Análise Cultural: Identidades – Das Olimpíadas ao Tricot. (Gomes, 2021) #case

// Análise Cultural: Identidades – Das Olimpíadas ao Tricot.
10-08-2021, Nelson Pinheiro Gomes.

                                                                                                                        Imagem de Gareth  Ziyambi, Instagram

Tom Daley não só é um medalhista olímpico, como tem sido também uma influente figura pública, inclusive para a comunidade LGBTQI+. Depois de ganhar a medalha de ouro nos saltos de plataforma 10m sincronizados nestas olimpíadas, aparece novamente nas notícias e diferentes vídeos pela sua prática de tricotar, um hábito que ganhou durante o período da pandemia como forma de descontrair. Depois de ter sido visto nas bancadas durante outros eventos a tricotar, mostrou esta quinta-feira um vídeo do seu novo cardigan olímpico, com uma imagética da Team GB. O próprio movimento olímpico sublinhou a questão.

Leitura Semiótica – Existem aqui vários signos em ação nas diferentes peças associadas à questão, dos discursos de vitória como um complexo campo de discurso signico até todo um percurso de produção de imagens como figura pública. Neste caso, a nossa leitura conotativa aborda especificamente as imagens associadas à prática de tricot. Aqui, o significado conotativo associado a esta prática passa a estar ligado a todo um conjunto de arquétipos normalmente ligados às conceções de masculinidade de atletas olímpicos. É um processo de ressignificação que perde certas componentes denotativas mais literais e outras conotativas mais estabelecidas para estar associado a novas narrativas de virilidade, masculinidade e capacitação.

Leitura do ADN Cool – O que nos interessa analisar neste sinal são as práticas significantes em ação durante os jogos olímpicos. O sinal chama a atenção para um conjunto de discursos que inspiram e que instigam a uma nova visão. Não só coloca em discussão a natureza do atleta olímpico como os próprios conceitos identitários de masculinidade. Há uma articulação da figura pública, um influenciador com uma posição ativa no que diz respeito à inclusão das diferentes sexualidades e papéis da masculinidade, com práticas (o tricot) que não são concebidas dentro do mainstream mas que clamam pela fluidez das estruturas mentais e das categorias de género. Isto, no que diz respeito às práticas associadas, numa mudança de significados, potenciada pelos próprios signos de vitória.

Estilos de Vida e Tribos Urbanos – A prática de crochet e de tricot tem gerado vários grupos masculinos que se dedicam aos mesmos, como espaços de discussão e de partilha. Este sinal integra-se no movimento.

Inovação e Fórmula Cultural – É mais um sinal da disrupção da ortodoxia cultural que aponta para mentalidades emergentes. A fórmula aqui em ação utiliza um mosaico de imagens e vídeos que mostram uma boa forma física, poder sobre a prática física, e práticas fora da ortodoxia, como o tricot. Para além da componente de atração, esta composição da comunicação do atleta permite um jogo de associações entre os diferentes objetos, onde os seus significantes são misturados e geram-se novas ligações – o tricot passa a estar associado a significados de ação física, masculinidade, vitória e poder.

Insights Estratégicos – As figuras públicas possuem um importante papel na normalização de práticas e de apoio às suas comunidades. Importa considerar a crescente fluidez identitária. Por outro lado, queremos modelos que nos inspirem e para isso é preciso ter algo diferente para mostrar, com potencial impacto positivo.

Tendências Socioculturais – há aqui uma ligação com duas macro tendências. A primeira, Narrativas Ancoradas, manifesta-se pelo peso simbólico das práticas em questão, mas também pela criação de novas linguagens sociais e associações. A segunda, as Identidades Protagonistas, sublinha a construção identitária que parte dos indivíduos e que inspira outros, sublinhando também a importância crescente das tribos cool que inspiram e moldam perceções.

 

Processo de análise:
Gomes, Nelson P. e William A. Cantú (2021). “Cultural Mediations Between Branding and Lifestyles: A Case Study Based Model for the Articulation of Cultural Strategies and Urban Tribes” in R. Goonetilleke et al. (eds.) Advances in Physical, Social & Occupational Ergonomics. Switzerland: Springer.

Outras referências a considerar
Gomes, N.P., C.A. Lopes, W.A. Cantú, G. Prado (2021). “Análise Estratégica de Tendências Socioculturais: uma triangulação de métodos científicos” in DAT Journal, v.6, nº1, 213-228.
Holt, D., Cameron, D. (2010): Cultural Strategy – Using Innovative Ideologies to Build Breakthrough Brands. Oxford: Oxford Press.
Dragt, E. (2018). How to Research Trends: Workbook. BIS Publishers, Amsterdam.
Rohde, C. (2011). “Serious Trendwatching”. Fontys University of Applied Sciences and Science of the Time, Tilburg.
Barthes, R. (1986). Elements of Semiology. Hill and Wand, New York.
Barthes, R.(1991). Mythologies. Noonday, New York.
Cova,B., Cova,V.(2002). “Tribal Marketing: The tribalization of society and its impact on the conduct of marketing” in Eur. J. Mark., 36(5/6), 595–620.

 

BACK TO HOME PAGE                           BACK TO CONTENTS          

.