusão deste estudo, os entrevistados relataram que a comida local era considerada ‘comida de verdade’ e desejaram voltar ao passado, no qual a percepção da comida era simples e saborosa e não algo arriscado para o corpo e a saúde.

Fonte: Google Trends <https://trends.google.com.br/trends/explore?q=nostalgia> Acesso em: 03 mar 2020.

Fonte: Google Trends <https://trends.google.com.br/trends/explore?q=nostalgia> Acesso em: 06 mai 2020.

Em relação à procura do termo “Nostalgia”, é possível observar uma certa linearidade na primeira pesquisa – enquanto na segunda, mais tardia, nota-se um pico consideravelmente alto e repentino nas buscas, que ocorreu entre os dias 22 e 28 de abril. De acordo com os gráficos da plataforma, esse pico coincidiu com o lançamento de um álbum de músicas pop da cantora Dua Lipa, com o título “Future Nostalgia”, o que justifica o aumento das buscas nesse período de tempo.

» Memória coletiva

Pierre Nora, um dos principais teóricos dos estudos de memória, ressalta a necessidade da vivência da memória coletiva: “Quanto menos a memória é vivida colectivamente, mais ela tem necessidade de homens particulares que fazem a si mesmos homens-memória. É como uma voz interior que dissesse aos Corsos: ‘Tu deves ser Corso’ e aos Bretãos: ‘É preciso ser Bretão!’ ” (NORA, 2016, p. 62). De acordo com Assmann, a memória social não pode ser distinguida da individual, já que uma faz parte da outra. “É por esta razão que é difícil, ou mesmo impossível, distinguir entre uma memória ‘individual’ e uma memória ‘social’. A memória individual é sempre social num nível mais elevado, tal como o são, em geral, a língua e a consciência” (ASSMANN, 2016, p. 89).

Articulações: A pesquisa de temas relacionados à hipótese (Identities + Experiences + Nostalgia) em diversas fontes , como livros, revistas, jornais e artigos científicos, nos mostrou que os assuntos em questão são amplamente abordados em diversos nichos. Essa recolha de materiais nos levou a perceber que a Identidade, enquanto tema de pesquisa cultural, é vista como mutável e em constante transformação. Em relação às Experiências, notou-se que a vida urbana trouxe questionamentos e alterações para a forma como elas são vivenciadas – e que questões sensoriais e corporais possuem grande impacto nesse aspecto. A nostalgia, por sua vez, aparece como um mecanismo de resposta às incertezas da modernidade – em que o passado é visto como positivo e a memória funciona como válvula de escape. A Globalização é vista como determinante nesses três aspectos – as identidades passam a ser mais fluidas com a velocidade da transformação, as experiências físicas tornam-se mais valorizadas após o avanço tecnológico e a compressão do espaço leva à nostalgia, que busca raízes nas origens e no passado. Em relação às narrativas, foi possível compreender que elas são uma forma de compreensão da própria vida e de conectar-se aos outros. As transformações em questões formais – passagem do oral para o escrito e, mais recentemente, para o audiovisual – nos levou a entender o cinema como uma fonte expressiva de narrativas para a hipótese, por reforçar a relação com as identidades.

Referências e Fontes:

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AUTIO, M., Collins, R., Wahlen, S., & Anttila, M. 2013. Consuming nostalgia? The appreciation of authenticity in local food production. International Journal of Consumer Studies37(5), 564-568. https://doi.org/10.1111/ijcs.12029

BASSANI, Jaison José; RICHTER, Ana Cristina; FERNANDEZ VAZ, Alexandre. 2013. Corpo, educação, experiência: modernidade e técnica em Walter Benjamin. Educação, vol. 36, núm. 1, enero-abril, 2013, pp. 77-87 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil.

BENJAMIN, Walter. 1936. ‘Der Erzähler’, GS II.2.

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EUROMONITOR, 2020. How to Prepare for the 2020 Consumer. <https://blog.euromonitor.com/how-to-prepare-for-the-2020-consumer/> acesso em: 01 mar 2020.

EUROMONITOR, 2019. Key Takeaways from Cannes Lions Festival 2019 <https://blog.euromonitor.com/key-takeaways-from-cannes-lions-festival-2019/ acesso em: 01 mar 2020.

FRANCISCO. 2020. Querida Amazônia. <http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20200202_querida-amazonia.html> acesso em: 01 de mar de 2020.

HALL, Stuart, 1994. Cultural Identity and Diaspora. In Colonial Discourse and Post Colonial Theory: A Reader, Edited by Williams. P & Chrisman. p. 227-237, London: Harvester Wheatsheaf.

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HOLBROOK, M. B.; SCHINDLER, R. M. 1991. Echoes of the dear departed past: some work in progress on nostalgia. Advances in Consumer Research, v.18, Provo, UT: Association for Consumer Research, p. 330-333.

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TEIXEIRA, Maurozan Soares. 2018. O conceito de experiência em Jonh Dewey: contribuições para uma epistemologia naturalizada.  Revista Fundamentos – Vol. 1, Nº 1.

 

1.2. Liderança pós-moderna, a guerra na era TikTok
(Sandra Borges, 2022)
 

The Revolution Will Not Be Televised, assim cantava Gil Scott-Heron nos anos 70. Mas de lá para cá as revoluções e os conflitos não têm parado de ser “televisionados”, e entram-nos diariamente pela casa e pelos olhos dentro. No entanto, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, assistimos a um novo paradigma de comunicação e de narrativa histórica e social no que respeita a conflitos armados.
Quando o mundo se libertava finalmente de um duro período pandémico e de todas as restrições e traumas a que foi sujeito durante dois longos anos, eis que começa na Europa uma guerra cuja extensão e impacto o continente não esperava voltar a ver. A Europa assistiu a conflitos nas últimas décadas, mas nenhum com a grandeza da invasão da Ucrânia pela Rússia, e nenhum com os efeitos secundários que já se fazem sentir, e os tantos outros que seguramente vão impactar a Europa e o mundo.
Com o fim da Guerra Fria e a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (que mais tarde daria origem à Comunidade Económica Europeia, e depois à União Europeia), e com o fim da União Soviética, a Europa foi embalada por décadas de paz. Na grande maioria do seu território, a Europa habituou-se a ver e a comentar a guerra como um fenómeno distante, de que se falava vagamente nos noticiários. De repente a guerra reapareceu, com um fluxo noticioso e uma velocidade a que nunca se tinha assistido. Este conflito apresenta-nos um novo paradigma de comunicação e de reacção instantânea à guerra. Nunca antes uma situação de luta armada nos foi comunicada em tempo tão real, com mensagens de líderes de ambos os lados da barricada em todas as redes sociais e nos media, em eventos mundanos, com discursos trabalhados e próximos da cultura pop. O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky é já considerado por especialistas como o primeiro líder a utilizar as plataformas digitais a esta escala, com um enorme sucesso. (Tavares, 2022)
Sempre houve guerra de informação, mas nunca aconteceu com este grau de ausência de mediação: de repente temos um canal directo entre os líderes e o resto do mundo.
Algumas questões se levantam a este propósito. Representa isto uma mudança de paradigma na comunicação da guerra? Será esta uma forma de combater as fake news e de envolver todas as gerações na temática da guerra? Uma guerra tão próxima e avassaladora, com um enorme fluxo de pessoas em movimento, pode mudar as narrativas e a identidade da Europa?
Uma questão fulcral na construção de novas narrativas, de novas linguagens e identidades na Europa passará pela forma como serão acolhidos e integrados aqueles que hoje fogem do conflito na Ucrânia. O mundo assistia já a um enorme fluxo migratório, que se tornou mais intenso e mediatizado após a guerra na Síria, quando a União Europeia (UE) teve que receber e lidar com 1 milhão de pessoas desenraizadas, e com tudo o que esse deslocamento implica. Neste momento a Europa e os seus cidadãos encaram este êxodo de forma bem díspar do que acontecia até aqui. Uns meses antes do conflito na Ucrânia refugiados iraquianos e afegãos tentaram entrar na UE através da Polónia e da Lituânia, mas rapidamente foram devolvidos e considerados uma ameaça, e na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia construiu-se um muro que impedia esses refugiados de passar. Em Março deste ano, aquando da invasão da Ucrânia pela Rússia, a UE activou normas de protecção temporária que permitem a entrada ilimitada de refugiados, pedidos automáticos de asilo e direito de acesso a todos os serviços essenciais. (Martín, 2022) A cultura ucraniana é próxima da dos outros europeus, as diferenças religiosas são mínimas, e a empatia humana é maior na semelhança. Mas a Europa poderá assistir a mudanças de paradigma na forma como acolhe e integra refugiados de guerra, e outros, após este conflito.
São muitas os elementos que vão contribuir para novas aproximações à história contemporânea da Europa após a guerra na Ucrânia. Desde alterações aos ritmos e padrões de consumo, aos movimentos migrantes e aos novos paradigmas comunicacionais.
A Ucrânia e a Rússia estão entre os maiores produtores mundiais de cereais – sozinhos produzem cerca de 30 porcento do trigo e da cevada –, a Rússia é o maior produtor de gás natural do mundo, e o segundo maior exportador de petróleo. Como resultado imediato desta guerra o mundo enfrenta um exponencial aumento de preços de todas as mercadorias e um acentuar das dificuldades financeiras já instaladas durante o período pandémico. (UN, 2022)
Há uma mudança cultural e geracional a acontecer nos media. A Primavera Árabe e a guerra na Síria foram um bom exemplo do papel que o Facebook e o Twitter podem ter na organização de protestos, e neste momento é o TikTok que tem tido um papel preponderante no conflito como disseminador de informação. O número de pessoas a que chega um vídeo do TikTok é incomparável àquele a que chega uma notícia no telejornal da noite. Além disso o público a que se destina é outro, um público jovem que talvez não se envolvesse no tema se a informação não lhe chegasse por esta via. O papel desta rede social é de tal forma importante que nos EUA a Casa Branca tem acompanhado de perto a sua ascensão. No início da guerra na Ucrânia o Governo norte americano convidou dezenas de conhecidos produtores de conteúdos do TikTok, que foram informados do posicionamento dos EUA perante a guerra, na esperança de ganhar terreno na construção de informação verídica sobre o conflito. (Tobaccowala, 2022) O status quo e os poderes institucionais já não podem ignorar o efeito do poder das redes e dos criadores de conteúdos digitais.
Ao nível do mundo digital, é também de sublinhar que o Ministério da Transformação Digital ucraniano criou um museu online de tokens, com o objectivo de preservar a cronologia dos principais acontecimentos da guerra, combater a desinformação e reunir apoio financeiro para os esforços de guerra. (Wright, 2022)
Pelo seu lado, a Rússia encerrou todas as manifestações mediáticas não controladas pelo governo existentes no país, no lugar destas restam as narrativas alternativas criadas pelo governo de Putin, que também proibiu a utilização da palavra “guerra”.
Outro efeito da guerra na Ucrânia é o fluxo de pessoas que passou a circular na Europa, entre os que fogem da guerra e os que procuram chegar às fronteiras do país para socorrer os mais fragilizados. Desde 2015 que o fluxo de migrantes fugidos de guerras e de situações económicas muito degradadas aumentou exponencialmente. A União Europeia recebeu nas suas fronteiras cerca de um milhão de pessoas, depois do início do conflito na Ucrânia, e em duas semanas quase 4 milhões de pessoas estavam em fuga. Para além disso o futuro reserva ainda movimentações provocadas pelas alterações climáticas, que terão um grande impacto nas migrações. Espera-se que algumas populações, em particular na África Subsariana, deixem mesmo de ter onde viver. (Matias, 2022) É inevitável que este fluxo de pessoas altere as dinâmicas sociais, culturais e demográficas na Europa.1
Também a nível global observamos já alterações significativas em relação à transição verde que está a ser forçada e apressada pela pandemia e pela guerra. As sanções à Rússia, segundo maior produtor de petróleo do mundo, e o aumento dos preços dos combustíveis, obrigam os governos a pensar no imediato em alternativas que se esperam mais sustentáveis.
O mundo não se tinha ainda restabelecido dos traumas causados pela pandemia de Covid 19, e já a guerra ameaçava aprofundar as preocupações com a saúde mental que se intensificaram nos últimos anos. O isolamento, as desigualdades sublinhadas pela pandemia, o caos provocado pelo teletrabalho, os desastres nos negócios, o desemprego forçado pelas quarentenas, e agora os medos da crise financeira e da guerra nuclear: são várias as preocupações que contribuíram para uma nova realidade no que toca à saúde mental. A APA2 explica que nunca se falou tão abertamente de saúde mental, e nunca antes houve tanta solicitação de psicólogos. A sua presidente reforçou: “A ligação entre a saúde mental e comportamental e o bem-estar físico é fundamental à medida que as pessoas vivem e se desenvolvem durante estes tempos sem precedente”. (Prescott, 2022)

1 À altura de entrega deste relatório, o número de ucranianos deslocados era já de 14 milhões, SIC Notícias, 3 Junho, 2022
2 American Psychological Association

Referências:
Martin, I. (2022). The war in Ukraine: A migration crises like no other. Policy Center for the New South, 11 de Março 2022.
Matia, G.S. (2022). O mundo que se segue. Refugiados: serão uns mais iguais que outros. Podcast Fundação Francisco Manuel dos Santos, 23 de Março de 2022.
Prescott, D.L. (2022). Statement, President APA, Diana L. Prescott, PhD www.apa.org.
Tavares, P. (2022). Volodymyr Zelensky está a vencer a batalha das redes sociais. Euronews, 20 de Março de 2022.
Tobaccowala, R. (2022). New narratives amplify coverage of the Ukraine war. MediaVillage.com, 14 de Março de 2022.
Wright, T. (2022). Ukrain launches NFT museum “to keep memory of war”. Coin Telegraph, 25 de Março de 2022.

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Capítulo 2

2.1. Um Período que Sublinha Desigualdades
(Beatriz Baptista, 2022)

Utilizando as palavras-chave «Identidade + género» no motor de pesquisa Google, foram obtidos 20800000 resultados. Apesar de a maioria tratar-se de site, blogs, ou crónicas que explicam rapidamente e superficialmente do que se trata a identidade de género, foram obtidos também conteúdos noticiosos (que constam na secção dedicada ao clipping). Parecendo tudo muito superficial alteraram-se as palavras-chave no motor de pesquisa Google para «Identidade + género + projetos». Através deste obteve-se acesso a um leque variado de ensaios académicos, sobretudo no contexto brasileiro, sobre o género e sexualidade. Um dos resultados relevantes foi o trabalho de projeto par obtenção do grau de mestre de Hugo Ricardo1, uma vez que sugeriu a possibilidade da pesquisa sobre o género não binário. Adicionalmente, através ainda da pesquisa supracitada, assim como websites de associações e outros organismos colaborativos de Arroios.
A pesquisa através das palavras chave «Identidade + individual» obteve 17200000 resultados, mas poucos podem ser considerados relevantes para a execução deste projeto. Destacam-se apenas conteúdos noticiosos, presentes na secção Clipping deste trabalho, acerca do não binarismo, poligénero e da comunidade LGBTQIA+ portuguesa.

Prosseguiu-se para a pesquisa a partir de «Identidade + individual + coletiva», com 6520000 resultados, dos quais não se retirou nenhum dado. Tentou-se, portanto, «Identidade + individual + coletiva + projetos», apresentando 16700000 resultados de onde se destaca a notícia de 4 de janeiro de 2022, do Gerador2, sobre o projeto Identidade. Um projeto dedicado a jovens, principalmente atores, que queiram embarcar num momento de reflexão, confronto e relacionamento com o eu. Através de uma «verbalização encenada» pretende-se a busca pelos conceitos individuais e coletivos na adolescência.
Por fim, apostou-se nas palavras-chave «Identidade + corpo» no moto de pesquisa Google, do qual se obteve 25900000 resultados, sobretudo livros ou websites com informações psiquiátricas e psicológicas do desenvolvimento do corpo, porém, há a salientar o website New/Now que engloba um vasto panorama de informações acerca de identidades, a realidade, o transhumanismo, etc., a publicação para o qual o motor de busca encaminhou foi Body and Identity: Metamorphosis in the Digital Era3. Por outro lado, tem de se referir ainda o website The Open University, para onde o motor de pesquisa Google direcionou para a segunda parte do programa de um curso online, intitulado The body: a phenomenological psychological perspective4.

Nesta pesquisa, destaca-se também o workshop Body, Identity, Society5, da Gray Box Projects. Este workshop «através de uma abordagem performativa, experimenta[m-se] e compreende[m-se] as construções sociais e culturais de género que moldam as experiências de mulheres e homens na sociedade». Os corpos enquanto entidades socialmente construídas influenciam as identidades individuais de cada um, para além disso, são ainda conjugados a normas e código pré-estabelecidos principalmente no vestuário, sendo exatamente neste ponto que este workshop incide, na tentativa de desafiar as fronteiras do género e quebrar os sistemas de representação incutidos na roupa. A partir da exploração deste mesmo website encontrou-se também um outro workshop considerado relevante, The Queer Show Must Go On, já que na tentativa de se obter mais informação sobre o mesmo alcançou-se a tese de Lisanne Huethorst (2018)6, onde tenta mostrar a luta dos refugiados têm de enfrentar para se estabelecerem nos Países Baixos.

Neste seguimento, optou-se pela pesquisa de palavras-chave como «trans», «queer» e «não binário», de modo a obterem-se mais projetos que estivessem a ser desenvolvidos recentemente. Obteve-se o projeto Transpor, fundado em 2020, e sem fins lucrativos, em parceria com a Transemprego e com a ANTRA, pretende diversificar o mercado de trabalho, viabilizando as oportunidades profissionais do público trans. Juntamente com o projeto Way Out – Aqui estás segur@, criado pela ILGA Protugal, em parceira com a Queer Tropical e com AMPLOSIG, desenvolveram entre julho de 2020 a maio de 2022, um projeto que visava a capacitação de ONG que gerisse questões de migrações e asílio das comunidades LGBTQIA+, para promover a qualidade de vida e integração destas pessoas na sociedade portuguesa. Além disso, obteve-se ainda informação sobre a criação da primeira Barbie trans, inspirada na atriz Laverne Cox e, ainda, a nova série que estreou dia 4 de junho, na Fox Life, em que a personagem principal é uma pessoa não binária.

Para a elaboração deste relatório, foram também tidos em conta dados obtidos em redes sociais, especificamente o Facebook e o Instagram. Através destas ferramentas, foram identificados várias associações, projetos e coletividades ou apenas alguns perfis considerados importantes a nível da identidade do género e do corpo, na medida em que pretendem ajudar as comunidades que sofrem, mas também tentam chamar a atenção para os problemas e dificuldades pelos quais certas minorias passam: Múltiplas Identidades, Projeto Q, Nem que a gaja tussa, Livraria das Insurgentes, Cristal Luz (projeto Ressignificando o Retrato Feminino em Alagoas) e GSB Playing Cards.

O perfil Múltiplas Identidades em parceria com outras páginas e blogs partilha conteúdos digitais sobre a «diversidade e identidades, culturas e dissidências»7. Através de principalmente o humor, uma vez que grande parte do conteúdo partilha é em forma de memes, informa e orienta toda a população que passe por este perfil, desde junho de 2020, quer sobre o vocabulário certo e específico da comunidade LGBTQIA+, quer dos obstáculos que estes enfrentam no dia-a-dia.

Em contrapartida, o Projeto Q é um projeto de impacto social à comunidade LGBTQIA+ do Brasil, fornecendo informação, consultoria e assistência jurídica. A partir de março de 2021, duas advogadas, também elas membros desta comunidade, têm vindo a apoiar a população, focando naqueles com menos posses, de modo a reduzir a vulnerabilidade em que muitos se encontram, para também fortalecer as suas capacidades de exercer os seus deveres enquanto cidadãos e poderem, então, lutar pelos seus direitos, porque «[a]pesar de muitos direitos terem sido conquistados nas últimas décadas, ainda assim, [o Brasil] é permeado por desigualdades[, fazendo com que] nem todos realmente cons[igam] usufruir desses direitos, que ficam apenas dispostos em belos textos inacessíveis»8.

Em janeiro do presente ano, foi exposto ao público o projeto Ressignificando o Retrato Feminino em Alagoas. Com o apoio financeiro do governo de Alagoas, o «projeto reúne sete ensaios fotográficos e sete entrevistas de mulheres transgéneras, que agora se transformam numa compilação de registros memoráveis acerca das realidades que constroem as histórias dessas mulheres»9. Assim sendo, idealizado e dirigido por Cristal Luz, contando com a participação fotográfica de Amanda Bambu, este é um projeto «etnofotográfico» acerca do feminismo nas suas mais variadas expressões, ao materializar a sensibilidade das sete mulheres trans.

1 Trabalho de projeto para famílias de crianças com comportamentos de género não-normati
2 Projeto Identidade, um momento de reflexão perante o individual e o coletivo
3 Body and identity
4 2.2 Body as ‘identity project
5 Body, Identity, Society  GRAY BOX
6 https://edepot.wur.nl/444152

Para melhor compreensão dos assuntos que esta Macrotendência explora pensou-se na possibilidade de procurar bibliografia canónica ou emergente que fosse relevante. Neste sentido, Zygmund Bauman (2000), na sua obra Liquid Modernity, examina uma interpretação da modernidade como algo líquido, isto é, que nos tempos que correm as sociedades existentes são fluidas, móveis e inconstantes, na medida em que estão em constante e instantânea mutação. Identidades Protagonistas é o cúmulo desta realidade. O mundo moderno deixou de ser sólido e com barreiras e estruturas rígidas e bem definidas, atualmente aposta-se na diversidade, na diferença, na quebra dos padrões tradicionais, numa busca pelo que é novo e que se vai atualizando.

Paralelamente, um autor canónico não pode ser deixado de referir sempre que se aborda questões de identidade e raça é Stuart Hall (1992/1994). Stuart Hall influenciou as construções de identidade britânicas na segunda metade do século XX, uma vez que este passou mais de 50 anos a analisar como a mudança social influencia quem somos, a que temos direito e o que a sociedade nos disponibiliza. Uma das principais contribuições do pensador britânico-jamaicano passa pela afirmação da identidade cultural de uma pessoa ser algo fluído, não dependendo apenas das suas origens geográficas, demonstrando as falhas da noção de identidade estática. Envolve-se continuamente o hibridismo e a complexidade da identidade e a sua relação com fenómenos sociopolíticos e socioculturais.

Teresa de Lauretis (1987), é outra autora importante para o tema da identidade e como esta se constrói, uma vez que expôs como o sujeito se constitui sujeito a partir da interação com as realidades materiais económicas e interpessoais. Deste modo, salienta a importância do contexto em que o indivíduo vive para se afirmar enquanto sujeito, contudo, a experiência não é universal, cada indivíduo a perceciona de modo diferente, sendo que cada um experiencia o mundo de sua forma.

Joan Scott (1986) adiciona ainda outros fatores importantes na construção do sujeito: práticas sociais e o modo como se estrutura o pensamento, ou seja, o modo como também as pessoas se vão conhecendo a si próprias e o mundo material que as rodeiam. Ademais, cunhou ainda a expressão «doing gender», que traz já consigo a noção atual de escolha, que cabe unicamente a cada indivíduo de fazer de acordo com aquilo que é o sentimento de si.

Outra questão importante é a Identidade como um projeto em curso, a questão de ser uma produção que nunca está completa, mas sim permanentemente em processo, algo que Judith

 

Butler também investiga (1988/2006). O seu principal contributo foi a identidade como performance, como uma representação, que todos os dias os indivíduos representam de acordo com o lugar em que se encontram. A autora afirma que ninguém nasce homem ou mulher, aprende-se sim a desempenhar esses papéis através do comportamento, tornando o género algo socialmente construído e não algo pré-determinado à nascença; para além disso, ao conectar género com performance, identifica-o como algo totalmente imitativo, em que todos os géneros são uma imitação de um ideal ou de uma normativa, instituída através da repetição de atos estilizados no tempo. Na obra de 2006 aparece ainda a problemática da masculinidade e feminilidade não se limitarem apenas ao sexo normalmente associado, mas que todos têm os dois componentes, sendo precisamente isso que os atrai à outra pessoa.

David Morgan (1993) desafia o ênfase excessivo na incorporação da mulher. Quanto aos corpos masculinos, analisa as formas como estes são geridos de modo a que os homens pareçam ser a incorporação da racionalidade. A sua investigação centrou-se na sociologia familiar, estudos de género e especialmente nos estudos masculinos. Transformou a forma como a família é compreendida e investigada, na medida em que sugeriu que, para compreender o que acontece no seio das famílias, temos de compreender a hierarquia de género. Assim, examinou como os papeis dos homens e das mulheres eram apenas “naturalmente” diferentes, a par do argumento feminista de que a vida familiar se baseava no trabalho doméstico não remunerado das mulheres, o que dava aos homens mais poder dentro e fora da família, e que isto era opressivo para as mulheres.

Por outro lado, não se pode deixar de referir Jack Halberstam (2018), ele próprio pertencente à comunidade LGBTQIA+ expõe a intolerância, o preconceito e a violência que esta comunidade enfrenta, dando o seu próprio testemunho.

«When I was a young . . . person . . . I was constantly taken for a boy, and my parents were frantic to intervene in the relentless gendering of me as male. I was forced to wear my hair long and dress in girlish clothing, and told to sit and stand a certain way.» (Halberstam, 2018: 43)

«In other words, state-sponsored projects, even deeply conservative ones with the explicit intention of converting gender variant people into normal men and women, have unpredictable effects and may well enable the emergence of broad coalitions of “not-normal people.”» (Halberstam, 2018: 45)

 

Posteriormente, esta Macrotendência aborda ainda a questão dos corpos, como o corpo é mensagem, como é afirmação ou negação de algo e como este pode expressar a identidade. Foucault (1995) afirma que a partir dos discursos sociais e culturais também o corpo se transforma em signo, que segundo o respectivo lugar na história se materializa em prescrições de vestuário, ideais de beleza, etc. O corpo como objeto de disciplina na sociedade: disciplina-se o corpo, normalizando-o, como corpo dócil, é dócil o corpo que pode ser submetido, que pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado.

Byung-Chul Han (2013/2015) aborda questões da sociedade exibicionista ou que não se contenta com nada e mantém-se sempre indignada, expressa a constante procura do eu, ou até mesmo a altivez que agora se impõe no eu. É o cúmulo do culto ao eu, é o protagonismo individual acima do coletivo, sendo exatamente esta tensão que a Macrotendência Identidades Protagonistas explora.

Referências:
Bauman, Z. (2000). Liquid Modernity. Malden, MA: Polity Press. Butler, Judith. (1988). «Performative Acts and Gender Constitution: An Essay in Phenomenology and Feminist Theory». In Theatre Journal. Vol. 40. Nª 4. pp. 519-531. EUA: The Johns Hopkins University Press.

Butler, Judith. (2006). Gender Trouble: Feminism and the Subvertion of Identity. London: Routledge.

Foucault, Michel. (1995). Discipline and Punish: The Birth of the Prision. New York: Vintage Books.

Halberstam, Jack. (2018). Trans*: a quick and quirky account of gender variability. Oakland: University of California Press.

Hall, Stuart. (1992). «The Question of Cultm·al Identity». In Hall, S. & Held, D. & McGrew, (eds.), Modernity and Its Futures. p. 273-326. UK: Politic Press; Open University Press.

Hall, Stuart. (1994). «Cultural Identity and Diaspora». In Williams, P. & Chrisman, L.(eds.), Colonial Discourse and Post Colonial Theory: A Reader. p. 227-237. London: Harvester Wheatsheaf.

Han, Byung-Chul. (2015). «The Society Of Exhibition». In The Transparency Society. p. 9-14. California: Stanford University Press.

Han, Byung-Chul. (2016). No Enxame: Reflexões sobre o Digital. (M.S.Pereira, Trad.). Lisboa: Relógio D’Água Editores.

Lauretis, Teresa de. (1987). Technologies of gender: essays on theory, film and fiction. EUA: Indiana University Press.

Morgan, David. (1993). «You Too Can Have A Body Like Mine». In Scott, S. & Morgan, D., Body Matters: Essays on the Sociology on the Body. p. 70-89. London: The Falmer Press.

Scott, Joan. (1986). «Gender: A Useful Category of Historical Analysis». In The American Historical Review. Vol. 91. Nº. 5. pp. 1053-1075. Oxford: Oxford University Press.

 

2.2. Um ensaio e reflexão sobre movimentos nas identidades
(Karina de Castro, 2022)

Uma das impressões formadas por esse levantamento diz respeito a “construção que surge de dentro de cada um para fora e para o visível”. As identidades, historicamente suprimidas, que se revelaram com força nas últimas décadas, tomando não apenas o âmago dos indivíduos, como também os seus corpos, marcando-os com diversas formas de autoexpressão, estão a transbordar para fora de si mesmos e dominar os espaços ao redor.
O que mais me chamou a atenção em toda a pesquisa foi o empuxo das categorias identitárias estabelecidas para se moverem do lugar o qual ficaram circunscritas, a partir das suas lutas por reconhecimento, para um novo lugar em que as suas dores não sejam mais o que as definem. Esse deslocamento do lugar de dor para um lugar de alegria, do lugar de superação para o lugar de sucesso, é percebido em diversas expressões culturais, desde as artes ao consumo.
Interessante perceber outra vertente de deslocamento, o da inspiração. Se antes as artes plásticas, as teorias sociais e a música de países periféricos buscavam inspiração e parcerias norte-americanas e europeias para o desenvolvimento de suas expressões, cada vez mais, com fundamento na importância de dar protagonismo às próprias identidades, num contexto pós-colonialista, essa inspiração têm sido buscada nas próprias origens ou em culturas vizinhas, gerando novas imagens, sons e discursos, por vezes, singulares.
Um exemplo é o documentário Amarelo, da Netflix, lançado em 2020, que apresenta o processo de criação e o resultado de um álbum musical forjado na fusão das culturas que compõem a identidade do artista e que mostra também o deslocamento de uma vida de dor para um amor pela vida.
Por fim, observo que esses deslocamentos compõem uma busca pelo que vou chamar de pertencimento natural. A intensificação das lutas identitárias nas últimas décadas, não que tenha chegado ao final do seu ciclo, mas vem tentando se assentar. O que não quer dizer amenizar a luta, mas começar a desfrutar dos espaços, mesmo que ainda restritos, já conquistados. Entre esses espaços está o de ter uma vida comum, de simplesmente ser sem precisar se explicar ou estressar aqueles traços que o identificam como parte de um grupo estereotipado na dor ou no exótico.
As religiões de matriz africana, por exemplo, historicamente vistas com preconceito ou com viés alegórico, têm saído dos espaços reservados à prática religiosa em si para os espaços do quotidiano. Desde a normalização da vestimenta branca às sextas-feiras (manifestação do Candomblé) em espaços de trabalho até o uso de seus códigos na decoração do lar, buscam afirmar sua legitimidade como parte da identidade de seus praticantes, assim como o fazem os praticantes das religiões cristãs.

 

2.3. Um Período que Sublinha Desigualdades
(Julia Rocha, Ni Min, 2021)

Vivemos em tempos modernos onde o crescente desenvolvimento da ciência e da tecnologia, de forma um tanto quanto acelerada, tem alterado não só a ideia que temos do tempo, que adquire um ritmo mais apressado, mas também a nossa forma de ver os outros e a nós mesmos. As incertezas sobre quem somos, onde pertencemos, além dos nossos papéis dentro da sociedade, começam a emergir aos poucos, afetando as nossas relações interpessoais, assim como a nossa visão sobre diversos aspectos da realidade humana.

Com esse contexto em vista, Bauman (2000, pp. 2-7) propôs uma visão da modernidade enquanto “líquida”, o que significa dizer que cada vez mais vivemos em uma sociedade fluida, leve, móvel, inconstante e que se transforma mais facilmente e rapidamente ao longo do tempo. A flexibilidade do mundo moderno tem “derretido”, dessa forma, a solidez das estruturas e instituições sociais, trazendo, como uma de suas principais consequências, uma diversidade de padrões e configurações não “auto-evidentes” que divergem do tradicionalmente estabelecido, muitas vezes chocando-se entre si.

De acordo com Hall (1992/2006, pp. 12-13), a identidade do indivíduo “pós-moderno”, que antes era considerada fixa, estável e permanente, também está se fragmentando em várias outras identidades, devido às mudanças estruturais e institucionais na sociedade. Isto trouxe uma “mobilidade” para o conceito de “identidade”, que agora é formada e transformada continuamente, de acordo com o sistema cultural ao seu entorno.

Além disso, Hall (1992/2006, p. 13) também afirma que “à medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis”, o que significaria dizer que, ao longo da vida, conforme temos contato com diferentes grupos e ambientes sociais, vamos encontrando novas possibilidades, às vezes até contraditórias, de definir a nossa própria identidade.

Dessa forma, segundo Silva & Silva (2019, p. 456), a nossa identidade é formada por diferentes traços ou elementos que se relacionam com questões de gênero, etnia, classe social, nacionalidade, sexo, entre outros, que refletem diretamente a vida moderna, multifacetada e “líquida” descrita por Bauman. Seguindo essa linha de raciocínio, a nossa pesquisa procurou entender melhor as principais temáticas que envolvem a pluralidade das identidades nos dias de hoje, focando-se em termos relacionados à discriminação racial e étnica, diversidade e igualdade de gêneros, pluralidade familiar, entre outros.

Considerando as questões relacionadas com o racismo e diferenças étnico-raciais, um ponto que chamou atenção no último ano foi o agravamento da desigualdade e discriminação racial. Segundo a United Nations Human Rights (2021), a pandemia teve um impacto maior sobre grupos mais vulneráveis e desfavorecidos na sociedade, como é o caso das minorias étnicas, religiosas e raciais. Devido a desigualdades estruturais, essas minorias não só vivem em lugares menos privilegiados e mais populosos, onde o risco de contágio é maior, como também enfrentam maiores dificuldades de acesso ao diagnóstico e tratamento do Covid-19. Além disso, ao longo do último ano, as minorias sofreram fortemente com ataques físicos, discurso de ódio e teorias da conspiração, por serem consideradas as principais culpadas de propagar o vírus.

Dentro desse cenário desigual e caótico da pandemia, casos de assassinatos cruéis a afro-descendentes, como o do americano George Floyd (Nakhaie & Nakhaie, 2020) e o do brasileiro João Alberto Silveira Freitas (Jornal Nacional, 2020), ambos mortos por policiais brancos em seus países de origem, assim como as notícias dos constantes ataques físicos e verbais a pessoas de origem asiática, principalmente a chineses (Human Rights Watch, 2020), contribuíram muito para o crescimento exponencial de movimentos anti-racistas como o #BlackLivesMatter e o #StopAsianHate. Os dois movimentos promoveram uma enorme quantidade de protestos contra a discriminação racial em diversos países do mundo, chegando até mesmo, segundo Song & O’Donnell (2021), a unir as duas minorias em prol da luta contra os crimes causados por “ódio”.

Já considerando a temática de gêneros, observou-se durante a pandemia um aumento das taxas de desemprego e, principalmente, da disparidade entre homens e mulheres empregados. Segundo o World Economic Forum (2021, p. 6), aparentemente cerca de 5% de todas as mulheres empregadas anteriormente perderam os seus empregos, em comparação com 3,9% dos homens empregados. Uma das possíveis causas para essa diferença nas taxas de desemprego entre os gêneros masculino e feminino é o fato da mulher ainda desenvolver um papel muito mais participativo que o homem no cuidado e criação dos filhos, o que pode ter levado a um menor desempenho no trabalho durante o período de quarentena causado pela pandemia, tendo em vista que com as escolas encerradas e os filhos constantemente em casa, as mulheres tiveram maior dificuldade em equilibrar os papéis de “mãe” e “profissional”.

Além disso, ainda segundo o World Economic Forum (2021, p. 6), a pandemia trouxe um grande declínio na busca por profissionais mulheres para papéis de liderança, causando um regresso de 1 a 2 anos na luta pela igualdade de gêneros em diversos setores do mercado. Sendo assim, esse cenário trará efeitos drásticos nas oportunidades de crescimento profissional das mulheres, que sofrerão com as perspectivas inferiores de realocação no mercado de trabalho e uma consequente queda no valor de seus rendimentos anuais.

Outro ponto que comprova o impacto do Covid-19 sobre a luta por igualdade de gêneros, além da redução de outras desigualdades sociais, é a declaração (ONU News, 2020) do secretário geral da ONU, António Guterres de que a pandemia pode “atrasar em décadas” o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Segundo a Direção-Geral da Educação (n.d.), a agenda, criada em 2015 pela ONU, tinha estabelecido 17 objetivos para orientar as lideranças globais à favor, principalmente, da luta pela prosperidade e o bem-estar humano, tendo como um dos focos (Nações Unidas, n.d.) a promoção da inclusão sociopolítica e econômica de todas as pessoas, independente de gênero, origem, etnia, religião, classe social, entre outros, até 2030.

Apesar do efeito da pandemia no aumento da desigualdade e discriminação de minorias em geral, as classificações de gênero e sexualidade tem sido uma temática muito discutida nos media e nas redes sociais. Segundo Kim (2020), em nossa sociedade, nós fomos condicionados a ver como sendo “natural” ou “normal” em outros humanos os gêneros “masculino” e “feminino”, além da heterossexualidade, sem nos questionar se poderiam existir outras possibilidades na forma de expressarmos o nosso gênero e  sexualidade. Desse pensamento, nasceu a Teoria Queer, que subverte as instituições tradicionais da sociedade, baseadas no modelo heteronormativo da sexualidade humana, e reconhece a pluralidade das identidades de gênero e orientações sexuais. De acordo com a American Psychological Association (2015, pp. 20-22), “identidade de gênero” e “orientação sexual” são conceitos muito diferentes e, por isso, não devem ser confundidos. A “identidade de gênero” de uma pessoa diz respeito à sua autopercepção de gênero, independentemente do sexo biológico com o qual ela nasceu, tendo em vista que alguém que nasceu com a anatomia masculina, por exemplo, pode não se identificar com o gênero masculino, mas sim com o gênero feminino ou com outros gêneros alternativos. Já a “orientação sexual” diz respeito à forma como uma pessoa se atrai sexualmente e emocionalmente por outra, além do comportamento que pode resultar dessa atração.

Dessa forma, segundo Pimenta (2020), as identidades de gênero mais comuns são: cisgênero (quando a pessoa se identifica com o seu sexo biológico), transgênero (quando não se identifica com o seu sexo biológico, muitas vezes se identificando com o sexo biológico oposto), não-binário (quando não se identifica completamente com o sexo feminino nem o masculino, podendo também se identificar um pouco com os dois), agênero (quando não se identifica com nenhum gênero existente). Já as orientações sexuais mais comuns são: heterossexualidade (atração por pessoas do sexo oposto), homossexualidade (atração por pessoas do mesmo sexo), bissexualidade (atração por ambos os sexos), panssexualidade (atração por pessoas, independente do sexo e gênero) e assexualidade (não sente atração por ninguém).

Em 2016, a Comissão de Direitos Humanos de Nova York (Ring, 2016) decidiu oficializar a diversidade das identidades de gênero, reconhecendo e liberando o uso de 31 tipos diferentes de gênero. Eles também deixaram claro que todas as identidades listadas estão protegidas pela lei de anti-discriminação e que qualquer tipo de desrespeito por parte de empresas à identificação de gênero ou à forma de tratamento preferencial de alguém é crime, passivo de multa de até 250 mil dólares. Em 2019, segundo Keneally, Nova York também aprovou uma lei que permite a alteração do gênero na certidão de nascimento a todos os cidadãos nascidos na cidade, sem a necessidade de apresentar uma avaliação médica. Dessa forma, qualquer cidadão, desde que seja maior de idade ou tenha autorização dos pais, pode alterar seu gênero para feminino, masculino ou X, uma opção neutra para pessoas não-binárias ou que se identifiquem com outros gêneros.

Já em relação às orientações sexuais, de acordo com Brabaw (2019), existem atualmente mais de 20 termos para expressarmos preferências sexuais. Além dos conhecidos “heterossexual”, “homossexual”, “bissexual”, “gay” e “lésbica”, termos como “androssexualidade” (atração pela “masculinidade”), “ginessexualidade” (atração pela “feminilidade”), “demisexualidade” (sente atração somente depois de estabelecer conexão emocional ou romântica com o parceiro), “queer” (sente atração pelo sexo oposto ou por ambos os sexos, mas acredita que os termos “gay”, “lésbica” ou “bissexual” são limitantes demais para descrever a sua sexualidade), entre outros. Apesar de haver uma grande diversidade de nomenclaturas sendo utilizadas tanto para identificar gênero quanto para descrever tipos de sexualidade, é importante frisar que, segundo a nossa pesquisa, ainda não existe um consenso sobre a definição de todos os termos, assim como não existe uma quantidade certa de gêneros ou orientações sexuais.

Outro fator identitário que tem sofrido atualizações ao longo dos últimos tempos é a “família”. O termo, que é tradicionalmente associado à ideia de “pai, mãe e filhos”, tem ganhado novas conotações, tendo sido até mesmo redefinido no dicionário. Prova disso é que, segundo o jornal Extra (2016), o Dicionário Houaiss lançou uma campanha publicitária em que pedia ao público brasileiro para enviar as suas próprias definições de “família” com o objetivo de tornar a definição oficial da palavra mais próxima de como é usada na prática nos dias de hoje. Depois de ouvir sugestões de mais de 3 mil pessoas, o Dicionário optou por atualizar a descrição do verbete “família” para “Núcleo social de pessoas unidas por laços afetivos, que geralmente compartilham o mesmo espaço e mantém entre si uma relação solidária”, um conceito muito mais “inclusivo, contemporâneo e sem preconceitos”.

Segundo Castanho (2018), a família é uma instituição que tem se tornado cada vez mais plural, podendo ser constituída de várias formas diferentes. Além do formato tradicional, composto por pais heterossexuais e filhos, outros formatos já são comuns, como é o caso da família monoparental (composta por um pai ou mãe solteiros), família reconstituída (pais e mães solteiros que se casam e formam nova família com filhos de parceiros anteriores), família homoafetiva (casais homossexuais ou LGBTQ+, podendo ter ou não filhos), famílias poliamorosas (união formada por múltiplos parceiros sexuais, com ou sem filhos), entre outros. No entanto, apesar da resistência de algumas pessoas em reformularem o conceito de “família” e aceitarem os novos formatos, acredita-se que muitos novos arranjos ainda irão surgir para se adaptar às possíveis mudanças de mentalidade na sociedade nos próximos anos.

Referências e Fontes:

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2.4. Identidades para além dos Códigos.
(Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos, 2020)

Durante esta fase da pesquisa, foi possível perceber que o que permeia como cerne da hipótese é a questão das identidades e suas diferentes e novas formas de expressão. Além disso, a busca por igualdade de uma forma ampla, em seus diferentes campos, seja de gênero, racial ou de qualquer outro grupo que de alguma forma esteja à margem da sociedade também é um componente forte.

Considerando as questões identitárias, buscamos definições de identidades e de gênero em órgãos como a OMS (Organização Mundial da Saúde) e  APA (American Psychological Association) no qual nos deparamos com termos como gender norms, gender parity e gender dynamics; que mostraram-se ser termos presentes em alguns artigos do Fórum Econômico Mundial (FEM); relatórios de diversidade da Apple, Facebook e Google. A grande maioria dos artigos e textos dessa temática apresentam como conteúdo discussões relacionadas à igualdade de gênero no mercado de trabalho, representatividade e dinâmicas de gêneros. O aspecto que mais chama a atenção nos relatórios de diversidade analisados vem da Google, que no último ano levantou o primeiro senso de identificação não binária. Dos 39% dos funcionários que quiseram ser identificados 1% se auto identificam não binários e 8,5% LGBQ+ e/ou Trans (Parker, 2019). Sobre ações de inclusão sobre a temática seguem: LGBTQ+ frameworks; social discrimination and LGBTQ+; National legislation and LGBTQ+ rights; LGBTQ+ workplace inclusion;  mental health and LGBTQ+ inclusion; economic impact of LGBTQ+ exclusion (FEM, 2020).

Em outras fontes como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (SDG – Sustainable Development Goals) das Nações Unidas, Fórum Econômico Mundial, mais uma vez, Forbes e McKinsey & Co, encontramos questões em torno da igualdade de gênero; discriminação; características comportamentais e discriminação zero; identidade e identidade digital.

O Fórum Econômico Mundial (2020) apresenta em seu relatório Gender Gap uma imagem mista, dizendo que no geral (e considerando o benchmark de 153 países listados), a busca pela paridade de gênero melhorou, diminuindo menos de um século e registrando uma melhoria se comparada com índices de 2018. Uma maior representação política para as mulheres contribuiu para esse resultado, mesmo sendo a dimensão de pior desempenho. No outro extremo da escala, prevê-se levar apenas doze anos para atingir a paridade de gênero na educação. O relatório ainda aponta três razões principais para disparidade de gênero: as mulheres terem maior representação nas funções que estão sendo automatizadas; não haver mulheres suficientes ingressando em profissões que envolvam o uso de tecnologia, e as mulheres enfrentam o eterno problema de baixa assistência e acesso a capital. Os pontos principais observados em relação à igualdade de gênero são: gender norms and roles; balance of care and careers; the case of gender parity; gender dynamics and future jobs; inclusive work practices; education gender gaps. (FEM, 2020).

Uma das vertentes das novas expressões identitárias que já não cabem nos códigos hoje existentes, é o uso de tecnologias para o aprimoramento do corpo humano, que pode se manifestar de diferentes formas: enhanced longevity; humanness and autonomy; equity and social justice; enhanced genes, bodies and minds; como mostra o Fórum Econômico Mundial (2020).
Um dos movimentos que mais abrange estas práticas é o transhumanismo, termo que começou a ganhar notoriedade em 1990, após sua criação formal por Max More, CEO da empresa Alcor Life Extesion, que o define como uma crença otimista no aprimoramento da condição humana através da tecnologia em todas as suas formas (Trippet, 2018). Atualmente há diversos especialistas sobre o assunto como Hans Moravec, Raymond Kurzeil, Andy Schwartz e até mesmo o historiador Yuval Noah Harari, que em seu recente livro, Homo Deus, sugere que nossa habilidade para nos aprimorar através de tecnologias e bioengenharia já iniciou uma nova era na história humana (Knight, 2019).

O implante de microchips já é uma realidade. Na Suécia, em 2018 mais de 3 mil pessoas já possuíam implantes com a tecnologia RFID (Stephen, 2018), os possibilitando realizar simples ações como abrir uma porta, bloqueio do metrô ou fazer algum tipo de pagamento. São diversas as empresas que se especializaram neste tipo de cirurgia, como a Cyborg Foundation, que possui o programa chamado Transpecies Society, uma comunidade para pessoas que se identificam como não humanos (SVD), ou a Jenova Rain que realiza biohacking upgrades, usando tecnologia para permitir que o corpo humano realize novas ações (Nye, 2018). O fundador da Tesla e SpaceX, Elon Musk, também anunciou sua nova empresa Neuralink, que tem como objetivo conectar a mente humana a uma nuvem de computadores, criando micro chips que serão implantados ao cérebro (Singularity University, p.15).

Grupo que também compartilha da mesma filosofia, os Biohackers são biólogos amadores que realizam experimentos em biomedicina, porém fora de instituições tradicionais, trazendo melhoramentos através da utilização de implantes ou até mesmo medicamentos ou suplementos que de alguma forma os aprimore (Nye, 2018).  São diversos os exemplos de pessoas adeptas a esta prática, como o profissional de software Tim Cannon, o artista Moom Ribas que possui um sensor sísmico implantado que o permite sentir vibrações de terremotos ou Neil Harbisson que impossibilitado de enxergar cores, tem em seu crânio um dispositivo que o possibilita sentir as cores através de vibrações (Klaiman, 2019).

Ainda neste sentido, o desenvolvimento de novas tecnologias genéticas como o CRISPR, que é capaz de editar genes  com custo muito mais baixo que antigas tecnologias, possibilitando o combate de doenças e também alterando características de um bebê antes mesmo de seu nascimento (Page, 2019) , parece serem promissoras nesta evolução do ser humano.

Podemos observar também que o tribalismo pós-moderno é a tensão fundadora que caracteriza a socialidade contemporânea, uma espécie de “nebulosa” de pequenas entidades locais ou microgrupos. É a reunião em grupos de afinidade dialogando com diferentes etnias, gêneros e as mais variadas condutas e estilos de vida (Souza, 2016). Com a reduzida ou inexistente representatividade de minorias que ainda permanece, vem também a falta de visibilidade das necessidade e direitos destes grupos que têm por vezes estereótipos discriminatórios ratificados pela mídia, como por exemplo o que acontece com os negros, normalmente aparecendo como trabalhadores braçais, atletas ou mulatas sensualizadas. Segundo estudo, realizado pela agência Heads, em parceria com a ONU Mulheres, mulheres negras aparecem como protagonistas em apenas 7,4% dos comerciais de televisão no Brasil (Estarque, 2019).

Outra questão é relativa ao universo infantil. As crianças não se sentem representadas nos brinquedos com que brincam, especificamente, as negras. Existe uma escassez de bonecas da sua etnia. Essa carência é prejudicial, uma vez que a dimensão formativa da brincadeira lida com aspectos da realidade social em que a criança está inserida (Moreira, 2018).

Ainda foi possível constatar um desencanto com a política, grande desconfiança acerca de boas ações praticadas por empresas e sobre a transparência dos sites no tratamento dos dados pessoais. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália, França e Reino Unido pela IPSOS Mori a pedido da Internet Society and Consumers International mostra que 65% dos consumidores se preocupam com a forma como aparelhos conectados coletam dados. Mais da metade (55%) não confia em seus aparelhos conectados quando o assunto é privacidade (Santillana, 2019).

A pesquisa de 2017 realizada por Edelman Trust Barometer em 28  países constatou que a população em geral não confia nestas quatro instituições, sendo que a média de confiança nestas instituições combinadas está abaixo de 50% (Harrington, 2017).

Por fim, através da análise de conteúdo da desk research, advinda dos temas relacionados às palavras da hipótese: aceitação; polarização; crise; autenticidade; e no-gender; seguimos com as palavras-chave:identidade; diversidade; igualdade; discriminação; representatividade; política; tribalismo; autoridades; intolerância; população; desconfiança; humano; transhumanismo; tecnologia; robô, cyborg; corpo; CRISPR; futuro.  Essas palavras-chave, ou tags, servirão como direcionadoras de pesquisa de sinais e padrões cool. As palavras são consideradas importantes neste trabalho dada a abrangência da hipótese em estudo.

Referências e Fontes:

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Capítulo 3

3.1. A adaptação ao “figital”
(Lucas Silva, 2022)

A pesquisa procura encontrar sustentação na relevância da macrotendência Ligações Ergonómicas, teve como ponto de partida informações registradas no Relatório de Tendências Socioculturais do ano de 2021 do Laboratório de Gestão e Tendências da Cultura, da Universidade de Lisboa. Além dessas informações, buscando a complementação e evolução, ela foi desenvolvida através das palavras-chave da narrativa, fontes jornalísticas e demais canais de inovação digital e tecnológica. Na sequência estão registradas principais percepções e insights a partir dos dados que foram colhidos, de forma a aprofundar conhecimentos acerca dos estudos de tendências, sobretudo na macro aqui analisada. Acerca desta metodologia, Dragt (2017, p.54) ao dividir o processo de pesquisar tendências em scan, analyse, apply define-a dentro da primeira etapa: “The scanning process is not done at random. Trend researchers scan the environment using various sources which can mainly be divided into two categories: Field research sources, Desk research sources.” A intenção é apontar caminhos que falam mais alto, seus principais rumos através de exemplos práticos, e por quais deve-se olhar com maior atenção dentro dessa narrativa do presente ano em diante. Sobre percepções das tendências em um âmbito geral e como é possível identificá-las, Vejlgaard (2008, p.27) afirma: “Many people believe that trends are mysterious or inexplicable phenomena that nobody really understands. But actually trends are more predictable than most people think. Their predictability arises from the fact that they are sociological processes that involve human beings, and human behavior in the aggregate can—sometimes—be quite predictable”.
A influência da tecnologia e das realidades digitais no quotidiano das pessoas encontram cada vez maiores sustentações em pesquisa. O número de usuários conectados na internet chega a 4.66 bilhões, ou seja, mais da metade da população mundial, enquanto o número de horas gastas online chega a 12.5 trilhões e mídias sociais apresentam novos recordes de uso, segundo o Relatório de Visão Geral Global Digital 2022, publicado em parceria por We Are Social e Hootsuite. Em relação aos números de acesso à internet em Portugal, no website Por Data é apresentada a informação de que no ano de 2020 eram aproximadamente 3.8 milhões de pessoas, enquanto em países da União Europeia há a informação de números de usuários conectados a cada mil habitantes, tendo França, Dinamarca e Alemanha nas primeiras posições. Em relação ao número de empresas em Portugal com acesso à internet, é de 88.2% em 2021. Portanto, empresas acompanham esse processo e suas adaptações ao digital são inevitáveis, como aponta o estudo noticiado pela Forbes que nos últimos dois anos houve crescimento de 36% na transformação digital das empresas.
Fatos que comprovam não haver mais separação das realidades digitais e tecnologias com vida e trabalho das pessoas. Sem as fronteiras que poderiam existir entre o físico e o digital, vivemos em um mundo “figital”, que une questões físicas, digitais e sociais. Em artigo publicado online (ver referências), Sílvio Meira traz interessante definição com analogia ao comércio, empresas e consumidores: “O virtual também é real e, na realidade, o espaço competitivo para todos os mercados, que foi se redesenhando com o tempo, tem 3 dimensões. A que poderíamos chamar de clássica, a dimensão física é onde estão as lojas da década de 1950, antes da chegada dos primeiros computadores e equipamentos eletrônicos de processamento de informação. Lá, tudo era físico. A dimensão digital começa a aparecer na década de 1970 com os computadores, na de 1980 com os celulares e os CDs… e começa a se tornar ubíqua dos anos 2000 em diante. A dimensão social aparece na década de 1990 com a internet comercial e se torna universal depois da década de 2000, de um lado habilitada por nuvens computacionais e de outro empoderando pessoas com smartphones [e conectividade quase universal e pacotes de dados de preços razoáveis].”
Com as novas práticas pós pandemia, cada vez mais é necessário que marcas e empresas adaptem seus modelos ao mundo “figital”, com comportamentos de compra online e novos hábitos de consumidores, que passaram a realizar muito mais transações digitais. Além disso, é preciso considerar como o maior número de pessoas conectadas, com hábitos digitais, geram dados e acabam expondo os seus dados pessoais na rede. Para lidar com a quantidade imensa de dados dos consumidores, leis de proteção de dados estão em voga, o que abrange o metaverso, em constante expansão, com a notícia de possível receita a alcançar 13 trilhões de dólares, segundo o portal infomoney. Na cidade de Lisboa, o interesse pelo metaverso, após sofrer uma leve queda, volta a estar em alta conforme informação levantada no Google Trends. Ao mesmo tempo, o metaverso já apresenta notícias ruins, como vazamento de dados de usuários que geraram problemas. Não só vazamento de dados, já há notícias de crimes sexuais cometidos dentro da plataforma digital, como  aponta a notícia publicada no portal Business Insider. Dentro dos mecanismos legislativos, há inclusive um dia oficial da proteção de dados, em 28 de janeiro, como informa o portal CNPD (Comissão Nacional de Proteção de Dados). No entanto, o interesse pelo assunto nas pesquisas de Lisboa apresenta inconstante variação nos últimos 12 meses, segundo o Google Trends.
Realidades ergonómicas abrangem não só questões puramente digitais, como conforto e bem-estar das pessoas dentro de suas casas. O aumento na busca por tecnologias que tornem as casas inteligentes apresenta um expressivo crescimento, segundo informação do website português dinheiro vivo: “Depois de 801,5 milhões de aparelhos “smart home” vendidos em 2020, o que representa um aumento de 4,5% face ao ano anterior, a IDC prevê que o mercado vai crescer a dois dígitos até 2025, atingindo os 1,4 mil milhões de dispositivos”. Também sobre essa temática, Forbes preparou uma matéria com dez tecnologias para deixar as casas inteligentes, que envolvem desde detectores de fumaça, controladores de temperatura por voz, a aparelhos que se ocupam da faxina. Portanto, a internet das coisas estará a cada ano que passa mais presente na vida das pessoas e nos ambientes em que convivem. Inclusive para fora do planeta, em 2022 a Amazon anunciou o primeiro lançamento da Alexa em uma missão não tripulada da Nasa ao espaço (ver referências), visando a evolução da tecnologia em missões futuras e a comunicação com astronautas.
A pesquisa encontrou também como aplicativos tecnológicos diferenciam as maneiras das pessoas relacionarem-se consigo, com sua sexualidade e com os demais, como exemplo nos de relacionamento. Possibilitam novas formas de exposição para outros através de canais digitais para venda exclusiva de conteúdos, como o onlyfans, além dos de reunião para trabalhos, estudos, aulas, palestras e treinamentos, como Zoom, Microsoft Teams e Google Meet, por exemplo. Subvertem questões da vida quotidiana, agregam facilidades de acesso e contato com o mundo e, sobretudo em um cenário pós pandemia, já não há como imaginar a vida com a ausência dessas funcionalidades. Sem dúvida, é uma macrotendência muito relacionada ao imediatismo, mentalidade individualizada e amor líquido.
E a individualidade mencionada, com a abundância de opções digitais, acaba por alterar também a relação de consumidores com as empresas, como sublinha o Edelman Brand Trust Report (ver referências) em que “41% das pessoas acreditam que as marcas tem ideias melhores que os governos para solucionar problemas, 49% acreditam que as marcas podem fazer mais e 48% acreditam ser mais fácil de pedir que as marcas enderecem problemas sociais.” Portanto, empresas passam a ocupar um papel de maior significado que os governos, e propósitos de vida dos consumidores são projetados nas marcas que consomem. Empresas, através de seus produtos, serviços, e campanhas de marketing, precisam estar conectadas a esses processos, como a própria ONU divulgou seus 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ver imagem 2.5), não há mais como separar o propósito das pessoas e seus ideais de vida, daquilo que as empresas entregam.
Por fim, a pesquisa encontrou, publicado pela Mckinsey (ver referências) um relatório com as tendências digitais para ficar de olho em 2022, considerando, portanto, rumos tecnológicos e de inovações pós pandemia, e evidenciando o crescimento de artefatos como Inteligência Artificial, NFTs, ambientes de trabalho e privacidade. As tendências que o relatório aponta são: “1. Redes Sociais: mais privacidade, qualidade e ajustes de algoritmo. 2. Entrada do Metaverso: da web 2D para 3D. 3. Aceleração do crescimento da Criptografia e do NFT. 4. Crescimento da IA em serviços de alimentação e RH. 5. Maior conectividade = Maior transformação digital. 6. Novo ambiente de trabalho, novas habilidades.”
A metodologia de pesquisa possibilitou aprofundar conhecimentos e entender de uma maneira ampla artefatos, práticas e realidades que a macrotendência abrange. Como resposta à intenção inicial de pesquisa, o possível caminho a se ter em vista dentro da narrativa é o de realidades digitais em convergência com inovações tecnológicas, visando facilitar, otimizar e dar maior qualidade à vida das pessoas através de produtos, serviços e iniciativas. Conforme esclareceu a pesquisa, não há mais limite entre o físico e o digital, e marcas, empresas e consumidores acompanham essa mentalidade.

Referências e Fontes:
Relatório De Visão Geral Global Digital 2022 – Consultado em 23 maio 2022. https://wearesocial.com/uk/blog/2022/01/digital-2022-another-year-of-bumper-growth- 2/
Número de dados gerados a cada minuto 2021 – Consultado em 23 maio 2022. https://www.socialmediatoday.com/news/what-happens-on-the-internet-every-minute- 2021-version-infographic/607586/
Número de pessoas com acesso à internet em Portugal – Consultado em 19 junho 2022. https://www.pordata.pt/Portugal/Assinantes+do+acesso+%c3%a0+Internet-2093 Número de pessoas com acesso à internet a cada mil habitantes, por país da União Europeia – Consultado em 19 junho 2022.
https://www.pordata.pt/Europa/Assinaturas+do+acesso+%c3%a0+Internet+por+mil+ha bitantes-1714
Número de Empresas em Portugal com acesso à internet. Consultado em 19 junho 2022. https://www.pordata.pt/Portugal/Empresas+com+liga%c3%a7%c3%a3o+%c3%a0+Inte rnet+em+percentagem+do+total+de+empresas+por+escal%c3%a3o+de+pessoal+ao+se rvi%c3%a7o-1144
Crescimentos digitais das empresas – Consultado em 20 junho 2022. https://www.forbespt.com/empresas-crescem-36-na-transformacao-digital/ Mundo “Figital”, artigo de Sílvio Meira – Consultado em 20 junho 2022. https://silvio.meira.com/silvio/nem-real-nem-virtual-o-mundo-e-figital/ Economia do metaverso – Consultado em 7 junho 2022.
https://www.infomoney.com.br/mercados/economia-do-metaverso-pode-chegar-a-us- 13-trilhoes-diz- citi/?utm_source=thenewscc&utm_medium=email&utm_campaign=referral Vazamento de dados no metaverso – Consultado em 23 maio 2022. https://www.tecmundo.com.br/redes-sociais/231833-meta-criticada-deixar-lado- privacidade-metaverso.htm
Crimes cometidos dentro do metaverso – Consultado em 19 junho 2022. https://www.businessinsider.com/researcher-claims-her-avatar-was-raped-on-metas- metaverse-platform-2022-5
Comissão Nacional de Proteção de Dados – Consultado em 20 junho 2022. https://www.cnpd.pt/comunicacao-publica/noticias/dia-da-protecao-de-dados-2022/ Casas inteligentes – Consultado em 19 junho 2022. https://www.dinheirovivo.pt/empresas/tecnologia/casa-inteligente-mercado-cresce-a- dois-digitos-com-maior-procura-por-automacao-13510935.html
10 tecnologias para deixar a sua casa mais inteligente – Consultado em 19 junho 2022. https://forbes.com.br/forbes-tech/2021/08/smart-home-10-tecnologias-essenciais-para- deixar-a-sua-casa-mais-inteligente/#foto6
Missão Alexa no Espaço – Consultado em 23 maio 2022. https://forbes.com.br/forbes- tech/2022/01/o-que-a-alexa-da-amazon-fara-em-uma-missao-da- nasa/?utm_campaign=later-linkinbio-forbesbr&utm_content=later- 23711033&utm_medium=social&utm_source=linkin.bio
Relatório Mckinsey Tendências Digitais – Consultado em 25 maio 2022. https://www.mckinsey.com/featured-insights/leadership/the-next-normal-arrives-trends- that-will-define-2021-and-beyond

 

3.2. Acessos Digitais
(Tiago Ferreira, 2022)

No âmbito da Macrotêndencia de Ligações Ergonómicas, foi objeto de pesquisa diferentes fontes e bibliografias que permitissem a compreensão deste tema, bem como a sua aceitação no meio social e os seus objetivos. Para isso, foram utilizados diversos sites e artigos que retratassem esta temática.
Importa referir que esta macrotendência tem como uma das suas bases uma ligação de Internet, e, para tal, foi pesquisada a proporção da população portuguesa com acesso à internet, com os resultados seguintes. De acordo com o site da Pordata, em dados recolhidos com o início em 1997, o número dos assinantes do acesso à Internet tem vindo a crescer, possuindo apenas uma quebra de série no ano de 2000 totalizando, em 2020, 3.793.613 assinantes do acesso à Internet em Portugal.
Ainda dentro do mesmo contexto, e de acordo com a mesma fonte, a utilização de Internet entre os 16-74 anos tem uma média total de 82,3%, sendo que as idades compreendidas entre os 16-54 anos tem uma média bastante mais elevada, na casa de 95,67%.

Retratando a inovação empresarial, segundo o Instituto Nacional de Estatística, em 2020, mais de um quinto das empresas iniciaram ou aumentaram esforços para vender através da internet. Em 2021, 17,3% das empresas utilizavam tecnologia de inteligência artificial. O desenvolvimento tecnológico dos jogos, que cada vez mais exemplificam a realidade, é um grande passo para a permanência do lazer em formato digital, sendo o Metaverso uma das mais recentes novidades.

De acordo com o Google Trends, ocorreu um pico da pesquisa do termo “metaverse”, a nível mundial, a outubro de 2021, sendo a Turquia, a China e a Singapura os países com maior interesse[1]. Este pico de maior interesse no termo apresenta uma correlação com a data do anúncio da mudança de nome da empresa Facebook para Meta, em que utilizou como principal ideia o facto da sua capacidade de utilizar o Metaverso para interligar as pessoas, comunidades e negócios. Resta mencionar que nos tópicos relacionados a esta pesquisa encontra-se a raça de cães Shiba Inu – sendo, também, o nome de uma moeda virtual – o rapper Snoop Dogg – por ter feito um videoclipe na plataforma Sandbox[2] que retrata o seu investimento na plataforma – e o tópico de mudança de nome. Em relação a consultas relacionadas, o termo “metaverse arsa”[3] aparece em primeiro lugar, seguindo de “mark zuckerberg metaverse” e do reaparecimento de “shiba”.
Através deste pico de interesse, foram muitas as novidades que o Metaverso foi acolhendo, todas ao nível de uma ligação ergonómica retratando um melhor acesso a um estilo de vida diferente. Marcas começaram a apostar nesta nova realidade como um espaço de acolhimento de novos produtos, com a finalidade de se auto proclamarem como a disruptora de algum acontecimento. A ideia é que o Metaverso, dentro de toda a ideia da macrotêndencia de Ligações Ergonómicas, foi – e continua a ser – um espaço disruptivo em que as marcas podem utilizar uma nova expressão cultural a seu favor.
De acordo com a revista Forbes, o Metaverso já não é somente um espaço onde existem macacos aborrecidos em formas de NFTs[4]. O Metaverso é, agora, um espaço em crescimento e que possibilita diferentes aplicações de negócio mais práticas ao ser humano. Entrando em contexto português, o mesmo já acontece com a empresa Hays Tecnhology a tornar-se o primeiro recrutador a entrar no Metaverso.

[1] Portugal ocupa a 26ª posição.
[2] Plataforma do Metaverso, à semelhança da Decentraland, CryptoVoxels e Somnium Space.
[3] “Arsa” é uma palavra turca que significa terreno.
[4] Remete para a coleção Bored Ape NFTs.

Referências e fontes:
CNET. (2022). How Bored Ape Yacht Clube NFTs Became $400K Status Symbols. Consultado a 13 de maio de 2022 em https://www.cnet.com/culture/internet/how-bored-ape-yacht-club-nfts-became-400k-status-symbols/.
EBN. (2022). How the metaverse will change the workplace. Consultado a 13 de maio de 2022 em https://www.benefitnews.com/news/the-metaverse-is-changing-the-workplace.
Google Trends. (2022). metaverse. Consultado a 13 de maio de 2022 em https://trends.google.com/trends/explore?q=metaverse
Instituto Nacional de Estatística. (2021). Sociedade da Informação e do Conhecimento – Inquérito à Utilização de Tecnologias da Informação e da Comunicação nas Empresas. Consultado a 18 de maio de 2022 em https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=473557706&DESTAQUESmodo=2
Jornal de Notícias. (2021). 600 mil computadores prestes a ser distribuídos pelos alunos. Consultado a 16 de maio de 2022 em https://www.jn.pt/nacional/600-mil-computadores-prestes-a-ser-distribuidos-pelos-alunos–14387765.html.
Kelly, J. (2022). The Metaverse Is Growing Up, Getting Serious, Going Beyond Bored Ape NFTs And Gamers, To Offering Practical Business Applications. Consultado a 13 de maio de 2022 em https://www.forbes.com/sites/jackkelly/2022/03/18/the-metaverse-is-growing-up-getting-serious-going-beyond-bored-ape-nfts-and-gamers-to-offering-practical-business-applications/?sh=78251c1050bb.
Meta. (2021). Introducing Meta: A Social Technology Company. Consultado a 13 de maio de 2022 em https://about.fb.com/news/2021/10/facebook-company-is-now-meta/
Nunes, F. (2021). Internet grátis para alunos inclui 2 GB para “utilização livre” e tráfego ilimitado para “contexto educativo”. Consultado a 16 de maio de 2022 em https://eco.sapo.pt/2021/02/16/internet-gratis-para-alunos-inclui-2-gb-para-utilizacao-livre-e-trafego-ilimitado-para-contexto-educativo/
Observador. (2022). Com os computadores nas escolas, próximas medidas da Escola Digital já estão em curso. Consultado a 16 de maio de 2022 em https://observador.pt/2022/03/25/com-os-computadores-nas-escolas-proximas-medidas-da-escola-digital-ja-estao-em-curso/
Pordata. (2021). Assinantes do acesso à Internet. Consultado a 13 de maio de 2022 em https://www.pordata.pt/Portugal/Assinantes+do+acesso+%C3%A0+Internet-2093
Pordata. (2022). Indivíduos com 16 e mais anos que utilizam computador e Internet em % do total de indivíduos: por grupo etário. Consultado a 13 de maio de 2022 em https://www.pordata.pt/Portugal/Indiv%C3%ADduos+com+16+e+mais+anos+que+utilizam+computador+e+Internet+em+percentagem+do+total+de+indiv%C3%ADduos+por+grupo+et%C3%A1rio-1139
Portugal INCoDe.2030. (S.d.). Advanced Computing Portugal 2030. Consultado a 18 de maio de 2022 em https://www.incode2030.gov.pt/computacao-avancada.
Portugal INCoDe.2030. (S.d.). AI Portugal 2030. Consultado a 18 de maio de 2022 em  https://www.incode2030.gov.pt/ai-portugal–2030.
Sapo Human Resources. (2022). Já há uma empresa de recrutamento no Metaverso. Consultado a 13 de maio de 2022 em https://hrportugal.sapo.pt/ja-ha-uma-empresa-de-recrutamento-no-metaverso/.
Schreck, I. (2022). 70% dos hospitais fazem monitorização do doente à distância. Consultado a 16 de maio de 2022 em https://www.jn.pt/nacional/70-dos-hospitais-fazem-monitorizacao-do-doente-a-distancia-14852302.html.
Stock, B. & Blockchain NFT Academy. (2022). Metaverse. The #1 Guide To Conquer The Blockchain World And Invest In Virtual Lands, NFT (Crypto Art), Altcoins and Cryptocurrency + Best DEFI Projects. (n.p.)
ZDNet. (2021). What is AI? Here’s everything you need to know about artificial intelligence. Consultado a 13 de maio de 2022 em https://www.zdnet.com/article/what-is-ai-heres-everything-you-need-to-know-about-artificial-intelligence/.

 

3.3. Acessos Digitais
(Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang, 2020)

Indivíduos com 16 e mais anos que utilizam computador e Internet em % do total de indivíduos: por nível de escolaridade mais elevado completo (dados de 2019):

Agregados domésticos privados com computador, com ligação à Internet fixa e com ligação à Internet através de banda larga (%) em Portugal (dados de 2019):
80,9% Ligação à Internet fixa // 78,0% Ligação à Internet através de banda larga (https://www.pordata.pt/Municipios/Agregados+dom%c3%a9sticos+privados+com+computador++com+liga%c3%a7%c3%a3o+%c3%a0+Internet+e+com+liga%c3%a7%c3%a3o+%c3%a0+Internet+atrav%c3%a9s+de+banda+larga+(percentagem)-797)

Referências e Fontes:

O Impacto da Inteligência Artificial nos locais de trabalho: https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/30179/1/2018%20Impact%20of%20artificial%20intelligence%20on%20the%20workplace%20RICOT.pdf (2018 RCAAP – Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal)

Mobilidade Digital – Desafios para uma visão de rede https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/3894/1/movel25julv2.pdf (2013 RCAAP)

Avaliação dos Mecanismos de Privacidade e Personalização na Web https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/3894/1/movel25julv2.pdf (2009 RCAAP)

Estratégia Nacional para a Inteligência Artificial – AI Portugal 2030 https://www.incode2030.gov.pt/en/ai-portugal-2030 (Portugal INCoDe – Iniciativa Nacional Competências Digitais)

Estratégia de Inovação Tecnológica e Empresarial  2018-2030 https://www.ani.pt/pt/valorizacao-do-conhecimento/valorizacao-de-politicas/estrat%C3%A9gia-de-inova%C3%A7%C3%A3o-tecnol%C3%B3gica-e-empresarial-2018-2030/

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Capítulo 4

4.1. A Sustentabilidade num contexto de crises.
(Carolina Represas, 2022)

A ONU aprovou a Agenda para o Desenvolvimento Sustentável de 2030, em 2015, que proporciona um quadro partilhado para a paz e prosperidade das pessoas e do planeta, hoje e no futuro. Os 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estão no seu cerne, e representam um apelo urgente à acção para que todos os países – desenvolvidos e em desenvolvimento – trabalhem em conjunto numa parceria global, com 2030 como primeira meta. Mas, desde 2015, que progressos têm sido feitos? E como são medidos esses progressos? Quão bem estão a ser implementadas as estratégias delineadas? Estamos a caminhar de facto para um mundo e estilo de vida mais sustentáveis?
Todos os anos, o  Secretário-Geral da ONU publica um relatório anual de progresso dos ODS, que se baseia no quadro global de indicadores, dados fornecidos pelos sistemas estatísticos nacionais, e informações recolhidas a nível regional e desenvolvidas em colaboração com o Sistema da ONU.
Para uma leitura mais leve, é possível consultar Europe Sustainable Development Report que demonstra de forma precisa, com a atribuição de uma pontuação individual, como cada país está a crescer na direção de alcançar os objetivos estipulados. Mesmo assim, os diferentes governos reconheceram nos últimos anos que todos os países necessitam de acesso a dados desagregados oportunos e fiáveis para monitorizar o progresso e assegurar que ninguém fica para trás na realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Há também um consenso generalizado de que as iniciativas para reformar as capacidades estatísticas nas nações mais pobres devem ser intensificadas.
O Inquérito sobre a Implementação do Plano de Acção Global da Cidade do Cabo para Dados de Desenvolvimento Sustentável desenvolvido em 2017 é exemplo de uma tentativa de modernizar e melhorar a questão. Contudo, em 2022, os resultados do inquérito mostram que, apesar de alguns avanços, a mudança transformadora nas capacidades estatísticas nacionais prometidas no Plano de Acção Global ainda não se realizou, especialmente nos países de rendimento baixo e médio.
Esta preocupação em criar métodos fiáveis para medir e publicar os progressos específicos de cada país pode ser justificada, em parte, pela cada vez mais forte onda de protestos e falta de confiança por parte da população em geral em relação às forças de autoridade e mudança. Nos últimos anos foram várias as personalidades célebres, como Leonardo DiCaprio e Zac Efron, que decidiram passar a dedicar grande parte do seu tempo ao ativismo em favor à sustentabilidade. Outras fazem parte de um número crescente de crianças que sofre de “eco-ansiedade”, uma preocupação persistente em relação ao desastre ambiental e à possibilidade de não ter um futuro, que são capazes de a transformar numa força positiva e transformadora. Greta Thungberg, de agora 19 anos é um dos casos mais conhecidos, que emerge de uma vida humilde para uma de luta pela proteção do planeta, sem fins lucrativos.
O Pacto Ecológico Europeu criado pela Comissão Europeia tem como fim transformar a União Europeia numa economia moderna, eficiente na utilização de recursos e competitiva, garantindo que: as emissões líquidas de gases com efeitos de estufa sejam nulas em 2050, o crescimento econômico esteja dissociado da utilização de recursos e que nenhum ser humano seja deixado para trás, em qualquer parte do mundo. Este pacto serve também como “boia de salvação” para sair da pandemia COVID-19. Para servir este propósito são e serão postos em prática diversos planos de ação entre 2019-2050. Entre os mais complexos de 2021 e 2022 estão o Fit for 55, European Climate Law e o New European Bauhaus.
A invasão russa da Ucrânia causou e causa danos irreversíveis a nível social, ambiental e económico sendo possível observar e contabilizar recuos graves em cada um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, comparativamente aos avanços até então feitos para os alcançar. A Resolução – A guerra na Ucrânia e o seu impacto económico, social e ambiental adotada pelo Comité Económico e Social Europeu na cimeira do Conselho Europeu surge como uma manifestação de solidariedade para com a Ucrânia e para destacar o papel da sociedade civil na assistência ao povo e aos refugiados ucranianos.
De cariz mais reativo e para que os países deixem de depender dos combustíveis fósseis fornecidos pela Rússia, a Comissão Europeia desenvolveu o Plano REPowerEU, que através de um investimento massivo de cerca de 210€ mil milhões em energias renováveis, acelerará a transição verde para uma Europa com energia acessível, segura e sustentável.
Afirmando uma posição diferente da do ano passado em relação às alterações climáticas com Donald Trump no poder, os Estados Unidos, com a administração Biden-Harris celebram este ano o Dia Mundial do Oceano com ações para conservar o Canhão Atlântico mais profundo da América, cortar a poluição plástica, e criar o primeiro plano de ação climática dos oceanos dos EUA.

Fonte: Google Trends, acesso em 11 junho 2022

A pesquisa do termo sustentabilidade no Google Trends demonstra uma queda significativa do interesse pelo tema entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022. Este período de tempo coincide com o levantar das restrições em relação à pandemia e com o início do retomar de uma vida normal para a maior parte das nações ao longo do globo. À medida que os países se concentravam nas suas necessidades imediatas de saúde pública, a epidemia COVID19 desviou a atenção e os recursos globais dos objetivos do acordo climático de Paris de 2015. Com a invasão russa da Ucrânia, as pressões económicas, sociais e geopolíticas que os países enfrentavam estão a ser intensificadas. Os objetivos estipulados na agenda da sustentabilidade tornam-se mais duros de alcançar, razão pela qual, provavelmente, podemos observar uma subida exponencial das pesquisas por este termo a um nível global, que atinge o pico mais alto em junho de 2022.

Fonte: Google Trends, acesso em: 11 junho 2022

Interessante é constatar que Portugal é o segundo país do mundo com mais interesse pelo tópico sustentabilidade, apesar de, comparativamente aos outros 5 do pódio, ser o mais estável em relação a essa categoria.

Fonte: Google Trends, acesso em: 11 junho 2022

Em sustentabilidade ambiental é possível observar uma curva positiva que desde o início do agravamento da guerra na Ucrânia escalou em aproximadamente 75%, o que demonstra um aumento da preocupação em relação a este assunto por parte da população mundial. Apesar de bastante afetada pelo mesmo problema, as pesquisas para sustentabilidade social não sofreram grandes alterações.
As perguntas mais recorrentes acerca de sustentabilidade no Google são: De que forma a revolução digital e a revolução da sustentabilidade se relacionam? Qual é a vantagem de uma empresa publicar um relatório de sustentabilidade? Que exemplo de uma nova tecnologia com impacto negativo na sustentabilidade podemos dar? Estas questões são úteis sobretudo para o sector empresarial onde as empresas procuram fazer a Transição Verde, de modo a reduzir a pegada ecológica. A tecnologia digital tem sido uma das maiores aliadas nesta transição, sobretudo a blockchain, que embora conhecida como a arquitetura por detrás das moedas criptográficas como a Bitcoin, está a encontrar utilizações em tudo, desde a monitorização da sustentabilidade dos produtos até à monitorização em tempo real da poluição. Esta tecnologia tem um papel  fundamental na formulação e controlo de inovações na energia e clima, mas até agora, tem sido dada pouca atenção à forma como pode ser utilizada nos países em desenvolvimento. Um novo relatório do Programa das  Nações Unidas  para o Ambiente (PNUA) e da Fundação Alfa Social (SAF) procura mudar este quadro e desbloquear novas oportunidades.
Também os hábitos de consumo das pessoas que cada vez mais procuram um estilo de vida sustentável onde a saúde e o bem-estar físico e emocional adquirem primazia, se estão a alterar. Um dos exemplos à vista é o aumento da demanda por produtos plant-based. De acordo com a Precedence Research, em 2021 a dimensão global do mercado alimentar vegano foi estimada em 26,83 mil milhões de dólares, estando previsto um aumento de 10,41% até 2030 em que passará a valer 65,4 mil milhões de dólares. Outra categoria a ganhar espaço nas prateleiras dos hipermercados por ser a escolha dos consumidores são os produtos biológicos. Legumes Bio, fruta Bio, iogurtes Bio, qualquer tipo de alimento de origem natural pode passar a ser Bio se não contiver organismos geneticamente modificados (OGM´s), nem contaminantes, pesticidas ou adubos químicos. Optar por alimentos biológicos minimiza o impacto humano sobre o ambiente e assegura a biodiversidade de espécies preservando os recursos naturais do planeta. Em relação ao fortalecimento da sustentabilidade social, é relevante mencionar o mérito da UNHabitat, um programa oficial da ONU. Ao encarar a urbanização como uma força transformadora positiva para as pessoas e comunidades, procura reduzir a desigualdade, a discriminação e a pobreza, através da construção de cidades e comunidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis. Este plano a decorrer em mais de 90 países é conduzido pelo conhecimento, aconselhamento político, assistência técnica e ação de colaboração.

 

4.2. A Sustentabilidade do Slow.
(Ana Manhique, Lucas Corrêa, 2021)

Como reduzir a pegada humana no planeta? Como fazer dos nossos produtos mais sustentáveis e menos poluentes? Como garantir que as indústrias reduzem a produção a sua pegada energética? São questões que requerem uma reformulação do funcionamento global e holístico da sociedade na sua relação com o planeta e recursos disponíveis num sistema capitalista, e na era do Antropoceno. Se antes da pandemia a fuga por uma forma mais lenta de vida era considerado um privilégio de alguns, hoje ela assume um papel cada vez mais determinante nas indústrias como a do Turismo, Moda, Criativas, Urbanas e Tecnológicas.

Nascido de um protesto em Itália nos anos 80 realizado por Carlo Petrini contra a inauguração de um restaurante “fast food”, o “Slow” assumiu nas últimas décadas uma adesão global, principalmente com a obra de Honoré, In Praise of Slow (2004) um bestseller na matéria. Começando pela Slow Food (Hendrikx, B., & Lagendijk, A. (2020), passando pela Slow Fashion (Lagere, A. & Kang, J. (2020), Slow Tourism (Serdane, Z., Maccarrone-Eaglen, A. & Sharifi, S. (2020), até ao Slow Living e Slow Cities (Tranter, P. & Tolley, R., 2020; Chi, X., & Han, H.,2020; Oliveira, E. E., 2021). O movimento tem crescido de um modo gradual e consistente, alcançando uma escala macro de impacto, nos sistemas de funcionamento social, urbano e económicos no presente. O movimento Slow contribui para a produção de novos estilos de vida num processo de readaptação, reformulação, renovação e reutilização, em que o equilíbrio entre o bem-estar, a qualidade de vida, e o ambiente estão no cerne do movimento. O movimento slow aborda assim a “falta de tempo” a escassez e pobreza de tempo para viver, produzir e partilhar no quotidiano. Ao propor a redução na velocidade na produção, partilha e consumo, é estabelecida uma maior relação com o habitat, o ambiente a ecologia na sua totalidade de forma mais consciente e sustentável, convidado as empresas e indústrias a prestarem mais atenção às preferências e exigência dos consumidores que gradualmente assumem o papel de produtores, inovadores e artesãos. O movimento slow tem a capacidade de produzir uma participação sustentável a vários níveis, do individuo, à comunidade, sociedade civil, organismos e empresas e por fim indústrias, a responsabilidade individual tem espaço para crescer de tal maneira que passa a ser um dos principais motores do movimento, o sentimento de mudança e contributo para a transformação, nas múltiplas formas que fazem com que o slow não desapareça enquanto tendência e sim, se reinvente e renove ao longo do tempo. Prova de que, não obstante, este movimento tenha surgido há mais de 30 anos, esteja agora em voga perante a pandemia.

Referências e Fontes:

HENDRIKS, B., & Lagendijk, A. (2020). Slow Food as one in many a semiotic network approach to the geographical development of a social movement. Environment and Planning E: Nature and Space, 2514848620970923.
LEGERE, A., & Kang, J. (2020). The role of self-concept in shaping sustainable consumption: A model of slow fashion. Journal of Cleaner Production, 258, 120699.
SERDANE, Z., Maccarrone-Eaglen, A., & Sharifi, S. (2020). Conceptualising slow tourism: A perspective from Latvia. Tourism Recreation Research, 45(3), 337-350.
TRANTER, P., & Tolley, R. (2020). Slow cities: Conquering our speed addiction for health and sustainability. Elsevier.
CHI, X., & Han, H. (2020). Exploring slow city attributes in Mainland China: Tourist perceptions and behavioral intentions toward Chinese Cittaslow. Journal of Travel & Tourism Marketing, 37(3), 361-379.
OLIVEIRA, E. E. (2021). Slow Cities: uma experiência da contemporaneidade. Risco-Revista de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo, 19.

 

4.3. Uma Sustentabilidade dos Sistemas
(Marianna Rosalles, Francisco Mateus, 2020)

A Organização das Nações Unidas(ONU) declarou que em 2020 se inicia a década da ação, período determinante para a conquista dos 17 objetivos para o desenvolvimento sustentável no planeta: 1. Erradicação da pobreza; 2. Fome zero e agricultura sustentável; 3. Saúde e Bem-estar; 4. Educação de qualidade; 5. Igualdade de Gênero; 6. Água potável e Saneamento; 7. Energia Acessível e Limpa; 8. Trabalho decente e crescimento econômico; 9. Indústria, Inovação e Infra-estrutura; 10. Redução das desigualdades; 11. Cidades e comunidades sustentáveis; 12. Consumo e produção responsáveis;13. Ação contra a mudança global do clima; 14. Vida na água ; 15. Vida terrestre; 16. Paz, justiça e instituições eficazes; 17. Parcerias e meios de implementação. Essas metas estão diretamente relacionadas com a sustentabilidade e revelam uma urgência de iniciativas governamentais, corporativas e sociais para que sejam atingidas até o prazo estipulado.

É possível perceber que há um empenho em cumprí-las, que se revela a partir de congressos sobre o assunto que ocorrem ao redor do mundo, documentos governamentais que visam promover ações de sustentabilidade, estudos acadêmicos que avaliam as transformações desde que medidas ecológicas foram implementadas e até a publicação de livros sobre branding e sustentabilidade.

No entanto, também é possível perceber uma disparidade entre a realidade dos diversos continentes do mundo, a europa tem políticas públicas muito mais incisivas em termos de sustentabilidade ao passo que o Presidente Donald Trump retirou os EUA, um dos países com mais alto índice de emissão de carbono, do Acordo de Paris, tratado que visa uma cooperação internacional para responder à mudança climática. O Ministério do meio ambiente brasileiro possui uma agenda que favorece o agronegócio em detrimento da preservação da Amazônia, por exemplo. Há um descompasso global o que torna a conquista dessas metas de forma isonômica pouco provável.

A Europa apresenta em seus relatórios oficiais bons resultados em termos de racionamento e tratamento de água, o que lhes confere água potável em torneiras domésticas. No que tange o uso da água para irrigação na agricultura ainda há uma necessidade de se adequar às políticas da Common Agriculture Policy (CAP).  A preocupação com as emissões de gases se relaciona ao crescimento do turismo, o desenvolvimento urbano e das indústrias.

Há diversas instâncias e tratados que visam acompanhar a evolução dessas políticas e propor novas soluções sustentáveis  como por exemplo o Multiannual Financial Framework (MFF), European Maritime and Fisheries Fund (EMFF),Global Monitoring for Environment and Security (GMES), Urban Waste Water Treatment (UWWTD), Plant Protection Products (PPPD), Industrial Emissions Directives (IPPC-IED),Emission Limit Values (ELVs), Best Available Techniques (BAT), Millennium Development Goals (MDGs), Integrated Water Resources Management (IWRM), EU Water Initiative (EUWI), entre outros.

Um documento importante para ter uma visão panorâmica das políticas europeias em torno da sustentabilidade é a European Strategy 2020 que reúne soluções para temas como emprego; pesquisa e desenvolvimento; mudança climática e energia; educação; pobreza e exclusão social. O documento foi criado em 2010 e tem a expectativa de que até 2020 75% da população entre 20 e 64 anos esteja empregada, que haja uma redução de 20% das emissões de gases em relação aos anos de 1990, que haja um aumento de 20% no uso de energias renováveis, que a eficiência energética aumente em 20%, que a evasão escolar reduza em 10%, que 40% da população entre 30 e 34 anos atinja o terceiro grau de escolaridade e que pelo menos 20 milhões de pessoas saiam da faixa de risco da pobreza e exclusão social.

Em 2020 Lisboa foi selecionada para ser a capital verde europeia, o projeto promove uma série de iniciativas que incentivam a sustentabilidade e firma um compromisso com as diretrizes do Acordo de Paris, a Rede de Liderança Climática das C40 Cities e propõe a implementação do Plano de Ação para as Energias Sustentável e o Clima (PAESC).

É possível verificar que há uma facilidade de encontrar relatórios de Sustentabilidade de empresas portuguesas de ramos diversos, há um estímulo em desenvolver ações dessa temática. Multinacionais como a Volkswagen, a Citröen, Adidas e a C&A também investem em carros elétricos, consultoria com ativistas ambientais e redução do plástico.

A partir do início da pandemia do vírus Sars-cov-2 os noticiários começaram a relatar que o isolamento social trouxe benefícios para o planeta: houve uma redução das emissões de CO2 em razão da interrupção de voos, redução da poluição sonora pela pausa na circulação de automóveis, a melhora na qualidade do ar, entre outros avanços reportados. O surgimento do vírus também suscita uma reflexão sobre o consumo de carne, a degradação ambiental e a relação do ser humano com o planeta.

Adicionalmente a pandemia escancara as desigualdades sociais e se apresenta como um obstáculo na linearidade das políticas públicas de sustentabilidade uma vez que exige que a saúde, os auxílios governamentais e as estratégias de contenção da doença sejam priorizadas. O projeto de Lisboa verde, por exemplo, perdeu destaque no noticiário uma vez que se trata de uma iniciativa com forte apelo turístico, inviabilizado pelo isolamento social. Diversos artigos foram publicados nos últimos meses tratando dos impactos que o covid-19 teria no turismo, no desenvolvimento sustentável e na pobreza global.

Articulações: As marcas e instituições devem atender à demanda dos consumidores por produtos sustentáveis; As instituições internacionais enxergam essa década como limite para uma mudança de comportamento em relação à sustentabilidade; Para além do novo paradigma de consumo as corporações têm um papel de colocar em prática posturas que levem em consideração o esgotamento dos recursos naturais; É preciso repensar o sistema econômico atual de forma a garantir o bem estar das futuras gerações; Corporações têm feito mais relatórios sobre sustentabilidade; A sustentabilidade se tornou um valor para as pessoas; Há uma preocupação com a adoção de medidas sustentáveis no entanto essas estão muitio focadas na lógica do consumo; O covid-19 apresenta a necessidade de repensar a mobilidade urbana uma vez que os transportes coletivos promovem aglomerações; O teletrabalho é uma alternativa para a redução da poluição causada pelos automóveis e autocarros; A pandemia é um sintoma do esgotamento planetário, é preciso repensar nossas relações com a natureza;

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Capítulo 5  

5.1. Trabalho e Relacionamentos em 2022
(Paula Costa, 2022)

A pandemia Covid-19 deflagrou-se mundo afora no início de 2020. Mesmo com intensos esforços coletivos, o medo e a incerteza dominavam diante de um vírus desconhecido que, muitas vezes, parecia estar um passo à frente de todos nós. Após cerca de dois anos do início da pandemia, o mundo encaminha-se para um cenário mais controlado, graças às vacinas – com cerca de 68% da população mundial tendo recebido pelo menos uma dose (Holder, 2022). Mas isso não é sinônimo de calmaria. A distribuição desigual dos imunizantes, reflexo de uma sociedade socialmente e economicamente também desigual, que prioriza uns em detrimento de outros, ainda deixa parte da população mundial não completamente vacinada.
O temor de novas ondas de Covid-19, além do possível surgimento de variantes do vírus, bem como o aparecimento de outras doenças, como a varíola dos macacos, demonstram como o ano de 2022 está repleto de desafios. Hoje, alguns dos maiores problemas giram em torno dos efeitos indiretos da pandemia: em talentos, cadeias de suprimentos, crescimento inclusivo e muito mais (Mckinsey, 2022).1 Além dessas questões, outras que estavam adormecidas ou ofuscadas diante da calamidade pandêmica, como tensões políticas no cenário internacional – a exemplo da guerra na Ucrânia – ganharam os holofotes logo nos primeiros meses do ano.
Apesar dos efeitos devastadores da pandemia, é interessante buscar olhar para ela através de uma perspectiva em que procura-se reconhecer e aprender com os erros e traumas para, desta forma, tirar lições valiosas para a construção de um mundo um pouco melhor.
Eventos tão disruptivos como esse são extremamente raros e, como a consultoria Mckinsey destaca, uma vez – se tanto – por geração, há uma oportunidade de reimaginarmos e reinventarmos a forma como vivemos (De Smet et al, 2021). Algumas mudanças que estavam em período embrionário ou caminhavam a passos lentos, ainda enfrentando muita desconfiança e resistência, foram impulsionadas pela pandemia. O futuro que era distante chegou mais rápido ao presente, como podemos citar os movimentos em relação à educação a distância, modelo de trabalho, cobrança por empresas mais social e ecologicamente responsáveis, entre outros, que estão em erupção atualmente (Melo, 2020).
No que tange nossos estilos de vida, muita coisa mudou durante a pandemia, dada a necessidade de se cumprir o isolamento social. Com o afrouxamento das restrições, novamente nos encontramos em um período de transição, descobertas e experimentações. De acordo com Life Span Research, em 2021 as palavras que ditaram nossas vidas foram: esperança, resiliência e bem-estar. Em 2022, talvez estas ainda não tenham mudado, mas a demanda por elas tenha se intensificado.

1 Tradução nossa. No original: Today, some of the biggest issues revolve around the pandemic’s knock-on effects: on talent, supply chains, inclusive growth, and more. (Mckinsey, 2022, parágrafo 1).

Trabalho
O trabalho está extremamente conectado ao nosso senso de identidade e ao nosso sentimento de valor próprio, mas, apesar de sua importância, ele, por si só, não é capaz de proporcionar a sensação de uma vida plena (Life Span Research, 2022). 2
David Frayne (2015, p. 69) questiona sobre quanto do nosso tempo é realmente nosso, e quando, precisamente, estamos genuinamente libertos da demanda de produzir ou consumir riqueza econômica, e nos tornamos verdadeiramente livres para vivenciar o mundo e sua cultura? 3 Ele trata da angústia da separação, cada vez menos clara, entre trabalho e tempo livre, e explica que a degradação do lazer precisa ser entendida como um sintoma da tendência mais ampla das demandas econômicas de colonizar a vida cotidiana.4 Arthur Brooks, em artigo para a revista The Atlantic (2021), fala que enquanto Homo economicus, tornamo-nos simulacros de pessoas reais, dispostas a sacrificar amor e diversão por mais um dia de trabalho, sempre buscando resposta para a pergunta “Já sou bem sucedido?”.
Dada a importância do trabalho em nossas vidas e as profundas mudanças que o mercado vem sofrendo nos últimos anos, impulsionado pela pandemia, mas não apenas por conta desta, esse estudo optou por ter como recorte de análise o mundo do trabalho e as pessoas em idade produtiva.
A tolerância para permanecer em trabalhos não gratificantes – nos mais variados sentidos – parece ter diminuído com a pandemia. A angústia da finitude da vida, evidenciada frente a um número desolador de mortes, trouxe certa urgência de viver. Diante dessa situação, muitas pessoas foram levadas a reconsiderar o papel do trabalho em suas vidas e, em muitos casos, tomar decisões que vinham sendo postergadas há tempos. A qualidade de vida e bem-estar estão, cada vez mais, sendo requisitados pelas pessoas, que foram levadas a um esgotamento emocional (Fuller & Kerr, 2022).
O movimento de milhões de trabalhadores demitindo-se demonstra uma grande mudança de mindset e acende o alerta para as empresas, que precisam entender como comportar-se diante de uma realidade onde há mudanças de prioridades nas demandas dos colaboradores. A compensação financeira não é mais a única e, muitas vezes, nem a principal determinante da entrada ou permanência de uma pessoa no emprego.
O fenômeno que ficou conhecido como “The Great Resignation” explodiu em 2021, nos Estados Unidos – com cerca de 47 milhões de trabalhadores deixando seus trabalhos voluntariamente no país – e vem se espalhando pelo resto do mundo. Apesar de ter tido grande impulso da pandemia, não se pode dizer que ele é consequência apenas desta. De acordo com Fuller & Kerr (2022):
De 2009 a 2019, a taxa média mensal de demissão voluntária aumentou 0,10 pontos percentuais a cada ano. Então, em 2020, por causa da incerteza provocada pela pandemia de Covid-19, a taxa de demissão desacelerou à medida que os trabalhadores mantinham seus empregos em maior número. Essa pausa durou pouco. Em 2021, quando os cheques de estímulo foram enviados e algumas das incertezas diminuíram, um número recorde de trabalhadores deixou seus empregos, criando a chamada Grande Demissão. Mas esse número inclui muitos trabalhadores que poderiam ter se demitido em 2020 se não houvesse pandemia. Agora estamos de volta à tendência pré-pandemia, que é uma que os empregadores americanos provavelmente enfrentarão nos próximos anos.5
Os autores ainda explicam que a combinação de cinco fatores culminaram no fenômeno que vemos hoje são eles: aposentadoria, realocação, reconsideração, reorganização e relutância. Todas essas questões vêm se arrastando há anos, mas foram impulsionadas pela pandemia, em especial a reconsideração e relutância (Fuller & Kerr, 2022).
Colaboradores e empregadores tiveram que se adaptar ao trabalho remoto e manter os negócios andando durante o isolamento social. Agora, o momento é outro. Atualmente, o debate em torno do retorno ao presencial e ao modelo híbrido é uma zona de extrema discordância e um dos pontos principais na tomada de decisão dos trabalhadores quanto à permanência em seus empregos (Mckinsey, 2022). As políticas, práticas, normas de trabalho, tecnologias de colaboração e modos de funcionamento que foram aceitos no mercado por décadas estão sendo colocadas à prova, bem como os novos hábitos e normas adquiridos durante cerca de dois anos de pandemia. O trabalho híbrido, que ninguém sabe ao certo como deve funcionar e nem como definir, divide opiniões (De Semt et al, 2022). O momento é de experimentação e negociação.

2 Tradução nossa. No original: More than ever before, work has become tied to our sense of identity and worth. … Yet we know that for most of us, work alone cannot provide a sense of a fulfilled life. (Life Span Research, 2022, parágrafo 9).
3 Tradução nossa. No original: When, precisely, are we genuinely released from the demand to either produce or consume economic wealth, to become truly free to experience the world and its culture? (Frayne, 2015, p. 69).
4 Tradução nossa. No original: The degradation of leisure needs to be understood as a symptom of the broader tendency of economic demands to colonize everyday life (Frayne, 2015, p. 68).
5 Tradução nossa. No original: From 2009 to 2019, the average monthly quit rate increased by 0.10 percentage points each year. Then, in 2020, because of the uncertainty brought on by the Covid-19 pandemic, the resignation rate slowed as workers held on to their jobs in greater numbers. That pause was short-lived. In 2021, as stimulus checks were sent out and some of the uncertainty abated, a record number of workers quit their jobs, creating the so-called Great Resignation. But that number included many workers who might otherwise have quit in 2020 had there been no pandemic. We’re now back in line with the pre-pandemic trend, which is one that American employers are likely to be contending with for years to come. (Fuller & Kerr, 2022, parágrafo 3).

Relacionamentos
Bauman fala do amor líquido no mundo moderno e da fragilidade dos vínculos humanos, que revelam desejos conflitantes de, por um lado, apertar laços e, de fato, relacionar-se, e, por outro, mantê-los frouxos, pois há uma insegurança em relação à condição de “estar ligado ao outro”, o que leva à limitação de uma liberdade que achamos ser necessária (2004, p. 56). Segundo o autor, “o advento da proximidade virtual torna as conexões humanas simultaneamente mais frequentes e mais banais, mais intensas e mais breves” (Bauman, 2004, p. 59). Como exigem menos esforço e tempo, tanto para serem estabelecidas, como rompidas, as conexões virtuais não levam à construção, e muito menos à manutenção, de laços mais profundos. “A distância não é obstáculo para se entrar em contato — mas entrar em contato não é obstáculo para se permanecer à parte” (Bauman, 2004, p. 59). Em meio a superficialidade, preza-se mais pela quantidade do que pela qualidade.
Há sempre mais conexões para serem usadas — e assim não tem grande importância quantas delas se tenham mostrado frágeis e passíveis de ruptura. Reduzir riscos e, simultaneamente, evitar a perda de opções é o que restou de escolha racional num mundo de oportunidades fluidas, valores cambiantes e regras instáveis. E o namoro pela internet, ao contrário da incômoda negociação de compromissos mútuos, se ajusta perfeitamente (ou quase) aos novos padrões de escolha racional (Bauman, 2004, p. 59 e 61).
Com a pandemia, o engajamento nas aplicações de relacionamento online aumentou, dado o contexto de isolamento social, com as pessoas procurando plataformas onde pudessem interagir – em março de 2020, o Tinder registrou 3 bilhões de “swipes” em um único dia e depois quebrou esse recorde 130 vezes no mesmo ano (Tinder, 2021). De acordo com essa mesma plataforma, 60% das pessoas que tornaram-se usuárias do app desde o início da pandemia o fizeram, pois sentiam-se sozinhas e queriam conectar-se com outras pessoas.
De acordo com a pesquisa “The future of dating is fluid”, realizada pelo Tinder entre 2020 e 2021, seus membros, na maioria entre 18 e 25 anos, passaram a priorizar conexões com maior honestidade e autenticidade, impor limites mais transparentes, valorizar pequenos gestos de carinho, rótulos menos fixos e relações mais abertas, sem tanta pressão. A pesquisa também apontou que, embora possa ter começado por necessidade do isolamento social, os encontros digitais devem continuar, pois as pessoas passaram a enxergar essa prática como uma forma em que há menos pressão e nervosismo para conhecer alguém, num primeiro momento. O estudo “Singles in America”, conduzido pela Match em 2021, revelou outro aspecto interessante: a maturidade emocional está sendo considerada o novo “it factor” num relacionamento. Enquanto isso, apenas 78% dos entrevistados falam de atração física enquanto uma das prioridades em 2021 (vs. 90% em 2020).
Além das aplicações de relacionamento online, a evolução do metaverso também aponta novas possibilidades. De acordo com pesquisa do Reddit, nos últimos seis meses houve um aumento de 249% nas menções de “namoro” dentro de grupos de interesse de realidade virtual (Clark, 2022). Agora, já podemos encontrar plataformas que prometem namoros online mais interativos, como a Nevermet e Planet Theta. Além disso, apps já conhecidos pelo swipe e chat, como o Match e o Tinder, também já planejam a expansão para o metaverso (Tolcheva, 2022).

Referências:
Bauman, Z. (2004). Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
Brooks, A. (2021, September 30). A Profession Is Not a Personality. The Atlantic. https://www.theatlantic.com/family/archive/2021/09/self-objectification-work/620246/
Clark, K. (2022, May 13). Dating is getting hot in the metaverse, per exclusive Reddit data. The Drum. https://www.thedrum.com/news/2022/05/13/dating-getting-hot-the-metaverse-exclusiv e-reddit-data
De Smet, A.; Dowling, B.; Mysore, M. & Reich, A. (2021, July 9). It’s time for leaders to get real about hybrid. Mckinsey. https://www.mckinsey.com/business-functions/people-and-organizational-performance/our-in sights/its-time-for-leaders-to-get-real-about-hybrid
Frayne, D. (2015). The Refusal of Work: Theory and Practice of Resistance to Work. Zed Books. London. http://theorytuesdays.com/wp-content/uploads/2018/01/The-Refusal-of-Work-David-Frayne.p df
Fuller, J., & Kerr, W. (2022, March 23). The Great Resignation Didn’t Start with the Pandemic. Harvard Business Review. https://hbr.org/2022/03/the-great-resignation-didnt-start-with-the-pandemic
Futuro Tensionado. (2020, June). Fisicalidade e Virtualização. https://futurotensionado.noone.is/tensao/fisicalidade-e-virtualizacao
Holder, J. (2022, June 19). Tracking Coronavirus Vaccinations Around the World. The New York Times. Tracking Coronavirus Vaccinations Around the World – The New York Times (By Josh Holder Updated June 12, 2022)
Life Span Research. (2021). Don’t Let the Talent Crisis Threaten Your Growth Opportunity. (https://www.lifespanresearch.org/app/uploads/2021/09/21-LRF-roadmaps-value-prop-pov-whitepaper-R5-F.pdf
Match. (2021). Singles in America. https://www.singlesinamerica.com/
Mckinsey. (2022, March 13). COVID-19: Where we’ve been, where we are, and where we’re going.
https://www.mckinsey.com/featured-insights/themes/covid-19-where-weve-been-wher e-we-are-and-where-were-going?cid=other-eml-alt-mip-mck&hdpid=36d43c84-c9b6- 4876-a546-8ced10da74df&hctky=10215009&hlkid=d851d8472aac426296cdfffd5406 cbf5
Melo, C. (2020, April 13). Como o coronavírus vai mudar nossas vidas: dez tendências para o mundo pós-pandemia. El País.
https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-04-13/como-o-coronavirus-vai-mudar-nossas-vi das-dez-tendencias-para-o-mundo-pos-pandemia.html
Tinder. (2021). The Future of Dating Is Fluid. https://www.tinderpressroom.com/futureofdating
Tisdall, S. (2021, December 29). The world in 2022: another year of living dangerously. The Guardian. https://www.theguardian.com/world/2021/dec/29/the-world-in-2022-another-year-of-li ving-dangerously
Tolcheva, S. (2022, March 30). Metaverse Dating: What Is It and How Does It Work?. Make use of. https://www.makeuseof.com/metaverse-dating-explained/

5.2. Práticas e hábitos de consumo em 2022
(Catarina Stoffel, 2022)

A macrotendência Redesenho de Estilos de Vida viu-se profundamente afetada pelo contexto pandémico que o Mundo tem vindo a experienciar. Neste sentido, várias são as fontes que espelham o impacto, aos mais variados níveis, da conjuntura atual.
As modificações mais radicais prendem-se com os hábitos de consumo e os estilos de vida, e traduzem mudanças recentes cuja evolução é ainda difícil de mapear.
Neste âmbito, ao nível dos hábitos de consumo, o elemento mais marcante é o aumento das compras pela Internet, em detrimento das lojas físicas, sobretudo de produtos e serviços associados à vida pessoal e profissional a partir de casa (Sousa, 2021). Ainda nesta esfera, o mesmo jornal dá conta de um aumento do consumo de serviços de entretenimento bem como de equipamento informático.
De acordo com Ferrão (2020), e traduzindo dados de uma pesquisa conjunta realizada pela Ageas Portugal e pela Eurogroup Consulting Portugal, “quase metade dos portugueses admite ter alterado os seus hábitos de consumo com a pandemia de covid- 19”, destacando ainda um aumento de 50% nas compras online, com 31% a afirmarem manter estes hábitos posteriormente.
Em simultâneo com o crescimento do comércio digital, Rodrigues (2020) dá ainda conta de um reforço do comércio local e, paralelamente, da ligação à comunidade.
Esta alteração dos hábitos de consumo ilustra um crescimento da escolhas saudáveis e sustentáveis, a nível financeiro e ambiental (Ferrão, 2020). Como afirmado por João Pedro Lopes, legal counsel da Imperial Brands, em entrevista ao Expresso (a 14 de dezembro de 2020), “Usar máscara ou desinfetar as mãos são apenas uma versão muito macro desta mudança, em que estamos todos conscientes que as pessoas assumiram o propósito de tudo fazerem para se manterem saudáveis”.
Adicionalmente, o jornal Diário de Notícias (2021) divulga os dados obtidos pelo estudo REACT-COVID 2.0, desenvolvido pela Direção-Geral da Saúde juntamente com o Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Assim, importa considerar que 32,2% dos inquiridos “passaram a recorrer a refeições take-away”, afirmando que esta mudança pode “relacionar-se com a possibilidade de se realizarem mais refeições em casa (33,4%)”.
Apesar do referido aumento na busca por soluções alimentares mais saudáveis, existiu um crescimento de 24,9% nas escolhas menos saudáveis, o que pode implicar “variações no apetite originadas por razões emocionais” (Diário de Notícias, 2021).
Noutra esfera, as alterações provocadas pelas formas de consumo – além dos produtos consumidos – manifesta-se também no campo do Marketing, com as marcas a “apresentarem-se de uma forma bastante mais emocional, com mais empatia” (Rodrigues, 2020). O mesmo autor afirma ainda que “o peso da razão, nas decisões de consumo, é agora ainda mais fortemente balançado pela força da emoção”.
O contexto pandémico manifestou-se, de igual forma, nos mais variados estilos de vida. O Relatório de Mobilidade da Comunidade de 2022, realizado pelo Google Trends, contabiliza um aumento de 21% na deslocação para parques em detrimento de uma descida de 11% na deslocação aos locais de trabalho.
Ainda assim, o estudo REACT-COVID 2.0, já anteriormente mencionado, marca um aumento do sedentarismo, com 46,4% dos inquiridos a registarem sete ou mais hora por dia, por oposição aos 38,9% registados em 2020 (Diário de Notícias, 2021).
Neste sentido, a redução da mobilidade laboral, aliada ao aumento do consumo de equipamentos eletrónico e ao inerente sedentarismo, parece contribuir para um crescimento dos quartos multifuncionais, sendo que “This past year, our houses have had to do more for us than we could have imagined. Home is no longer merely the place we go at the end of the day to relax: It’s the office, school, restaurant, movie theater, and gym, and often many of these things at the same time” (Dailey, 2021).
Por sua vez, o aumento considerável da deslocação a locais como parques pode estar associado ao aumento da adoção de animais de companhia durante o período pandémico, dado que estes necessitam de acesso a uma espaço exterior. Assim, como suportado pela revista National Geographic (May, 2021), “com as pessoas confinadas em casa, a demanda por adotar ou ser família de acolhimento de animais, sobretudo cães, tem aumento no mundo inteiro”1.
Ora, o Mundo exterior, por sua vez, também se viu profundamente afetado pela pandemia, não só ao nível da mancha social – reduzida devido às restrições de circulação – mas também na sua caraterização.
Efetivamente, o elemento mais marcante parece ser as marcas – e símbolos – de distanciamento social , sendo que “Thousands of variations on social-distancing markers are popping up around the world. They reflect more than just our need to keep ourselves separated.. These signs, symbols and markings are the hallmark of a pandemic-changed world – one that not only functions differently, but now looks it, too” (Traverso, 2020).
Atualmente, o mesmo jornal dá conta de que a Universidade de Lucerne está a criar um símbolo universal de distanciamento social, cujo objetivo é “ser notado e criar uma resposta natural no observador” (Traverso, 2020)2.

1
(Tradução livre da autora) “In fact, as people remain stuck at home, the demand for adopting or fostering pets, particularly dogs, has risen worldwide” (May, 2021 in National Geographic)
2 (Tradução livre da autora) “An ideal symbol is one that gets noticed and that triggers a natural response in viewers” (Aradhna Krishna, 2020, in BBC)

Referências:
Dailey, J. 2021. The secrets to a high-functioning “does it all” room. Elle Decor. Disponível                                   em:                  https://www.elledecor.com/design-decorate/interior- designers/a36106915/the-secrets-to-a-high-functioning-does-it-all-room/ (Consultado a 28 de março de 2022)
Ferrão, F. 2020. Hábitos de consumo mudam com a pandemia. Expresso. Disponível em: https://expresso.pt/iniciativaseprodutos/projetos-expresso/2020-12-14-Habitos-de- consumo-mudam-com-a-pandemia (Consultado a 7 de maio de 2022)
May, R. 2021. Pets are helping us cope during the pandemic.National Geographic. Disponível em: https://www.nationalgeographic.com/animals/article/pets-are-helping- us-cope-during-the-pandemic (Consultado a 17 de março de 2022)
Portugueses revelam mudanças de hábitos alimentares devido à pandemia. 2021. Diário de Notícias. Disponível em: https://www.dn.pt/sociedade/portugueses-revelam- mudancas-de-habitos-alimentares-devido-a-pandemia-14227484.html (Consultado a 8 de maio de 2022)
Relatório de Mobilidade da Comunidade. 2022. Google Trends. Disponível em: https://www.gstatic.com/covid19/mobility/2022-05 13_PT_Lisbon_Mobility_Report_pt-PT.pdf (Consultado a 8 de maio de 2022)
Rodrigues, R. 2020. A pandemia como fator radical de mudança. Diário de Notícias. Disponível em: https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/convidados/a-pandemia-como- fator-radical-de-mudanca-12715124.html (Consultado a 8 de maio de 2022)
Sousa, R. 2021. Os efeitos da pandemia no comportamento dos consumidores: temporários ou permanentes. Jornal de Negócios. Disponível: https://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/deans-corner/rui-soucasaux-sousa/detalhe/os- efeitos-da-pandemia-no-comportamento-dos-consumidores-temporarios-ou- permanentes (Consultado a 7 de maio de 2022)
Traverso, V. 2020. How social distancing symbols are changing our cities. BBC. Disponível em: https://www.bbc.com/worklife/article/20200909-how-social-distancing- symbols-are-changing-our-cities (Consultado a 17 de março de 2022)

 

5.3. Estilos de Vida e o Passado que Encoraja.
(Amanda Melo, Luísa Cortés, 2021)

Nas narrativas atuais, a presença do passado ainda é uma constante, e quando em contato com o presente,  ele acaba por ser ressignificado. Portanto, o passado é sempre novo. Essa novidade é construída em função da memória de um mesmo acontecimento que é reconcebida num contexto inédito. Do ponto de vista da psicanálise, a novidade constitui sempre a condição do gozo , portanto, entendendo que “uma das características importantes dos bens de consumo em nossas sociedades é que eles mudam e que nós os trocamos indefinidamente” (Lipovetsky, 2007 p. 67), o passado necessita se apresentar “remodelado” nas narrativas do presente. Para Halbwachs, essa reconstrução do passado opera a partir de dados ou de noções comuns presentes em nós ou nos outros, pois “ela passa incessantemente desses para aquele reciprocamente, o que só é possível se fizeram e continuam a fazer parte de uma mesma sociedade” (Halbwachs, 1990, p. 34).
A pandemia redesenhou o nosso modo de vida e comprometeu a saúde emocional de todos. Segundo o relatório de Tendências para 2021  da Euromonitor International, em uma das tendências listadas, intitulada Rising Above Adversity, fica clara a necessidade das empresas em articularem os seus produtos com narrativas que encorajem, que transmitem resiliência para os consumidores e que também contemplem emoções que os toquem profundamente. Para atingir essa narrativa citada acima, as empresas estão se ancorando mais no passado na procura do que nos dá sentido à vida. 

Reafirmamos aqui a necessidade das empresas compreenderem as narrativas dos seus consumidores para assim refletirem esse discurso nos seus produtos, pois afinal a “excitação e sensações é que são vendidas, e é experiência vivida que se compra, assemelhando-se todo consumidor, mais ou menos, a um ‘colecionador de experiências’” (Lipovetsky, 2007, p. 68). Entendendo que a narrativa atual está ancorada nesse passado com objetivo de buscar o simples e sólido para assim aliviar as tensões atuais que todos vivem, “ninguém pode negar que essas memórias se tornaram uma parte vital da cultura atual com suas experiências e reivindicações tão próprias” (Assmann, 2011, p. 20). A memória do passado é acionada de modo a resolver uma questão do presente, objetivando um futuro diferente, sendo assim, “a memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente” (Nora, 1993, p. 9). Sobre a memória coletiva, Halbwachs nos diz que ela só existe pois somos seres sociais, que em nenhum momento deixou de estar confinado em alguma sociedade (Halbwachs, 1990, pp. 36-37).
Com a pandemia e a necessidade do isolamento social, ao mesmo tempo que as portas das casas se fecharam para a vida lá fora, elas se abriram mais para o mundo digital. “Lives” realizadas nas cozinhas dos artistas, reuniões de trabalho on-line com cada profissional na intimidade da sua casa, professores de diversas áreas necessitando vender as suas aulas pelo meio digital, tudo isso colaborou para tornar a vida privada de cada um uma importante mercadoria comercializada tanto pelas grandes marcas, como por cada indivíduo. Outro sinal onde podemos ver como os estilos de vida também estão a ser vendidos está relacionado com os crescentes canais de streaming que no início transmitiam apenas jogos, mas que agora transmitem toda a rotina das pessoas: cozinhando; estudando; trabalhando. Essa rotina que pode dar rendimentos recebe diariamente mais seguidores. Observamos aqui, que neste nosso mundo cada vez mais líquido (Bauman, 2000), a “venda” desses estilos de vida ganha também uma importante proporção simbólica, na medida que essa venda é entendida como uma aceitação do indivíduo. As pessoas se reconhecem e se comunicam por uma narrativa comum de vida.
Com esta desk research podemos perceber como o passado ainda funciona como âncora para a construção das narrativas atuais que personificam o simbólico em diversos meios: nos espaços físicos; nas nossas roupas; nas mídias; nos produtos e serviços que nos é oferecido. A constatação da modernidade líquida apresentada por Bauman (2001), acentua ainda mais a necessidade desse repositório simbólico como escape para um retrato do presente com ambições de um futuro projetado. A pandemia veio e nos fez questionar a razão de estarmos nesta vida, fazendo-nos buscar nas nossas memórias, exemplos que expressam o que é essencial para estarmos bem. Nesta busca, o simples passa a ser apresentado como uma opção leve para se viver a vida, as memórias do mundo no qual sentimos falta, são a força motriz para as novas histórias que iremos contar daqui por diante. O estilo de vida tratado como mercadoria pode ser observado tanto na relação das narrativas das empresas com os consumidores, como nas narrativas das pessoas com o mundo. Esta “venda” do estilo de vida, que já possuía principalmente uma proporção simbólica de “aceitação”, com a pandemia ganha uma potência real de monetização, atingindo principalmente o mundo digital.

Referências e Fontes:
Assmann, Aleida (2011). Espaços da Recordação: formas e transformações da memória cultural. Campinas: Editora Unicamp.
Bauman, Zygmunt (2001). A Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Editora Zahar.
Halbwachs, Maurice (1990). A Memória Coletiva. São Paulo: Vértice.
Lipovetsky, Gilles (2007). A Felicidade Paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. São Paulo: Companhia das Letras.
Nora, Pierre (1993). “Entre a Memória e a História: A problemática dos lugares”. Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em História e do Departamento de História da PUC-SP. ISSN 0102-4442. Recuperado em: https://pt1lib.org/book/6068518/6b3654

5.4. Saúde e Novos Estilos de Vida.
(Andreia Carneiro,  Caroline Rocha,  Karliete Nunes, 2020)

A depressão e o estresse não são problemas recentes da humanidade, mas se agravam na medida em que o uso de ferramentas tecnológicas passou a ter uma importância central no dia a dia das pessoas. Associadas a isso, temos mudanças nas formas de interação social e no mundo do trabalho, que provocaram o aumento na incidência de doenças psicossomáticas, aliado ao surgimento de novas enfermidades.

Pesquisas recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2020) identificaram que 90% da população mundial é estressada; que a saúde mental afeta um quarto da população europeia; que as formas mais comuns de problemas de saúde mental na União Europeia são distúrbios de ansiedade e depressão.

Um levantamento realizado pela Comissão das Comunidades Europeias (LIVRO VERDE, 2005, p. 4) constatou que mais de 27% dos europeus adultos experimentem pelo menos uma forma de doença mental durante um ano. As formas mais comuns de problemas de saúde mental na UE são distúrbios de ansiedade e depressão. Até o presente ano, espera-se que a depressão seja a causa mais alta de doenças no mundo desenvolvido.

Além disso, até 28% dos trabalhadores na Europa relatam estresse no trabalho. Já a Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional publicou estudo a afirmar que o estresse ocupacional afeta 59% dos trabalhadores em Portugal (JUNQUEIRA, 2017). Em maio de 2019, a OMS anunciou que passou a incluir na lista de doenças o «burnout», estado de esgotamento físico e mental causado pelo exercício de uma atividade profissional.

We Are Social divulga anualmente dados relacionados à exposição da população à internet e às mídias sociais. Na pesquisa mais recente (KEMP, 2020), constatou-se que 4,5 bilhões de pessoas utilizam a internet em todo o mundo; dessas, 3,8 bilhões estão nas mídias sociais. O levantamento verificou ainda que cresce a preocupação das pessoas com a privacidade na rede – quase metade dos usuários da internet utilizam bloqueadores de anúncio pop-up. Diante da massiva exposição aos meios digitais de comunicação, em especial as redes sociais, o programa Dependência de Internet, realizado pelo Hospital das Clínicas de São Paulo, no Brasil, verificou uma estreita relação entre o uso do Facebook e a manifestação de efeitos psicológicos negativos em seus usuários, o aparecimento de sintomas depressivos e o aumento marcante de uma insatisfação pessoal (NABUCO, 2017). O programa realiza atendimento multidisciplinar e acompanhamento de pacientes com dependência tecnológica.

Outro indício de que o mau uso das redes sociais pode causar prejuízos psicológicos é a pesquisa  #StatusOfMind: Social media and Young people’s mental health and wellbeing, realizada pela Royal Society for Public Health. O estudo constatou que redes sociais mais focadas em imagens, como Instagram e Snapchat, são mais prejudiciais ao bem estar e à saúde mental, pois podem gerar sentimentos de ansiedade e inadequação (RSPH, 2017). A instituição sugere, como forma de evitar esses resultados negativos, a aplicação de avisos pop-up quando se faz uso prolongado das mídias sociais, a identificação de utilizadores que podem estar sofrendo de problemas de saúde mental em suas postagens e discretamente indicar apoio e a informação destacada quando imagens forem manipuladas digitalmente. Considerando que a saúde física e mental depende também do ambiente em que se vive, dados da Organização Mundial de Saúde apontam que atualmente 55% da população mundial vive em áreas urbanas (até 2050 esse percentual deve subir para 68%) e que essas regiões ainda sofrem com habitação e transporte inadequados, falta de saneamento, de tratamento adequado de resíduos, além de outras formas de poluição, ruído, contaminação da água e do solo, escassez de espaços para vida ativa (WHO, 2020). Soma-se a isso o fato de que os modos de vida e sistema de produção das cidades urbanizadas são os grandes impulsionadores das mudanças climáticas prejudiciais à saúde do ser humano.

Para fazer frente às necessidades de se buscar formas de vida mais saudáveis e que sejam compatíveis com a crescente urbanização, o Governo de Portugal instituiu políticas públicas para garantia da protecção da saúde mental através de medidas que contribuam para assegurar ou restabelecer o equilíbrio psíquico dos indivíduos, para favorecer o desenvolvimento das capacidades envolvidas na construção da personalidade e para promover a sua integração crítica no meio social (SAÚDE/PORTUGAL, 2016). As medidas incluem ações de prevenção primária, secundária e terciária da doença mental, bem como as que contribuam para a promoção da saúde mental das populações.

A pandemia de coronavírus vem mudando a forma como as pessoas se relacionam, os modelos laborais, de negócios e de controle social pelo Estado. Essas mudanças devem impactar no bem estar e privacidade das pessoas. Já há, inclusive, um movimento em direção ao maior controle sobre a vida e as atividades das pessoas. O argumento é que essas ferramentas de controle visam a garantir a segurança epidemiológica da população (TIDY, 2020).

Reuniões sobre a distribuição de uma identidade padrão global estão a ocorrer desde 2017, a cúpula do ID2020, uma parceria público-privada que está empenhada em promover esse objetivo de desenvolvimento sustentável para 2030, a utilizar tecnologia blockchain. A Accenture e a Microsoft participam como parte deste projeto, apoiado pelas Nações Unidas, para fornecer identificação legal para 1,1 bilhão de pessoas pelo mundo sem documentos oficiais (REUTERS, 2017). O teste para o programa já começou e foi lançado ano passado (2019), na cúpula anual em Nova Iorque, em colaboração com o Governo de Bangladesh, a aliança de vacinas Gavi e outros parceiros, para alavancar a imunização como uma oportunidade de estabelecer identidade digital. A ideia é que esse programa de identidade digital armazene, em um único local, todas as informações referentes ao indivíduo, inclusive as vacinas que ele tiver. Antes da concretização da tecnologia citada acima, países europeus consideram que uma ferramenta tecnológica de rastreamento e de alerta deve ser importante para controlar o vírus quando a população voltar às ruas (LINDE & COLOMÉ, 2020). Espera-se também que durante e após a pandemia, para garantir o acesso à outros países e ter um maior controle, seja necessário a comprovação de uma vacina, assim como a da febre amarela, por exemplo, que já é exigido em  alguns países.

Referências e Fontes:
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
BAUMAN, Zygmunt. O mal estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
DRAGT, Els. How To Research Trends: Move Beyond Trend Watching To Kickstart Innovation. Amsterdam: BIS Publishers, 2017.
HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução; Giachini, Enio Paulo. Petrópolis: Vozes, 2017.
WILLIAMS, Mark; PENMAN, Danny. Mindfulness: an eight-week plan for finding peace in a frantic world. New York: Rodale, 2011
WILLIAMS, Raymond. The Analysis of Culture. In: Cultural Theory and Popular Cultural: A Reader, ed. John Storey, Athens, University of Georgia Press, 1998.
BURT, Chris. ID2020 and partners launch program to provide digital ID with vaccines. Biometricupdate. Publicado em 20 de setembro de 2019. Disponível em https://www.biometricupdate.com/201909/id2020-and-partners-launch-program-to-provide-digital-id-with-vaccines. Último acesso: 15.05.2020.
ID2020. Request for information. Disponível em https://id2020.org/uploads/files/RFI.pdf. Último acesso: 15.05.2020.
JUNQUEIRA, M. O Stress Ocupacional como Fator Principal de Risco Psicossocial. Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional online. 2017, volume 3, 1-3. Disponível em http://www.rpso.pt/stress-ocupacional-fator-principal-risco-psicossocial/ . Último acesso: 27.02.2020.
KEMP, Simon. Digital2020: 3.8 bilion people use social media. Publicado em 30 de janeiro de 2020. Disponível em http://wearesocial.com/digital-2020. Último acesso em 27.02.2020.
LIVRO VERDE. Melhorar a saúde mental da população. Rumo a uma estratégia de saúde mental para a União Europeia. Comissão das Comunidades Europeias, Bruxelas, 14.10.2005. Disponível em https://ec.europa.eu/health/archive/ph_determinants/life_style/mental/green_paper/mental_gp_pt.pdf. Último acesso em 14.05.2020. Último acesso em 27.02.2020.
LINDE, Pablo e COLOMÉ Jordi Pérez. Europa prepara aplicativos de celular para rastrear infectados pelo coronavírus. Publicado em 15 de abril de 2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com/ciencia/2020-04-15/europa-prepara-aplicativos-de-celular-para-rastrear-infectados-pelo-coronavirus.html. Último acesso em 27.02.2020.
NABUCO, Cristiano. Experimento do facebook: quanto mais você usa, menos feliz estará. Púi çicado em 13 de junho de 2017. Disponível em https://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2017/06/13/o-experimento-do-facebook-quanto-mais-voce-usa-menos-feliz-estara/. Último acesso em 27.02.2020.
OMS – Organização Mundial de Saúde. Síndrome de burnout é detalhada em classificação internacional da OMS. Publicado em 29 de maio de 2019. Disponível em https://nacoesunidas.org/sindrome-de-burnout-e-detalhada-em-classificacao-internacional-da-oms/. Último acesso em Último acesso em 27.02.2020.
PORDATA. Base de Dados Portugal Contemporâneo. Índice de bem estar 2004- 2018. Disponível em https://www.pordata.pt/Portugal/%c3%8dndice+de+Bem+Estar-2578. Último acesso em 27.02.2020.
REUTERS. Accenture e Microsoft trabalham em rede de identificação digital.  Publicado em 19 de junho de 2017. Disponível em https://exame.abril.com.br/tecnologia/accenture-e-microsoft-trabalham-em-rede-de-identificacao-digital/. Último acesso em 27.02.2020.
RSPH – Royal Society for Public Health. #StatusOfMind: Social media and Young people’s mental health and wellbeing. Jons Snowhouse, London, May 2017. Disponível em https://www.rsph.org.uk/uploads/assets/uploaded/d125b27c-0b62-41c5-a2c0155a8887cd01.pdf. Último acesso em 27.02.2020.
SAÚDE/PORTUGAL. Despacho n.º 6401/2016. Disponível em https://dre.pt/application/file/74443337 . Último acesso em 27.02.2020.
TIDY, Joe. Coronavírus leva governo de Israel a se dar ‘poderes especiais’ de espionagem. Publicado em 18 de março de 2020. Disponível em https://www.bbc.com/portuguese/amp/geral-51938946. Último acesso em 27.02.2020.
WHO – World Health Organization. Urban Health, 2020. Disponível em https://www.who.int/health-topics/urban-healthÚltimo acesso em 27.02.2020.

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Capítulo 6

6.1. Novos contextos colaborativos
(Vanja Favetta, 2022)

Juntando e cruzando dados de diferentes fontes e proveniências, este capítulo tem como objetivo estabelecer o panorama contextual no qual o tema se desenvolve. O ponto de partida do trabalho é o relatório de tendências socioculturais de 2021 “A transição dos colectivos”, do Laboratório de Gestão de Tendências e da Cultura da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1), e as suas conclusões relativamente à microtendência “Organismos Colaborativos Urbanos” e à macrotendência “Sistemas Sustentáveis”, na qual a primeira se enquadra. À distância de um ano, pretende-se dar uma nova perspectiva sobre a microtendência em foco, à luz do renovado contexto social, económico, político, etc. Nesta fase pretende-se, também, identificar insights preliminares, que serão melhor desenvolvidos nas etapas sucessivas do trabalho.
Para estes efeitos, é oportuno começar a olhar para o contexto sócio-económico a nível global, com especial atenção a questões relacionadas com a macrotendência em questão, para estabelecer um primeiro quadro conceptual, que define as balizas da pesquisa e endereça a análise posterior. Nos últimos anos, a pandemia foi o evento que mais impactou o nosso quotidiano e as condições de vida das pessoas em escala mundial, tendo sido o PIB per-capita da população mundial severamente afetado (2), assim como aumentaram as desigualdades entre ricos e pobres (3). A nível climático ascende a 771 milhões o número de pessoas com escasso ou nenhum acesso à água potável (dados Unicef, Julho 2021) (4), enquanto que, segundo um artigo de 2019 na National Geographic (5), ascende a 2 bilhões o número de pessoas que vive em áreas vulneráveis à desertificação e que poderia causar a deslocação de 50 milhões de pessoas até 2030. Enquanto que a maioria dos países ocidentais saíram da emergência da COVID-19, a guerra entre Rússia e Ucrânia, com seus efeitos tangíveis nas economias de todo o mundo, juntamente com os maiores níveis de inflação das últimas décadas, contribuíram a definir uma situação extremamente instável a nível global, em que o estado de crise se tornou a norma.
Estas problemáticas não passam despercebidas, pois, dum lado instituições supranacionais começaram a implementar planos de sustentabilidade no topo das próprias agendas, como testemunha o “Plano Estratégico da UE 2021-2024”, que põe em segundo lugar a “Restauração dos Ecossistemas e Biodiversidade da Europa, e gestão sustentável dos recursos naturais” (6)1, enquanto que uma sondagem do Eurobarometer evidencia como as três principais preocupações do momento atual pela juventude europeia sejam [1] o combate à pobreza e às desigualdades, [2] o combate à mudança climática e a proteção do ambiente e o combate ao desemprego e à falta de emprego (7) (Quadro 1). No campo do trabalho, 89% das pequenas e médias empresas europeias, que representam 99% do total das empresas, afirma ter tomado algum tipo de medida para tornar-se mais eficiente em termos de recursos (8).
Esta sensibilização generalizada para com os problemas da contemporaneidade, os relacionados com o ambiente em específico, parece refletir-se numa consciencialização individual, uma vez que outra sondagem do Eurobarometer de Dezembro 2019, sobre as atitudes dos europeus para com o ambiente, evidencia como, segundo eles, a maneira mais eficaz de combater os problemas ambientais seja “mudar a maneira como consumimos” e “mudar a maneira como produzimos e trocamos bens” (9). A pandemia, com a paragem forçada dos confinamentos e a rápida regeneração do ambiente naqueles períodos, acelerou o processo de consciencialização individual sobre a interconexão entre atividades humanas e Planeta Terra e a vontade de mudança de estilos de vida em sentido sustentável como um todo.
Esta vontade de mudança parece ser procurada e já estar em ato a todos os níveis da sociedade. O programa “URBACT”, a nível europeu (10), e a “Rede DLBC Lisboa” (11), no contexto lisboeta, testemunham o empenho das instituições para com a regeneração das cidades, enquanto que livres associações de indivíduos parecem estar a juntar forças com as mesmas no mesmo sentido, como observado em Nápoles, com o projeto “Rigenera Napoli”, de 2021/2022 (12). Relativamente às marcas, o report de tendências da agência “Trend Hunter”de 2022 sublinha como as pessoas procurem cada vez mais elementos sustentáveis nos brands que consumam (13, pag. 41), enquanto que, no campo do trabalho, a célebre revista Time, num artigo de Agosto de 2021, evidenciou a mudança em ato neste paradigma, na direção de um modelo híbrido entre trabalho remoto e presencial (14).
Outros lugares que assinalam vontade de mudança nos estilos de vida, altamente falados nos últimos anos, são os chamados “co-works”, espaços que propiciam lugares de trabalho compartilhados, onde frequentemente têm lugar eventos e atividades de vários tipos, não necessariamente ligadas ao trabalho. Segundo o “Statista”, o número destes espaços a nível global tem aumentado de cerca de 40% de 2018 para 2021 (Quadro 2), tendo o fenómeno como um todo, depois de uma óbvia paragem em 2020, voltado a crescer muito em tempos recentes, mostrando-se extremamente resiliente às dificuldades (15), como testemunha também o número de pesquisas da palavra “cowork” no Google, que voltou aos níveis pré-pandemia. Por norma, são espaços vivos e de criação, que favorecem a colaboração entre setores diferentes e atuam em sentido regenerativo (16; 17, pp. 61-75). Ainda, contribuem à mudança dos bairros/realidades em que estão inseridos e espalham a cultura colaborativa (18), favorecendo a criação de comunidades (19) e o co-aprendimento formal e informal (20), procurando frequentemente soluções criativas para os problemas mais próximos e atuais. De particular interesse é um dado levantado por uma sondagem sobre espaços de co-work de 2021-2022 da revista DeskMag (19): as mulheres teriam uma experiência diferente dos homens nos co-works, valorizando mais o aspecto colaborativo e tirando disso mais benefícios, conseguindo mais investidores do que em ambientes de trabalho “tradicionais”. Este dado confere ainda mais tração ao fenómeno como um todo. Ele já não é exclusivo dos grandes centros urbanos: o espaço “Daftarkhwan” assinala que o mercado do coworking cresceu muito no Paquistão durante a pandemia (21) e grandes hubs em países do Sul do mundo, como o “iHub Nairobi” (22) e o “Co-Creation Hub” (23), na Nigéria, têm assumido proporções importantes a nível internacional. Ainda, a pesquisa da própria palavra “hub” no Google, em lento mas constante crescimento nos últimos 5 anos, resulta ser maior em países do Sul do mundo (Quadro 4). Para além disso, nota-se como o coworking esteja a ser suportado e financiado de forma crescente por grandes empresas (14; 18; 24) e por instituições, inclusive em Portugal (25).
Todos estes dados apontam no sentido de uma vontade generalizada de mudança em sentido sustentável. Perante condições de vida em escala global crescentemente precárias e níveis de confiança nas instituições historicamente baixos, um número sempre maior de indivíduos, empresas e instituições escolhem agir em conjunto. Segundo uma sondagem da “Ipsos” de 2021, globalmente, um terço das pessoas acham que as suas comunidades locais tornaram-se mais fortes e solidárias depois da pandemia (26), enquanto que a pesquisa da palavra colaboração no Google atingiu novos picos desde 2021. Ainda, estima-se que a economia compartilhada (sharing economy) aumente em valor de 14 bilhões em 2014 para 335 bilhões em 2025 (27). Algumas grandes empresas começaram a estabelecer colaborações com grupos de ativistas para programas de desenvolvimento de produtos, campanhas estratégicas e mais (28) e, segundo outra sondagem da Eurobarometer, o 26% das pequenas e médias empresas afirma que uma maior cooperação entre empresas de setores diferentes ajudaria a transição ecológica, sobretudo a fim de dar nova vida a materiais e produtos (29).

Fontes e Referências:
(1) Laboratório de Gestão de Tendências e da Cultura da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. (2021). Tendências Socioculturais #2021. A transição dos Coletivos. Retirado de: https://creativecultures.letras.ulisboa.pt/index.php/gtc-trends2021/#a18bd76c4015261c1
(2) Douglas, J. & Barnett, A. (2022,, Janeiro 14). Covid-19 Has Widened the Gap Between Rich and Poor The Wall Street Journal. Retirado de: https://www.wsj.com/articles/how-covid-19-has-widened-the-gap-between-rich-and-poor-cou ntries-1164215620
(3) Chancel, L., Piketty, T., Saez, E., Zucman, G. et al. (2022). World Inequality Report 2022. Retirado de: https://wir2022.wid.world/
(4) https://data.unicef.org/topic/water-and-sanitation/drinking-water/ [consultado a 03-06-22].
(5) Nunez, (2019, Maio 31). Desertification, explained. National Geographic. Retirado de: https://www.nationalgeographic.com/environment/article/desertification
(6) European Commission. (2021). Horizon Europe Strategic Plan (2021 – 2024). Luxembourg: Publications Office of the European Retirado de: https://ec.europa.eu/info/sites/default/files/research_and_innovation/funding/documents/ec_rt d_horizon-europe-strategic-plan-2021-24.pdf
(7) (Outubro 2021). Youth Survey 2021. Retirado de: https://europa.eu/eurobarometer/surveys/detail/2574
(8) (Julho 2021). Climate Change. Retirado de: https://europa.eu/eurobarometer/surveys/detail/2273
(9) (Março 2020). Attitudes of Europeans towards the Environment. Retirado de: https://europa.eu/eurobarometer/surveys/detail/2257
(10) URBACT: https://urbact.eu/
(11) Rede DLBC Lisboa: https://rededlbclisboa.pt/
(12) Redazione Napoli (2021, Novembro 9). “Rigenera Napoli”: partono i primi due progetti di rigenerazione urbana. Napoli Today. Retirado de: https://www.napolitoday.it/attualita/rigenera-napoli-progetti.html
(
13) Trend (2022). 2022 Trend Report. The Roaring 20’s Are Coming Back. Retirado de: https://www.trendhunter.com/trends/2022-trend-report-research
(14) Nguyen, M. (2021, Agosto 21). Research Shows Working From Home Doesn’t Here’s How Employers Should Tackle the Problem. Time. Retirado de: https://time.com/6088110/remote-work-structured-hybrid-research/
(15) Mayerhoffer, M. (2021), The impact of Covid-19 on coworking spaces: evidence from Journal of Corporate Real Estate, 23(3), pp. 170-185. DOI: https://doi.org/10.1108/JCRE
(16) Toivonen, T., Hecker, M., Weiermann, L. (2022). Designing New Spaces of Creativity for the Regenerative City. University of the Arts London.
(17) Buonocore, F. & de Gennaro, D & Romanelli, M. (2020). Collaborative spaces for urban regeneration. The case of Complesso di Santa Caterina a Formiello in Naples. In Montanari, F & Mattarelli, E. & Scapolan, A. C. Collaborative Spaces at Work (Capítulo 3: 61-75). London: Routledge.
(18) Roussell, P. (2022, Abril 25). Key Learnings From Visiting Over 430 Coworking Desk          Mag.                          Retirado                    de: https://www.deskmag.com/en/coworking-spaces/key-learnings-from-visiting-over-430-cowor king-spaces
(19) (2021).    2021-2022    Co-working Space Trends. Retirado de: https://www.deskmag.com/en/coworking-news/2022-results-of-the-coworking-space-busines s-trends-survey
(20) Comunian, & Jacobi, S. (2020). Growing collaborative creative learning spaces. In Montanari, F & Mattarelli, E. & Scapolan, A. C. Collaborative Spaces at Work (Capítulo 16: pp. 266-280). London: Routledge. https://www.taylorfrancis.com/chapters/edit/10.4324/9780429329425-20/growing-collaborati ve-creative-learning-spaces-roberta-comunian-silvie-jacobi
(21) (2021, Junho 25). Coworking through the pandemic. Medium. Retirado                                                                                                                                    de: https://daftarkhwan.medium.com/coworking-through-the-pandemic-d29578ac0fce
(22) iHub: https://ihub.co.ke/
(23) Co-Creation Hub Nigeria: https://cchubnigeria.com/
(24) Fintech House Lisboa: https://www.thefintechhouse.com/
(25) Mais (2021, Fevereiro 24). Lagos | Câmara e (A)GARRA juntas na dinamização do novo   Espaço   Cowork.    Mais             Algarve. Retirado      de: https://maisalgarve.pt/noticias/regionais/24559-lagos-camara-e-a-garra-juntas-na-dinamizaca o-do-novo-espaco-cowork
(26) Beaver, (2021, Março 2). Loneliness on the increase worldwide, but an increase in local community support. Ipsos. Retirado de: https://www.ipsos.com/en/loneliness-increase-worldwide-increase-local-community-support
(27) Trend (2022, Março). Swapportunities. Get people talking with barter-based initiatives.                          Issue             n°             13.             Retirado             de: https://www.trendwatching.com/make-shift/swapportunities
(28) Trend (2022, Abril/Maio). Counsel Culture. Brands work with collectives for greater accountability. Issue n° 14. Retirado de: https://www.trendwatching.com/make-shift/counsel-culture
(29) (Março 2022). SMEs, resource efficiency and green markets. Retirado de: https://europa.eu/eurobarometer/surveys/detail/2287

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6.2. Da criação ao movimento maker
(Margarida da Costa, 2022)

Utilizando as palavras de pesquisa “cooperativas + criativas” no motor de pesquisa Google, foram obtidos 2910000 resultados. De entre estes, destacam-se o website da Cooperativa QRER1, uma incubadora de indústrias culturais e criativas no interior do Algarve, o website2 do governo dos Açores dedicado ao Centro de Artesanato e Design dos Açores, que promoveu residências criativas, e o website3 do projeto Youth Coop, uma cooperativa que tem como objetivo promover o trabalho técnico de juventude, capacitando os jovens.

Pesquisando através das palavras “criação+comunitária”, foram obtidos 12700000 de resultados. Entre os quais, destacam-se a formação em “Criação Artística Comunitária”4, facilitada pelo projeto Pele, sendo que a maior parte dos resultados obtidos são conteúdos noticiosos. Destaca-se também o artigo5 Parcerias e coligações comunitárias: Potencialidades e desafios na criação de respostas articuladas, produzido por membros do ISPA.

Utilizando as palavras “projetos+economias+circulares”, foram obtidos 9700000 resultados. De entre estes, destacam-se o projeto (Des)Construir para a Economia Circular6, promovido pela EEA Grants, uma lista7 de projetos assentes em economia circular, elaborada pelo projeto Zero Desperdício, e o Projeto Amadora…rumo à economia circular8, que assenta na criação de um jogo e uma aplicação móvel, subordinados à temática “Produção e consumo sustentáveis”. Em termos académicos, destacam-se os artigos científicos Princípios de economia circular para o desenvolvimento de produtos em arranjos produtivos locais9, Cidades Sustentáveis: Cenas etnográficas sobre experiências autônomas de economia circular10 e A economia circular na indústria portuguesa de pasta, papel e cartão11.

Por fim, foram utilizadas as palavras de pesquisa “sustentabilidade + cultura”, que obtiveram 39200000 resultados. Entre estes, a maior parte é composta por conteúdos noticiosos. No entanto, destacam-se os seguintes artigos científicos: A Sustentabilidade Cultural no âmbito das políticas de Desenvolvimento Sustentável da União Europeia: o papel da cultura nas distinções da Capital Verde Europeia12, Sustentabilidade, cultura e comunicação: triplo desafio para as organizações13, Gestão criativa: em busca da sustentabilidade organizacional14 e A importância do turismo criativo para a sustentabilidade da atividade turística nas grandes cidades: O exemplo de Barcelona para o estudo de caso de Lisboa15. Adicionalmente, destaca-se o website16 do GreenFest, um festival de sustentabilidade português que, em 2022, conta com a sua 15ª edição.

Finalmente, tendo por base as palavras “cooperativa+cultural”, foram obtidos 26500000 resultados, sendo que a maioria é relativo aos websites de cooperativas portuguesas. Destacam-se a Cooperativa POST17, fundada em 2010, que tem como objetivo “reinventar a relação das comunidades com os recursos disponíveis, usando as artes e a cultura cooperativa e visionária como fontes de energia”, a Kilig18, uma cooperativa criada em 2019, que foca o seu trabalho na criação e produção artísticas e a Sons Vadios – Cooperativa Cultural19, dedicada à edição e promoção de música portuguesa.

1 Cooperativa QRER
2 Residências Criativas – Centro de Artesanato e Design dos Açores
3 Youth Coop
4 Criação Artística Comunitária | Projetos em curso | Pele Associação Social e Cultural
5 Parcerias e coligações comunitárias: Potencialidades e desafios na criação de respostas articuladas
6 (Des)construir para a Economia Circular
7 Projetos de economia circular
8 Projeto Amadora…rumo à economia circular
9 Princípios de economia circular para o desenvolvimento de produtos em arranjos produtivos locais
10 Cidades Sustentáveis: Cenas etnográficas sobre experiências autônomas de economia circular | ILUMINURAS
11 RUN: A economia circular na indústria portuguesa de pasta, papel e cartão

 

6.3. A lei do mínimo e o desafio da ilha coletiva
(Priscila Altivo, 2022)

O período é chamado “pós pandemia”, apesar de sabermos que a COVID-19 ainda é presente e entre novas variantes e variáveis da doença, sua maneira de afetar os organismos tanto fisiológico quantos sociais se modificou desde a sua primeira onda até as campanhas de imunização e finalmente a “ pós pandemia”.
A estafa coletiva é real e as consequências do isolamento inesperado começam a aparecer de maneira mais acentuada. A necessidade de continuar a viver e se preocupar com questões que afetam os indivíduos socialmente. Ainda quando é preciso se exilar, causa uma certa confusão em como podemos assumir responsabilidade ativa tanto no âmbito individual, quanto no comunitário.
A setorização imposta pela pandemia também manteve em voga as dificuldades em âmbito individual e também colocou sob rasura[1] o conceito real da palavra empatia, considerando que a generalização da sua necessidade sem precedentes, já que a vulnerabilidade também foi generalizada, assim como também destrincha o significado das identidades individualizadas pós modernas previstas por Bauman (2001) que se assumem de maneira que uma falta da possibilidades de projeção de uma planificação de vida ou mesmo de como será o futuro e que portanto se clarifica na responsabilidade política e posicional dos indivíduos que ditam suas rotas e também as consequências de suas ações. Tais perspectivas se inflamam ainda mais após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, quando toda União Européia se mobiliza em uma solidariedade de acolhimento e empatia seletiva de maneira generosa aos refugiados ucranianos. Vemos aqui que enquanto tenta-se cobrir o desfalque aniquilador moral de pessoas que perdem seu espaço natal os acolhendo e os dando possibilidades de sobrevivência, se descobre o fato de que isso podia ser feito também a outros refugiados fora do território ocidental.
O tema sustentabilidade já está presente na sociedade moderna há algumas décadas principalmente aliado à responsabilidade social em torno da questão ambiental. Para Dias (2011), essa responsabilidade se tornou tanto das organizações do setor privado ou público nas décadas de 80 e 90, sendo expressas em rotinas que vão além de ações espontâneas, mas que necessitam de legislação.
Ao passo que a responsabilidade coletiva atinge organiza campanhas para descarte consciente de luvas, máscaras e materiais de alto índice de contaminação da COVID – 19 pelos profissionais da saúde e recicladores, como é o caso da campanha “Responsabilidade Coletiva – O resíduo não usa máscara”, da Célula da Universidade de Passo Fundo (UPF), também nos deparamos com os resultados da degradação ambiental cumulativa impulsionada pelo sistema capital com o processo industrial global, visíveis como por exemplo pela primeira vez, cientistas encontraram vestígios de microplásticos nos pulmões de seres humanos vivos (Observador, 2022).
O resultado da primeira etapa do isolamento da pandemia pode ter reduzido temporariamente, mas consideravelmente as emissões de gases e monóxido de carbono pela diminuição da produção industrial e circulação de veículos em 2020, mas os números voltaram a ser alarmantes dada a tentativa de retomada econômica e portanto, não houve melhora. De acordo com relatório emitido pela ONU em setembro de 2021, os desafios globais ligados à degradação ambiental configuram o maior teste comum desde a Segunda Guerra Mundial (ONU, 2021).
No ano em que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) completa 50 anos desde a primeira Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano em aconteceu a reunião sediada em Estocolmo, em junho de 2022, foi defendido a união de esforços em nível mundial e uma junção das agendas para se achar soluções aos desafios do meio ambiente que efetivamente debilita avanços nos direitos humanos e portanto deve ser remediado não apenas em seu viés ambiental, mas como também econômico e social e com foco especial nos avanços tecnológicos (ONU, 2021).
Levando em consideração este contexto, a ênfase em desenvolvimento sustentável em 2021 foi para ESG (Environmental, Social and Governance) fator essencial criado pelas empresas frente aos problemas da sociedade moderna e reflete o comprometimento com essas questões não apenas pelas empresas, mas de seus investidores e colaboradores (TOTVS, 2021).
As transformações digitais impulsionadas pela pandemia também ganham campo neste cenário, apontando o trabalho remoto e híbrido como uma nova tendência sustentável. Segundo Gabriel Coimbra do IDC FutureScape Worldwide & Portuguese Future Enterprise Predictions “42% das organizações já tinham uma estratégia corporativa de transformações digital no passado, mas os números cresceram agora para 53%.” Ou seja, “mais metade das organizações já tem uma estratégia de transformação digital, valor que pode chegar aos 55% no final de 2024” (IDC, 2022).

Referências:
BAUMAN, Z. 2001. Modernidade líquida. Rio de Janeiro : J. Zahar.
Computerwolrd, 2022.Estudo Google revela que Sustentabilidade tornou-se prioridade número um das empresas https://www.computerworld.com.pt/2022/04/14/estudo-goole-revela-que-sustentabilidade-tornou-se-prioridade-numero-um-das-empresas/ Acesso: 15/06/2022
DIAS, R. (2011). Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade (2a ed.). São Paulo: Atlas.
Directions.pt, 2022. IDC Futurescape Worldwide&Portuguese Future Enterprise Predictions
https://directions.pt/future-enterprise/idc-futurescape-worldwide-portuguese-future-enterprise-predictions-idc-portugal-2022-03-11/ Acesso: 15/06/2022
GOMES, J.F, 2022. Os microplásticos encontrados nos pulmões humanos e as pandemias futuras que o aquecimento global pode acelerar https://observador.pt/newsletters/nao-imprima-esta-newsletter/os-microplasticos-encontrados-nos-pulmoes-humanos-e-as-pandemias-futuras-que-o-aquecimento-global-pode-acelerar/ Acesso: 12/06/2022
HALL, S. Quem precisa da identidade? In: SILVA, T. T. (Org. e Trad.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 103-133.
Nações Unidas Brasil, 2022. Relatório da ONU, “Nossa Agenda Comum”, propõe resposta integrada aos desafios globais ONU Programa para Meio Ambiente, 2022.2022: meio ambiente em modo de emergência https://www.unep.org/pt-br/noticias-e-reportagens/reportagem/2022-meio-ambiente-em-modo-de-emergencia Acesso: 14/06/2022
https://brasil.un.org/pt-br/143884-relatorio-da-onu-nossa-agenda-comum-propoe-resposta-integrada-aos-desafios-globais Acesso: 14/06/2022
ONU Programa para Meio Ambiente, 2022.2022: meio ambiente em modo de emergência https://www.unep.org/pt-br/noticias-e-reportagens/reportagem/2022-meio-ambiente-em-modo-de-emergencia Acesso: 14/06/2022
Parlamento Europeu – Fichas temáticas sobre a União Européia.Consumo e produção sustentáveis https://www.europarl.europa.eu/factsheets/pt/sheet/77/consumo-e-producao-sustentaveis Acesso: 12/06/2022
TOTVS, 2021.ESG: Conceito, como funciona e principais caraterísticas https://www.totvs.com/blog/business-perfomance/esg/ Acesso: 15/06/2022
UPF,2021.Campanha “Responsabilidade Coletiva – O resíduo não usa máscara” tem continuidade em 2021 https://www.upf.br/FAC/noticia/campanha-responsabilidade-coletiva Acesso: 12/06/2022

[1] Conceito atribuído por Stuart Hall para a ação de colocar certos aspectos ou termos em suspensão, ou seja devem ser repensados em sua estrutura sistêmica a partir de sua resignificação e contextos socio económicos, influenciando assim debates argumentativos e críticos sobre seu cerne.

 

6.4. Da criação ao movimento maker
(Julia Rocha, Ni Min, 2021)

Making is fundamental to what it means to be human. We must make, create, and express ourselves to feel whole. There is something unique about making physical things. Things we make are like little pieces of us and seem to embody portions of our soul. (Hatch, 2014, p. 11)

Segundo Ihde & Malafouris (2019, pp. 195-200), os seres humanos são fabricantes autoconscientes que enxergam o seu envolvimento criativo com o mundo material como um meio de moldar e expandir as suas mentes e corpos, ao contrário de outros animais, que criam e manipulam ferramentas para fins predominantemente utilitários. Essa característica essencialmente humana foi o que nos permitiu recriar, mudar e adaptar as condições de nossa própria existência, de forma a não só permitir a nossa evolução, como também a dar significado para nossas vidas, já que, de acordo com Hatch (2014, p. 11), a criatividade, ou seja, o ato de criar e produzir algo é fundamental para dar sentido ao que chamamos de “ser humano”.

Segundo Anderson (2012, p. 13), o ser humano já nasce “maker”, ou seja, somos criadores e inventores por natureza e isso é fácil de se observar nas crianças, que crescem fascinadas por qualquer brincadeira que estimule sua imaginação e criatividade, como desenhar, montar blocos e realizar outros trabalhos manuais. Ao longo do tempo, no entanto, fomos deixando o nosso lado inato como “inventores” e “criadores” de lado durante a fase adulta, estimulando-o na maioria das vezes somente através de hobbies, como cozinhar, fazer jardinagem, tricô, pintura, desmontar e consertar objetos em casa, entre outros.

Uma das explicações possíveis acerca do motivo que fez o homem moderno se afastar de seu lado “criador” e “inventor” foi a crescente implementação, graças às Revoluções Industriais, de um sistema de divisão ou especialização de trabalho ao qual o trabalhador urbano se adaptou nos últimos séculos. Segundo a análise realizada por Kish & Quilley (2020, pp. 28-29) sobre o conceito de “alienação do trabalho” de Karl Marx (1844), o modelo capitalista de produção, ao maximizar os lucros, acaba por “desumanizar” o trabalhador ao fazê-lo se especializar e dominar uma função específica, alienando-o em relação ao processo completo de produção do produto. Dessa forma, a especialização transforma o trabalhador em uma simples “mão-de-obra” ou uma “máquina”, negando-o, segundo Marx (1844, como citado em Kish & Quilley, 2020, pp. 28-29), a possibilidade de ser criativo durante o seu trabalho, além de fazê-lo perder a propriedade do que se é produzido. Como resultado, a atividade de trabalho perde também “significado”, faltando um senso de propósito que vá além da obtenção de um ordenado ao fim do mês. Esse processo torna o ser humano insatisfeito, já que ele se sente incapaz de expressar sua criatividade natural, forçando-o a buscar outras formas de satisfação pessoal fora do ambiente de trabalho, como através do lazer e do consumo exacerbado.

No entanto, nos últimos anos, esse contexto começou a mudar. O desenvolvimento da tecnologia e a crescente digitalização dos processos de “design” e “planejamento” não só barateou os custos de produção, como facilitou o compartilhamento de projetos, que agora podem ser executados tanto em menor quanto em maior escala dentro de uma simples oficina. Segundo Anderson (2012, pp. 25-26), a manufatura para fins comerciais em todo o mundo se tornou digital, em rede e aberta, podendo funcionar em qualquer escala, de unidades a milhões. Produzir um produto customizado e em pequenos lotes agora também tem um custo viável e, qualquer pessoa, independentemente de onde ela esteja, pode dar início a uma produção industrial apenas com um “clique” do computador pessoal, o que permitiu que o trabalhador comum pudesse ter o controle sobre o processo de criação e meios de produção em suas mãos, sem precisar se submeter a nenhum dono de fábrica.

Desse contexto, então, nasce o “Movimento Maker”, cujo objetivo principal é resgatar o lado “criador” e “inventor” do ser humano em sua jornada de trabalho, permitindo que ele possa também executar as suas ideias. De acordo com Dougherty (2013, p. 7), o propósito deste movimento, que dá origem à macrotendência das manufaturas culturais, é trazer o retorno do “experimental play”, ou seja, da “brincadeira experimental”, que permite que o ser humano “brinque” com a tecnologia e os objetos, de modo a não só entender melhor como funcionam, mas a também experimentar maneiras diferentes de fazê-los funcionar. É, inclusive, através desse comportamento de “exploração” das coisas, independentemente de ser uma impressora 3D ou um drone autônomo, que surgem ideias novas que podem levar tanto a novas aplicações em produtos quanto a novos empreendimentos. Ou seja, para Dougherty, o processo do “fazer” estimulado pelo movimento Maker é uma importante fonte de inovação para o mercado, sendo considerado também por Anderson (2012, pp. 17-20) como o “motor” da mais nova revolução industrial. Dougherty (2013, p. 8) também salienta que os chamados “makers” são “como artistas, motivados principalmente por objetivos internos” e “não por prêmios externos”, o que resume a busca do grupo por um trabalho de valor simbólico, que não tenha como objetivo primário a geração de lucro ou riqueza material, invertendo, dessa forma, a lógica da produção manufatureira promovida pelo sistema capitalista. O autor também ressalta que os “makers” procuram ainda, enquanto grupo, encontrar um meio alternativo de se tornarem consumidores, de forma a não serem definidos por aquilo que compram e consomem, mas sim por aquilo que criam, produzem e consomem. Nesse contexto, a necessidade de promover uma mudança de mentalidade é inerente ao movimento, já que o grupo tem urgência em transformar o presente, aproveitando as oportunidades que surgem para “criar” e “fazer” algo que promova um impacto positivo na sociedade atual. É por isso que, ainda segundo Dougherty (2016, p. 143), o “maker” acredita que a sua experiência enquanto criador e produtor e, consequentemente, as ideias que surgem dessa experiência, podem mudar o mundo de forma pequena, mas significativa. E é exatamente através do intenso envolvimento com o processo criativo, além do compartilhamento e desenvolvimento de ideias e projetos com outras pessoas, que suas vidas ganham significado e propósito, já que os “makers” se sentem livres e no controle do que querem fazer, sem medo de falharem ou serem julgados, como poderia acontecer se estivessem fazendo o mesmo dentro de uma fábrica ou empresa.

Sendo assim, de acordo com o “Manifesto do Movimento Maker”, criado por Hatch (2014, pp. 11-32), existem alguns princípios ou “regras” que estão presentes na mentalidade e nas atitudes dos “makers”, são eles: “fazer” (criar, colocar as mãos na massa para executar uma ideia); “partilhar” (compartilhar as ideias e possíveis métodos de executá-las com outros makers); “dar” (entregar a sua criação para os outros, como um presente); “aprender” (ter curiosidade e determinação de estar sempre buscando aprender métodos novos e/ou aprimorar o que já se tem de conhecimento); “equipar” (investir e/ou desenvolver todas as ferramentas que sejam necessárias para executar as criações); “brincar” (se divertir ao “fazer”, explorando e descobrindo novas formas de criar e produzir); “participar” (integrar e contribuir com a comunidade de “makers”); “dar suporte” (fazer o possível para ajudar a comunidade local de makers, buscando o apoio de governos e empresas, se for preciso) e “mudar” (abraçar a transformação que ocorrerá em si próprio através do envolvimento no Movimento Maker).  Existem muitos locais onde pessoas com a mentalidade “maker” podem ser encontradas. Segundo Dougherty & Conrad (2016, p. 62), o Movimento Maker tem propiciado o surgimento de espaços comunitários que funcionam como oficinas, onde há o compartilhamento a um baixo custo das ferramentas necessárias para a execução de ideias e produtos (como impressoras 3D, cortadoras a laser, ferros de soldar, máquinas de costura, entre diversos outros materiais), “democratizando” ou tornando acessível, dessa maneira, o processo “manufatureiro” para qualquer pessoa. Esses espaços são chamados pelos “makers”, de forma genérica, de “makerspaces” e podem existir tanto com quanto sem fins lucrativos em locais públicos ou privados, como espaços comerciais, escolas, universidades e até dentro de empresas.  Alguns tipos de “makerspaces” são mais conhecidos, como os “hackerspaces” (espaço para “programadores” e outras pessoas da área da Tecnologia da Informação terem acesso a ferramentas de fabricação de circuitos eletrônicos, prototipagem física, entre outros) ou os “fab labs” (uma rede de “laboratórios de fabricação digital”, que fornecem uma quantidade de ferramentas, materiais e tecnologia avançada que permitem aos “makers” produzirem quase qualquer coisa que imaginarem). No entanto, segundo Dougherty & Conrad (2016, p. 62), o nome do espaço não é tão relevante, já que o mais importante é que ele tenha como proposta principal o fornecimento de um ambiente que torne possível a colaboração entre pessoas com o mindset “maker” para a criação e produção de novos projetos.

Dessa forma, podem existir uma variedade imensa de makerspaces. Os autores Dougherty & Conrad (2016, p. 63) citam, como exemplo, cinco tipos diferentes e mais comuns de makerspaces, são eles: espaços locais orgânicos, iniciados por uma equipe pequena de fundadores; espaços comunitários que formam uma organização sem fins lucrativos; associações com fins lucrativos, organizadas como um negócio que busca fornecer ferramentas e treinamentos aos “makers”; laboratórios de desenvolvimento colaborativo, financiados por instituições como universidades ou empresas; espaços públicos e normalmente gratuitos, criados por museus, escolas e bibliotecas.

De acordo com o relatório da National League of Cities (2016, p. 1), existiam em 2016 pelo menos 2000 makerspaces espalhados pelo mundo. Na Europa, de acordo com o relatório da Joint Research Centre, também de 2016 (p. 14), foram mapeados 826 makerspaces, sendo 53% deles localizados somente na França, Alemanha e Itália, e 3,5% deles (p. 54) em Portugal, onde foram encontrados um total de 29 makerspaces. Já no Brasil, segundo o relatório do Facebook (2020, p. 23), a “Cultura Maker” foi um dos assuntos mais comentados na rede social entre janeiro de 2018 e junho de 2019, tendo crescido em torno de 60% em menções de um ano para o outro.

Segundo outra pesquisa mais recente realizada pela Pop Machina (2020) em países da União Europeia para entender o quão conhecido é o conceito por trás das manufaturas culturais hoje, foi descoberto que, de uma amostra (p. 19) de 6420 pessoas entrevistadas em 28 países, somente 17,93% e 19,17% (p. 21) tinham familiaridade, respectivamente, com os termos “movimento maker” e “makerspaces”, o que se assemelha à porcentagem de 17,94% relativa à quantidade de pessoas da amostra que já tiveram experiência prévia com o movimento.

Considerando as características individuais da porcentagem de pessoas (17,94%) que afirmaram já terem participado do “Movimento Maker” (consultar Tabela 1 na seção “Tabelas”, depois das “Referências”), é interessante notar que não há uma diferença demográfica muito clara entre elas, o que poderia comprovar a teoria de que o lado “criador” e “inventor” é uma característica inata do ser humano e que gênero, idade e até mesmo nível de escolaridade não é um impeditivo para as pessoas se interessarem a participar de atividades relativas às manufaturas culturais.

Quando consideramos as razões pelas quais os respondentes decidiram participar de um makerspace (consultar a Tabela 2 na seção “Tabelas”), também se confirma que a busca por “criar” ou “fazer”, “aprender” e “participar” presentes no “Manifesto do Movimento Maker” (Hatch, 2014, pp. 11-32) são as principais motivações para fazer parte do movimento, já que “Aprender habilidades novas”, “Desenvolver ideias” e “Encontrar indivíduos com interesses em comum” foram as principais respostas.

Segundo Wolf & Navarro (2017), estimular a cultura maker nas escolas é essencial para melhorarmos não só a capacidade de aprendizado de crianças e jovens, mas também para expandirmos a mentalidade “criadora” e “inventora” do movimento, permitindo, desse modo, que mais adultos se tornem “makers” e, consequentemente, surja um número maior de soluções inovadoras para problemas no futuro.

Referências e Fontes:

Anderson, Chris, (2016) Makers: A Nova Revolução Industrial Dougherty, Dale; The Maker Mindset. MIT. Disponível em: https://llk.media.mit.edu/courses/readings/maker-mindset.pdf. Acessado em 04 de maio de 2021. Fab Labs No Mundo. Fonte: Disponível em: < https://www.fablabs.io/map>. Acessado em: 04 de maio de 2021 Fabfoundation. Homepage: Disponível em: < http://www.fabfoundation.org/> Acessado em 04 de maio de 2021. Macedo, P. A.; Santos, A. M. S. Design Thinking para Bibliotecas. In: PRADO, J (Org.). Ideias emergentes em Biblioteconomia. São Paulo: FEBAB, 2016. p. 69-77. Disponível em: http://www.febab.org.br/febab201603/wp-content/uploads/2016/07/Ideias-Emergentes-Em-Biblioteconomia.pdf. Acessado em 04 de maio de 2021 Makerspace. Makerspace Playbook: School Edition. [S.l.], 2013. Disponível em: <http://makered.org/wp-content/uploads/2014/09/Makerspace-Playbook-Feb-2013.pdf>. Acessado em: 04 de maio de 2021 Martin, L. The promise of the maker movement for education. Journal of Pre-College Engineering Education Research (J-PEER), v. 5, n. 1, p. 30–39, 2015 Niaros, V.; Kostakis, V.; Drechsler, W. Making (in) the smart city: The emergence of makerspaces. Elsevier, 2017. Rosa, P., Pereira, Â. G., & Ferretti, F. (2018). Futures of Work: Perspectives from the maker movement. Publications Office of the European Union, Luxembourg. Rosa, P., Ferretti, F., Guimarães Pereira, A., Panella, F., & Wanner, M. (2017). Overview of the maker movement in the European Union. Publications Office of the European Union, Luxembourg.
26
Turner, Fred. Millenarian Tinkering: The Puritan Roots of the Maker Movement. Technology and culture, v. 59, n. 5, p. S160-S182, 2018.
Unterfrauner, E., Voigt, C., Schrammel, M., & Menichinelli, M. (2017). The maker movement and the disruption of the producer-consumer relation. In International Conference on Internet Science (pp. 113-125).
The Conversation: Twitter Trends, 2021. Disponível em: https://marketing.twitter.com/en/insights/the-conversation-twitter-trends-2021. Último acesso em 21.05.2021.

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6.5. Conceitos e Valores na Cultura Maker
(Érica Monteiro, Margarida Simões, Tatiana Abrahão, 2021)

1.1. O movimento Maker

O “movimento maker” tem sido debatido em diversas discussões. Várias publicações (ver Rosa et al.,2018, 2017) descrevem o conceito como um ramo do termo faça você mesmo – DIY (Do It Yourself), que combina tecnologias de ponta com atividades de artes e ofícios tradicionais, promovendo a aprendizagem, inovação, distintas abordagens da teoria para a prática. Já Dale Dougherty encara o movimento como uma afirmação sobre o valor dos objetos físicos e representa novas maneiras de produzi-los e conectá-los em rede ou em sociedade. De acordo com o autor Turner (2018) o surgimento do movimento maker origina-se da combinação de fatores culturais, econômicos e tecnológicos. Nessa perspectiva, o fator econômico prende-se com a recessão entre 2005 e 2007. Segundo o autor, a elevada taxa de desemprego nos Estados Unidos impulsionou a procura por novas formas de trabalho. Em 2005, Dale Dougherty, popularizou o conceito quando criou a primeira publicação especializada em cultura maker, Make, nos EUA, e em 2006, organizou a primeira Maker Fair, um encontro anual com espaços para criação coletiva1. Eles tornaram-se tão influentes que o órgão do governo americano Office of Science and Technology Policy sediou a sua própria Maker Fair na Casa Branca, em 2014. Na ocasião, o presidente da época, Barack Obama, assinala o movimento como uma “revolução no processo de manufatura” (“revolution’ in manufacturing”).

1.2. Os Makers

O elemento fundamental do movimento maker são as pessoas que participam da iniciativa, ou seja, os criadores. Segundo algumas definições na literatura, o movimento aparece como pessoas que criam uma variedade de produtos a partir do artesanato em casa (Collier & Wayment, 2018) e indivíduos que desenham e constroem novos dispositivos ou peças e dividem as suas experiências adquiridas neste processo com outros usuários (Wilczynski, 2015). De acordo com estudos qualitativos, os criadores podem ser amadores, como artesãos tradicionais até programadores de software, incluindo também na lista, por exemplo, designers, artistas, músicos, cozinheiros, estudantes, engenheiros, entre outros (Kwon & Lee, 2017). Sendo assim, Dale Dougherty definiu os “makers” (criadores) como – inicialmente para se referir aos leitores da sua revista “Make” –, sendo pessoas que criavam coisas com as próprias mãos ou que têm potencial para fazê-lo: ‘we are all makers’ (Masters, 2018).

Em uma entrevista com Daleesha Kulasooriya, do Center for the Edge da Deloitte, Dale Dougherty distinguiu três estágios de makers, ou seja, zero-to-maker, maker-to-maker e maker-to-market: O primeiro estágio, zero-to-maker, é basicamente o ponto de partida. Nesse estágio, passa-se da inspiração para inventar e transforma uma pessoa consumidora de produtos para participar na sua fabricação. Os aspetos necessários para este segmento são a capacidade de aprender as competências necessárias e obter acesso aos meios de produção. É aqui que começa o perfil DIYer (criador). No segundo estágio, Maker-to-Maker, os criadores tendem a colaborar e procurar a experiência com outros makers e DIYers. Eles também estão a contribuir em várias plataformas de media social. Neste segmento, os makers procuram melhorar, mas também compartilhar com os outros. Os criadores conversam ativamente, aprendem e apoiam uns com os outros. É uma verdadeira sensação de comunidade. No último estágio, Maker-to-Market, é onde a invenção e a inovação florescem. Os makers apelam para um mercado de um grupo muito específico ou para um público amplo, mas, de qualquer forma, é quando o produto chega ao mercado. Um dos maiores mercados para os makers venderem os seus produtos, por exemplo, é a plataforma colaborativa Etsy.

Outra abordagem conceitual é a da PSFK Labs e a Intel que propuseram uma classificação de acordo com o grau de envolvimento, habilidades e conhecimento de um maker ou criador. São identificados cinco grupos diferentes: o DIYer, o Self-Learning, o Educator, o Pro-Maker e o Empreendedor (PSFK Labs, 2015). O DIYer representa o criador amador com experiência em elaborar ou construir. Apesar de DIY ser uma paixão pessoal, o DIYer mantém seu hobby separado da sua profissão. O DIYer médio é curioso sobre as novas tendências, ferramentas e está interessado em expandir os seus equipamentos e conhecimento sem influenciar a sua carreira profissional. Os self-learners são pessoas que nunca têm medo de experimentar novas habilidades e encontrar um maior envolvimento num ambiente educacional prático e está frequentemente ativo em plataformas e fóruns online. O educador representa pessoas que naturalmente tem um talento especial para explicar as coisas e tem grande prazer em ajudar os outros e vê-los crescer nos seus projetos. O foco do educador também consiste em encontrar e divulgar recursos de aprendizagem e o estudo das aplicações criativas do movimento maker para assuntos STEM e artes. Os Pro-Makers usam tecnologias emergentes a fim de adicionar escala e eficiência aos seus projetos. Têm conhecimento avançado de codificação e estão bem conectados com a comunidade de criadores ao seu redor. Por último, os Empreendedores são a subcategoria de makers que comercializam os seus produtos e ideias. Assim, eles estão atentos às tendências do setor. Empreendedores procuram fontes de financiamento e plataformas para criar um produto comercializável, mas também um negócio sustentável.

1.3. Makerspace

A representação física do movimento maker inclui espaços como Makerspaces, FabLabs e Hackerspaces. O objetivo dessas iniciativas é fornecer tanto aos criadores quanto às suas comunidades os recursos tecnológicos necessários para que lhes permitam transformar as suas ideias em realidade. Para Macedo e Santos (2016, p. 72), makerspaces são “[…] espaços utilizados para as mais diversas atividades, cursos e serviços relacionados à informação, cultura e desenvolvimento de habilidades de pesquisa e uso de novas tecnologias”. Os makerspaces existem no mundo todo e estão envolvidos com iniciativas diversas, como a área da educação, causas sociais, inovação, bem como em startups e para fins empresariais. Cada espaço possui público, atividades e um conjunto de ferramentas e tecnologias distintos a cada público. Dougherty (2017) usa o substantivo makerspace como um termo universal para se referir a muitos termos, como: “hackerspaces, fabrication laboratories ou fab labs; e TechShops” que surgiram dentro das comunidades de maker (p. 62).

Em 2001, foi criado um programa pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), pelo cientista Professor Neil Gershenfeld. A sua proposta com a Fablab (abreviação mais difundida para fabrication laboratories), era fornecer o ambiente, habilidades, materiais avançados e tecnologia para tornar as coisas mais baratas e rápidas, além de disponibilizar o local para empresários, estudantes, artistas, e de facto, qualquer pessoa que queira criar algo novo ou personalizado. Estes espaços tinham o objetivo de analisar como o acesso a tecnologias digitais poderiam fortalecer as comunidades carentes (NIAROS et al., 2017). Assim, os espaços makers quando ligados ao MIT podem ser chamados de Fab Labs e dependem da aprovação da instituição realizada pela FabFoundation e um passo a passo para os interessados (A FabFoundation possui um guia para a implantação de um Fab Lab. Disponível em: https://fabfoundation.org/getting-started/#fab-lab-questions).

1.4. Mandamentos Maker

Escrito por Mark Hatch, no livro The Maker Movement Manifesto, os 9 “mandamentos” da cultura maker são traduzidos aqui segundo reportagem na revista HSM Management, em conversa entre Hatch e os brasileiros Ricardo Cavallini e Alon Sochaczewski: Make – Faça: é o que define o ser humano; Share – Compartilhe: é o método pelo qual o maker (criador) se sente completo; Give – Doe: há poucas coisas mais satisfatórias do que, com desprendimento, doar algo que você fez; Learn – Aprenda: é preciso aprender a fazer. E, por mais que você se torne um mestre artesão, há sempre novas técnicas, materiais e processos; Tool up – Aparelhe-se/Equipe-se: você precisa de ter acesso às ferramentas corretas para o projeto que tem em mãos. Invista e desenvolva acesso a elas, que nunca foram tão baratas e fáceis de usar; Play – Brinque: divirta-se com o que está a fazer e ficará surpreendido, animado e orgulhoso do que vai descobrir; Participate – Participe: una-se ao movimento maker e tenha acesso a pessoas à sua volta que estão a descobrir a alegria de fazer; Support – Apoie: esse é um movimento e ele exige apoio emocional, intelectual, financeiro, político e institucional; Change – Mude: acolha a mudança que vai acontecer naturalmente na sua jornada de maker. (CAVALLINI, 2014, p. 26)

Para Hatch (2013), a colaboração é um dos fatores mais importantes, seja a partilha de informações ou de habilidades individuais dos associados de uma equipa a favor de um objetivo comum.

1.5. Interesse pelo movimento nas redes sociais

De acordo com o Twitter Trends USA e Brasil, relatório com as principais tendências culturais baseado na análise de 300 mil tópicos de conversas na plataforma entre dezembro de 2018 e novembro de 2020, divulgado no dia 18 de maio de 2021:

No campo da cultura, os usuários aumentaram em 135% os debates sobre criatividade e discussões sobre mudança de carreira, além de empreendedorismo, hobbies e passatempos. Transformar a criatividade em carreira teve um aumento de 79% nas conversas; também cresceu em 65% a discussão sobre distribuição; 46% sobre hobbies e passatempos; e 61% sobre artesanatos. Além disso, segundo o relatório, hobbies e passatempos se tornaram cada vez mais importantes para a conversa. Com o distanciamento social, as pessoas compartilharam os seus projetos pessoais e jornadas de criação. E ainda, como uma reação contrária à produção em massa, as pessoas passaram a valorizar processos mais lentos e delicados, abrindo cada vez mais espaço para o trabalho manual e artesanal, representado por #feitocomamor #criarcomasmãos.

Referências e Fontes:

Anderson, Chris, (2016) Makers: A Nova Revolução Industrial Dougherty, Dale; The Maker Mindset. MIT. Disponível em: https://llk.media.mit.edu/courses/readings/maker-mindset.pdf. Acessado em 04 de maio de 2021. Fab Labs No Mundo. Fonte: Disponível em: < https://www.fablabs.io/map>. Acessado em: 04 de maio de 2021 Fabfoundation. Homepage: Disponível em: < http://www.fabfoundation.org/> Acessado em 04 de maio de 2021. Macedo, P. A.; Santos, A. M. S. Design Thinking para Bibliotecas. In: PRADO, J (Org.). Ideias emergentes em Biblioteconomia. São Paulo: FEBAB, 2016. p. 69-77. Disponível em: http://www.febab.org.br/febab201603/wp-content/uploads/2016/07/Ideias-Emergentes-Em-Biblioteconomia.pdf. Acessado em 04 de maio de 2021 Makerspace. Makerspace Playbook: School Edition. [S.l.], 2013. Disponível em: <http://makered.org/wp-content/uploads/2014/09/Makerspace-Playbook-Feb-2013.pdf>. Acessado em: 04 de maio de 2021 Martin, L. The promise of the maker movement for education. Journal of Pre-College Engineering Education Research (J-PEER), v. 5, n. 1, p. 30–39, 2015 Niaros, V.; Kostakis, V.; Drechsler, W. Making (in) the smart city: The emergence of makerspaces. Elsevier, 2017. Rosa, P., Pereira, Â. G., & Ferretti, F. (2018). Futures of Work: Perspectives from the maker movement. Publications Office of the European Union, Luxembourg. Rosa, P., Ferretti, F., Guimarães Pereira, A., Panella, F., & Wanner, M. (2017). Overview of the maker movement in the European Union. Publications Office of the European Union, Luxembourg.
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Unterfrauner, E., Voigt, C., Schrammel, M., & Menichinelli, M. (2017). The maker movement and the disruption of the producer-consumer relation. In International Conference on Internet Science (pp. 113-125).
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6.6. Condições de produção e os laboratórios
(Catarina Domingues, João de Atayde e Melo, Luiza Caxiano, 2021)

O movimento maker pode não ser uma ideia recente, mas nos últimos anos foi evoluindo, ganhando novas formas e atingindo uma série de mercados. De acordo com Aguiar, Cesca, Macedo e Teixeira (2017, p.1-2), esse movimento tem como ideal o “DIY (Do It Yourself)”, ou “faça você mesmo”, reunindo pessoas das áreas do artesanato, robótica, culinária e até criatividade a beneficiarem umas as outros, compartilhando conhecimentos e práticas, além de inovarem juntos e, com isso, gerarem ideias criativas entre si.

Segundo Gohn (1997, p.31), “cada tendência cultural tem, atrás de si, um desejo de mudança que está na cabeça das pessoas, particularmente em relação à concepção que têm de si próprias” e, segundo Ribeiro e Savaget (2006, p.2), a comunicação entre o autor e o leitor em uma criação colaborativa está voltada para o processo em si, minimizando a importância do resultado físico final e deixando mais espaço para o diálogo. Deste modo, Juraschek, Bucherer, Schnabel, Hoffschröer, Vossen, Kreuz, Thiede e Herrmann (2018) argumentaram:

“As cities play a major role in reaching the goals of sustainable development based on a high share of the world’s population in spatially close and organizationally established structures, the potential contribution of the functional elements of urban spaces is of high interest” (p. 72-73).

Percebemos então a importância do compartilhamento de experiências, ideias, práticas, surgindo os FabLabs, ou “laboratórios de fabricação”, permitindo que a produção, principalmente tecnológica, seja compartilhada pela comunidade. Segundo Pinto, Azevedo, Teixeira, Brasil e Hamad (2018, p.42-43), um FabLab deve ter como princípios a abertura de portas à comunidade de forma gratuita, deve compartilhar ferramentas e processos com laboratórios do mesmo tipo, devem ser geridos por pessoas qualificadas e possuir softwares e demais aparelhos eletrônicos que auxiliem os frequentadores. Assim como Juraschek, Bucherer, Schnabel, Hoffschröer, Vossen, Kreuz, Thiede e Herrmann (2018, p.74) afirmaram, “cities consist of many different elements and together these functional elements make up a set of components providing urban services and fulfilling the needs of the citizens. Urban factories are one set of these building blocks”.

A Rede Nacional de Incubadoras e Aceleradoras monitoriza a movimentação desse mercado, sendo a própria rede composta por 169 incubadoras no final de 2020, ano de referência para o desenvolvimento do relatório que, segundo a instituição, tem como objetivo medir os impactos das mesmas no ecossistema de empreendedorismo em Portugal. Por meio de um inquérito via e-mail para todas as 169 incubadoras da rede, 57,7% delas tinham como tipologia negócios de impactos regionais, sendo que, na Ilha da Madeira, 100% das incubadoras se enquadram nesse quesito e, em Lisboa, 34% (2021).

A cultura maker tem como princípios o processo de produção e a troca de ideias e experiências durante esta, muitas das vezes, abrindo mão do seu próprio direito autoral em prol de uma democratização do ensino. Segundo Pinto, Azevedo, Teixeira, Brasil e Hamad (2018, p.42), os processos e ferramentas devem ser facilmente compartilhados pelos indivíduos no mundo todo e, de forma geral, os FabLabs focam a experiência e novos recursos para potencializarem trabalhos “comuns”, de forma compartilhada e gratuita (p. 44-45). Dois autores descrevem três categorias de FabLabs que podemos encontrar atualmente. Eychenne e Neves (20, p. 17-19) afirmam que existem os Laboratórios Acadêmicos, sustentados por universidades ou escolas e o seu público se resume a essas entidades. Também existem os Laboratórios Públicos, geralmente sustentados por uma instituição governamental ou por ONGs, fornecendo, de forma geral, workshops e cursos para a população em geral. E, por fim, os Laboratórios Profissionais, funcionando com recursos privados e externos, possibilitando o aluguel do espaço para makers compartilharem as suas ideias, sendo muito frequentados por empreendedores e start-ups a fim de se desenvolverem.

Segundo o relatório “Future of Work: Perspectives from the Maker Movement” (2018) – que tinha como objetivo procurar outras esferas em que o trabalho se insere e onde os indivíduos podem estar reinventando formas de trabalhar – algumas das narrativas discutidas como meios de explorar e pesquisar o futuro do trabalho no relatório (2018, p. 10-11) foram:  Os efeitos da automatização no futuro do trabalho e a colaboração entre o humano e a tecnologias; A influência da globalização ao permitir a partilha global de práticas e ajudando a sustentar processos locais de produção;  A produção não tradicional de manufaturas “de massa”, mas sim as microfaturas, que não possui como objetivo a criação de produtos padronizados;  Uma revisão do termo economia compartilhada, estas que, segundo os participantes, devem estar realmente se preocupando com o compartilhamento de conhecimentos e na forma de tratamento justo aos trabalhadores; Na possibilidade que os makerspaces desenvolvem novas habilidades aos participantes e os ensinam as pessoas a serem mais flexíveis;  Ideias de cuidados e paixão estão associadas a economia verde.

Além das temáticas acima foram destacados outros valores pelo relatório, diretamente associados a cultura maker, como: Inovação, habilidades, “Open Everything” (o termo está correlacionado com “open sourse”, modelos de desenvolvimento abertos para criação e modificações, principalmente relacionados a tecnologias e softwares. Ao relacionar os termos, “open everything” é uma forma dos autores expressarem um sentimento de abertura de mercado maker para além da programação, mas podendo ser impostos em outras esferas da criação comunitária.), Compartilhamento, Fantasia, Colaboração, Educação, Diversão, Solidariedade, Autonomia, Cuidado e Tempo. Os autores do relatório ainda trazem uma reflexão dos impactos da cultura maker:

“In the context of the current report, the emergence of makerspaces is enabling new models of education, collaborative work, and manufacture. These spaces function as multidisciplinary learning environments that stimulate new ideas and concepts for products, accelerating invention and design cycles (and thus function as tech incubators)” (2018, p. 25).

A cultura maker e as manufaturas culturais são mais do que apenas gerar resultados, elas possuem ideais de cooperação e comunidade por trás delas, sendo “como fazer” mais importante. Os detentores de poder tradicionais perdem o foco e as produções locais se tornam mais significativas no ponto de vista de não estarem preocupados com o lucro e sim possuem como potencial diferenciador o apoio a uma economia mais sustentável e social. Além disso, a produção comunitária e manual contribui para um desenvolvimento mais autônomo e educacional a ponto de ter como relevância a capacitação dos indivíduos envolvidos no processo de produção.

Referências e Fontes:

Aguiar, F. F., Cesca, R., Macedo, M., & Teixeira, C. S. (2017). Desenvolvimento e
implantação de um Fab Lab: um estudo teórico. Revista Espacios, 38, pp. 1-14.
Eychenne, F., & Neves, H. (2013). Fab Lab: A Vanguarda da Nova Revolução
Industrial. São Paulo: Editorial Fab Lab Brasil.
Gohn, M. d. (1997). Teoria dos Movimentos Sociais: Paradigmas Clássicos e
Conteporâneos. São Paulo: Edições Loyola.
Juraschek, M., Bucherer, M., Schnabel, F., Hoffschröer, H., Vossen, B., Kreuz, F., . . .
Herrmann, C. (2018). Urban factories and their potential contribution to the sustainable
development of cities. 25th CIRP Life Cycle Engineering (LCE) Conference (pp. 72-77).
Copenhagen: Elsevier B.V.
Pinto, S. L., Azevedo, I. S., Teixeira, C. S., Brasil, G. S., & Hamad, A. F. (jan-fev de
2018). O Movimento Maker: Enfoque nos FabLabs Brasileiros. Revista Livre de
Sustentabilidade e Empreendedorismo, 3(1), pp. 38-56.
Rosa, P., Guimarães Pereira, Â. and Ferretti, F., 2018. Futures of Work: Perspectives
from the Maker Movement. [online] Luxembourgo: European Union. Available at:
<https://publications.jrc.ec.europa.eu/repository/handle/JRC110999> [Acesso em: 17 Maio
2021].

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6.7. Cultura Maker e permissas para a formação
(Amanda Melo, Luísa D. Cortés, 2021)

A cultura maker está fortemente relacionada com a macrotendência de Manufacturas Culturais. Para entender os valores desse movimento, recorremos ao Manifesto Maker:

“Todo mundo é Maker; o mundo é o que fazemos dele; se você pode sonhar com algo, você pode realizar isso; se você não pode abri-lo, você não pode tem a posse dele; ajudam-se uns aos outros para fazer algo e compartilham uns com os outros o que criaram; não são apenas consumidores, são produtores, criativos; sempre perguntam o que mais podem fazer com o que sabem; não são vencedores, nem perdedores, mas um todo fazendo as coisas de uma forma melhor”. (Gavassa, Munhoz, Mello, Carolei, 2016)

Na plataforma Google Trends, os movimentos de busca em massa que apontam esses valores mantêm-se constantes, sem aumentos fora do padrão ao longo dos últimos cinco anos. As pesquisas foram realizadas com os termos em português e em inglês, com escopo mundial. Há um termo relacionado, no entanto, que apresentou um crescimento em relação ao número de procuras no último ano. É o próprio termo cultura maker, que teve um aumento considerável em outubro de 2020, principalmente em relação a procuras voltadas para a área de educação e ensino.

No Brasil, país com maior incidência de pesquisas desse termo, a inserção da cultura  maker no ambiente escolar é discutida ao menos desde 2016, quando a primeira edição da pesquisa Nossa Escola em (Re)Construção, realizada pelo Instituto Porvir, foi publicada. Já naquela época, 19% dos jovens entrevistados queriam fazer projetos práticos no ambiente escolar e 25% preferem escolher todas as disciplinas que vão fazer ou não. Além disso, cerca de 50% dos jovens disseram considerar as aulas dinâmicas, interessantes e divertidas. Nesse contexto pré-pandemia, a metodologia da cultura maker em ambiente escolar já estava em consonância com outros movimentos pedagógicos, as chamadas Metodologias Ativas, como sala de aula invertida, design thinking e a aprendizagem colaborativa e baseada em projetos. O tema começou a ganhar especial atenção de pesquisadores da educação em 2019, quando o número de publicações relacionadas a ele mais que triplicou, segundo o estudo (Pereira, 2020).

Em decorrência do isolamento social que se fez necessário após a pandemia do Covid-19 e a consequente massificação do ensino remoto, esse processo de inserção da cultura maker se aprofundou em certos espaços. Com esse movimento, foi constatado (Nascimento, Brito, Silva, 2020) que esse ambiente multitarefas contribuiu para uma melhoria do  dos estudantes em atividades escolares. “Foi possível desenvolver uma aprendizagem criativa a partir dos espaços makers, trabalhando de forma multidisciplinar e engajando os estudantes em sua própria aprendizagem” (Nascimento, Brito, Silva, 2020).

Esse avanço no engajamento dos alunos também foi observado na pesquisa de 2020 intitulada O impacto do ensino maker na educação, da Nave à Vela. Dos educadores respondentes, 43% avaliaram que a participação dos estudantes aumentou consideravelmente no período e 23,9% que aumentou muito. Deles, 70,9% ainda destacaram a melhora do desempenho dos estudantes; 16,2% sublinharam o engajamento dos alunos em aulas online durante a pandemia e 12,8% reconheceram a melhora no engajamento dos próprios professores.

A pesquisa ainda detectou que 65,8% dos respondentes aderiram à cultura maker pela melhora da capacidade socioemocional dos alunos, “ajudando-os a gerenciar emoções, alcançar objetivos, demonstrar empatia e tomar decisões de maneira responsável”, habilidades buscadas em um contexto de crise como o de uma pandemia global. Além disso, a publicação aponta para a possibilidade de criar uma geração mais autônoma e com maiores habilidades sociais. Por enquanto, apenas 9,4% das escolas brasileiras, país onde o estudo foi realizado, estão adotando o ensino maker em contexto de isolamento social. Das instituições que aderiram à metodologia, 85,5% afirmaram que as chances de prosseguir com a metodologia no ano letivo seguinte são altas. Isso porque os benefícios pedagógicos vão ao encontro dos valores procurados em uma sociedade imersa no ambiente digital e profundamente influenciada por ele: Do ponto de vista pedagógico, a experimentação, quando aberta às possibilidades de erro e acerto, mantém o aluno comprometido com sua aprendizagem, além de estimular sua criatividade. Ela auxilia o aluno na busca de diferentes estratégias para resolução de um problema, do qual ele toma parte diretamente, inclusive do processo de produção. O ambiente criado em um Fab Lab proporciona aos alunos e professores as condições ideais para a experimentação, disponibilizando ferramentas, manuais e acesso à informação, de forma mais colaborativa e menos formal do que se encontra em experimentos científicos tradicionais (Medeiros, Bueira, Peres, Borges, 2016).

A prática, além disso, converge com valores de democratização do conhecimento, o que vai ao encontro de uma tendência para o ano de 2021 de maior envolvimento em questões políticas e sociais, como aponta o Euromonitor de 2020. Nesse sentido, Paulo Blikstein, responsável pela FabLearn na Universidade de Stanford, teoriza um movimento maker relacionado à educação, principalmente a ideais construtivistas ligados a Dewey, Piaget e Paulo Freire (Mannrich, 2019, p. 7). Ele descreve como:

“o estudante no centro do processo de aprendizagem ao realizar e criar projetos que envolvem habilidades, competências e conhecimentos STEAM (acrônimo para Science, Technology, Engeering, Ars and Mathmatics) e promover autonomia para a prática plena da cidadania. Para Blikstein, a educação progressista dá conta de responder às demandas que o mundo do trabalho almeja, organizadas em torno das ditas habilidades do século XXI, e também à pedagogia crítica, que pressupõe a formação para a cidadania”. (Mannrich, 2019, p. 7)

Desta forma, a cultura maker, dentro da macrotendência das Manufacturas Culturais, está em convergência com valores urgentes à sociedade contemporânea, tanto pela inserção mais efetiva da população em geral no ambiente digital quanto pelas mudanças sociais provocadas pela pandemia do coronavírus. É um movimento que já estava em curso teve suas alterações durante esse período para abarcar as necessidades pontuais que surgiram desde então, especialmente no campo da educação. Valores como inteligência socioemocional, criatividade, engajamento, autonomia, habilidades multitarefas, senso de comunidade, democratização do conhecimento, cidadania e capacidade crítica estão inseridos neste contexto.

Referências e Fontes:

Angus, A. & Westbrook, G. Top 10 Global Consumer Trends 2021. (Euromonitor
International). Recuperado de:
https://go.euromonitor.com/white-paper-EC-2021-Top-10-Global-Consumer-Trends.html
Gavassa, R. C. F. B., Munhoz, J. B., Mello, L. F., & Carolei, P.. (2016). Cultura Maker,
Aprendizagem Investigativa por Desafios e Resolução de Problemas na SME-SP (Brasil).
Consultado em 25 mai. 2021. Disponível em
https://fablearn.org/wp-content/uploads/2016/09/FLBrazil_2016_paper_127.pdf
Mannrich, J. P. (2019, junho). Um Olhar sobre o Movimento Maker na Educação
(Científica). Apresentada em XII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em
Ciências – XII ENPEC Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN
Medeiros, J., Bueira, C. L., Peres, A., & Borges, K. S. (2016). Movimento maker e educação:
análise sobre as possibilidades de uso dos Fab Labs para o ensino de Ciências na
educação Básica. Consultado em 25 mai. 2021. Disponível em
https://fablearn.org/wp-content/uploads/2016/09/FLBrazil_2016_paper_33.pdf
Nascimento, E. R., Brito, I. P. L., & Silva, A. G. P. (2020). Aprendizagem em ambientes
multitarefas: uma realidade na cultura maker. Revista de Estilos de Aprendizaje,Vol. 13,
Núm. Especial, 157-170.
Pereira, A. P., & Arthur, T.. (2020, agosto). Cultura maker e ensino de ciências: um
mapeamento sistemático. Apresentada em Congresso Internacional de Educação e
Tecnologias. Encontro de Pesquisadores em Educação à Distância. Consultado em 04 de
jun. de 2021. Disponível em
https://cietenped.ufscar.br/submissao/index.php/2020/article/view/1096
O impacto do ensino maker na educação: 1ª Pesquisa Nacional do Impacto do Ensino Maker
na Educação. (2020). Nave à Vela. Consultado em 25 mai. 2021. Disponível em
https://materiais.naveavela.com.br/motim-ebook-pesquisa-impacto-maker
Relatório de Resultados: Nossa escola em (Re) Construção. (2016). Porvir. Consultado em 25
mai. 2021. Disponível em https:/porvir.org/nossaescola relatório/

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6.8. Colaboração e Espaços Maker
(Andressa Maia, Isabel Gomes, Maria Frederico, 2021)

No processo de investigação da hipótese das manufaturas culturais como tendência encontramos diversos conceitos recorrentes associados principalmente à questão da partilha e da co-criação. Parecem nos ser questões chave: o paradigma dos bens comuns colaborativos, o desenvolvimento de uma cultura de partilha associada às sociedades em rede e o ser humano como inteligência criadora e fabricadora tanto de objetos materiais como imateriais.
O estudo desta mentalidade se apoia necessariamente em uma pesquisa mais abrangente da sociedade contemporânea e de suas práticas. No contexto desta, encontramos vários autores a apontar para uma mudança de paradigma emergente que parece responder à nossa vivência cada vez mais global e cosmopolita. Essa sociedade, que se torna a cada dia mais urbana, cria novas formas de se relacionar e produzir que vão ao encontro de suas atuais demandas econômicas, políticas e sociais.
Na virada do século Castells (2002) já nos falava sobre: “o avanço de expressões poderosas de identidade coletiva que desafiam a globalização e o cosmopolitismo em função da singularidade cultural e do controle das pessoas sobre suas próprias vidas e ambientes.”(p. 18). Para Castells teríamos uma nova forma de sociedade, a sociedade em rede, introduzida pela revolução tecnológica e reestruturação do capitalismo. O impacto das tecnologias emergentes nas estruturas sociais é também tópico essencial para Jemielniak & Przegalinska (2020):
“Emerging technologies, thanks to their direct collaboration-enabling features and their engagement of much broader populations, act as super-multipliers for many effects of collaboration that would otherwise be less noticeable. We perceive this phenomenon to emanate from what we call collaborative society: an emerging trend that changes the social, cultural, and economic fabric of human organization through technology-fostered cooperative behaviors and interactions”. (p. 4)
Segundo Jemielniak & Przegalinska essa crescente sociedade colaborativa apoia-se em diferentes modos de cooperação, partilha, criação conjunta, produção, distribuição e consumos de bens e serviços por indivíduos, comunidades e organizações. (2020, p. 5). Essa produção colaborativa baseada em recursos comuns representa para Rifkin (2014) um deslocamento do capitalismo de mercado para um novo paradigma econômico, que de acordo com o autor se assenta em uma produção cada vez mais descentralizada e democratizada. Segundo Rifkin os Collaborative Commons já estão impactando profundamente nossa vida: possuir perde cada vez mais espaço para acessar, mercados dão lugar a redes de partilha e os interesses comunitários passam a se sobrepor aos interesses individuais (p. 34).
Uma estrutura de análise que nos parece interessante para os Commons é proposta por Bollier & Helfrich (2019). Segundo os autores, cada Commons depende de processos sociais e da partilha de
conhecimentos e recursos físicos. E esta estrutura tripla fornece um enquadramento de padrões que nos permite estudar estes fenômenos e também replicá-los. Aqui talvez seja interessante indagar o que definimos como Commons, ou Comuns, Dardot & Laval (2017) concebem os comuns como práxis, de acordo com os autores somente a atividade prática dos homens podem tornar as coisas comuns e criar um novo sujeito coletivo. O comum é para os mesmos “um princípio político a partir do qual devemos construir comuns.” (pp. 52-53) Dentro dessas novas práticas colaborativas e comunitárias, o “pôr a mão na massa” parece surgir como atividade central das identidades e comunidades urbanas. Indicando ao retorno dos comuns, Coriat (2015) discorre sobre a importância da capacitação, da partilha dos saberes e práticas, para uma verdadeira experiência dos comuns: “En effet, il n’est pas de communs qui n’incluent comme une dimension toujours cruciale la nature des savoirs et des savoir-faire liant et associant les commoners dans la gestion de la ressource partagée” (p. 248). Para Coriat os bens comuns e a economia da partilha surgem como alternativa aos impasses e exclusivismos impostos por uma economia altamente financeirizada e para tais alternativas é crucial a partilha de conhecimentos e informações.
A cultura maker, nos parece também referência essencial ao pensar as manufaturas culturais. Dougherty (2016), um dos fundadores do movimento, fala-nos sobre a importância do fazer e da criação como conceito basilar do que é ser humano:
“Making is so central to what makes us human that the term Homo faber was coined to describe what sets us apart from other animals […] The term Homo faber reminds us that humans both transform materials into tools and transform the world using those tools. This makes us who we are: makers” (p.20). Apoiado em pilares como: criatividade, colaboração, sustentabilidade, escalabilidade, democratização e empoderamento, o movimento maker segundo Dougherty é um agente de mudança social que engloba todos os modos de fazer e todos os tipos de criadores.
Intimamente ligado ao reconhecimento de que fazer e criar define quem somos (p. 34).
Dougherty identifica cinco diferentes tipos de espaços maker: espaços orgânicos locais, inaugurados por um pequeno time de fundadores; espaços comunitários que instituem uma organização, geralmente sem fins lucrativos; espaços afiliativos organizados que promovem acesso a ferramentas e treinamento a partir do pagamento de taxas; laboratórios de desenvolvimento colaborativo financiados por instituições públicas e empresas; e espaços públicos de criação criados intencionalmente em museus, escolas e bibliotecas (2016, p. 76).
Em nossa recolha de informações dos meios de comunicação encontramos estas variações de locais onde as manufaturas culturais parecem florescer, desde espaços institucionais e organizados a espaços mais orgânicos e comunitários. Percebemos constante ligação com as práticas de DIY, o faça você mesmo, e resgate de uma produção manual e artesanal que se embasa também em uma mentalidade de consumo mais sustentável e de uma economia circular que se apoia na reciclagem e reutilização de materiais e bens.
Jackson (2016) em sua proposta de uma prosperidade sem crescimento discorre sobre a necessidade de mudança da lógica social do consumismo, o crescimento pelo crescimento, que é prejudicial a prosperidade tanto ecológica quanto psicológica, precisamos criar novas formas de lidar com os recursos disponíveis para a nossa sobrevivência de acordo com o autor.
Entidades como a ONU e UE têm promovido planos de ação pautados por diversas questões ressonantes com esta mentalidade, focados em cooperação, educação e no estabelecimento de uma economia circular, debates que parecem essenciais para os indivíduos contemporâneos. No âmbito do projeto Urban Manufacturing da UE, que define como objetivo o êxito de makerspaces colaborativos, existem um conjunto de boas práticas indicadas para produção de objetos através da colaboração. O projeto acredita que esta forma de trabalho fornece inúmeros benefícios como: elevado senso de comunidade e novos e aperfeiçoados produtos. É relevante notar que Lisboa figura no projeto com seu próprio programa local de desenvolvimento. Outro projeto pertinente para esta investigação é o Fab City que se apresenta como um novo modelo urbano de produção local e conexão global para cidades auto suficientes.
No seu manifesto são listados princípios como: participação, produção local, inclusão, “glocalismo”, crescimento econômico e empregabilidade, entre outros. O projeto lança o desafio de que cidades produzam tudo que consomem até 2054. De acordo com Hill (2020) a manufatura urbana ajuda as cidades a enfrentar importantes necessidades, estas são, para o autor, inseparáveis de seu contexto urbano e contribuem fortemente para o desenvolvimento das cidades (p. 31).

Referências e Fontes:

Bollier, D., & Helfrich, S. (2019). Free, Fair, and Alive: The Insurgent Power of the
Commons. New Society Publishers.
Castells, M. (2002). A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura. Vol. II, A
Sociedade em Rede. Paz e Terra.
Coriat, B. (2015). Le retour des communs. Les Liens Qui Libèrent.
Dardot, P., & Laval, C. (2017). Comum: Ensaio Sobre a Revolução no Século XXI.
Boitempo.
Dougherty, D., O’Reilly, T., & Conrad, A. (2016). Free to Make: How the Maker
Movement is Changing Our Schools, Our Jobs, and Our Minds. North Atlantic Books.
Hill, Adrian V (ed.). (2020) Foundries of the Future: a Guide to 21st Century Cities of
Making. TU Delft Open.
Jackson, T. (2016). Prosperity without Growth: Foundations for the Economy of Tomorrow
(2nd ed.). Routledge.
Jemielniak, D., & Przegalinska, A. (2020). Collaborative Society. The MIT Press.
Rifkin, J. (2014). The Zero Marginal Cost Society: The Internet of Things, the
Collaborative Commons, and the Eclipse of Capitalism. St. Martin’s Press.
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FABCITY (2018). Fab City Manifesto. https://fab.city/uploads/Manifesto.pdf
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Maker Spaces. https://www.interregeurope.eu/urbanm/

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6.9. Mudanças nas práticas
(Eduardo Altafim, Vanja Favetta, 2021)

Nos últimos anos estamos a presenciar uma mudança radical na forma de se produzir e de se consumir. O poder de produção e distribuição que, desde a revolução industrial, esteve sob domínio dos detentores dos meios de produção começa a ser descentralizado e chega ao nível dos indivíduos. Percebe-se com isso que o advento da tecnologia (internet, novos media, impressão 3D, laser cutters, crypto-moedas) facilitou a comunicação entre os indivíduos, democratizou a produção e a difusão e acabou por revolucionar a lógica de produção e consumo. Percebe-se que podemos segmentar esse processo em relação à escala de impacto, do maior para o menor: os Estados, as pequenas e médias empresas, as cooperativas e os indivíduos. Estes últimos até o final do século passado eram denominados “consumidores”. Entretanto são esses indivíduos que, unidos, partilham saberes e estão empoderados pelas novas tecnologias, permitindo-lhes assumir o papel de criadores e consumidores ao mesmo tempo.

Essas inversões nas estruturas de poder (como por exemplo na lógica por detrás das crypto-moedas) abalaram as estruturas das grandes organizações – afinal a criatividade e produção de valor simbólico não estava mais dentro de suas fronteiras. Portanto, essas grandes organizações começam a implementar mudanças nos seus processos para replicar a tendência de co-criação em dois níveis: horizontal no que se refere às áreas internas da empresa e Vertical na relação com seus públicos (shared design, co-creation). As criações desses indivíduos têm forte valor simbólico e carregam as suas identidades e, quando em conjunto, traduzem as reais necessidades emergentes da comunidade e impactam positivamente os ambientes nos quais estão inseridos (principalmente cidades). Nesse sentido assistimos a uma inversão das hierarquias.

Fonte.

Os makerspaces também são realidade em Portugal e corroboram o facto de que a sua incidência não se encerra apenas em grandes centros urbanos, mas também em áreas mais periféricas. Este tópico tem como objetivo analisar a tendência a partir do que já foi coligido em uma revisão bibliográfica/estado da arte da qual se destacam Harnecker et al., Keltie, Panuwatwanich, Loeffer e Derr et al. Com base nesses autores procura-se articular os conceitos que tangem às dinâmicas das manufacturas culturais.

Para tratar das manufacturas culturais há que ter em conta a democratização da produção e do consumo graças às novas tecnologias introduzidas nas mais diversas geografias com o advento da globalização. Mesmo que variável, o impacto dessas tecnologias demonstra a importância dos participantes de uma comunidade em trabalhar fora de uma hierarquia, tornando a descentralização do poder uma realidade (Harnecker et al., 2019). Para ilustrar, pode-se considerar Keltie (2017) como exemplo de como este aspecto se articula na indústria cultural:

“Participatory culture practices such as digital storytelling and Web series enable audiences to share their own stories and add to the spectrum of representations made possible by digital technology in the broader cultural landscape. These alternative sites of storytelling are disrupting industry practice by providing alternative content for consumers. Participatory culture and media convergence are markers of a transition period: it may well be that this evolving industry will see the end of older media business models and a shift in production and distribution methods. In a converged media landscape, periphery and marginal content may exist alongside the products produced by the culture industry” (Keltie 2017, p. 119).

A procura colaborativa para alcançar objetivos criativos e sanar necessidades é visível tanto na esfera individual quanto também nas pequenas e grandes organizações. Os fab-labs e maker-faires apresentam indícios de uma mudança definitiva de mentalidade que é baseada na noção da interdependência e autonomia. As grandes empresas começam a se inspirar nas práticas dos indivíduos e pequenas empresas e começam a incorporar estas práticas como comportamento empresarial. No caso vislumbra valor em mudar as dinâmicas produtivas e de consumo tradicionais, introduzindo práticas de co-criação com o seu público-alvo (ex. co-design para projetos de produto).

Tais práticas também se expandem para fora das organizações e percebe-se uma intenção em co-criar caminhos e colaborar com soluções open-source para influenciar o mercado num sentido que seja melhor para todos. Panuwatwanich, na 10ª Conferência Internacional sobre Engenharia, Projetos e Gestão da Produção de 2019, chega a estas conclusões quando defende que a resolução de problemas complexos envolve a aplicação de conhecimentos interdisciplinares para lidar com a heterogeneidade dos vários elementos inerentes ao sistema.

Por fim, essas mudanças chegam ao nível das entidades estatais e governativas, as quais, impulsionadas pelas novas necessidades, estão procurando soluções partilhadas, de acordo com Loeffer (2021), especialmente nos âmbitos dos serviços públicos, como a saúde, a assistência social e a segurança:

“[…] with the emergence of the COVID-19 crisis in January 2020, there has come increasing awareness that this crisis cannot be solved by governments alone and that more effective citizen co-production is a ‘must-have’ to achieve better quality of life outcomes and public governance. It is to be hoped that this crisis, for all of the sadnesses which come with it, will therefore bring a widespread recognition of how citizen co-production can make this world a safer and better place” (Loeffer, 2021, p. vii)

O circuito todo se completa quando estas mesmas entidades e governos passam a ver valor e estimular a liderança comunitária com base em diferentes necessidades e objetivos locais uma vez que “são parte central no estabelecimento de autênticos programas que possam contribuir com uma mudança duradoura na comunidade” (Derr & Chawla & Mintzer, 2018, p. 14). Percebemos, portanto, que a deslocação do poder se reflete nas práticas sociais, empresariais e estatais. Para as duas últimas é possível salientar uma intenção de retomada da centralização do poder ao absorver práticas maker para “industrializar” produtos e parcerias e fomentar lideranças locais.

Referências e Fontes:

Cepiku, D. & Marsilio, M. & Sicilia, M. & Vainieri, M. (2021). The Co-production of Public Services: Management and Evaluation. Palgrave Macmillan.
Derr, C. & Mintzer (2018). Placemaking with Children and Youth: Participatory Practices for Planning Sustainable Communities. New York: New Village Press.
Harnecker, M., Bartolomé, J., López, N. (2019). Planning from Below: A Decentralized Participatory Planning Proposal. New York: Monthly Review Press.
Keltie, E. (2017). The Culture Industry and Participatory Audiences
DOI 10.1007/978-3-319-49028-1_6
Loeffler, E. (2021). Co-Production of Public Services and Outcomes. Glasgow: Palgrave Macmillan.
Panuwatwanich, K. & Ko, C. (2020). The 10th International Conference on Engineering, Project, and Production Management. Singapore: Springer.

Resultados de Vanja Favetta (2022)

As notícias recolhidas foram retiradas de jornais de diferentes tipos – quotidianos, revistas, jornais online – e proveniências, desde Portugal, passando pela Índia, Médio Oriente, Canadá, etc., tratando de temas às vezes até muito diferentes. O que as une é o foco em esforços colaborativos, de indivíduos, organizações e instituições.

O Público sublinhou, em Maio de 2020, como as dificuldades levadas pela pandemia aumentem a necessidade de colaboração entre indivíduos e as demais organizações. O jornal “Indesign” evidencia como a pandemia teve, depois da pausa forçada devida às restrições de distanciamento físico, um impacto positivo para o fenômeno do coworking, que como outras fontes comprovam, encontra-se em rápido crescimento. Os jornais “Algarve” e “Idealista/news” reportam como, pelo menos em Portugal, esta nova modalidade de trabalho seja apoiada diretamente por instituições públicas, no primeiro caso, e por grandes empresas, no segundo. Outras notícias encontradas no Expresso e no Público reportam como este fenômeno esteja em rápida expansão fora dos grandes centros urbanos, o que confere mais força a dados da Desk Research que apontam na mesma direção.

Acerca do tema da colaboração, um outro aspecto relevante que surgiu na Desk Research foi a crescente hibridação entre setores diferentes de trabalho, assim como no mundo artístico/cultural; o nome “Together As One” dado à edição do “Isola Design Festival” de 2022 em Milão é exemplificativo. Como a revista online “ArchiPortale” reporta, “hoje em dia, designers, produtores, arquitectos, consumidores e todos os stakeholders do setor são levados a trabalharem juntos: Together As One”. O festival apresenta também um foco em sustentabilidade, privilegiando produtos com escasso impacto ambiental ou que reutilizam resíduos industriais, outro elemento que aponta na direção de uma tendência à regeneração, neste caso no campo do produto de design.

Esta mesma hibridação parece estar em crescimento no campo cultural também. A Ecosystem Academy, como reporta o jornal “Albawaba”, é um organismo fundado pela UE, com o fim de “facilitar as metodologias baseadas em troca peer-to-peer para fortalecer a consciência dos ecossistemas culturais”, sublinhando a maior resiliência que a cooperação confere ao setor. A revista musical “Parkett” reporta uma entrevista a uma produtora musical, a qual aponta para a importância da cooperação no mundo da música como elemento de importância primária. Não é raro que organismos colaborativos no setor cultural trabalhem ativamente em sentido social, contribuindo para um mundo melhor; é o caso do Karnali Arts Centre no Nepal, que obteve em 2022 o “Darnal Award for Social Justice”. Ainda, o “Stock Sentinel”, jornal inglês, refere de uma fazenda que abriu um centro de artes, notícia que também aponta para uma hibridação dos setores e para um fortalecimento das artes e da cultura em zonas rurais.
Por fim, ao nível dos Estados, reportaram-se algumas notícias que evidenciam como, em tempos muito recentes, um grande número de Estados esteja a estipular acordos de cooperação, principalmente em âmbito cultural. As notícias reportam acordos colaborativos entre Brasil e México, Moçambique e Guiné Equatorial, Omã e Jordânia, Irã e Polônia, aos quais juntam-se outras, também muito recentes, que por questões de extensão e repetição preferiu-se não incluir, entre Bielorússia e Vietname, Holanda e Ucrânia, Holanda e China e Grécia e Vietname.

 

Resultados de Carolina Represas (2022)

O desempenho e os esforços feitos ou não pelos governos dos países de todo o mundo estão a ser devidamente acompanhados, mensurados, classificados e publicados por fontes seguras. São traduzidos por um Índice de Desenvolvimento Sustentável que corresponde à eficiência ecológica do desenvolvimento humano, reconhecendo que o desenvolvimento deve ser alcançado dentro das fronteiras planetárias. Com um índice de 69,9%, Portugal tem demonstrado ser capaz de evoluir e caminhar em direção ao alcance dos 17 ODS. Mais do que esperar por diretrizes vindas da Europa, os municípios mostram-se proativos na reestruturação e regeneração do meio ambiente, através da criação de leis para o efeito e investimentos dirigidos à requalificação de paisagens naturais. O espírito de empreendedorismo ganha agora uma condição antes de prosseguir com um novo investimento: certificação de que questões ambientais, sociais e de governação empresarial (ESG) estão dentro dos parâmetros definidos. Tecnologias digitais como a blockchain têm sido fortes aliadas das empresas determinadas a enquadrar-se dentro dos mesmos. Os consumidores partilham desta mentalidade e as campanhas “verdes” têm mais sucesso. Os meios de comunicação de massas começam a tomar uma posição a favor do veganismo, que assim deixa de ser uma ideologia associada a uma minoria para uma ideologia em voga. A procura por um estilo de vida mais sustentável é notória e os meios para o alcançar passam pela autocura do ser humano, através de abordagens positivas em relação à nutrição e à saúde mental. As terapias holísticas ganham relevância, como mindfulness e meditação. Mais de 70% dos países europeus alcançou ou ultrapassou a meta para o aumento da taxa de emprego definida até 2020. Começam a ser tomadas atitudes tangíveis em relação à desigualdade salarial entre géneros, em vez de apenas serem elaborados discursos sobre a injustiça do problema. Em Portugal os refugiados da guerra na Ucrânia são inseridos na sociedade de forma a poder contribuir como cidadãos, através do direito ao trabalho que têm e lhes é conferido. A prontidão com que estes processo e lei foram ativados permite que fugitivos de guerra voltem a ter uma vida o mais normal possível em breve.

 

Resultados de Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques (2020)

O resultado da recolha do conteúdo presente nos meios de comunicação para o clipping revela que as macrotendências predominantes são a nostalgia, a experiência e a identidade. A nostalgia e o revivalismo estão bastante presentes na sociedade actual e na vida da população, sendo estas temáticas expressadas em diversos sectores culturais como: cinema, moda, música ou jogos. Por outro lado, a experiência, especificamente, a experiência imersiva, é uma temática e recurso cada vez mais usado, contribuindo como resposta às necessidades e desejos da população/consumidores e possuindo uma importância associada à tecnologia, provocando uma realidade virtual, aumentada, mais realista, apelando a todos os nossos sentidos (multisensação, Experience Economy e VR will Merge Ubiquitously).  Para além disso, gera impacto nos negócios, na aplicação empresarial, nas marcas e nos mais diversos sectores profissionais. As narrativas experienciadas, por sua vez, são um tópico bastante abrangente e comum nas notícias e artigos divulgados. A identidade surge como fator de aproximação entre marca e público, ou espaço e consumidor, ao sentir-se parte o espectador sente-se mais confortável para explorar o novo ambiente ou produto. Outro fator também possível de identificar neste macrotema é a identidade própria, de cor, etnia, cultura, posições políticas e gostos pessoais, a identidade como “tribalismo”, que emerge ao sentir-se parte de um grupo, também é presente nas pesquisas registradas até aqui.

Resultados de Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos (2020)

Após a coleta de notícias publicadas nos media nacionais e internacionais, foi possível levantarmos trinta e uma matérias relacionadas a nossa hipótese. Estas notícias foram agrupadas por afinidade e associação das palavras-chaves. Após a análise das reportagens e o seu agrupamento, foi possível chegarmos às seguintes conclusões:
» A temática de transhumanismo não é nova. Porém, ainda aparece com menos presença e muito relacionada às novas tecnologias, com um certo ar de ficção científica, apesar da existência de um movimento e especialistas que chancelam suas teorias;
» Diversas tecnologias e experimentos recentes indicam que a expansão do corpo humano para uma ligação com a máquina ou aprimoramento genéticos serão possíveis em um futuro não tão distante;
» Devido à atual situação da COVID-19, há uma série de matérias que mostram preocupação com as consequências desta crise, com previsões negativas mas também uma visão de esperança e de oportunidade para um novo recomeço.
» Matérias relacionadas com a diversidade de uma forma geral foram as de maior número dentro de nossa hipótese, com destaque para a abordagem do tema no ambiente de trabalho e igualdade de gênero.
» É possível observar de forma menos expressiva questões raciais e LGBT+ em mídias de massa, o que pode indicar a chegada destes temas  no mainstream.
» Há indicativos de que questões relacionadas a  polarização devem crescer, principalmente no campo político.

Resultados de Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang (2020)

Verifica-se que a maioria das notícias recolhidas abordam os serviços possibilitados pelas novas tecnologias como algo positivo, que pode contribuir para o bem-estar dos indivíduos e para benefício da sociedade. Exemplos disso são as notícias acerca de como o desenvolvimento tecnológico está a impactar positivamente o setor da saúde, e como durante a pandemia de Covid19 várias plataformas online disponibilizaram informação, cultura, arte e entretenimento de maneira a tornar os dias de confinamento ligeiramente melhores e menos aborrecidos, dentro das circunstâncias. No entanto, também existem várias notícias que referem algumas desvantagens do uso, aliás, do mau uso ou do uso excessivo, das novas tecnologias e dos respetivos produtos e serviços disponibilizados por estas.

Resultados de Marianna Rosalles, Francisco Mateus (2020)

O que se nota no clipping é que há cada vez mais programas institucionais que apoiam iniciativas sustentáveis, desde a elaboração de leis, congressos para debater o tema, até bolsas de incentivo para criação de produtos sustentáveis.
No entanto, após a declaração da Pandemia do Covid-19 houve uma mudança no discurso sobre sustentabilidade, a palavra recebeu um novo sentido de utilização e passou a se referir a atividade econômica e social. Para além disso, também surge nos media a discussão dos impactos do isolamento social, estratégia utilizada mundialmente para conter o contágio do vírus, no meio ambiente, como por exemplo a redução da poluição, a limpeza dos canais de Veneza, entre outros.
Há reportagens que afirmam que a pandemia evidenciou o impacto das desigualdades sociais e as consequências da má relação das pessoas com o planeta. A indústria da carne por exemplo foi alvo de críticas e denúncias quanto à insalubridade dos locais de trabalho, que se transformaram em novos focos da covid. O uso consciente da água também foi apontado como algo primordial em períodos de pandemia uma vez que torna-se primordial garantir que todos tenham acesso a ela, principalmente para garantir a higiene adequada. Outra preocupação levantada é com o descarte de lixo, que além de ter se transformado em um vetor de contágio, aumentou significativamente em razão da pandemia.

Resultados de Andreia Carneiro,  Caroline Rocha,  Karliete Nunes (2020)

Para a realização do clipping foram pesquisadas as seguintes fontes: www.público.pt;  www.expresso.pt; www.sabado.pt; www.dn.pt
As reportagens analisadas foram publicadas entre os dias 11 de junho de 2019 e 13 de maio de 2020. Entre os assuntos mais debatidos estão discussões acerca das doenças desencadeadas pelo atual ritmo e sobrecarga de trabalho. Tanto as consequências físicas de atividades repetitivas, quando sintomas ou doenças psíquicas (burnout, ansiedade, tristeza e confusão mental).
O debate sobre o potencial científico do estudo sobre a felicidade, necessidade de atividades físicas ao ar livre e a procura por tratamentos e métodos terapêuticos alternativos, bem como a busca pelo envelhecimento saudável e ativo também ganham espaço nos media.
Em outra vertente, reportagens sobre privacidade (ou a falta dela) dentro do ambiente virtual e como isso impacta na vida e na saúde mental das pessoas também são facilmente encontradas em veículos de comunicação. E aproveitando o momento de pandemia de coronavírus no mundo, algumas reportagens abordam a necessidade de manter a saúde mental em dias para enfrentar o confinamento e sugerem atividades de autocuidado durante a quarentena.

Exercício 1: Eurovisão (2022)
(Beatriz Baptista e Margarida Costa)

Os Estudos de Tendências são uma abordagem de múltiplas disciplinas enquadradas nos Estudos de Cultura, articulando um conjunto de conceitos operacionais e métodos que são aplicados com objetivos e processos específicos. O seu objetivo passa por mapear as principais mentalidades emergentes que se apresentam em constante mutação, mediante os seus processos visíveis (como são exemplo os comportamentos que advêm destas mentalidades) e objetos e manifestações culturais que as regulam e traduzem. Para tal, através da observação atenta é possível identificar novos padrões que impactam representações, práticas, objetos e discursos, determinando como grupos e indivíduos consomem e geram ligações simbólicas e novos significados entre si.
Deste modo, na tentativa de se aplicar um método experimental nos Estudos de Tendências, optámos por analisar o Eurovision Song Contest observando padrões no contexto europeu e australiano1, nos últimos dez anos2, em termos ambientais e de sustentabilidade, políticos, económicos, nostálgicos, de género e sexualidade e de identidades nacionais3.
Esta análise de 2012 a 20224 pretende questionar de que modo as músicas e performances, do objeto selecionado, refletem as tendências socioculturais. Em termos do problema escolhido, que orientasse a nossa análise, interrogamos para que categorias a população europeia e australiana mais se inclinou na escolha da música e performance que as representaria neste concurso. Assim sendo, tentou-se sempre perceber qual o impacto das tendências socioculturais na criação de significados nesta mesma produção artística.
Para esse propósito escolheu-se o método de análise de conteúdo, devido a permitir ver padrões e quantificar repetições de significados e significantes numa série de dados de um objeto específico, adequando-se, portanto, no nosso objetivo com o Eurovision Song Contest. Neste sentido, foram analisadas todas as músicas da final de cada ano, de modo a enquadrá-las nas categorias acima supracitadas. Para tal foi feita uma pesquisa que incluiu o site oficial do Eurovision Song Context (https://eurovision.tv/), para, principalmente, acesso às traduções das músicas em suas línguas maternas, juntamente com a visualização de entrevistas com os artistas e suas equipas de produção e delegação de cada país. Seguidamente, procedeu-se à análise de cada tabela, de modo a obter conclusões mais concretas sobre cada ano. Por fim, examinou-se o objeto de estudo no seu total (nos anos selecionados) para verificação de padrões e ligações possíveis com as tendências socioculturais.

1 A Austrália integrou o Eurovision Song Contest em 2015, de modo a comemorar o 60º aniversário deste concurso. O país foi convidado a participar com base no facto de parte das audiências não europeias serem australianas, estes são grandes adeptos, transmitindo anualmente a competição desde 2005.
2 Optou-se por um contexto europeu alargado que permitisse observar melhor como as tendências socioculturais impactam a produção criativa e artística no Eurovision Song Context.
3 Foram escolhidas estas categorias uma vez que cada uma apresenta elementos específicos que constam no descritivo de cada tendência sociocultural, identificadas pelo Trends and Culture Management Lab (https://creativecultures.letras.ulisboa.pt/index.php/gtc-trends2021/).
4 O ano de 2020 foi suprimido uma vez que o concurso não foi realizado devido à situação pandémica da propagação da Covid-19.

 

Categorias de Análise:
1. Conteúdo da música e/ou performance: Questões Ambientais e de Sustentabilidade
2. Conteúdo da música e/ou performance: Questões Políticas
3. Conteúdo da música e/ou performance: Questões Económicas
4. Conteúdo da música e/ou performance: Questões de Nostalgia
5. Conteúdo da música e/ou performance: Questões de Género e Sexualidade
6. Conteúdo da música e/ou performance: Questões de Identidades Nacionais

 

2012

  • Resultados:
PAÍS LUGAR CANTOR E MÚSICA a. b. c. d. e. f.
Suécia Loreen, Euphoria
Rússia Buranovskiye Babushki,

Party For Everybody

X X X X
Sérvia Željko Joksimović, Nije Ljubav Stvar X X
Azerbaijão Sabina Babayeva, When X X

 

The Music Dies
Albânia Rona Nishliu, Suus X X
Estónia Ott Lepland, Kuula X X
Turquia Can Bonomo, Love Me Back X X X
Alemanha Roman Lob, Standing Still
Itália Nina Zilli, L’Amore È Femmina (Out Of Love) X X
Espanha 10º Pastora Soler, Quédate Conmigo (Stay With Me) X
Moldávia 11º Pasha Parfeny, Lăutar X
Roménia 12º Mandinga, Zaleilah X X X
Macedónia do Norte 13º Kaliopi, Crno I Belo X
Lituânia 14º Donny Montell, Love is Blind X
Ucrânia 15º Gaitana, Be My Guest X X X
Chipre 16º Ivi Adamou, La La Love X X X
Grécia 17º Eleftheria Eleftheriou,

Aphrodisiac

X X X
Bósnia e Herzegovina 18º Maya Sar, Korake Ti Znam X
Irlanda 19º Jedward, Waterline
Islândia 20º Greta Salóme & Jónsi,

Never Forget

X X
Malta 21º Kurt Calleja, This Is The Night X
França 22º Anggun, Echo (You And I) X X X X
Dinamarca 23º Soluna Samay, Should’ve Known Better X X
Hungria 24º Compact Disco, Sound Of Our Hearts X

 

Reino Unido 25º Engelbert Humperdinck,

Love Will Set You Free

X
Noruega 26º Tooji, Stay X

2013

  • Resultados:

 

PAÍS LUGAR CANTOR E MÚSICA a. b. c. d. e. f.
Dinamarca Emmelie de Forest, Only Teardrops X X X
Azerbaijão Farid Mammadov, Hold Me X X
Ucrânia Zlata Ognevich, Gravity X X X
Noruega Margaret Berger, I Feel You My Love X X
Rússia Dina Garipova, What if X X
Grécia Koza Mostra feat. Agathon Iakovidis, Alcohol is Free X X X
Itália Marco Mengoni,

L’Essenziale

X X X
Malta Gianluca, Tomorrow
Países Baixos Anouk, Birds X
Hungria 10º ByeAlex, Kedvesem (Zoohacker Remix) X X
Moldávia 11º Aliona Moon, O Mie X
Bélgica 12º Roberto Bellarosa, Love Kills
Roménia 13º Cezar, It’s My Life X X
Suécia 14º Robin Stjernberg, You X
Geórgia 15º Nodi Tatishvili & Sophie Gelovani, Waterfall X
Bielorússia 16º Alyona Lanskaya, Solaych X X X

 

Islândia 17º Eythor Ingi, Ég Á Lif X X
Arménia 18º Dorians, Lonely Planet X X X
Reino Unido 19º Bonnie Tyler, Believe In Me
Estónia 20º Birgit, Et Uus Saaks Alguse X X
Alemanha 21º Cascada, Glorious X X
Lituânia 22º Andrius Pojavis,

Something

X
França 23º Amandine Bourgeois,

L’enfer Et Moi

X X
Finlândia 24º Krista Siegfrids, Marry Me X X
Espanha 25º ESDM, Contigo Hasta El Final (With You Until The End) X
Irlanda 26º Ryan Dolan, Only Love Survives X X X

 

2014

  • Resultados:
PAÍS LUGAR CANTOR E MÚSICA a. b. c. d. e. f.
Áustria Conchita Wurst, Rise Like a Phoenix X
Países Baixos The Common Linnets,

Calm After The Storm

X
Suécia Sanna Nielsen, Undo X
Arménia Aram MP3, Not Alone X X
Hungria András Kállay-Saunders,

Running

X X X
Ucrânia Mariya Yaremchuk,

Tick-Tock

X X X
Rússia Tomachevy Sisters, Shine X X X
Noruega Carl Espen, Silent Storm

 

Dinamarca Basim, Cliche Love Song X
Espanha 10º Ruth Lorenzo, Dancing in the rain X X
Finlândia 11º Softengine, Something Better X
Roménia 12º Paula Seling & OVI,

Miracle

X
Suíça 13º Sebalter, Hunter Of Stars X
Polónia 14º Donatan & Cleo, My Słowianie – We Are Slavic X X
Islândia 15º Pollapönk, No Prejudice X
Bielorrússia 16º Teo, Cheesecake X
Reino Unido 17º Molly, Children of the Universe X
Alemanha 18º Elaiza, Is it right? X
Montenegro 19º Sergej Ćetković, Moj Svijet X
Grécia 20º Freaky Fortune feat. RiskyKidd, Rise Up X
Itália 21º Emma, La Mia Città X X
Azerbaijão 22º Dilara Kazimova, Star A Fire X X X
Malta 23º Firelight, Coming Home X X X
São Marino 24º Valentina Monetta, Maybe (Forse) X
Eslovénia 25º Tinkara Kovač, Round and round X X X
França 26º TWIN TWIN, Moustache X X

 

2015

  • Resultados:
PAÍS LUGAR CANTOR E MÚSICA a. b. c. d. e. f.
Suécia Måns Zelmerlöw, Heroes X X

 

Rússia Polina Gagarina, A Million Voices X X
Itália Il Volo, Grande Amore X X
Bélgica Loïc Nottet, Rhythm Inside X X X
Austrália Guy Sebastian, Tonight Again X
Letónia Aminata, Love Injected X
Estónia Elina Born & Stig Rästa,

Goodbye to Yesterday

X
Noruega Mørland & Debrah Scarlett, A Monster Like Me
Israel Nadav Guedj, Golden Boy X
Sérvia 10º Bojana Stamenov, Beauty Never Lies X
Geórgia 11º Nina Sublatti, Warrior X X X
Azerbaijão 12º Elnur Huseynov, Hour Of The Wolf X X
Montenegro 13º Knez, Adio X
Eslovénia 14º Maraaya, Here for You X
Roménia 15º Voltaj, De La Capat / All Over Again X X
Arménia 16º Geneaology, Face The Shadow X
Albânia 17º Elhaida Dani, I’m Alive X X
Lituânia 18º Monika Linkytè and Vaidas Baumila, This Time X X
Grécia 19º Maria Elena Kyriakou,

One Last Breath

X X
Hungria 20º Boggie, Wars For Nothing X
Espanha 21º Edurne, Amanecer X X
Chipre 22º John Karayiannis, One X

 

Thing I Should Have Done
Polónia 23º Monika Kuszyńska, In The Name Of Love X X X
Reino Unido 24º Electro Velvet, Still In Love With You X
França 25º Lisa Angell, N’oubliez Pas X X X X
Áustria 26º The Makemakes, I Am Yours X
Alemanha 27º Ann Sophie, Black Smoke X

 

2016

  • Resultados:
PAÍS LUGAR CANTOR E MÚSICA a. b. c. d. e. f.
Ucrânia Jamala, 1944 X X X
Austrália Dami Im, Sound of Silence X X X
Rússia Sergey Lazarev, You Are The Only One X X X X
Bulgária Poli Genova, If Love Was a Crime X
Suécia Frans, If I Were Sorry
França Amir, J’ai cherché
Arménia Iveta Mukuchyan,

LoveWave

X X
Polónia Michał Szpak, Color of Your Life X X
Lituânia Donny Montell, I’ve Been Waiting For This Night
Bélgica 10º Laura Tesoro, What’s The Pressure X
Países Baixos 11º Douwe Bob, Slow Down X
Malta 12º Ira Losco, Walk On Water
Áustria 13º ZOË, Loin d’ici X

 

Israel 14º Hovi Star, Made of Stars X X
Letónia 15º Justs, Heartbeat X
Itália 16º Francesca Michielin, No Degree Of Separation X X X X
Azerbaijão 17º Samra, Miracle X
Sérvia 18º Sanja Vučić ZAA,

Goodbye (Shelter)

X X
Hungria 19º Freddie, Pioneer X
Geórgia 20º Nika Kocharov and Young Georgian Lolitaz, Midnight Gold
Chipre 21º Minus One, Alter Ego
Espanha 22º Barei, Say Yay! X
Croácia 23º Nina Kraljić, Lighthouse X
Reino Unido 24º Joe and Jake, You’re Not Alone X X
República Checa 25º Gabriela Gunčíková, I Stand
Alemanha 26º Jamie-Lee, Ghost X X X

 

2017

  • Resultados:
PAÍS LUGAR CANTOR E MÚSICA a. b. c. d. e. f.
Portugal Salvador Sobral, Amar Pelos Dois X
Bulgária Kristian Kostov, Beautiful Mess
Moldávia Sunstroke Project, Hey Mamma
Bélgica Blanche, City Lights
Suécia Robin Bengtsson, I Can’t Go On

 

Itália Francesco Gabbani,

Occidentali’s Karma

X X X X
Roménia Ilinca ft. Alex Florea,

Yodel It!

X X X
Hungria Joci Pápai, Origo X X
Austrália Isaiah, Don’t Come Easy X
Noruega 10º JOWST, Grab The Moment X
Países Baixos 11º OG3NE, Lights and Shadows X
França 12º Alma, Requiem X
Croácia 13º Jaccues Houdek, My Friend X X
Azerbaijão 14º Dihaj, Skeletons X
Reino Unido 15º Lucie Jones, Never Give Up On You
Áustria 16º Nathan Trent, Running On Air X
Bielorrússia 17º Naviband, Story of My Life X X
Arménia 18º Artsvik, Fly With Me X X X
Grécia 19º Demy, This is Love
Dinamarca 20º Anja, Where I Am
Chipre 21º Hovig, Gravity
Polónia 22º Kasia Moś, Flashlight X
Israel 23º IMRI, I Feel Alive X
Ucrânia 24º O.Torvald, Time X
Alemanha 25º Levina, Perfect Life
Espanha 26º Manel Navarro, Do it For Your Lover X

 

2018

  • Resultados:
PAÍS LUGAR CANTOR E MÚSICA a. b. c. d. e. f.
Israel Netta, TOY X X X
Chipre Eleni Foureira, Fuego X X X
Áustria Cesár Sampson, Nobody But You
Alemanha Michael Schulte, You Let Me Walk Alone X
Itália Ermal Meta e Fabrizio Moro, Non Mi Avete Fatto

Niente

X X X
República Checa Mikolas Josef, Lie To Me
Suécia Benjamin Ingrosso, Dance You Off
Estónia Elina Nechayeva, La Forza
Dinamarca Rasmussen, Higher Ground X X X
Moldávia 10º DoReDoS, My Lucky Day X X
Albânia 11º Eugent Bushpepa, Mall X
Lituânia 12º Ieva Zasimauskaitè, When We’re Old X X
França 13º Madame Monsieur, Mercy X X X
Bulgária 14º EQUINOX, Bones X X
Noruega 15º Alexander Rybak, That’s How You Write A Song
Irlanda 16º Ryan O’Shaughnessy,

Together

X X X
Ucrânia 17º MELOVIN, Under The Ladder
Países Baixos 18º Waylon, Outlaw In ‘Em X X X
Sérvia 19º Sanja Ilić & Balkanika,

Nova Deca

X

 

Austrália 20º Jessica Mauboy, We Got Love X X
Hungria 21º AWS, Viszlát Nyár X X X
Eslovénia 22º Lea Sirk, Hvala, ne! X
Espanha 23º Amaia y Alfred, Tu Canción X
Reino Unido 24º SuRie, Storm X X X
Finlândia 25º Saara Aalto, Monsters X X
Portugal 26º Cláudia Pascoal, O Jardim X

 

2019

  • Resultados:
PAÍS LUGAR CANTOR E MÚSICA a. b. c. d. e. f.
Países Baixos Duncan Laurence, Arcade X
Itália Mahmood, Soldi X X X X
Rússia Sergey Lazarev, Scream X X
Suíça Luca Hänni, She Got Me
Suécia John Lundvik, Too Late For Love
Noruega KEiiNO, Spirit in the Sky X X X X X
Macedónia do Norte Tamara Todevska, Proud X X X
Azerbaijão Chingiz, Truth X X X X
Austrália Kate Miller-Heidke, Zero Gravity
Islândia 10º Hatari, Hatrið mun sigra X X X
República Checa 11º Lake Malawi, Friend of a Friend X
Dinamarca 12º Leonora, Love Is Forever X X X
Chipre 13º Tamta, Replay X X

 

Malta 14º Michela, Chameleon X X X
Eslovénia 15º Zala Kralj & Gašper Šantl,

Sebi

X X
França 16º Bilal Hassani, Robi X X X
Albânia 17º Jonida Maliqi, Ktheju tokës X X X X
Sérvia 18º Nevena Božović, Kruna X
São Marino 19º Serhat, Say Na Na Na X X X
Estónia 20º Victor Crone, Storm
Grécia 21º Katerine Duska, Better Love X X
Espanha 22º Miki, La Venda X X
Israel 23º Kobi Marimi, Home X X X
Bielorússia 24º ZENA, Like It
Alemanha 25º S!sters, Sister X
Reino Unido 26º Michael Rice, Bigger Than Us X X

 

2021

  • Resultados:
PAÍS LUGAR CANTOR E MÚSICA a. b. c. d. e. f.
Itália Måneskin, Zitti e Buoni X X X
França Barbara Pravi, Voilà X X
Suíça Gjon’s Tears, Tout l’Univers X X X X
Islândia Daði og Gagnamagnið, 10 Years X
Ucrânia Go_A, Shum X X
Finlândia Blind Channel, Dark Side X X X
Malta Destiny, Je Me Casse X X X
Lituânia The Roop, Discoteque X X

 

Rússia Manizha, Russian Woman X X X X X X
Grécia 10º Stefania, Last Dance X
Bulgária 11º VICTORIA, Growing Up Is Getting Wold X X
Portugal 12º The Black Mamba, Love Is On My Side X X X X
Moldávia 13º Natalia Gordienko,

SUGAR

X
Suécia 14º Tusse, Voices X X
Sérvia 15º Hurricane, Loco Loco X X
Chipre 16º Elena Tsagrinou, El Diablo X X
Israel 17º Eden Alene, Set Me Free X X
Noruega 18º TIX, Fallen Angel X X
Bélgica 19º Hooverphonic, The Wrong Place
Azerbaijão 20º Efendi, Mata Hari X X X X
Albânia 21º Anxhela Peristeri, Karma X X
São Marino 22º Senhit, Adrenalina X X
Países Baixos 23º Jeangu Macrooy, Birth Of A New Age X X X
Espanha 24º Blas Cantó, Voy A Quedarme X
Alemanha 25º Jendrik, I Don’t Feel Hate X X X
Reino Unido 26º James Newman, Embers

 

2022

  • Resultados:
PAÍS LUGAR CANTOR E MÚSICA a. b. c. d. e. f.
Ucrânia Kalush Orchestra, Stefania X X X
Reino Unido Sam Ryder, SPACE MAN X X X

 

Espanha Chanel, SloMo X X
Suécia Cornelia Jakobs, Hold Me Closer X X
Sérvia Konstrakta, In Corpore Sano X X X
Itália Mahmood & BLANCO,

Brividi

X X
Moldávia Zdob şi Zdub & Advahov Brothers, Trenulețul X X
Grécia Amanda Georgiadi Tenfjord, Die Together X X
Portugal MARO, Saudade,Saudade X X
Noruega 10º Subwoolfer, Give That Wolf A Banana X
Países Baixos 11º S10, De Diepte X
Polónia 12º Ochman, River X X
Estónia 13º Stefan, Hope X
Lituânia 14º Monika Liu, Sentimental X X
Austrália 15º Sheldon Riley, Not The Same X X
Azerbaijão 16º Nadir Rustamli, Fade To Black X X
Suíça 17º Marius Bear, Boys Do Cry X
Roménia 18º WRS, Llámame X
Bélgica 19º Jérémie Makiese, Miss You X X
Arménia 20º Rosa Linn, Snap X X
Finlândia 21º The Rasmus, Jezebel X
República Checa 22º We Are Domi, Lights Off X X X
Islândia 23º Systur, Með Hækkandi Sól X X
França 24º Alvan & Ahez, Fulenn X X

 

Alemanha 25º Malik Harris, Rockstars X

 

Votação Júri:

PAÍS LUGAR CANTOR E MÚSICA
2012
Suécia Loreen, Euphoria
Sérvia Željko Joksimović, Nije Ljubav Stvar
Albânia Rona Nishliu, Suus
2013
Dinamarca Emmelie de Forest, Only Teardrops
Azerbaijão Farid Mammadov, Hold Me
Suécia Robin Stjernberg, You
2014
Áustria Conchita Wurst, Rise Like a Phoenix
Países Baixos The Common Linnets, Calm After The Storm
Suécia Sanna Nielsen, Undo
2015
Suécia Måns Zelmerlöw, Heroes
Letónia Aminata, Love Injected
Rússia Polina Gagarin, A Million Voices
2016
Austrália Dami Im, Sound Of Silence
Ucrânia Jamala, 1994
França Amir, J’ai cherché
2017
Portugal Salvador Sobral, Amar Pelos Dois

 

Bulgária Kristian Kostov, Beautiful Mess
Suécia Robin Bengtsson, I Can’t Go On
2018
Áustria Cesár Sampson, Nobody But You
Suécia Benjamin Ingrosso, Dance You Off
Israel Netta, TOY
2019
Macedónia do Norte Tamara Todevska, Proud
Suécia John Lundvik, Too Late For Love
Países Baixos Duncan Laurence, Arcade
2021
Suíça Gjon’s Tears, Tout l’Univers
França Barbara Pravi, Voilà
Malta Destiny, Je Me Casse
2022
Reino Unido Sam Ryder, SPACE MAN
Suécia Cornelia Jakobs, Hold Me Closer
Espanha Chanel, SloMo

 

Televoto:

 

Dinamarca Emmelie de Forest, Only Teardrops
Ucrânia Zlata Ognevich, Gravity
Azerbaijão Farid Mammadov, Hold Me
2014
Áustria Conchita Wurst, Rise Like a Phoenix
Países Baixos The Common Linnets, Calm After The Storm
Arménia Aram MP3, Not Alone
2015
Itália Il Volo, Grande Amore
Rússia Polina Gagarin, A Million Voices
Suécia Måns Zelmerlöw, Heroes
2016
Rússia Sergey Lazarev, You Are The Only One
Ucrânia Jamala, 1994
Polónia Michał Szpak, Color Of Your Life
2017
Portugal Salvador Sobral, Amar Pelos Dois
Bulgária Kristian Kostov, Beautiful Mess
Moldávia Sunstroke Project, Hey Mamma
2018
Israel Netta, TOY
Chipre Eleni Foureira, Fuego
Itália Ermal Meta e Fabrizio Moro, Non Mi Avete Fatto Niente
2019
Noruega KEiiNO, Spirit in the Sky
Países Baixos Duncan Laurence, Arcade
Itália Mahmood, Soldi

 

2021
Itália Måneskin, Zitti e Buoni
Ucrânia Go_A, Shum
França Barbara Pravi, Voilà
2022
Ucrânia Kalush Orchestra, Stefania
Moldávia Zdob şi Zdub & Advahov Brothers, Trenulețul
Espanha Chanel, SloMo

 

 Conclusões

2012:
No que diz respeito ao ano de 2012, é possível observar que a categoria de análise D., “Questões de Nostalgia”, é aquela que teve maior representatividade, havendo dezasseis músicas/performances que abordam esta temática, sendo que a categoria de análise F. – “Questões de Identidades Nacionais” – é a segunda mais representada, estando presente em catorze músicas/performances. A categoria “Questões de Género e Sexualidade” (E.) foi a terceira mais presente, tendo oito países apresentado músicas que se relacionam com este tópico. Por outro lado, as categorias de análise A. e C. – “Questões Ambientais ou de Sustentabilidade” e “Questões Económicas” – são aquelas que foram menos tratadas, estando, respetivamente, presentes apenas na música apresentada pela Estónia (6º lugar), intitulada Kuula, e na apresentada pela Rússia (2º lugar), intitulada Party For Everybody. Relativamente ao número de categorias às quais as diversas músicas/performances se referem, a Rússia é um dos países que aborda mais categorias de análise, só não se encaixando nas categorias A. e F., sendo igualada pela França (22º lugar), cuja música não se enquadra nas categorias A. e C. No que concerne à classificação final, é possível verificar que a música vencedora do 1º lugar, atribuído à Suécia, não se insere em nenhuma das categorias (para além da Suécia, as canções apresentadas pela Alemanha e pela Irlanda também não se coadunam com nenhuma das categorias definidas). Já o 2º lugar, ocupado pela Rússia, aborda quatro das seis categorias de análise estabelecidas e o 3º lugar, atribuído à Sérvia, refere as categorias B. e D. Já as três músicas que ocupam os três últimos lugares da tabela, cada uma delas é enquadrada em apenas uma categoria: a música da Hungria (24º lugar) refere a categoria B., a do Reino Unido (25º lugar) refere a categoria D. e, finalmente, o 26º lugar, ocupado pela Noruega, refere a categoria E.

Relativamente à votação do júri em 2012, os países colocados nos três primeiros lugares são a Suécia, a Sérvia e a Albânia. A música da Suécia, que também ficou em primeiro lugar na votação final, como já foi referido anteriormente, não se enquadra em nenhuma das categorias de análise estabelecidas. Já a Sérvia obteve o segundo lugar na votação do júri e o terceiro lugar na votação final, tendo apresentado uma música que se enquadra nas categorias de análise acima supracitadas. Finalmente, a Albânia obteve o quinto lugar na votação final, tendo apresentado uma música que encaixa nas categorias E. e F. No que diz respeito ao televoto, este correspondeu aos resultados da votação final: Suécia em primeiro lugar, com uma canção que não pertence a nenhuma das categorias; a Rússia em segundo lugar, tendo apresentado uma música que se enquadra nas B., C., D. e F.; e a Sérvia, em terceiro lugar com uma música que se encaixa nas categorias B. e D.

2013:
Relativamente ao ano de 2013, é possível verificar que as categorias de análise D. – “Questões de Nostalgia” – e F. – “Questões de Identidades Nacionais” – foram as mais representadas, havendo doze músicas que referem cada uma destas categorias. Já a categoria “Questões Políticas” foi a terceira mais referida, estando presente em onze músicas/performances. Por outro lado, as categorias “Questões Ambientais e Sustentabilidade” e “Questões Económicas” são as que tiveram menor visibilidade, constando apenas em duas músicas. No que diz respeito à quantidade de categorias em que cada canção se insere, de entre as vinte e seis músicas apresentadas em 2013, três delas não se enquadram em nenhuma das categorias de análise. Em contrapartida, as músicas apresentadas pela Dinamarca (1º lugar), pela Ucrânia (3º lugar), pela Grécia (6º lugar), pela Itália (7º lugar), pela Arménia (18º lugar) e pela Irlanda (26º lugar) adequam-se, cada uma, a três das seis categorias de análise criadas. No que diz respeito à classificação final, a música apresentada pela Dinamarca, que obteve o 1º lugar, enquadra-se nas categorias B., D. e F., enquanto o 2º lugar, atribuído ao Azerbaijão, refere as categorias D. e E. Já o 3º lugar, ocupado pela Ucrânia, enquadra-se nas categorias B., D. e E. Os três últimos lugares da tabela são ocupados pela Finlândia (24º lugar), que refere as categorias B. e E., por Espanha (25º lugar), cuja música se adequa apenas à categoria F. e pela Irlanda (26º lugar), que se enquadra nas categorias B., D. e F.

 

Em 2013, a votação do júri colocou nos dois primeiros lugares os mesmos países que obtiveram esta classificação na votação final: a Dinamarca, cuja canção se encaixa nas categorias B., D. e F., e o Azerbaijão, que apresentou uma música que se encaixa nas categorias D. e E.. Em terceiro lugar, o júri colocou a Suécia, que obteve o 14º lugar na classificação final, com uma canção que aborda “Questões de Nostalgia”. O televoto, por sua vez, colocou nos três primeiros lugares as três canções que obtiveram esta classificação na votação final, mas com ligeiras diferenças: a Dinamarca obteve o primeiro lugar, a Ucrânia obteve o segundo lugar (e o terceiro na classificação final), tendo apresentado uma canção que se enquadra nas categorias B., D. e E., e o Azerbaijão ficou em terceiro lugar, tendo obtido o segundo lugar na tabela de classificação final.

2014:
Em 2014, a categoria de análise que teve maior representatividade foi “Questões de Nostalgia” (D.), estando presente em doze músicas/performances, seguida da categoria B., “Questões Políticas”, que se reflete em onze músicas/performances. Em oposição, a categoria “Questões Ambientais ou de Sustentabilidade” não está presente em nenhuma das músicas apresentadas no ano de 2014, sendo que a categoria C., “Questões Económicas” é verificável apenas nas canções apresentadas pela Rússia (7º lugar) e por França (26º lugar). Relativamente ao conteúdo das músicas/performances, é possível verificar que a música apresentada pela Noruega (8º lugar) não se enquadra em nenhuma das categorias. Por outro lado, as canções apresentadas pela Hungria (5º lugar), pela Ucrânia (6º lugar), pela Rússia (7º lugar), pelo Azerbaijão (22º lugar), por Malta (23º lugar) e pela Estónia (25º lugar) adequam-se, cada uma, a três categorias de análise. No que tange a classificação final, é possível verificar que as músicas que ocupam os três primeiros lugares refletem apenas uma categoria cada uma: o 1º lugar, ocupado pela Áustria, enquadra-se na categoria E., e o 2º e 3º lugares, atribuídos aos Países Baixos e à Suécia, enquadram-se ambos na categoria D. Já os últimos lugares da tabela foram atribuídos a São Marino (24º lugar), cuja música reflete a categoria D., à Eslovénia (25º lugar), que refere as categorias B., D. e E. e a França (26º lugar), que se enquadra nas categorias B. e C.

Em 2014, tanto a votação final como a votação do júri classificaram em primeiro lugar a Áustria, que apresentou uma canção que se encaixa na categoria E., em segundo lugar os Países Baixos, cuja música se enquadra na categoria D. e, em terceiro lugar, a Suécia, que também se encaixa na categoria D. O televoto difere apenas no terceiro lugar, que foi

 

atribuído à Arménia, que apresentou uma música que se enquadra nas categorias B. e E., e obteve o quarto lugar na classificação final.

2015:
Em 2015, a categoria de análise com maior representatividade foi “Questões de Nostalgia”, estando presente em catorze músicas/performances, sendo seguida pela categoria “Questões Políticas”, que é verificável em onze músicas/performances, e pela categoria “Questões de Género e Sexualidade”, que pode ser encontrada em dez músicas/performances. Por outro lado, nenhuma música referiu “Questões Ambientais ou de Sustentabilidade” e apenas França referiu “Questões Económicas”. No que diz respeito à quantidade de categorias em que se encaixa cada música, é possível verificar que apenas a canção da Noruega (8º lugar) não pode ser enquadrada em nenhuma das categorias. Já a música da França, apesar de obter o 25º lugar, enquadra-se em quatro das seis categorias de análise, deixando de fora apenas as categorias A. e E. Seguidamente, as músicas/performances da Bélgica (4º lugar), da Geórgia (11º lugar) e da Polónia (23º lugar) enquadram-se em três categorias cada uma. No que diz respeito à classificação final, é possível que os três primeiros lugares têm em comum “Questões de Nostalgia”: a música da Suécia (1º lugar), tal como a música da Rússia (2º lugar) encaixam-se nas categorias B. e D., e a de Itália (3º lugar) é enquadrada nas categorias

  1. e F. Relativamente aos últimos lugares da tabela, há uma situação de disparidade: enquanto França (25º lugar) aborda quatro das seis categorias de análise, a Áustria (26º lugar) e a Alemanha (27º lugar) abordam apenas as categorias D. e E., respectivamente.

Em 2015, a Suécia obteve o primeiro lugar na votação do júri, o terceiro lugar no televoto e o primeiro lugar na votação final, tendo apresentado uma música que se enquadra nas categorias B. e D. Já a Rússia, que apresentou uma música que se encaixa nas mesmas categorias que a da Suécia, obteve o segundo lugar na classificação final e televoto, e o terceiro lugar na votação do júri. Em primeiro lugar, no televoto, ficou classificada a Itália, que obteve o terceiro lugar na classificação final, e apresentou uma música que se enquadra nas categorias D. e F. O júri atribuiu o segundo lugar à música da Letónia, que obteve o sexto lugar na classificação final, e cuja música se enquadra na categoria E.

2016:
Em 2016, as “Questões Ambientais” foram abordadas apenas pela Itália (16º lugar), enquanto as “Questões Económicas” (categoria C.) foram abordadas apenas pela Rússia (3º lugar). Já a categoria referente a “Questões de Nostalgia” foi abordada nas

 

músicas/performances de treze países e as “Questões de Género e Sexualidade” foram abordadas por dez países. De entre as vinte e seis músicas a concurso, sete não podem ser enquadradas em nenhumas das seis categorias de análise. Por outro lado, as músicas apresentadas pela Rússia e pela Itália remetem para quatro categorias: a Rússia não refere apenas as categorias A. e E., enquanto Itália não refere as categorias C. e F.. Já as músicas apresentadas pela Ucrânia (1º lugar), pela Austrália (2º lugar) e pela Alemanha (26º lugar) podem ser encaixadas em três das seis categorias. No que diz respeito à classificação final, as canções que ocupam os três primeiros lugares têm em comum o facto de pertencerem as três às categorias B. e D.: o primeiro lugar, ocupado pela Ucrânia, enquadra-se nas categorias B.,

  1. e F.; o segundo lugar, atribuído à Austrália, pode ser enquadrado nas categorias B., D. e

E.; finalmente, a música da Rússia (3º lugar) integra-se nas categorias B., C., D. e F. Já os últimos três lugares da tabela de classificação são ocupados pelo Reino Unido (24º lugar), cuja música se enquadra nas categorias B. e D., pela República Checa (25º lugar), que não foi possível enquadrar em nenhuma das categorias e, finalmente, o 26º lugar é ocupado pela música da Alemanha, que se encaixa nas categorias B., D. e E.

No ano de 2016, o júri atribuiu o primeiro lugar à Austrália (segundo lugar na classificação final), cuja canção se encaixa nas categorias B., D. e E. Já a Ucrânia obteve o primeiro lugar na votação final e o segundo lugar na votação do júri e no televoto e a canção que apresentou encaixa-se nas categorias B., D. e F.. França, cuja música não se encaixa em nenhuma das categorias de análise, obteve o terceiro lugar na votação do júri e o sexto na classificação final. Por fim, o televoto atribuiu o primeiro lugar à Rússia, que apresentou uma música que se enquadra nas categorias B., C., D. e F. e obteve o terceiro lugar na classificação final, tendo o terceiro lugar do televoto sido atribuído à Polónia (oitavo lugar na tabela final), que apresentou uma música enquadrada nas categorias D. e E.

2017:
Relativamente ao ano de 2017, é possível verificar que de entre as vinte e seis músicas em concurso, nove não se enquadram em nenhum dos parâmetros de análise definidos. De entre essas, duas encontram-se nos três primeiros lugares: a música da Bulgária (2º lugar) e a da Moldávia (3º lugar). A canção vencedora, de Portugal, enquadra-se apenas na categoria “Questões de Nostalgia”. No que diz respeito aos últimos três lugares, a música apresentada pela Alemanha (25º lugar) também não se enquadra em nenhuma das categorias de análise definidas, tendo o 24º lugar sido ocupado pela Ucrânia (categoria B.) e o 26º lugar atribuído a Espanha (categoria F.). Relativamente ao número de músicas/performances que se

 

enquadram em categoria, é possível verificar que em 2017 as “Questões de Identidades Nacionais” tiveram uma maior representatividade em comparação com outras categorias, havendo nove músicas/performances que se enquadram nesta categoria, sendo seguidas pelas “Questões Políticas” e as “Questões de Nostalgia”, que são abordadas em sete e seis músicas, respetivamente. Já as categorias “Questões Ambientais ou de Sustentabilidade” e “Questões de Nostalgia” estão presentes em apenas uma música cada uma. No que diz respeito à quantidade de categorias atribuídas a cada música/performance, é possível verificar que a música da Itália (6º lugar) se encaixa em quatro categorias, sendo seguida pelas músicas da Roménia (8º lugar) e da Arménia (18º lugar), que se enquadram em três categorias cada uma. Em 2017, a votação final, a votação do júri e o televoto foram bastante semelhantes: Portugal, que apresentou uma canção que aborda questões relacionadas com a categoria D., obteve o primeiro lugar por unanimidade e a Bulgária, cuja música não se enquadra em nenhuma das categorias, foi classificada com o segundo lugar em todos os tipos de votação. A Moldávia obteve o terceiro lugar tanto no televoto como na classificação final, com uma canção que não se encaixa em nenhuma categoria. O terceiro lugar da votação do júri foi atribuído à Suécia (5º lugar na classificação final), que apresentou uma música que não se enquadra em nenhuma das categorias.

2018:
Em 2018, as “Questões Políticas” e as “Questões de Identidades Nacionais” foram as categorias mais representadas, estando presentes em treze e em dez músicas, respetivamente. Por outro lado, as “Questões Ambientais ou de Sustentabilidade” não foram abordadas em nenhuma música/performance. No que diz respeito à quantidade de categorias presentes em cada música/performance, há seis músicas das vinte e seis a concurso que não se enquadram em nenhuma das categorias, estando uma delas entre os primeiros três classificados (a música da Áustria, que obteve o terceiro lugar), sendo o restante pódio composto por Israel (1º lugar) e pelo Chipre (2º lugar), cujas músicas/performances se enquadram nas mesmas categorias: B., E. e F. Relativamente aos últimos lugares, o 24º lugar é ocupado pelo Reino Unido (categorias B., C. e F.), o 25º lugar foi atribuído à Finlândia (categorias B. e E.), tendo Portugal (categoria D.) obtido o 26º lugar.

Em 2018, o júri atribuiu o primeiro lugar à Áustria (3º lugar na classificação final) e o segundo lugar à Suécia (7º lugar na classificação final), sendo que nenhuma das músicas apresentadas por estes países apresentam características que se enquadrem nas categorias de análise. O terceiro lugar do júri foi atribuído a Israel, o país vencedor no ano de 2018 e que

 

apresentou uma música que se relaciona com as categorias B., E. e F. O televoto atribuiu a Israel o primeiro lugar, o segundo lugar ao Chipre, que também obteve o segundo lugar na classificação final, e cuja música se enquadra nas mesmas categorias que a apresentada por Israel, e o terceiro lugar a Itália, que obteve o quinto lugar na classificação final, integrando-se nas categorias B., C., D.

2019:
No ano de 2019, houve cinco músicas às quais não foram atribuídas categorias de análise. Por outro lado, a canção da Noruega (6º lugar) aborda todas as categorias, excetuando as “Questões Ambientais ou de Sustentabilidade”. Já as músicas apresentadas pela Itália (2º lugar), pelo Azerbaijão (8º lugar) e pela Albânia (17º lugar) abordam quatro das seis categorias de análise. No que diz respeito à quantidade de músicas/performances que se enquadram em cada categoria, as “Questões Políticas” foram as mais abordadas, havendo treze músicas que abordam esta temática, sendo seguidas pelas “Questões de Género e Sexualidade”, que foram referidas em dez das vinte e seis músicas a concurso. Por outro lado, as “Questões Ambientais ou de Sustentabilidade” foram a temática menos tratada, estando presentes apenas nas músicas da Rússia (3º lugar) e de Malta (14º lugar). Relativamente à classificação final, os Países Baixos obtiveram o primeiro lugar com uma música que refere apenas “Questões de Nostalgia”. Já a música apresentada pela Itália, que ficou em segundo lugar, pode ser enquadrada nas categorias B., C., D. e F. O terceiro lugar foi atribuído à Rússia, que apresentou uma música/performance que refere “Questões Ambientais ou de Sustentabilidade” e “Questões de Nostalgia”. No final da tabela de classificações ficaram colocados a Bielorrússia (24º lugar), que apresentou um música que não se encaixa em nenhuma das categorias, a Alemanha (25º lugar), cuja música faz referência a “Questões de Género e Sexualidade” e, em último lugar, o Reino Unido, que apresentou uma música que se inclui nas “Questões de Nostalgia” e nas “Questões de Identidades Nacionais”.

Em 2019, a Macedónia do Norte obteve o primeiro lugar junto do júri e o sétimo na classificação final, tendo apresentado uma música que se enquadra nas categorias de análise B., D. e E.. Já a Suécia, cuja música não se enquadra em nenhuma das categorias definidas, obteve o segundo lugar junto do júri e o quinto na classificação final. Já os Países Baixos, que venceram a Eurovisão nesse ano, foram colocados em terceiro lugar pelo júri e em segundo pelo televoto, tendo apresentado uma canção que tem características da categoria D. O primeiro lugar do televoto foi atribuído à Noruega (sexto lugar na classificação final), cuja música se enquadra em todas as categorias de análise exceto a A., e o terceiro lugar foi atribuído a Itália, cuja canção tem características das categorias B., C., D. e F.

2021:
Em 2021, houve dezassete músicas/performances que abordaram “Questões de Género e Sexualidade”, quinze que referem “Questões Políticas” e dez que se enquadram na categoria “Questões de Nostalgia”. Por outro lado, as “Questões Ambientais ou de Sustentabilidade” foram a temática menos tratada em 2021, havendo apenas duas músicas/performances que fazem referência às mesmas. É também possível observar que apenas as músicas apresentadas pela Bélgica (19º lugar) e pelo Reino Unido (26º lugar) não podem ser consideradas em nenhuma das categorias definidas. No que diz respeito à quantidade de categorias em que cada música/performance se enquadra, destacam-se a música apresentada pela Rússia, que se encaixa em todas as categorias de análise criadas, assim como as músicas apresentadas pela Suíça, por Portugal e pelo Azerbaijão, que se enquadram em quatro categorias cada uma. Relativamente às classificações finais, é possível verificar que os três primeiros lugares – Itália, França e Suíça, respectivamente – têm em comum o facto de se enquadrarem os três na categoria B. Para além das “Questões Políticas”, a música apresentada pela Itália refere também “Questões Económicas” e “Questões de Género e Sexualidade”. Já a performance de França pode ser incluída, também, nas “Questões de Género e Sexualidade”, enquanto a da Suíça faz também referência às categorias C., D. e F. No que diz respeito aos últimos lugares da classificação, o 24º lugar é ocupado pela Espanha, cuja música se enquadra apenas nas “Questões de Nostalgia”. Segue-se a Alemanha, em 25º lugar e que apresentou uma música/performance que, à semelhança do primeiro lugar da tabela, se enquadra nas categorias B., C. e E. Finalmente, o Reino Unido ocupa a última posição da tabela com uma música que não se enquadra em nenhuma das categorias de análise criadas.

No ano de 2021, o júri atribuiu o primeiro lugar à Suíça (terceiro lugar na classificação final), cuja música se enquadra em todas as categorias excepto A. e E. Já França obteve o segundo lugar na classificação final e na votação do júri e o terceiro lugar no televoto, tendo apresentado uma música que se enquadra apenas nas categorias B. e E. O júri atribuiu a Malta o terceiro lugar (sétimo na classificação final), cuja canção se encaixa nas categorias B., D. e

  1. Itália ficou em primeiro lugar na classificação final e no televoto, tendo apresentado uma canção que pode ser enquadrada nas categorias B., C. e E. Por fim, o segundo lugar do televoto foi atribuído à Ucrânia, que obteve o quinto lugar na classificação final, que apresentou uma canção que se relaciona com as categorias A. e F.

2022:
O ano de 2022, ao contrário dos anteriores, caracteriza-se por todas as músicas/performances se encaixarem em pelo menos uma das categorias de análise. No entanto, à semelhança de anos anteriores, não houve nenhuma música/performance que se adequasse à categoria “Questões Ambientais ou de Sustentabilidade”. Já as “Questões de Género e Sexualidade” (categoria E.) foi a temática mais abordada, estando presente em quinze músicas. Seguem-se as “Questões de Nostalgia”, presentes em treze canções e as “Questões de Identidades Nacionais”, presentes em doze músicas. Relativamente às classificações finais, o 23º lugar foi atribuído à Islândia, que apresentou uma música que se enquadra nas categorias E. e F., tal como a música da França, que ficou classificada em 24º lugar. O 25º lugar da tabela é ocupado pela Alemanha, cuja música/performance se enquadra apenas na categoria D. Os três primeiros lugares da tabela de classificações são ocupados pela Ucrânia (1º lugar), que apresentou uma performance que se enquadra nas categorias B.,

  1. e F., pelo Reino Unido (2º lugar), que apresentou uma música que se adequa às categorias
  2. e D. e também à categoria E. Finalmente, em 3º lugar ficou classificada a prestação de Espanha, que aborda “Questões de Género e Sexualidade” e “Questões de Identidades Nacionais”.

Em 2022, o Reino Unido ficou classificado em primeiro lugar junto do júri (tendo obtido o segundo lugar na classificação final), e apresentou uma música que se enquadra nas categorias B., D., E. A Suécia ficou em segundo lugar na votação do júri e em quarto lugar na classificação final, e apresentou uma música que se relaciona com as categorias D. e E. Espanha obteve o terceiro lugar, quer na classificação final, quer na votação do júri e no televoto, sendo que a música que apresentou se enquadra nas categorias E. e F. A Ucrânia foi a vencedora desta edição, tendo conquistado também o primeiro lugar no televoto com uma música que se enquadra nas categorias B., D. e F. O segundo lugar do televoto foi atribuído à Moldávia, que obteve o sétimo lugar na classificação final, e cuja música apresenta características das categorias E. e F.

Conclusões Finais
Após esta análise minuciosa das categorias de análise presentes nas músicas/performances dos últimos dez anos do Eurovision Song Context, resta apenas interligar cada informação obtida com as tendências socioculturais identificadas pelo Trends and Culture Management Lab.

A Macrotendência Narrativas Ancoradas, num mundo que confronta constantemente as suas sociedades com desafios e mudanças, funciona como um repositório de memória coletiva, como uma âncora que encaminha para um processo de revisão de símbolos e significados, que geram novas formas de envolvimento. Narrativas Ancoradas engloba a microtendência iNostalgia, pelo que a podemos relacionar com a categoria “Questões de Nostalgia”. Deste modo, é importante referir que entre 2012 e 2015, a categoria D. foi a que apresentou maior representatividade; em 2022 foi a segunda mais presente; em 2016, 2017 e 2021 apresentou-se como a terceira mais proeminente; em 2018 e 2019 não se encontra entre as três tendências mais evidentes.

Identidades Protagonistas é uma Macrotendência que surge na emergência do foco na identidade pessoal, procurando-se sempre a igualdade nas relações humanas, através de uma incessante tensão entre o coletivo e o individual. Deste modo, esta tendência salientando as representações e construções identitárias pretende culminar num futuro diferente e mais inclusivo. Assim sendo, enquadra-se nas categorias “Questões de Género e Sexualidade” e “Questões de Identidades Nacionais”, sendo que em 2012 ambas as categorias foram as mais abordadas nas músicas/performances. Em 2013, a categoria F. apresentou-se como a segunda mais referida, contudo a categoria E. não aparece entre as três categorias com maior representatividade. Em 2014 e 2015 as “Questões de Género e Sexualidade” foram a terceira maior força, com dez músicas a encaixarem-se nesta categoria, enquanto que as “Questões de Identidades Nacionais” aparecem no lugar seguinte, com 7 músicas a apresentarem-se na categoria F. Em 2016 a categoria E. foi a segunda mais patenteada, por outro lado, a categoria

  1. foi apenas a quarta, com quatro músicas que se integraram. 2017 foi o ano em que as “Questões de Identidades Nacionais” tiveram maior representatividade, com nove canções, porém, com apenas três músicas, as “Questões de Género e Sexualidade” foram remetidas para o quarto lugar. Em 2018, a categoria F. revelou-se a segunda mais apresentada, com dez músicas e a categoria E. a quarta mais presente, com oito músicas. Em 2019, as categorias trocaram de posições na sua representatividade: “Questões de Género e Sexualidade” foram a

 

segunda mais abordada e “Questões de Identidades Nacionais” a quarta, com dez canções. Em 2021 e 2022, a categoria E. apresentou-se com dezassete e quinze músicas, respetivamente, sendo a mais representada. Quanto à categoria F., em 2021 foi a quarta mais presente, com oito músicas, e em 2022 foi a terceira mais representada, havendo 12 músicas com características desta categoria.

A tendência Ligações Ergonómicas aborda o desenvolvimento tecnológico, articulando-se com todas as mudanças que este veio a introduzir no quotidiano das populações, como é de notar o acesso melhorado, facilitado e imediato, tentando proporcionar as melhores condições disponíveis para os estilos de vida específicos dos consumidores e utilizadores. Neste sentido, interliga-se com as categorias “Questões Políticas” (B.) e “Questões Económicas” (C.). Em 2018 e 2019, a categoria B. foi a mais presente, havendo treze canções em cada ano que apresentam características desta categoria. Em 2013, 2015 , 2017, e 2021 foi a segunda categoria mais presente, havendo onze canções que se enquadram nesta categoria em 2013 e 2015, sete canções em 2017 e quinze em 2021. Nos anos de 2014, 2016 e 2022, as “Questões Políticas” foram a terceira temática mais abordada, estando presentes em onze canções em 2014, em sete em 2016 e em seis canções em 2022. Já as “Questões Económicas” nunca foram um dos temas mais abordados na última década do Eurovision Song Contest, destacando-se o facto de nos anos de 2012, 2016, 2017 e 2022, ter havido apenas uma canção enquadrada nesta categoria, e também o facto de estar ser a segunda categoria menos patente nos anos de 2014, 2015, 2018, 2019 e 2021.

Os recursos naturais estão cada vez mais escassos, sendo necessário resolver no presente os erros do passado, ou seja, já não é suficiente reduzir apenas o desperdício descontrolado e quaisquer outras atividades que causem a degradação do meio ambiente. A Macrotendência Sistemas Sustentáveis explora exatamente estas problemáticas, apontando para a importância da sustentabilidade, na medida em que propõe estratégias para reverter o impacto negativo, invocando como se deve agir para se contribuir de forma positiva e ativa para a preservação do ecossistema. Por conseguinte, pode-se, então, afirmar a ligação direta desta tendência com a categoria “Questões Ambientais e de Sustentabilidade”. Esta categoria é a menos abordada entre as seis existentes, não estando presente em nenhuma canção nos anos de 2014, 2015, 2018 e 2022. Nos anos de 2012, 2016 e 2017, foi possível identificar uma música integrada nesta categoria, enquanto que em 2013, 2019 e 2021 esteve presente em duas canções.

Por fim, a Macrotendência Redesenho de Estilos de Vida expõe como certas ocorrências disruptivas podem culminar em mudanças bruscas do eixo de uma sociedade, podendo gerar inúmeros desafios e momentos de extrema incerteza para os indivíduos, vendo-se obrigados a

 

repensar todo o seu modo de vida. Em seguimento, acreditamos que Redesenho de Estilos de Vida comunica com todas as categorias selecionadas: as “Questões Ambientais e de Sustentabilidade” cruza com esta tendência na medida em que quer seja por algum desastre ambiental, quer pela aplicação de soluções sustentáveis a população terá de reorientar os seus modos de vida e a forma como pensam no mundo; nas “Questões Políticas” quando ocorre, por exemplo, uma guerra, como é o caso do conflito Rússia-Ucrânia, pelo qual as sociedades estão agora a passar, toda a gente tem de redefinir as suas vidas e as suas escolhas consoante o momento de stress e dúvida e consoante aquilo que lhe é fornecido; para as “Questões Económicas”, passar por uma crise financeira é uma amostra de uma situação em que as populações se tenham de adaptar e redesenhar as suas vidas; as “Questões de Nostalgia” associam-se a esta Macrotendência dado que, como apresentado anteriormente, articulando-se com a tendência Narrativas Ancoradas, esta produz uma memória coletiva, principalmente se esta for de um passado traumático irá influenciar para sempre aquela sociedade, relembrando-a dos seus erros, de modo a não os cometer novamente, porém, pode resultar em ato revolucionários como o derrubamento de estátuas que ainda apresentassem orgulho no passado, com o intuito de alertar as pessoas para a necessidade de alteração das mentalidades e, consequentemente, dos seus comportamentos; as “Questões de Género e Sexualidade” a partir do momento em que as sociedades começaram a legalizar casamento homossexual, ou casais homossexuais terem o direito a adotar levou a que as populações se modificassem e adaptassem as suas formas de pensar e de agir perante esta nova realidade; por último, as “Questões de Identidades Nacionais” ao ostentar o conceito de uma condição social em que o indivíduo patenteia um cojunto de sentimentos patrióticos e nacionalistas, já que, sentindo-se integrante da sua nação e da sua cultura, orgulha-se desta, contudo estes mesmo sentimentos nacionalistas e de patriotismo podem tornar-se extremistas muito rapidamente, ascendendo a regimes também eles extremistas, como é o caso do fascismo, que acaba por obrigar todo o seu povo a agir como é mandado, a pensar como é mandado, isto é, a redefinir todo o seu estilo de vida em função da sua identidade nacional.

No que diz respeito à relação entre o voto do júri e o televoto, relativamente aos três primeiros lugares, não existem grandes diferenças. No entanto, é importante referir que o júri votou em canções que se enquadram em entre uma a três categorias de análise, enquanto os resultados do televoto mostram que o público votou em músicas que se enquadram, na sua grande maioria, em duas a quatro categorias. É também relevante mencionar que é mais comum o júri escolher canções que não se relacionam com nenhuma das categorias de análise do que os membros do público. Deste modo, é possível inferir que o público geral é mais influenciado pelas tendências socioculturais do que os membros especializados do júri.

Para além disso, verificou-se que entre 2012 e 2016 a categoria com maior representatividade era a D., presente em sessenta e sete músicas, seguida por um empate entre as categorias B. e E., ambas com quarenta e seis músicas e, por fim, a categoria F. com quarenta e cinco canções. A partir de 2017 até ao ano atual, assistiu-se a um declínio da categoria “Questões de Nostalgia”, ocupando, então, o terceiro lugar com quarenta e oito músicas; a categoria “Questões de Identidades Nacionais” sobe para segundo, revelando-se em quarenta e nove canções, sendo que em primeiro lugar novamente o empate entre as categorias “Questões Políticas” e “Questões de Género e Sexualidade”, apontando as duas cinquenta e quatro músicas/performances (a categoria B. triunfou nos anos 2018 e 2019, enquanto que a categoria E. dominou nos anos 2021 e 2022). Isto aponta para como no início do período em análise se atenta maior influência das Narrativas Ancoradas, enquanto que nos anos mais recentes assinala-se um maior envolvimento com questões políticas e de género e sexualidade, isto é, para problemáticas das Identidades Protagonistas e das Ligações Ergonómicas.

Concluindo, não se pode deixar ainda de referir que, em termos gerais, das 260 músicas analisadas a categoria que teve maior destaque nestes últimos dez anos foi a D., patente em cento e quinze músicas/performances, seguida de um empate entre a categoria “Questões Políticas” e “Questões de Género e Sexualidade”, ambas presentes em cem músicas; em terceiro aparece a categoria F., com noventa e quatro canções; posteriormente, as “Questões Económicas” apresentadas em vinte e sete músicas e, por fim, as “Questões Ambientais e de Sustentabilidade” que só estiveram presentes em nove músicas/performances. Deste modo, é possível concluir que a tendência sociocultural que teve maior representatividade foi Redesenho de Estilos de Vida, na medida em que consideramos que todas as categorias se enquadram nesta; seguidamente a Macrotendência Identidades Protagonistas, uma vez que estando expressa em duas categorias (E. e F.) soma um total de cento e noventa e quatro músicas/performances; em terceiro lugar, surgem as Narrativas Ancoradas, revelada na categoria D.; posteriormente, evidencia-se a tendência Ligações Ergonómicas, que traduzida nas categorias B. e C., reúne um total de cento e vinte e sete músicas; por último, a Macrotendência Sistemas Sustentáveis que apresenta nove músicas/performances já que engloba apenas a categoria A.

 

Exercício 2: Netflix (2020)

Exercício 3: Netflix (2020)

Através do website Filmspot teve lugar o levantamento de todos os filmes exibidos nos cinemas de Portugal entre os anos de 2015 e 2019. Neste intervalo temporal, foram considerados 1.860 filmes, destes, 23 eram reposições.

Resultados para a tendência I (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques,2020)

ANO FILMES (TOTAL) FILMES (HIPÓTESE) %
2015 387 124 32%
2016 267 85 31,8%
2017 382 132 34,5%
2018 404 157 38,9%
2019 404 188 46,5%
  TOTAL: 37,2%

Tabela 1: Dados quantitativos que ilustram a representatividade da hipótese 1 nos filmes exibidos nos cinemas de Lisboa entre os anos 2015 e 2019.
Fonte: autoria própria.

A hipótese esteve presente em 686 dos 1844 filmes analisados, exibidos nos cinemas entre os anos 2015 e 2019. Esse número representa 37,2% do total de filmes. É possível notar um aumento relativamente gradual na porcentagem de filmes associados à hipótese: com exceção do intervalo entre os anos de 2015 e 2016, em que o número caiu de 32% para 31,8%, o número de filmes relacionados à hipótese apenas cresceu. O número, em 2017, subiu para 34,5%. Em 2018, aumentou para 38,9% e, em 2019, totalizou 46,5% da totalidade de filmes analisados. Dessa forma, é possível afirmar que a representação da hipótese 1 nos filmes exibidos em Lisboa tem crescido nos últimos 5 anos.
No gráfico abaixo, está ilustrada a quantidade total de filmes analisados, exibidos nos cinemas de Lisboa (barra azul), e, a partir desse número, os filmes relacionados à tendência 1 (barra cinza), separados por ano:

Gráfico 1: Dados quantitativos que ilustram a representatividade da hipótese 1 nos filmes exibidos nos cinemas de Lisboa entre os anos 2015 e 2019.

No gráfico a seguir, apresentamos a relação dos filmes associados à hipótese 1 com as macrotendências que são identificadas nessa hipótese. É importante ressaltar que é possível haver a presença do mesmo filme em mais de uma macrotendência. Por meio do gráfico, pode-se notar a expressividade das Narrativas, que totaliza 63% do total de associações às macrotendências. A seguir, a presença mais expressiva é de Nostalgia, com 16%, seguida  Globalização com 8% cada. Urbanização e Tribalismo aparecem, cada uma, em 2%.

Sabemos que, por se tratar de uma forma de narrativa, é natural que o audiovisual esteja relacionado. Levando em conta a maior expressividade dessa tendência, decidimos elaborar um gráfico representando a associação dos filmes.Notamos a presença de outras categorias, resultantes de um padrão, que nos saltaram aos olhos: A primeira, Grandes Narrativas, reflete a grande quantidade de filmes contextualizados em meio a grandes acontecimentos da humanidade, a maioria no século XX, ou que são baseados em discursos amplamente difundidos e conhecidos. Alguns dos exemplos mais identificados são: filmes sobre 1ª Guerra Mundial, 2ª Guerra Mundial, Nazismo, Guerra Fria, Apartheid, Refugiados, Terrorismo, Natal, temas bíblicos, entre outros. A separação dessa categoria de outras, como Nostalgia, fez-se necessária pela diferença na rememoração do passado – enquanto a última relembra de forma necessariamente positiva, com anseio de retornar à época em questão, a temática de Grandes Narrativas não tem esse propósito. Em vez de romantizar o passado, essas narrativas são frequentemente retomadas por ainda influenciarem o modo de se pensar o mundo ocidental contemporâneo, devido ao forte impacto que tiveram na construção das identidades coletivas e na ordem global.
A segunda categoria observada nesta análise é identificada pela grande presença de filmes biográficos ou baseados em fatos reais. Parece-nos importante incluir uma categoria que inclua histórias que foram vividas por pessoas e que, posteriormente, foram adaptadas para o audiovisual. Em relação a esse ponto, também observamos que, geralmente, filmes biográficos ou baseados em fatos reais são históricos ou de época – e, muito raramente, são ambientados na contemporaneidade. Também foi possível identificar filmes feitos a partir de Adaptações de Histórias Clássicas – tanto da forma tradicional, em que a adaptação é feita de forma direta e com o objetivo de se assemelhar ao enredo de um livro ou história, quando por meio de versões inovadoras, que recriam histórias amplamente conhecidas em diferentes contextos ou formatos.
Um aspecto que observamos e que também representa um número expressivo de filmes relacionados são as Identidades. Mesmo a partir das sinopses, é possível notar que temas como raça, gênero, etnia, nacionalidade, sexualidade e religião estão ganhando cada vez mais espaço no cinema.

Por fim, dividimos as categorias Filmes de Época Filmes Históricos. A separação foi feita por entendermos que, enquanto a primeira categoria é englobada por Nostalgia, a segunda possui um objetivo mais documental e que, assim como Grandes Narrativas, não encara o passado com desejo de voltar para ele. No entanto, alguns acontecimentos da história não encaixam-se em Grandes Narrativas, já que tiveram proporções menores ou já foram superados há muito tempo, como é o caso de guerras civis, monarquias, etc.

15 exemplos ilustrativos: Para ilustrar a pesquisa, foram selecionados 15 filmes que representam alguns dos padrões que observamos ao realizarmos a investigação. Dirigido por Christopher Nolan, Dunkirk (2017) é um exemplo que ilustra a presença de filmes que abordam Grandes Narrativas no cinema – neste caso, a 2ª Guerra Mundial, que representam 17% dos filmes relacionados à hipótese. Outras obras, como Filho de Saul (2016) e O Dia a Seguir (2019) também demonstram a presença desse tipo de narrativa nos cinemas de Lisboa. Um dos músicos pop mais conhecidos nos últimos anos, Elton John tem sua trajetória musical representada em Rocketman (2019). Filmes como este, que que buscam retratar, de forma biográfica, a vida de figuras emblemáticas na sociedade, representam 18% da totalidade de filmes relacionados à hipótese 1. Outros exemplos são: Judy (2019) e Bohemian Rhapsody (2018). Produzido na Índia, Bharat (2019) é um filme que aborda, em um contexto pós-colonial, questões identitárias relacionadas à raça, etnia e nacionalidade. Filmes que tratam de identidades representam 13% da totalidade de títulos relacionados ao tema da hipótese 1. Filmes como Roma (2018), Coco (2017) e Chama-me Pelo Teu Nome (2018) trazem às telas questões relacionadas a classe, culturas e sexualidade. Ambientado nos anos 1960, Era Uma Vez… Em Hollywood (2019) retrata os bastidores da indústria cinematográfica de forma nostálgica e saudosista. Filmes desse tipo, que utilizam o passado como ferramenta de rememoração e memória, representam 23% da soma dos filmes relacionados à hipótese 1. Baseado no clássico livro de mesmo nome, escrito por Rudyard Kipling, O Livro da Selva (2016) é uma adaptação live action da história. O filme representa um padrão identificado nos filmes lançados no cinema que são frutos de adaptações de livros e histórias clássicas. Assim, a obra encaixa-se na categoria “adaptação de história clássica”, que representa 4% da totalidade de filmes relacionados à tendência. Ambientado no século XIX, O Grande Showman (2017) é baseado na história de P. T. Barnum, conhecido como o criador do circo. Além de ser baseado em uma história real, o filme também é de época, justamente por sua ambientação e elementos típicos daquele período. Por isso, a obra faz parte dos 13% que compõem a categoria “filmes de época”. Um clássico tanto do cinema quanto do contexto pop, a saga Star Wars representa um exemplo chave para a tendência “from geek to cool”. Depois de 38 anos do lançamento do primeiro filme da franquia, Star Wars: Episódio VII (2015) foi lançado. Com efeitos especiais atuais, porém com diversas referências e homenagens à trilogia original, o filme mescla tecnologia e universo geek (5%) com nostalgia (23%). Indo no sentido contrário de adaptações que têm como objetivo ilustrar a obra original, Orgulho, Preconceito e Zumbis (2016) adapta o livro clássico do século XIX, de Jane Austen, inserindo elementos pop e atuais, como zumbis. Esse tipo de adaptação mescla a categoria “incontrolavelmente pop” e “adaptação de história clássica”.

Considerações: Dos 1844 filmes exibidos em Lisboa nos últimos 5 anos, 686 deles, que totalizam 37,2%, estão relacionados com a hipótese 1. Quando feita de ano em ano, a análise demonstra que a associação filmes/hipótese passa a ser mais expressiva com o passar do tempo. Por meio da análise, foi possível identificar a expressiva presença da hipótese e do tópico Nostalgia. Também percebe-se um grande número de filmes relacionados a Grandes Narrativas, filmes de época ou históricosbiográficos/baseados em fatos reais e adaptações de histórias clássicas. Por estar fortemente presente nas temáticas dos filmes analisados, acreditamos que essa análise audiovisual tenha grande influência na estrutura da hipótese 1. Por isso, ao identificarmos padrões de repetição dos temas acima mencionados, levantamos a hipótese de possíveis microtendências que relacionam-se com essas características.

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Resultados para a tendência II (Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos,2020)

Foram analisados um total de 1751 filmes, articulando os títulos e suas respectivas sinopses  à hipótese em questão. Após seleção dos filmes relacionados à hipótese, foi realizada a comparação quantitativa em relação ao total de filmes exibidos por ano e no total destes 5 anos.

2015 2016 2017 2018 2019 TOTAL
Filmes exibidos 294 268 382 404 403 1751
Filmes relacionados  à hipótese 26 13 27 24 21 111
Porcentagem 9% 5% 7% 6% 5% 6%

Pode-se observar uma certa constância na representação de nossa hipótese dentre os filmes exibidos nos cinemas de Portugal nos últimos 5 anos, com uma maior porcentagem no ano de 2015 (9%) e leve queda nos demais anos até 2019.  Quando analisamos o impacto da hipótese em relação ao total de conteúdo produzido em todo o período, vemos a presença desta temática em 6% dos filmes, o que pode significar que há uma representação relevante, porém, ainda emergente entre as produções cinematográficas.Pode-se concluir portanto que a hipótese apresenta impacto significativo no conteúdo produzido, porém foi possível observar uma leve queda ao longo destes 5 anos, sendo necessário a continuação desta observação nos anos seguintes.

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Resultados para a tendência III (Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang, 2020)

2015: Total de Estreias: 387; Correlação: 10/387 = 2,58%
2016: Total de Estreias: 268; Correlação: 10/ 268 = 3,73%
2017: Total de Estreias: 382; Correlação: 20/ 382 = 5,24%
2018: Total Estreias : 404; Correlação: 11/404 = 2,72%
2019: Total de Estreias: 404; Correlação: 17/404 = 4,21%

Legenda e Fonte: Relação Exibições e Articulações com a Hipótese.  Autoria própria.

Fonte do gráfico: Autoria própria

Nos últimos 5 anos, o pico de filmes relacionados com a Hipótese 3 deu-se em 2017, tendo depois diminuído. Contudo, no ano de 2019 houve uma subida notável. Observa-se que, mesmo que a tecnologia, a inovação e a inteligência artificial não façam parte do núcleo principal  do filme, integram-se nele como elementos associados ao quotidiano da vida humana.  Embora, em alguns dos casos, não façam parte do seu núcleo principal, afetam todo o enredo. Ou seja, sem a presença do elemento das novas tecnologias, o filme seria completamente diferente.
Após recolha e análise dos filmes relacionados com a Hipótese, lançados em Lisboa, durante os últimos cinco anos, observa-se que os quinze mais representativos da Hipótese focam-se, maioritariamente, no uso da inteligência artificial e como pode afectar a vida das personagens. Nota-se uma inclusão do desenvolvimento tecnológico nos enredos, através do qual se coloca mais ênfase nas suas possíveis consequências negativas, do que positivas.
Observa-se que são mais comuns os temas relacionados com a Hipótese  estarem presentes em filmes relacionados com um futuro (distópico, talvez), super desenvolvido em que a sociedade e o planeta funcionam à base da tecnologia, como por exemplo, nos filmes Chappie (2015) e Autómata – O Agente do Futuro (2015).
Embora também tenham sido lançados alguns filmes que retratam o uso das novas tecnologias num panorama mais atual, como por exemplo, no filme Her (2015), Clara e Claire (2019) e Countdown (2019).

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Resultados para a tendência IV (Marianna Rosalles, Francisco Mateus, 2020)

Em 2015 contabilizou-se 40 filmes sobre sustentabilidade, o equivalente a cerca de 10,2% do total de peças analisadas. Já em 2016 houve uma queda no número de produções relacionados à essa tendência, contabilizou-se 19 filmes, o equivalente a 7% das peças em cartaz durante o ano. O ano seguinte registrou um montante ainda menor de filmes com a temática de sustentabilidade, registrou-se 24 títulos, o que corresponde a 6,2% dos lançamentos em 2017. Em 2018 os longa-metragens relacionados à tendência foram verificados em 26 lançamentos, o que corresponde a 6,3% do total.
É possível verificar que a temática da sustentabilidade aparece muitas vezes em filmes do público infantil através de narrativas centradas em personagens do reino animal, que tratem sobre biodiversidade, da relação do homem com a natureza construindo de uma forma lúdica uma conscientização sobre a preservação do planeta.
Além disso, outras narrativas recorrentes são as distopias e histórias relacionadas a robôs, escassez de alimento, distribuição agrária, desastres naturais, entre outros. São filmes que projetam o futuro com base na ocupação predatória dos seres humanos na Terra, a mudança climática, e inclusive já previam a existência de vírus que se espalhassem pelo mundo gerando caos.

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Resultados para a tendência V (Andreia Carneiro,  Caroline Rocha,  Karliete Nunes, 2020)

Verificámos que muitos dos filmes efectivamente espelham a pressão social e a presença digital causam stress, que geram várias questões de identidade. No entanto, muitos destes títulos não refletem um novo posicionamento perante as dificuldades acima mencionadas. Não concretizam a procura por um equilíbrio entre bem-estar físico e mental. Não existe um reposicionamento, reconexão a si mesmo ou à natureza (estilos de vida saudáveis) e tão pouco existem momentos de silêncio.
Como é verificável na tabela abaixo dos 1.893 filmes, apenas 84 se relacionam Bem-Estar e Privacidade representando apenas 3,8% da totalidade. Verificámos que esta percentagem baixa é constante nos últimos 5 anos. Apenas verificámos uma percentagem superior a 5% em 2019, o que pode refletir a preocupação crescente dos indivíduos em procurarem um equilíbrio entre as várias vertentes da suas vidas.

Legenda e Fonte: Relação entre as exibições e a Hipótese. Autoria Própria.

Inquérito 2022

Análise de Maria Alves, 2022. 

Neste inquérito participaram 86 pessoas. Mais de metade dos entrevistados estão em Lisboa para trabalhar ou estudar. No que diz respeito ao grupo etário, mais de metade dos entrevistados tem entre 25 e 44 anos. Esta amostra é caracterizada por ser altamente escolarizada: apenas 9% dos entrevistados tem o ensino secundário, os restantes têm licenciatura, mestrado ou doutoramento. 71,3% dos entrevistados identificam-se como mulheres.
No que diz respeito às Comunidades na expressão de género e sexualidade, mais de metade das pessoas considera a sua comunidade pouco vanguardista ou neutra.
Relativamente à confiança da sociedade nos diversos meios e instituições, os profissionais especializados são quem mais inspira confiança com 68,9% a confiar muito ou totalmente. Em segundo lugar, contamos as universidades com 64,3% a confiar muito ou totalmente. Já no que diz respeito à falta de confiança, lidera o governo com 61,6% a não confiar ou a não confiar totalmente, sendo que apenas 2.3% confia totalmente. Em segundo lugar, regista-se a falta de confiança nos órgãos de poder municipais e locais com apenas 1.2% confia totalmente. 46,6% não confia ou não confia totalmente. Relativamente a revistas/jornais, televisão e redes sociais, as redes sociais são as que registam menor confia com 40,2%, seguidas dos jornais e revistas com 33,3%. A televisão regista a maior confiança com 71,2% a confiar, confiar muito ou totalmente.
Dentro dos tópicos que definem o momento atual, de 1 a 6 (sendo 1 nada e 6 totalmente) destaca-se a guerra com 94.2% das pessoas a classificarem entre 4 e 6, seguindo-se a ansiedade com 94.1%. Estes valores poderão ser justificados pelo conflito armado que está a acontecer na europa, em território ucraniano. Os dez primeiros tópicos são: guerra (94.2%); ansiedade (94.1%); tecnologia (94.1%); realidades digitais (92.9%); crise (89.6%); inflação (88.2%); desigualdades (87.2%); polarização (87.2%); pandemia (84.9%); e ambiente (83.7%). Em dez, podemos considerar oito negativos, o que demonstra o atual clima marcado por uma negatividade generalizada em grande medida motivada pela guerra na europa e as suas consequências, bem como o período especialmente marcado pela pandemia COVID-19, entre março de 2020 e o primeiro trimestre de 2022. De momento, a pandemia aparece apenas em nono lugar, o que demonstra que começa a perder a importância no imaginário coletivo. Ainda nos tópicos, destacamos também a identidade (81.4%) e género (79.1%). De referir também o baixo valor no que diz respeito à democracia (63.9%), mobilidade (65.8%) e bem- estar (54%), que poderão ser explicados pelos efeitos da guerra.
No que diz respeito às atividades a que cada inquirido costuma dedicar pelo menos uma hora por semana, 83.7% refere as redes sociais, 73.3% ouvir música, 64% ler, 58.1% atividades ao ar livre e 54.7% streaming.
Entre os lugares/espaços considerados mais interessantes do ponto de vista criativo em Lisboa, de destacar a LX Factory, o museu MAAT, a Fábrica Braço de Prata, Anjos 70 e a Gulbenkian.
Relativamente aos bairros mais criativos, os três mais mencionados são o Bairro Alto (18 vezes), o Chiado (16 vezes) e a Graça (15 vezes).

 

Análise de Lucas Silva, 2022.

Acesso, praticidade e facilidade são as palavras-chave desta mentalidade. Tornar a vida mais dinâmica, com soluções imediatas, acessíveis e tendo papel cada dia mais fundamental de marcas e empresas nesse processo. Assim, o desenvolvimento tecnológico aposta em articular as funcionalidades e a natureza de soluções para os estilos de vida dos consumidores e utilizadores. Não há como separar tecnologia e realidades digitais na importância do agora. Com diferentes aplicações, queremos acesso a produtos que chegam à porta de casa o mais rapidamente possível – opções de alimentação, mobilidade, interconectividade a relacionamentos e práticas que pensem também no futuro do planeta. Objetos passam a ter funções integradas que subvertem suas ideias originais de uso e propiciam maior conforto e facilidade a quem os consome. O acesso a lazer – músicas, filmes, séries, vida ao ar livre e vida noturna, entre outros – procura também uma curadoria à medida em que tenta encontrar as expressões de desejo dos públicos, mais exigentes e que escolhem produtos de acordo com seus propósitos. Tudo isto sem falar no acesso à informação e às pessoas. A pandemia sublinhou e segue a evidenciar a crescente necessidade de acompanhar tudo digitalmente em tempo real, o que gera um mundo permanente de “reality show/tv” sobre qualquer aspecto quotidiano em direto, com a repercussão imediata em redes sociais, que mostram também a importância de dar voz aos mais variados públicos. Transferimos muitas atividades que antes só fariam sentido no físico para o digital, o mundo é “figital”, e não há mais volta. O digital nos faz querer estar conectados sempre que necessário, com segurança, para sociabilizar, trabalhar, conversar e estudar. E quando não queremos, surge cada vez mais uma pressão para desconectar em determinados momentos sem sentimento de culpa ou de medo, com a própria ideia de descanso a ganhar outras conotações com as realidades atuais. Surge quase como uma sensação de não pertencimento se não há a conectividade ao mundo e às demais pessoas. Soluções tecnológicas precisam ser dinâmicas, versáteis e entender tais movimentos sempre em busca das palavras-chave dessa narrativa. Diferentes dispositivos promovem uma convergência entre funcionalidades, fisicalidades e estilos de vida, sublinhando a internet das coisas e o metaverso, muitas vezes com uma faceta de entretenimento, responsabilidades do quotidiano, ou até de gamificação. É cada vez mais clara a articulação entre estilos de vida, propósitos, tecnologias, acesso facilitado/total e dispositivos que servem como extensão do corpo humano, sugerindo a naturalização do processo e o fim das fronteiras entre realidade física e digital. Acesso, praticidade e facilidades desenhadas de acordo com necessidades e desejos de cada indivíduo, abrangendo ainda os interesses de cada comunidade ao nível dos diferentes espaços e momentos do quotidiano. Ligações ergonómicas representam o estágio atual de exigência e necessidades de vida das pessoas.

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Análise de Bruna Borges, 2022.

Quando questionado aos entrevistados sobre a orientação das suas comunidades para as expressões de género e de sexualidade, percebemos o início de uma curva vanguardista, ainda com muito caminho pela frente, mas com boa perspectiva.
Sobre a confiança nos meios de comunicação, a surpresa veio no quesito televisão onde 36,8% dos entrevistados confiam na veracidade do seu conteúdo. Na redes sociais, os resultados foram divididos entre uma parcela mais incrédula (27,6%) e outra mais crédula (27,6%) na confiabilidade do meio.
Sobre autoridades, os profissionais qualificados e a universidade foram destaques (49,4% e 47,1%, respectivamente) como autoridades de maior confiança dos entrevistados. Entretanto, em vias opostas, o poder municipal/local e o governo obtiveram um nível de desconfiança mais alto que as demais categorias (37,2% e 43%, respectivamente).
Os resultados podem ser interpretados de acordo com o perfil dos entrevistados, em sua maioria possui formação superior ao qual está favorável ao fato da alta confiabilidade em profissionais qualificados e na universidade. A surpresa, na visão da autora deste relatório, foi nos meios de comunicação tendo em vista a idade dos entrevistados (25 e 34 anos), que possuem uma atividade majoritariamente online em seu cotidiano e seus resultados foram avessos ao que nominalmente consideraríamos as redes sociais e a internet como meio de pesquisa e comprovação dos fatos. Sobre as autoridades governantes, não há surpresa. Com a constante instabilidade na política publica, a comunidade não se sente segura ou de inteira confiança em seus governos. Percebe-se nas respostas, uma eterna esperança hollywoodiana, para com aqueles que votamos honrem de fato suas promessas de campanha.
Nas perguntas referentes aos tópicos que definem o momento atual, destacaram- se os seguintes termos: guerra (50%), tecnologia (45,3%), ansiedade (39,5%) e desigualdades (33,7%). Respostas que podemos adereçar ao conflito latente entre Rússia e Ucrânia, assim como as desigualdades criadas neste meio e na má distribuição de renda, mal que assombra a maioria dos países globalmente. A tecnologia é inerente ao desenvolvimento da sociedade contemporânea, sendo cada vez mais presente e necessária no cotidiano das comunidades. Contudo, essa corrida tecnológica – e diria também, informacional – travada em todos os cantos, por todos os setores gera um sentimento de ansiedade na sociedade solicitando uma inquietude do individuo. Uma visão positivista pós-moderna exagerada do ser humano perfeito e 100% conectado, assemelhando-se a uma máquina.
Nos espaços e bairros criativos de Lisboa, foram citados com maior frequência: Lx Factory, MATT, Gulbenkian, Bairro Alto, Chiado, Arroios e Alvalade. Nas atividades cotidianas e de lazer, em sua maioria aponta as redes sociais e os jardins como atividades.
O que entra em conflito com as outras respostas, principalmente no quesito meios de comunicação. Onde, as redes sociais são apontadas como meio de baixa confiabilidade e ainda assim, é a atividade mais praticada pelos entrevistados. Uma explicação racional para este movimento, seria a busca pelo escapismo da realidade, uma forma de consumir entretenimento diversificado justificando uma vida em sociedade complexa e saturada da realidade.

 

Análise de Beatriz Baptista, 2022.

O inquérito, criado a meados de maio de 2022, foi desenvolvido para habitantes, estudantes e trabalhadores em Lisboa, estando ainda disponível para submissões na plataforma Google Forms e teve um total 87 respondentes. Analisando os resultados, constata-se que a maioria das respostas obtidas foram enviadas por trabalhadores (38,4%) e moradores (36%) que se identificam com o género feminino (71,3%) e entre a faixa etária entre 25 a 34 anos (34,5%), sendo que o grau de escolaridade mais elevado que coletaram foi Licenciatura (62,1%). Um dado interessante é que ninguém que respondeu ao questionário se identifica como não binário, sendo que todos responderam à pergunta, o que significa que a população que o inquérito atingiu corresponde ao binarismo tradicional de homem-mulher.
Examinando os resultados diretamente interligados com a Macrotendência Identidades Protagonistas há a referir que numa escala de 1 a 6, sendo 1 muito tradicional e 6 muito vanguardista, qual considera ser a orientação das suas comunidades para as expressões de género e de sexualidade, 52,3% colocou 4, destacando-se das outras respostas, podendo revelar que de facto os grandes movimentos da comunidade LGBTQIA+ tenha dado lucro.
Em termos de confiança ou não nas mais variadas fontes de informação apresenta-se uma uniformização de confiança nos mesmos, revelando a possibilidade de as gerações mais novas terem voltado a confiar nestes com a «normalização» dos tempos.
Em relação a considerarem certas temáticas atuais ou não, Identidades, Polarização, Género, Realidades Digitais, Tecnologia, Desigualdades, Fluidez, Migrações, Guerra e Pandemia expõe-se todos como bastante ou até muito atuais, evidenciando que o que constitui esta tendência mantém-se ainda muito presente na sociedade portuguesa que frequenta a capital de Portugal.

 

Análise de Margarida da Costa, 2022.

Tendo como propósito avaliar o impacto que as tendências socioculturais identificadas pelo Laboratório de Gestão de Tendências e Cultura, foi elaborado um inquérito, com recurso à plataforma Google Forms. Para este relatório, serão tidas em conta as questões que se prendem com “Organismos Colaborativos Urbanos”. Assim, foram consideradas relevantes as respostas às seguintes questões:

  • “Em um nível de 1 a 6 (sendo 1 nada e 6 totalmente) o quanto a sociedade confia nos meios de comunicação e autoridades abaixo: Poder municipal/local”;
  • “Em um nível de 1 a 6 (sendo 1 nada e 6 totalmente) o quanto a sociedade confia nos meios de comunicação e autoridades abaixo: Governo”;
  • “Como considera que os seguintes tópicos definem o momento atual? (sendo 1 nada e 6 totalmente): Ambiente”;
  • “Como considera que os seguintes tópicos definem o momento atual? (sendo 1 nada e 6 totalmente): Desigualdades”;

  • “Como considera que os seguintes tópicos definem o momento atual? (sendo 1 nada e 6 totalmente): Migrações”;
  • “Como considera que os seguintes tópicos definem o momento atual? (sendo 1 nada e 6 totalmente): Guerra”;
  • “Como considera que os seguintes tópicos definem o momento atual? (sendo 1 nada e 6 totalmente): Inflação”.

Primeiramente, é importante traçar o perfil de quem respondeu ao questionário. Foram obtidas 87 respostas, sendo que a maior parte (38,4%) das pessoas que responderam trabalha em Lisboa, 36% mora em Lisboa e 25,6% estuda em Lisboa, pertencendo, maioritariamente, às faixas etárias entre os 25 anos e os 34 anos (34,5%) e entre os 35 anos e os 44 anos (21,8%), sendo que a grande maioria (71,3%) das respostas obtidas foi dada por mulheres.

Relativamente às questões tidas em conta para este relatório, quando questionadas sobre o nível de confiança que têm, relativamente a órgãos do poder municipal/local, 30 pessoas responderam com o nível 3 e 32 com o nível 4. Uma vez que o nível 1 corresponde a “nada” e o nível 6 corresponde a “totalmente”, é possível aferir que a confiança dos cidadãos nos órgãos de poder local, apesar de não ser absoluta, também não é nula, havendo um misto de emoções relativamente a estes órgãos. A questão sobre o nível de confiança depositado no Governo obteve respostas semelhantes, no entanto, o nível com maior número de respostas (37) é o 3, sendo que o 4 obteve apenas 22 respostas. É de assinalar também que, tanto relativamente ao poder local como relativamente ao poder nacional, houve muito poucas respostas nos extremos de cada espectro de análise: uma pessoa não confia nada no poder local, enquanto uma confia absolutamente no mesmo; três pessoas não confiam nada no Governo, enquanto duas confiam absolutamente. O facto de as questões sobre a confiança em órgãos de poder terem obtido respostas semelhantes, leva-nos a concluir que estes órgãos não reúnem a confiança absoluta (ou quase absoluta dos cidadãos).

No que diz respeito aos “tópicos que definem o momento atual”, foram selecionados cinco:“ambiente”,“desigualdades”, “migrações”, “guerra” e “inflação”. Relativamente à temática do “ambiente”, o nível mais votado foi o 5 (37,2% das respostas). Tendo em conta que o nível 6 equivale a “totalmente”, é possível concluir que as preocupações ambientais são um dos problemas que os inquiridos consideram mais relevantes. Ora, “sustentabilidade” e “ambiente” são duas das temáticas sobre as quais a tendência em análise se debruça, o que demonstra a relevância da mesma. A temática “desigualdades” teve o nível 6 como o mais votado, obtendo 33,7% dos votos, sendo logo seguida pelo nível 5, que obteve 31,4%. Este tópico está diretamente relacionado com a micro-tendência analisada, uma vez que muitos dos organismos criados numa perspetiva de colaboração, têm como objetivo dar resposta a necessidades que muitos cidadãos sentem, mas às quais não têm capacidade de responder. Estas necessidades são ainda mais acentuadas no contexto atual, em que se verificam exponenciais desigualdades sociais motivadas pela inflação (outro dos tópicos considerados para esta análise). A temática “migrações” foi considerada um dos temas que mais define a atualidade, sendo que 29,1% a posicionou no nível 5 e 27,9% a posicionou no nível 6. Já a temática “guerra” foi considerada por 50% dos inquiridos como sendo um tópico que totalmente (nível 6) define o momento atual. Estes dois tópicos foram considerados relevantes para a presente análise, uma vez que os movimentos migratórios suscitam, em muitos casos, a criação de soluções para vários problemas, que passam pela cooperação e pela colaboração. Devido à situação bélica que se vive na Ucrânia, os fluxos migratórios têm vindo a aumentar, o que contribui, também, para a urgência na resolução de vários problemas sociais. Finalmente, o tópico “inflação” foi considerado sendo bastante definidor da atualidade, tendo 40% dos inquiridos votado no nível 5 e 32,9% votado no nível 6. Uma vez que a inflação tem vindo a acentuar diversos problemas sociais, nomeadamente a habitação a preços acessíveis, é necessário criar soluções para colmatar estes problemas, sendo que muitas respostas passam pelo trabalho colaborativo.

 

Análise de Vanja Favetta, 2022.

Esta seção apresenta um breve texto que reúne os resultados dum inquérito por questionário, desenvolvido no âmbito do Laboratório de Gestão de Tendências e da Cultura da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e a interpretação dos mesmos relativamente à microtendência em foco. É atribuído mais peso a dados considerados relevantes em relação à mesma, enquanto, por questões de espaço e pertinência, foram descartados outros considerados de pouca ou nenhuma relevância.

No momento da presente análise, o inquérito consta das respostas de 87 respondentes. O perfil dos mesmos pode ser resumido como segue: a maioria dos respondentes pertence às faixas etárias 18-24 anos, 25-34 anos, 35-44 anos e 45-54 anos, com 16,1%, 34,5%, 21,8% e 19,5% respectivamente. 88,5% dos respondentes completou o grau de escolaridade Licenciatura ou superior e 71,3% é mulher, sendo que nenhum respondente se identificou como não binário, não obstante a maioria dos respondentes afirmaram as suas comunidades serem vanguardistas em relação às expressões de género e de sexualidade num valor de 4 em 6 ou superior.

Os resultados evidenciam que os respondentes repõem mais confiança em televisão e jornais do que em redes sociais, não obstante o uso das mesmas seja a atividade a que mais pessoas dedicam mais de uma hora por semana (83,7%). Este dado pode evidenciar que elas sejam utilizadas pelos respondentes em medida limitada para buscar informação. As universidades e profissionais especializados resultam ser as entidades em que os respondentes repõem mais confiança em termos absolutos, enquanto que o governo e as autoridades locais as em que repõem menos.

Relativamente aos tópicos que mais definem a atualidade segundo os respondentes, encontra-se em primeiro lugar, previsivelmente, a ‘guerra’, seguida por ‘tecnologia’, ‘ansiedade’, ‘realidades digitais’, ‘desigualdades’, ‘inflação’ e ‘crise’, dados que confirmam a percepção pelo público geral dum macro cenário económico-social extremamente instável, como descrito na fase da Desk Research.

As atividades às quais os respondentes dedicam mediamente mais de uma hora por semana resultam ser, em ordem descendente: ‘redes sociais’, ‘ouvir música’, ‘ler’, ‘atividades ao ar livre’, ‘streaming’, ‘filmes’, desporto/exercício físico’ e ‘TV’. São pouco praticadas atividades como ‘artes performativas’ e ‘atividades artísticas’. Percebe-se que as tecnologias e o entretenimento digital ocupam muito tempo na vida da maioria dos respondentes, mas também que eles precisam “cortar” das mesmas com atividades como ouvir música, ler e fazer desporto, numa antítese certamente interessante.

Segundo os respondentes, os lugares/espaços mais interessantes do ponto de vista criativo em Lisboa resultam ser: Bairro Alto (16 respostas), Graça (15), Alfama (14) e Arroios (13). Enquanto que os primeiros três são bairros historicamente ativos do ponto de vista cultural, este último parece estar a crescer nos últimos anos deste ponto de vista.

Por fim, relativamente ao tipo de espaços mais frequentados, a maioria dos respondentes opta por ‘jardins’ (65,5%), ‘restaurantes’ (60,9%) e ‘parques’ (56,3%), dado que poderia sinalizar um desejo crescente e generalizado de contacto com a natureza, assim como a necessidade de companhia e socialidade sinalizada pela preferência por restaurantes, depois do período de distanciamento social forçado pela pandemia.

 

Análise de Carolina Represas, 2022.

O inquérito esteve aberto a todos os que moram, trabalham ou estudam em Lisboa e disponível online entre 12 de maio de 2022 e 16 de junho de 2022 no Google Forms, terminando com um total de 87 participantes/respostas. Com uma percentagem maioritária de mulheres em 71,3, e 56,3% dos inquiridos entre 25 e 44 anos. 62,1% são licenciados e constatase um equilíbrio na opção morar, trabalhar ou estudar em Lisboa. O objetivo é compreender a emergência de tendências socioculturais na cidade, bem como as mudanças na natureza criativa e cultural da mesma. A presente secção dirige-se à articulação dos resultados do questionário com a macrotendência de sistemas sustentáveis. De entre os tópicos que definem ou não o momento atual lançados a inquérito com escala de 1 a 6, foram selecionados para esta análise os que mais estão relacionados, direta e indiretamente, com Sustentabilidade. A percentagem foi definida com inclinação para “definem o momento atual”.

O tópico Ansiedade (94,1%), normalmente considerado uma consequência ou produto de uma situação de stress, foi um dos que gerou maior unanimidade por parte dos inquiridos. Este resultado torna-se congruente após notificar outros três tópicos no topo do ranking: Guerra (94,2%), Pandemia (84,9%) e Crise (89,6%). Os dois primeiros altamente geradores de ansiedade e o último uma palavra inclusiva e descritiva em relação a estas duas conjunturas perigosas que afetaram e afetam os respondentes do inquérito e pessoas em todo o globo.

Estes dois grandes momentos vêm exponenciar uma terceira crise já existente relacionada com o Ambiente (83,7%), também provocadora de ansiedade ao ponto de ter sido designado um termo unicamente para a definir: eco-ansiedade (ansiedade + ambiente).

Podemos considerar que Tecnologia (94,1%) e Energia (78%) são dois tópicos que podem ser interpretados como sendo soluções e construtivos, ou problemas e destrutivos. As formas de tecnologia e energia velhas estão a ser massivamente substituídas por energia renovável graças a tecnologia desenvolvida com os princípios da sustentabilidade e regeneração por trás. Estes dois tópicos estão em voga em Lisboa e noutras capitais do mundo, e em contraste dentro de si mesmos, numa perspectiva de passado versus futuro.

Em relação a Distopias (62,8%) as convicções separam-se. O acompanhamento propínquo e assíduo do ser humano em relação à degradação do meio ambiente pode fazer com que este aceite tal condição de vida como a realidade normal e não como uma distopia. Lisboa foi considerada Capital Verde Europeia em 2020 o que, para os habitantes desta cidade, a aproxima mais de uma utopia do que do oposto. Contrariamente, a educação e o autodidatismo promovem, através da informação, uma capacidade de afastamento da linha cronológica que possibilita a comparação entre o passado e o presente. Este afastamento capacita o individuo de discernimento e consciência de que caminhamos para uma distopia ou de que, já lá chegámos.

Mudanças drásticas e abrangentes requerem a adopção e emancipação de novas Ideologias (65,9%). Em relação a Sustentabilidade em Lisboa é possível observar o início de tal emancipação com a abertura de cada vez mais negócios que se regem pelo veganismo, por exemplo. Ainda assim este resultado demonstra a necessidade de abrir mais espaço a ideologias positivamente transformadoras, ambiental e socialmente.

Bem-estar e Espaço (cosmos) obtiveram 54% e 42,4% respetivamente. A falta de bemestar leva à procura e à luta pelo alcance do mesmo, razão pela qual, possivelmente, se observa tal desacordo. A articulação entre cosmos e Sustentabilidade é pertinente no sentido dos debates em relação à necessidade de transferir a existência do ser humano para fora do Planeta Terra. Se segundo esta perspectiva, o número relativamente baixo demonstra fé por parte dos inquiridos na regeneração do Planeta Azul.

Redes sociais, ouvir música, ler, atividades ao ar livre, streaming, filmes, desporto, televisão são as atividades (por ordem) às quais os inquiridos dedicam pelo menos uma hora por semana. Já os lugares e espaços selecionados em Lisboa como mais importantes do ponto de vista criativo foram Marvila e Braço de Prata, Mouraria e Belém. Os bairros mais criativos, foram Bairro Alto, Graça, Alfama e Arroios pela ordem apresentada. Já os espaços mais frequentados são, por ordem decrescente, jardins, restaurantes, parques, cafés, cinemas, bares e restaurantes.

Em relação a confiança nas forças de governo e autoridade e nos meios de comunicação, a ordem é a seguinte: profissionais especializados (94,2%), universidades (89,6%), televisão (71,2%), jornais e revistas (66,6%), redes sociais (59,8%), poder municipal local (53,5%) e governo (38,4%). Do ponto de vista da Sustentabilidade, os dois últimos lugares do ranking são ocupados pelos responsáveis pela criação e efetivação de leis protetoras do ambiente, o que significa que a população que mora, estuda ou trabalha em Lisboa acredita estarem aquém de cumprir tal função eficientemente.

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Inquéritos 2021

Resultados para a tendência I (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques,2020)

Analisando os resultados, constatamos que a maioria das respostas obtidas foram enviadas por pessoas que se identificam com o gênero feminino e entre as faixas etárias entre 18 a 24 anos e 25 a 34 anos. Considerando esse público, foi expressivo o número de pessoas que se identificam como pertencente a um ou mais grupos identitários, totalizando em 77% das respostas. Dentre os grupos mais mencionados na pesquisa, estão: Grupo Etário (55,7%), Gênero (44,3%), Nacionalidade (44,3%), Classe Social (24,6%), Classe Laboral (24,6%), Orientação Sexual (14,8%) e Raça/Etnia (9,8%), considerando que havia a possibilidade de escolherem até três opções. Outro dado interessante é que  60,7% da nossa amostra assinalou que essas identidades são muito ou extremamente importantes na sua formação enquanto indivíduo. Disso, refletimos sobre a expansão das possibilidades de agrupamento identitário e a própria autoconsciência dos indivíduos diante desse processo, bem como do papel central das identidades coletivas na formação dos sujeitos contemporâneos.
Sobre a forma como os moradores se relacionam com o espaço urbano em Lisboa, em uma questão a respeito da diversidade em termos de identidade na cidade, 44,3% das pessoas assinalaram a opção de extremamente diversa. E como exemplos dessa diversidade, os respondentes mencionaram, por exemplo, a expressiva presença de imigrantes na cidade, a promoção de eventos voltados para públicos identitários (como LGBT+), e a visita recorrente de turistas. Bairros e determinadas regiões da cidade também foram citados como representativos da diversidade, como Martim Moniz, Alameda e Bairro da Mouraria, assim como a própria Universidade de Lisboa. Outro tópico trabalhado foi a identificação de traços da memória coletiva no ambiente urbano, em que 86,9% dos participantes responderam de forma positiva, dando exemplos como o Padrão dos Descobrimentos, Ponte 25 de Abril e o Museu do Aljube; complementando com 90,2% de interesse pela história da cidade.
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Resultados para a tendência II (Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos, 2020)

O inquérito foi desenvolvido para o público geral e habitantes em Lisboa e esteve disponível de 25 de abril de 2020 à 10 de maio de 2020 no Google Forms e teve um total 43 respondentes.

Sobre o que pode ser observado com análise do conteúdo das respostas recolhidas, apontamos as questões mais expressivas a seguir.

Identidade

  • 18,6 % dos respondentes dizem não se encaixar nas denominações de auto expressão de orientação sexual mais tradicionais.
  • As identidades Queer e LGBT+ aparecem como últimas colocada no quesito tradicionalidade.
  • A inconstância dos dados relacionados à identidades faz conexão com a posição no ranking das produções audiovisuais relacionadas à hipótese, que permanece pioneira em número de produções. É possível dizer que as produções sobre essa temática fazem-se necessárias em resposta à busca de autoconhecimento e  representatividade.

Desconfiança

  • Redes sociais aparecem como a de menor confiança, seguidas pelos governos municipal e constitucional.
  • Profissionais especializados, jornais e revistas, televisão, universidades são as redes de comunicação ou autoridades que as pessoas mais confiam, nessa ordem.
  • Ao serem perguntados sobre o impacto do COVID-19 e a relação de confiança dessas redes de comunicação e autoridades, as áreas mais impactadas, segundo os respondentes, são os profissionais especializados e o  governo constitucional.
  • As medidas de restrição e controle durante COVID-19 auxiliaram no aumento da credibilidade e confiança das pessoas com as instituições governamentais.
  • Redes sociais e notícias aparecem como menos confiáveis em meio a pandemia. Em contrapartida, essa desconfiança tem feito com que as pessoas evitem acreditar em notícias falsas, façam revisão de dados, confiram fontes e veracidade de fatos.

Tópicos em discussão e interesse nos temas

  • Política, autoridades, desconfiança são os assuntos essenciais e os três tópicos de maior interesse dentro do menu de opções. Essa é uma característica de resposta óbvia e diretamente ligada à situação atual de incertezas em época de um mundo lutando contra o COVID-19.
  • Ao que referem-se assuntos essenciais a serem discutidos em cinco anos aparecem os temas igualdade, discriminação, política, autoridades e diversidade.
  • Transhumano, no-gender e desconfiança apresentam-se como os tópicos mais controversos e que dividem opinião.

Resultados para a tendência III (Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang, 2020)

Após a análise dos resultados dos inquéritos, observa-se que mais de 70% do público inquirido utiliza dispositivos de novas tecnologias diariamente, embora mais de metade do mesmo considere que o uso dessas novas tecnologias pode impactar a saúde física (63%) e a saúde mental (70%) de modo negativo. Pode supor-se que a justificação disso assenta no facto de, actualmente, as novas tecnologias serem consideradas um modo de lazer, por mais de metade do público (55%) e facilitarem o contacto entre as pessoas, para a grande maioria (93%). Porém, 76% acredita que as novas tecnologias contribuem para o afastamento da interação presencial e física entre as pessoas.

Quanto à integração de inteligência artificial na vida em sociedade, as respostas estão quase equilibradas, embora o número de pessoas que considera que essa integração traz mais vantagens (53%) do que desvantagens (47%).

82% do público inquirido considera que o fácil acesso à informação possibilitado pelo desenvolvimento tecnológico é algo positivo, mas essa mesma percentagem confessa também que se sente incomodada por os seus dados serem registados por vários sites e por essas mesmas plataformas terem acesso ao seu histórico online.

No fundo, observa-se que o público inquirido acredita que os benefícios (acesso a mais informação, fácil modo de contacto, lazer e hobbies online, etc) das novas tecnologias se sobrepõem aos malefícios (impacto negativo na saúde física e mental, registo online de dados pessoais, afastamento físico entre as pessoas, etc). Talvez seja essa a razão de continuarem a utilizar tão frequentemente as novas tecnologias e os seus respetivos dispositivos, embora estejam também cientes das suas desvantagens.

 

Resultados para a tendência IV (Marianna Rosalles, Francisco Mateus, 2020)

Nosso intuito ao elaborar o inquérito foi buscar compreender qual é a ideia de sustentabilidade que as pessoas apresentam, por ser um tema amplo gostaríamos de saber o que vem em mente intuitivamente. Além disso, buscamos compreender se a experiência do confinamento alterou a relação das pessoas com essa tendência. A quarentena nos coloca em contato com a nossa produção de lixo, suscita reflexões a respeito do consumo, que tipo de produtor iremos incentivar em um contexto de crise econômica, entre outros dilemas. Pretendemos compreender se de fato esse potencial reflexivo se concretizou e de que maneiras.
Outra preocupação foi mensurar o que as pessoas sentem a respeito das políticas públicas nacionais e na cidade de Lisboa que levam em consideração a sustentabilidade. Compreender quais são as principais atitudes das pessoas em termos de atitudes sustentáveis também foi uma de nossas inquietações, nossa proposta é lançar luzes sobre que ações de forma pragmática as pessoas têm tomado.
Obtivemos 88 respostas desde o início do inquérito. O público que nosso inquérito conseguiu atingir é formado majoritariamente por pessoas do sexo feminino com 83%, enquanto que o sexo masculino se expressa com 15,9%. Além disso, é maior a quantidade de pessoas com idades de 25 a 34, compondo 33% do público, enquanto que de 18 a 24 anos respondem por 28,4% e de 35 a 44 por 23,9%. Também, os estudantes de licenciatura ou bacharelado são maioria com 59,1%, seguido pelo mestrado com 23,9 e o 12° ano  com 14,8%.
Foi interessante reparar que, primeiramente, ninguém afirmou ser indiferente a sustentabilidade, todos, independente do grau de importância que dão ao tema, o consideram pertinente. Além disso, entre as ações cotidianas relacionadas à sustentabilidade a reciclagem se apresenta como principal atividade(80,7%) mas dar preferência a compra de pequenos produtores está logo em seguida (61%) e a compra de itens usados também obteve uma expressiva adesão (44,3%).
Em termos de avaliação de políticas públicas, tanto de Lisboa quanto na perspectiva nacional, as respostas mais escolhidas foram parcialmente satisfatórias e em segundo lugar insatisfatórias. Em geral a avaliação foi predominantemente negativa.
No âmbito da discussão internacional da temática da sustentabilidade, 44,6% avaliam que a discussão ocorre com frequência regular e a segunda maior parte dos participantes, 39,8% respondeu que o tema é pouco discutido.
A questão número 7 questiona se a percepção sobre sustentabilidade mudou no contexto pandêmico e é a única que permite que a resposta seja justificada. Apenas 19 pessoas responderam que o confinamento não alterou sua percepção sobre o tema, a ampla maioria afirmou que passou a reparar na quantia de lixo que produz, passou a consumir menos, comprar apenas o essencial, utilizar os alimentos de forma integral para evitar o desperdício, tentar produzir seus próprios alimentos para não precisar se deslocar para comprar. Algumas pessoas comentam que agora tem mais tempo para reparar na natureza, se dedicar à sua horta, perceber uma diminuição da poluição e até um aumento em sua qualidade de vida. Outra preocupação recorrente é o insight de que as economias locais devem ter mais autonomia para que não fiquem reféns do sistema econômico global, foram sugeridas formas alternativas de abastecimento do alimento, hortas urbanas e incentivo à agricultura familiar.
No entanto, há uma preocupação com o descarte de itens de uso único como os equipamentos de proteção individual utilizado no combate ao covid. As pessoas relatam ter reparado que máscaras e luvas são deitadas na rua.
A ideia de que é necessário que sustentabilidade e crescimento econômico caminhem juntas foi reforçada tanto nessa pergunta como na seguinte, apresenta-se também uma preocupação com a desigualdade social que se evidencia no contexto pandêmico.
Quando questionados sobre a sustentabilidade no desenvolvimento social por unanimidade venceu a afirmação de que pode ser uma forma de melhorar a qualidade de vida sem prejudicar o meio ambiente. Sobre o nível de informação a respeito da sustentabilidade 70,5% afirmam que as pessoas estão pouco informadas. Quanto às empresas, 67% afirmam que as corporações estão informadas mas tomando poucas atitudes sustentáveis. Em se tratando de uma análise da cidade de Lisboa 71% dos entrevistados afirmam que o principal problema ambiental é a poluição do ar causada pela grande circulação de automóveis, em seguida a poluição do rio Tejo foi apontada como o segundo problema mais relevante.
Um dado surpreendente quanto à sustentabilidade nas cidades foi a priorização do uso de energias renováveis, apontada por 77,3% dos entrevistados, a segunda estratégia mais relevante foi a valorização dos espaços verdes (61,4%) e em seguida a adoção de carros e autocarros elétricos. Quando questionados sobre o quanto a economia circular seria relevante para a sustentabilidade a maioria das pessoas afirma que é um método interessante.

Resultados para a tendência V (Andreia Carneiro,  Caroline Rocha,  Karliete Nunes, 2020)

O objetivo do formulário é compreender algumas questões relacionadas ao bem estar, à saúde mental, à privacidade e às pressões nas dinâmicas sociais, neste período de confinamento social de residentes que estudam ou/e trabalham na zona metropolitana de Lisboa.

O formulário foi aplicado via google forms, sendo encerrado com um total de 203 respostas.
As idades dos participantes variam dos 20 aos 72 anos de idade, sendo mais predominante participantes com idade dos 22 aos 48 anos, confirmando o direcionamento correto para o público alvo proposto. Notou-se que duas pessoas não responderam a essa questão, o que não causa grande impacto na análise geral dos resultados. A escolaridade concluída analisada nas respostas é composta, em sua maioria, pelos que possuem ensino superior, totalizando 104 participantes (65,4%), frente a 25 (15,7%) que ainda não ingressaram ao universo acadêmico e o total de 19, que responderam possuir pós doutoramento finalizado (11,9%).
Durante o estado de emergência, os números sugerem uma confiança quanto à estabilidade financeira dos participantes e/ou de seus agregados nesse período. Mais da metade (61,6%) revelam não terem e nem preverem uma quebra nos rendimentos, enquanto (38,4%) responderam que sim.
Embora dois participantes não tenham respondido qual a atual situação quanto à condição de isolamento em casa, 129 responderam que estão a se isolar (82,2%), 25 que em parte (15,9%) e apenas três participantes responderam que não estão a fazer isolamento em casa. Desses três, dois estão categorizados como profissionais de saúde, o que explica a resposta negativa.
No entanto, embora a boa vontade no cumprimento das medidas de isolamento em casa correspondam a maioria das respostas, para que o isolamento seja desempenhado é necessário que a casa esteja abastecida, como mostra o gráfico. Para esta questão, foi disponibilizada a opção de respostas múltiplas e abertas. Sendo assim, somaram-se 137 respostas de saídas para ida às compras do tipo mercearias (86,7%), 51 para caminhar (32,3%), 38 para o trabalho (24,1%), 18 para passear o animal de estimação (11,4%), 12 para apanhar sol (7,6%). Outras opções obtiveram apenas uma resposta, como listadas abaixo no gráfico.
Embora o cenário da pandemia exija um confinamento social e cerca de mais da metade dos participantes (53%) tenham respondido que saem de casa para atividades não essenciais como, passear o animal de estimação, caminhar, apanhar sol, andar de bicicleta e correr, cerca de (70%) dos participantes estariam quase ou totalmente dispostos (de 6 a 10, na escala) a cederem os seus dados de localização, de forma a contribuir para o controle da disseminação do coronavírus, e apenas (29%) estariam nada ou quase nada dispostos a cederem. Esse resultado vai de encontro, ou seja, vai contra com as expectativas geradas na formulação deste inquérito. Possivelmente a falta de mais informações sobre o sistema do “grande irmão” tenha colaborado, ou simplesmente não existe uma importância quanto aos dados de privacidade para os participantes.
Em uma escala de 1 a 10, onde 1 representa nada saudável e 10 totalmente saudável, o número de participantes que se sentiam mentalmente saudáveis, antes do isolamento devido à pandemia do coronavírus, era de alcance relativamente alto, para 121 participantes que responderam de 8 a 10.
Na sequência dessa pergunta, com opção de respostas múltiplas e abertas, 122 participantes marcaram o trabalho (77,7%) como uma das atividades desempenhadas que colaboraram para o bem estar mental antes do isolamento. O tempo com a família (65%) também foi um dos fatores, representando 102 respostas, assim como o tempo para relaxar (59,2%), seguido de atividades físicas (56,7%), estudos (30,6%) e tarefas domésticas (28%). Tempo com os amigos somaram 8 respostas.

Ao contrário das respostas positivas quanto à saúde mental antes do isolamento pela pandemia do coronavírus, onde numa escala de 1 a 10, em que o 1, representa nada saudável e o 10, totalmente saudável, há quase uma inversão nas respostas dos participantes, que apontam uma piora. Durante o isolamento apenas (10,7%) dos participantes sentem-se totalmente saudáveis, uma queda de mais da metade (-52%) comparado com o cenário anterior à pandemia. Quedas maiores referidas ao 9 na escala, de aproximadamente (-66%), e ao 8, de cerca de (-27%) comparados ao cenário anterior. A partir do número 7, as taxas apontam para um crescimento, sendo o 7 (+70%), o número 6 (+237%), o 5 (+566%), o 4 (+25%), o 3 (+150%), o 2 (+400%) e o 1 (+100%), comparados aos números antes do isolamento.
Embora os dados apontem para uma mudança significativa quanto à saúde mental antes e durante o isolamento devido a pandemia do coronavírus, as atividades desempenhadas antes, como colaboradoras para níveis referentes a uma ótima saúde mental, revelam uma pequena queda na fase durante o isolamento, com exceção das tarefas domésticas, que aumentaram (+61%). As quedas constatadas foram relacionadas ao trabalho (-14%), aos estudos (-19%), às atividades físicas (-30%), ao tempo para relaxar (-16%) e ao tempo com a família (-30%). No cruzamento dos dados das quatro tabelas associadas, é possível perceber que as atividades desempenhadas, em um cenário anterior à pandemia, foram relacionadas com níveis positivos de saúde mental. Essas atividades desempenhadas tiveram uma variação pequena que praticamente foram mantidas durante a pandemia do coronavírus. No entanto, o nível de saúde mental durante a pandemia despencou. Importante ressaltar que o aumento do número de tarefas domésticas também colaboram para os números baixos de saúde mental. Isso pode significar que essa queda não está nas atividades em si, mas na qualidade em como elas são exercidas.
Outro gráfico que corrobora com a baixa qualidade no desempenho das atividades relaciona-se com as pressões para entrega de resultados. Seja em relação ao teletrabalho e/ou estudos, seja nas atividades domésticas e/ou escolares dos filhos e/ou familiares, foi constatado, dentro de uma escala de 1 a 10, onde 1 representa nada pressionado e 10 totalmente pressionado, que cerca de (71%) dos participantes sentem-se pressionados, na soma referente às escolhas de 6 a 10. Ao contrário, apenas (17%) dos participantes sentem-se pouco ou nada pressionados, na soma referente às escolhas de 1 a 5.
Essa pressão constante para entrega de resultados, somada ao baixo nível de saúde mental durante o confinamento, pode impactar e exercer em uma quantidade maior de participantes que estariam dispostos a ceder seus dados pessoais para contribuir no combate e tratamento do coronavírus para que assim a “normalidade” pudesse ser estabelecida novamente. Na escala de 1 a 10, onde 1 representa nada disposto e 10, totalmente disposto, apenas 24 participantes (15%) estariam nada ou quase nada dispostos, tendo marcado as opções de 1 a 5, e 134 participantes (84%) estariam quase ou totalmente dispostos.
A alta disponibilidade na cessão dos dados pessoais pelos participantes, sejam eles de localização ou de saúde, para contribuir no combate e no tratamento do coronavírus, pode estar relacionado também com o nível de satisfação com as novas formas de socializar impostas pela quarentena, embora sejam os únicos meios disponíveis. O nível de satisfação estabelecido de 1 a 10, sendo 1 nada satisfeito, e 10 totalmente satisfeito, foi marcado com apenas (7,5%) como totalmente satisfeito e um nível abaixo, 9, com (10,7%). Níveis baixos também, de 1 a 4, considerados como nada ou pouco satisfeito com (11%), níveis medianos 5 e 6 aproximadamente (15%) cada um, e nos níveis de satisfação parcial, 7 e 8, somam (39,6%).
Atualmente, durante o cenário de pandemia do coronavírus, que exige um confinamento social, os participantes responderam que algumas atividades têm ajudado-lhes a manterem-se saudáveis mentalmente. São elas: assistir filmes (68,8%), ouvir música (53,5%), acessar internet (50,3%), leitura (42,8%), caminhada (37,1%), exercícios físicos, inclusive alongamentos e correr na passadeira (15%), yoga (14,5%), não fazer nada (8,8%), dança (8,2%), meditação (5,7%), trabalhos manuais como artesanato e bricolage (1,9%), dentre outras atividades.

Resultados das Entrevistas (Ana Paula Vanucci Lucas Sampaio Vanja Favetta Priscila Altivo,2022)

Os dados das entrevistas foram compilados e organizados em 15 insights, seguindo uma análise interpretativa padronizada pelos entrevistadores dos diferentes resultados das entrevistas. As entrevistas seguiram um guião semi-estruturado partilhado com todos os entrevistadores e tiveram uma duração média de quarenta minutos. As entrevistas tiveram lugar entre Abril e Junho de 2022.

Entrevistados: Pedro Rodrigues – Responsável geral da Casa da Achada / Lisboa; Filipa Belo – Proprietária e Idealizadora da Portugal Manual / Lisboa; João Alpuim Botelho – Diretor Museu Bordalo Pinheiro / Lisboa; Heloísa Cid e Ana Alves de Sousa – Diretoria Associação de moradores do Bairro Azul / Lisboa; Ana Cristina Mendes – Professora Associada Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa / Lisboa/ Évora; Helena Rizatti Fonseca – Professora Associada Universidade Estadual de Maringá / São Paulo; Hermano Moreira, Cineasta – Manilha Filmes / Lisboa Aline Abreu, Head Growth Hacking – PagSeguro / Rio de Janeiro; Cristiano Fragoso, Publicitário – Agência letsdoit / Porto Alegre; Stenio Moura, especialista em Produtividade e Liderança / São Paulo; Marieta Garcias – Fundadora e diretora da associação cultural Bus Paragem Cultural / Lisboa; Artur Madeira e Diogo Pires – Fundadores e diretores do espaço artístico Safra / Lisboa; Mette Slot Johnsen – Programadora Cultural / Lisboa

#1 A pandemia forçou a transição para o digital
A pandemia forçou e acelerou a adaptação ao digital e fez com que os negócios criassem  seu próprio caminho sustentável, principalmente através das redes sociais. A produção  de conteúdo, a divulgação de atividades e produtos através do meio digital garantiu a  sobrevivência de muitos negócios. Muitas marcas e espaços aprenderam na dor e nas  dificuldades a fazer conteúdo digital e a monetizar por meio destas ferramentas. O  contato social também precisou se aliar aos meios digitais, resultando em novas  maneiras de socialização. O trabalho sofreu grandes alterações em seu formato. Todas  estas mudanças tiraram o indivíduo da zona de conforto, trouxeram um sentimento de  alta produtividade e a consequente sensação de exaustão que não cessa.

2# A Pandemia trouxe mudança de hábitos  quotidianos
A Pandemia trouxe mudanças de hábitos e alterou comportamentos do quotidiano,  desde o simples ato de usar máscara, a questões mais complexas como recriar  significados e olhar para dentro de si. Modificou relações de trabalho e motivações  de consumo. A casa passou a ser vista com outros olhos, como espaço onde se passa  mais tempo e se desenvolvem as mais variadas práticas, como trabalho, atividade  física e lazer. Nessa nova relação com o ambiente, afastamento social e cuidado  excessivo com o entorno criaram uma sensação de vigilância, que tem sido difícil de  lidar no recomeço. Foi um convite ao questionamento acerca do que pode/deve  permanecer e o que pode/deve mudar.

#3 Estrangeiros, gentrificação e identidades
A chegada de estrangeiros em Lisboa nos últimos anos é uma questão muito sentida, citada  pela quase totalidade dos entrevistados. Entre os efeitos, foram evidenciados o aumento dos preços  imobiliários, a perturbação do silêncio e a contribuição, juntamente com a pandemia, para a  mudança de horários de saída das pessoas, que agora saem mais cedo. No geral, é percebida uma descaracterização da essência Lisboeta em troca de uma padronização do  belo; pede-se que a cidade seja mais virada para a vida das pessoas e menos para o lucro. Todavia,  não faltaram menções dos aspectos positivos do fenómeno, pois, segundo alguns, os estrangeiros  contribuiram a tornar a cidade mais “viva”, trazendo também novas oportunidades para a  comunidade artística e contribuindo para a introdução no tecido cultural Liboeta de novas formas de  fazer cultura.

#4 O repensar do todo e o recomeço
A Pandemia fez com que as pessoas repensassem muita coisa, atravessou diferentes  etapas, de escassez de informações claras até o relaxamento de restrições, e o  recomeço tornou-se mais difícil. Quando todos estavam com esperança de voltar ao  “normal”, a guerra trouxe mais ondas de negatividade e preocupação. Apesar das  dificuldades, vê-se o lado positivo das pessoas terem a possibilidade de olhar para o  mundo de uma nova forma. A consciência de que um retorno para a “normalidade”  envolve o aprendizado de novos hábitos e entende-se suas contribuições em novas  práticas do quotidiano. E essas mudanças são de efeito individual e mundial.

#5 Comunitarismo e hibridismo das artes
Há uma tendência para as pessoas juntarem esforços para alcançarem objetivos  comuns. O senso de comunidade tão abalado durante o isolamento pandêmico  também deu campo para reflexão do pertencimento pessoal em comunidade. No  mundo das artes, assiste-se a uma renovada hibridização e troca entre setores  diferentes. Para além dos artistas que estão em comunicação constante, muitas  vezes trabalhando no mesmo espaço, pessoas que de todas as esferas sociais  assumem a responsabilidade de organização de atividades afim de aflorar redes  comunitárias que alimentam a cena cultural das cidades. Essa troca, como também a  integração de novos agentes sociais torna cada setor mais forte, que influencia e  agrega a todos, sem distorcer a identidade de cada um.

#6 Preocupação com o ambiente
A preocupação com o meio ambiente passou a ser um assunto diário, desde como se separa o lixo, até à forma como utilizo os recursos e e os veículos. Portugal é percebido como cuidadoso para com o meio ambiente. Em Lisboa percebe-se o esforço em incentivar o uso de meios de transporte alternativos ao carro. Percebe-se também que a mudança cabe aos jovens, uma vez que muitos das gerações mais antigas não estão realmente sensíveis ao assunto.

#7 Polarização
A polarização está presente nos discursos e discussões quotidianas, abrangendo  uma grande variedade de temáticas: consumo, tecnologia, público da cultura,  política, questões sociais, informação. A pandemia afastou as pessoas, percebe-se  que já não há intermediário e os assuntos complexos parecem estar a ser reduzidos  a dicotomias. Além disso, os discursos polarizados parecem ser incentivados por  motivos equivocados, desviando as temáticas para outras direções, que não a  diplomática.

#8 Guerra
A guerra sempre existiu e é latente. A guerra entre Rússia e Ucrânia surpreendeu  muitos e voltou a relembrar-nos na Europa que a guerra é real, levando outra vez o  tema para a atenção de todos. Não só a Guerra com conflitos entre nações, também  a da Covid 19, mostram como trata-se de um assunto muito presente. Um foco  maior foi dado através da cobertura de canais tradicionais e alternativos de imprensa  com o atual impasse no leste europeu, no entanto Guerras estão a acontecer  mundialmente, e de maneira ininterrupta.

#9 Crise
Há uma crise real generalizada, sentida como algo permanente. No momento  presente, sublinham-se as preocupações com a crise económica e do trabalho, a  inflação e a guerra.

#10 Espaço (Cosmos)
O espaço (cosmos) é tido como algo distante. É necessário cuidar do aqui e agora. É  como estar perante um esgotamento na busca de soluções na Terra e se apela para  o espaço. É importante a evolução e o desenvolvimento, mas a vida está aqui e todos  estão sedentos de mudanças sustentáveis para o futuro da Terra.

#11 Realidade Digitais
As relações digitais estão mais presentes e transformam as vidas, desde a  comunicação à forma de trabalho. É preciso discutir a sua presença excessiva que  provoca ansiedade e a sensação de que não há outro caminho, para além do digital.  A dependência é o perigo. No setor cultural, podem ser benéficas por dar mais  visibilidade aos espaços e aos eventos, mas nas questões de produção em maior  quantidade é possível haver decréscimo de qualidade. As gerações mais jovens são  interessantes retratos dos impactos do digital. O viver analógico é trazer o indivíduo  para o presente. É preciso o equilíbrio.

#12 Pandemia
A pandemia já não está tão presente como no início, no estado permanente de vigilância, mas os seus impactos ainda serão sentidos por muito tempo. Impactos que abrangem camadas diversas, e seguirão ditando os rumos de convívio social e relação com o mundo para todos.

#13 Trabalho
O ser humano está a buscar o equilíbrio e o formato do trabalho está a ser  questionado. No setor cultural, o impacto da pandemia foi determinante. O trabalho  e suas mudanças no dia de hoje são sentidos como um tema extremamente atual.  Por uma parte crescente da população, o trabalho como pino existencial caiu  definitivamente, sendo muitas vezes abordado para fins pessoais e com olhar de  curto prazo. O alcance da felicidade torna-se a prioridade.

#14 Temas mais presentes daqui 5 anos
O ambiente é o tema mais relevante para os próximos 5 anos. Seguido das  realidades digitais.

#15 Temas com maior evidência na  atualidade
A Guerra é o tema mais citado para representar a atualidade. Em seguida o trabalho  é uma temática relevante e presente no cotidiano, que foi impactada pela pandemia  e que sofrerá ainda grandes mudanças em sua estrutura.

 

Resultados para a tendência I (Heloisa Keiko, Gabriela Orestes, Gabriela Abreu, Cláudia Marques,2020)

A etapa das entrevistas foi crucial para a consolidação de informações recolhidas em passos anteriores da pesquisa, sublinhadas a partir da fala de especialistas em diferentes áreas atreladas à hipótese e de moradores da cidade de Lisboa. Foi um processo de dar voz aos sinais recolhidos (criativos e em espaços), no clipping, na planificação audiovisual e na própria desk research. Assim, enquanto método etnográfico, as entrevistas permitiram uma maior aproximação com o público, em um processo de validação dos indícios que começavam a despontar, trazendo os fenômenos observados para o plano da percepção e assimilação social.
A partir desse momento, com a potencialização de reflexões sobre temas que se destacavam e a atividade de ouvir a opinião dos moradores de Lisboa, a tendência passou por dois processos distintos e simultâneos: a ampliação dos tópicos e a corroboração por profissionais de áreas correlatas, que agregaram novas perspectivas e possibilidades de aplicação dos insights em formulação, e a indicação de uma mentalidade coletiva mais localizada, refletindo em um primeiro plano o contexto português e, numa leitura mais aprofundada, europeu.
Usando o texto original da hipótese como referencial e o que julgamos pertinente com as informações recolhidas durante a pesquisa, optamos pela elaboração de um roteiro-base, abordando as seguintes temáticas centrais: Reconhecimento identitário;  Principais influências/fontes de narrativas;  A identidade no espaço urbano;  Memória coletiva; Nostalgia; O papel da experiência em escolhas de consumo e lazer; Relação entre memória e espaço urbano;  Gamificação; Hibridização de linguagens e plataformas; Relação pessoal com a cidade;  Origens e perspectivas futuras; Globalização; Impacto na rotina e atividades gerais causado pelo Covid-19.

Público geral
No que diz respeito ao público geral, formado por moradores de Lisboa, o roteiro foi levemente adaptado conforme as informações prévias sobre o interlocutor ou condução da entrevista, considerando tópicos de maior interesse e rumos de cada conversa. A proposta inicial era de realização das entrevistas em encontros presenciais, o que foi impossibilitado com as medidas de isolamento social, mediante a pandemia do Covid-19. Como alternativa, optamos pelo uso de videochamadas, em conversas que duraram entre 30 minutos e uma hora, realizadas entre 15 de abril e 03 de maio de 2020. É fundamental ressaltar a influência do contexto pandêmico, explicitada na própria forma de viabilização dessa troca, nas respostas e dados coletados, em especial no que diz respeito às reflexões pessoais e vivências urbanas, postas em cheque com a restrição da circulação em vigor durante os últimos meses.
Ao total, entrevistamos oito pessoas, entre 26 e 68 anos, de diferentes nacionalidades (alemã, portuguesa, brasileira, húngara), com trajetórias profissionais e de vida que também se distinguem, e apresentando razões diversas para viver em Lisboa (estudo, trabalho, laços familiares, manifestações artísticas, troca cultural, entre outras). Selecionamos fragmentos de quatro entrevistas, representativos para o passo como um todo.

Especialistas
Com relação aos especialistas, buscamos profissionais relacionados às áreas que consideramos como centrais para a formulação da tendência, que são: identidade; nostalgia; urbanismo;  branding e a economia experienciada; experiência digital e gamificação; Para essas entrevistas, o roteiro-base foi adaptado conforme a área de atuação do especialista em questão, com o intuito de explorarmos ao máximo a experiência profissional de cada um deles, para traçarmos uma conexão com os outros dados levantados. 5 entrevistas.

Considerações
A etapa das entrevistas foi crucial para o desenvolvimento da pesquisa, trazendo insights em processo de formulação para o plano das vivências e percepções ao nível do indivíduo. Mais do que o propósito anunciado de lugares e objetos, ou ainda como os conteúdos da tendência são abordados na mídia, foi possível contemplar seus efeitos e relacioná-los à percepção de pessoas reais e suas experiências com cada um dos tópicos investigados. Nas entrevistas com o público geral, os temas da identidade e relação com o espaço urbano da cidade de Lisboa prevaleceram, o que pode ter uma relação direta com as restrições de circulação impostas pelo Covid-19,  e uma aparente predisposição para a reflexão sobre origens, narrativas que provocam identificação e o processo de transformação do reconhecimento identitário ao longo da vida – nossos interlocutores demonstraram certo entusiasmo em compartilhar suas histórias e visões sobre o assunto. Nesse ponto, a família apareceu como um fator central na criação de narrativas e valores, bem como processos migratórios, marcantes no contexto da cidade de Lisboa. Os entrevistados também foram capazes de distinguir manifestações de diferentes culturas no espaço da cidade, o que pode ser relacionado com o multiculturalismo em Lisboa e o processo de incorporação e assimilação de expressões identitárias que se diferem da portuguesa. Sobre a memória coletiva, observamos dois caminhos diferentes: um de valorização, como uma forma de ancorar o presente em feitos passados, preservando raízes, e outra de contestação, em que a história oficial e seus marcos passam por um processo de questionamento e reelaboração, a partir de parâmetros contemporâneos e a valorização de outros agentes/marcos. No que tange às entrevistas com especialistas, partindo dos cinco tópicos pré-estipulados, acessamos informações mais personalizadas e nutridas de uma visão mercadológica e/ou acadêmica, agregando argumentos de autoridade contemporâneos no processo de pesquisa, o que foi muito interessante pela contemplação de como os subtemas da tendência operam de forma independente no contexto da “vida real”.

Resultados para a tendência II (Gustavo da Silva, Jefferson Pereira, William dos Santos,2020)

Entrevistas com Criadores

Entre os dias 20 e 29 de Abril de 2020, foram realizadas entrevistas em profundidade com sete criadores de projetos criativos nacionais e internacionais relacionados  à hipótese de tendência em pesquisa, entre 24 a 47 anos de idade e com projectos que existem, em média, há 5 anos.  As entrevistas foram realizadas por videoconferência, totalizando pouco mais de seis horas de gravação, utilizando o roteiro semi-estruturado que pretendeu: Entender as motivações por trás da criação dos projetos criativos; Ajudar-nos a entender a força de cada uma das temáticas encontradas por nós durante as pesquisas e o quanto fazem sentido para este público e o potencial de crescimento de cada uma, a fim de colaborar na posterior formulação de nossa tendência; Buscar novos Sinais/Espaços Cool na cidade de Lisboa relacionados à hipótese.
Foi possível perceber eixos que se destacaram com maior força e que se interligam entre os entrevistados e temáticas com mais clareza, ainda que todas as palavras-chave e principalmente estes eixos, de alguma forma parecem dialogar entre si.

Igualdade (Aceitação, Gênero/No Gender, Diversidade e Discriminação)
Igualdade certamente surge como a palavra-chave de maior força, apresentando importância entre a maioria dos entrevistados e articulando de maneira mais forte com as temáticas de aceitação, gênero, diversidade e discriminação. Também houve uma ligação, ainda que mais fraca com questões políticas. Os insights possíveis foram:

  • Igualdade é um conceito bastante forte para a maioria dos entrevistados, aparecendo como uma luta coletiva e que deve ser realizada de forma ativa por nós mesmos, não esperando que outros, como autoridades, lutem por ela, apesar de haver um entendimento de que a política pudesse ser um instrumento valioso.
  • A Igualdade surge como um conceito de aceitação da diferença, ou seja, não somos todos iguais, é verdade, mas devemos aceitar e respeitar estas diferenças. Uma nova palavra que pode definir esse conceito é a equidade, que é o entendimento dessas diferenças  e desigualdades presentes na sociedade para que as pessoas sejam tratadas de forma mais proporcional.
  • Aceitação é vista de uma forma mais ampla, principalmente referindo-se  à aceitação própria e não pelo outro, que parece apresentar uma conotação negativa. Aqui surgem de forma muito forte conceitos como liberdade para ser quem é e se expressar da forma que se sente mais confortável e a conquista de espaços para sua narrativas próprias.
  • Ao conceito de gênero/no gender, vemos a possibilidade de ampliação dentro das próprias categorias tradicionais (homem/mulher) e novamente a liberdade para se expressar e vestir da forma que preferir.
  • Também foi possível ver a educação, não necessariamente de forma tradicional, mas com maior foco na formação de melhores pessoas, como ferramenta para se alcançar igualdade.
  • Apesar desta luta e esperança, a igualdade parece ainda uma realidade distante e utópica, sendo barrada principalmente pelo próprio sistema e classes dominantes.
  • As palavras diversidade e inclusão estão em evidência, porém, são vistas com seu uso já gastos e utilizadas de maneira muito superficial.  Estes conceitos devem ser ampliados e aprofundados, levando em conta a diversidade dentro das próprias categorias que hoje já são trabalhadas (negros, homossexuais, homens..) e de forma
  • Discriminação é vista como algo muito presente, de forma estrutural e enraizada, mantida pelas classes que detém o poder, que tem medo de perdê-lo, e que mesmo com toda a luta é muito difícil de ser combatida.

Política  (Autoridades e  Desconfiança)
Este eixo, puxado pela palavra-chave Política, também demonstra bastante força entre os entrevistados, estando relacionado ao eixo anterior uma vez que os sentimentos observados aqui se dão em busca de uma igualdade, em sua mais amplo forma. Podemos ter como insights então:

  • Há um movimento de desconfiança nas autoridades tradicionais como os grandes media.
  • Percebemos a desconfiança como uma ferramenta de proteção contra as opressões sofridas, que são sentidas de forma muito forte, até mesmo contra a própria vida.
  • Mesmo não sendo perguntada de forma direta, a raiva também é citada e percebida, principalmente relacionada à políticaautoridades e uma luta para driblar o sistema atual e classes dominantes, que sentem medo desta revolta.
  • A política também é vista de forma mais ampla e ferramenta de transformação. Nossos corpos são políticos, tudo o que produzimos é posicionamento político.
  • Há também o entendimento de e valorização de autoridades genuínas, não políticas mas que tenham estudando, sejam especialistas e tenham capacitação para falar de um determinado assunto, o que em tempos de debates virtuais, se torna cada vez mais importante.

Transhumano
Esta palavra aparece de forma mais desconexa das demais temáticas envolvidas na hipótese. Mesmo entre entrevistados supostamente ligados diretamente ao tema, o movimento parece ser bastante emergente, principalmente em Portugal, porém com potencial de crescimento. Como insights obtivemos:

  • A grande questão aqui é a expansão da consciência humana, não apenas através do uso de novas tecnologias (o que na verdade é apenas uma das correntes deste movimento), mas também através de medicamentos e terapias alternativas.

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Resultados para a tendência III (Irina Martins, Filipa Pina, Nanqian Jiang, 2020)

O público entrevistado, num total de quatro entrevistas, apresenta unanimidade referente aos benefícios das novas tecnologias. Consideram que uma das suas grandes vantagens é um acesso mais fácil, rápido e eficaz à comunicação e à informação. Quanto à presença das novas tecnologias na vida em sociedade, alguns dos entrevistados consideram que essa presença não é intrinsecamente má, porque ajuda a facilitar algumas tarefas humanas. Contudo, as opiniões oscilam quanto a uma maior integração da inteligência artificial na vida em sociedade, o que demonstra alguma reticência quanto à mesma. A inteligência artificial é, talvez, a área na qual há algumas dúvidas e não há uma confiança total. As pessoas tendem a usufruir e a usar as novas tecnologias para as ajudar, auxiliar e entreter, mas não para as substituir. Tal acontece porque aparenta haver uma preocupação e atenção dadas à racionalidade humana e aos sentimentos humanos, na tomada de decisões – características essas que alguns entrevistados consideram difíceis de emular e replicar.

O público entrevistado parece concordar quanto ao impacto das novas tecnologias na saúde. A nível mental consideram que esse impacto pode ser negativo, indo ao encontro das opiniões nas respostas recolhidas no inquérito, acerca da mesma questão. Mas, apesar disso,  pode também contribuir para uma maior inclusão de pessoas em grupos e comunidades com interesses semelhantes, nos quais podem conhecer outras pessoas e debater pontos de vista. O público entrevistado revela, também, estar alerta do progresso feito na área da saúde física (através de novos tratamentos, novos aparelhos, etc) possibilitado pelas novas tecnologias e pelo respetivo desenvolvimento. No geral, tanto o público do inquérito como os entrevistados estão cientes das potencialidades das novas tecnologias, bem como das suas desvantagens.
O facto de as novas tecnologias e o mundo virtual serem viciantes e estimulantes, através da tão intensa partilha de informação e constante inovação (que causam curiosidade), são causas evocadas como justificação para o grande número de horas que a população passa a utilizar as novas tecnologias e os dispositivos que são fruto das mesmas.

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Resultados para a tendência IV (Marianna Rosalles, Francisco Mateus, 2020)

Optamos por entrevistar pessoas que representassem os diferentes âmbitos da sustentabilidade: membro de uma corporação, agente na política institucional, cidadão com iniciativa autônoma.
A entrevista com a analista de marketing foi realizada por telefone no dia 7 de maio. A conversa durou cerca de 40 minutos e revelou que a empresa está buscando incorporar a sustentabilidade como uma estratégia de engajar as pessoas a utilizarem os serviços do site. Um aspecto interessante foi o fato de que a plataforma não visa incentivar o consumo, não promove anúncios com gatilhos mentais de escassez por exemplo, ela apenas se comporta como um ponto de encontro entre vendedores e compradores. A entrevistada afirma que o aspecto de maior adesão dos consumidores é a “escolha inteligente” de adquirir um bem em ótimas condições por valores abaixo do mercado. Ela afirma ainda que a empresa tem sido associada aos valores da sustentabilidade por exemplo por influencers que os marcam nas redes sociais e está tentando se apropriar disso como uma forma de apresentar que além do benefício econômico, a compra de usados também contribui para a preservação do planeta. Comentou também que há um estudo que aponta que o seu grupo evitou a emissão de 900 mil toneladas de CO2 em 2019. A analista ressalta que a pandemia foi um “acelador” de futuros para a empresa, todos os funcionários estão em teletrabalho e assim devem permanecer até setembro e houve uma atualização do branding da empresa bem como a adoção de pagamentos digitais e do sistema delivery.
A entrevista com a engenheira de ambiente foi realizada por telefone no dia 4 de maio. A conversa, que durou cerca 30 minutos, abordou questões como a agricultura urbana, a ressignificação de espaços urbanos, a economia circular e o cenário pandêmico. Ressalta-se da entrevista o impacto positivo dos projetos urbanos à cidade, promovendo o bem estar, os laços comunitários e a ressignificação de espaços em desuso. Neste momento de epidemia, a agricultura urbana se mostra como alternativa aos supermercados, com fila e escassez de produtos. Mas também, a agricultura urbana é uma forma de democratizar o acesso à comida e também de evitar o desperdício de alimentos, sendo a compostagem uma prática ligada à ideia de economia circular.
A entrevista com o deputado foi realizada no dia 7 de maio de 2020 por meio da plataforma Zoom. A conversa feita por videochamada durou 40 minutos, tendo sido abordadas questões como o ciclismo, a agricultura urbana, a sustentabilidade em tempos de pandemia e os novas modelos econômicos. Na entrevista ficou evidente que o uso da bicicleta durante a pandemia, como forma de promover o distanciamento social, e a agricultura urbana, ligada à ideia de segurança alimentar, são ações que fazem repensar a relação do indivíduo com a cidade, possibilitando uma nova mentalidade a respeito dos espaços. Também, estas duas ações são vistas como formas de organização social e de pacto coletivo que colaboram para uma cidade mais sustentável e com mais bem estar.

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Resultados para a tendência V (Andreia Carneiro,  Caroline Rocha,  Karliete Nunes, 2020)

Análise das respostas da entrevista a profissionais de saúde em Portugal.

O objetivo das entrevistas é compreender como os profissionais de saúde, de forma geral, sentem-se em meio a pandemia do coronavírus, uma vez que encontram-se no combate de fronte e podem receber pressões que o levem a um quadro problemático, como o de estresse, por exemplo.
As entrevistas foram realizadas do dia 30 de abril a 6 de maio de 2020, com 18 profissionais de saúde que trabalham em área dedicada ao atendimento direto ou indireto de pacientes com suspeita de COVID-19, na região metropolitana de Lisboa. Devido ao problema do coronavírus – que gerou uma demanda maior de requisição aos profissionais de saúde para atendimento nos hospitais, e consequentemente a disponibilidade de horário para concessão das entrevistas – enviámos as perguntas das entrevistas, conforme nos foi solicitado pelos profissionais, via google forms, a fim de facilitar o seu preenchimento, de acordo com o tempo disponível de cada profissional.
Quando perguntados se sentem-se em segurança para exercer a profissão, 14 profissionais afirmaram que sim (77,8%). Um deles ponderou que no entanto, é bastante estressante toda a situação da pandemia e que tem sentido medo de ser contaminado ou que alguém de sua equipa seja. Apenas três profissionais, responderam que não sentem-se seguros ao exercer a profissão, sendo que dois reforçaram que a suas insegurança se dão em virtude da insuficiência de materiais e que os mesmos são de baixa qualidade ao nível da proteção..
Quase todos os profissionais (94,4%) temem ser condutores de alguma doença ou agente parasitário para a sua residência. Apenas uma enfermeira disse não temer.
Importante ressaltar que, nenhum dos profissionais entrevistados recebem algum tipo de atendimento psicossocial neste período da pandemia. Perguntados como se sentem quanto aos resultados dos trabalhos desempenhados como profissionais de saúde, 13 profissionais responderam positivamente, representado no gráfico como “P+” com (72,2%) que se sentem úteis, reconhecidos, orgulhosos, satisfeitos, um pouco aquém do que poderia ajudar e um deles até cobra os colegas e utentes o cumprimento das normas de segurança.
Os outros cinco profissionais responderam negativamente “N-” e um deles, representado por “M+-“, no gráfico, sente que o resultado do seu trabalho é satisfatório, mas que no entanto, acredita ser mal remunerado e pouco reconhecido pela sociedade. Esse criticou, inclusive desabafando, “só agora se lembraram de bater palmas?”. Os outros profissionais utilizaram palavras para definirem como se sentem em relação aos resultados de seu trabalho como: apreensivo; ignorado pela Instituição, pelo Ministério da Saúde e pela sociedade; não reconhecido pelos seus esforços e com receio de ser infectado e infectar seus familiares, mesmo estando em isolamento familiar, desde final de fevereiro.
Podemos concluir que, existe uma preocupação com maior parte dos profissionais da saúde em monitorar constantemente os sintomas relacionados ao coronavírus e de ser condutor de alguma doença ou agente parasitário para as suas residências, embora a maior parte se sinta em segurança para exercer a profissão, exceto quando não há disponibilidade de equipamento de proteção individual adequado, o que pode comprometer o exercício da profissão e desencadear em problemas de saúde mental. Podemos perceber também que não existe uma grande pressão hierárquica, nem familiar dos pacientes, para cerca de doze/treze profissionais dos dezoito entrevistados, no contexto da cidade de Lisboa.  Foi possível perceber também, que falta um programa de atendimento psicossocial para ajudar esses profissionais de saúde, que lidam com problemas alheios e vivem um desafio constante para manterem-se em equilíbrio mental e fornecer segurança aos seus pacientes. A falta de um programa de atendimento a esses profissionais pode trazer a impressão de que não existe um reconhecimento dos esforços empenhados, como mencionado por alguns.

Análise das respostas da entrevista à profissionais de saúde mental em Portugal
O objetivo das entrevistas é compreender como os profissionais de saúde mental, de forma geral, sentem-se em relação ao trabalho desempenhado em meio a pandemia do coronavírus, bem como entender os problemas relatados pelos pacientes que eles prestam atendimento.
Devido ao problema do coronavírus – que gerou uma demanda maior de requisição aos profissionais de saúde para atendimento nos hospitais, e consequentemente a disponibilidade de horário para concessão das entrevistas – enviamos as perguntas das entrevistas, conforme nos foi solicitado pelos profissionais, via google forms, a fim de facilitar o seu preenchimento, de acordo com o tempo disponível de cada profissional.
As entrevistas foram realizadas do dia 2 a 7 de maio de 2020, com seis profissionais de saúde mental que trabalham na região metropolitana de Lisboa. A média de horas trabalhadas por esses profissionais variam de 4 a 12 horas diárias. Quatro (66,7%) desses profissionais têm atendido pessoas com problemas relacionados ao confinamento social causados pelos pandemia de COVID-19. Nesses atendimentos, os profissionais relataram que os seus pacientes queixaram-se desde problemas como tosse; febre; medo de isolamento dos seus, caso fosse internado; ansiedade; depressão; bem como medo de não poderem deslocar-se ao hospital porque os familiares não deixam. Desses problemas, os que mais causam preocupação e ansiedade nos pacientes atendidos são as consequências financeiras da suspensão das atividades produtivas; a possibilidade de contrair o coronavírus; o fim da interação social como é conhecido; bem como o medo de perder algum familiar por COVID-19.
Nesses atendimentos, quando questionados sobre como os pacientes têm lidado com o confinamento associados às obrigações laborais (teletrabalho), atividades domésticas e cuidados com a família, as reações têm sido negativas. Foram relatados diversos problemas, desde ansiedade, dificuldades, sentimento de incapacidade, impotência até mesmo desânimo marcado. Dois profissionais de saúde mental também relataram que atenderam pacientes com COVID-19 e que eles lidam com a situação com grande revolta, preocupação e medo.
Nenhum dos profissionais entrevistados receberam algum tipo de atendimento psicossocial nesse período de enfrentamento da pandemia, no entanto, todos relacionaram sentimentos positivos quanto aos resultados do trabalho desempenhado enquanto profissional de saúde.
Podemos concluir que, para além dos problemas já tratados normalmente pelos profissionais de saúde mental em seus pacientes, a pandemia do Covid-19 trouxe outras queixas relacionadas ao bem estar, como preocupações, medos e ansiedades. É possível perceber que falta um programa de atendimento psicossocial para ajudar esses profissionais de saúde, que lidam com problemas alheios e vivem um desafio constante para manterem-se em equilíbrio mental e fornecer segurança aos seus pacientes. A falta de um programa de atendimento a esses profissionais pode trazer a impressão de que não existe um reconhecimento dos esforços empenhados, como mencionado por alguns.