Análise Cultural: Vinil, das lojas ao sofá da sua casa. (Freitas, 2022) #case

// Análise Cultural: Vinil, das lojas ao sofá da sua casa.
14-02-2022, Yasmin Ferreira Freitas
 (analista convidada/estudante de licenciatura).

Imagem de Vinyl, me please, Instagram

Vinyl, me please não é apenas mais uma loja de discos, mas um serviço personalizado para os amantes do vinil. A re-emergência do vinil já é algo com longos anos, mas com “o retorno” dos discos para as prateleiras, o Vinyl, me please trouxe algo novo ao mercado, assumindo-se como um clube de vinil. A filiação no clube é mensal, com um custo de $43, ou até $339 se estivermos a pensar numa associação anual. Os discos de vinil são produzidos pela própria loja que garante a sua alta qualidade e são enviados para a casa do consumidor, consoante o seu perfil musical e o seu tipo de filiação. A empresa Vinyl, me please foi fundada em 2013 por Matt Fielder e Tyler Barstow, sediada nos Estados Unidos, e os seus serviços de entrega englobam outros países.

Leitura Semiótica – Existem vários signos em ação para compor a imagem escolhida. Primeiramente, temos o próprio vinil, ligado à nostalgia – um objeto que fez parte do passado de algumas gerações. O prato, a toalha, o garfo e a faca evocam uma ideia de alimento, de nutrir-se. O caldo e a manteiga sobre o vinil remetem para as panquecas e para um contexto norte-americano. Todos os signos dialogam, criando uma leitura conotativa ligada ao vinil, à alimentação, ao conforto e à nostalgia. A leitura conotativa ultrapassa as leituras denotativas que permitem uma ressignificação do vinil e da forma de consumir música.

Leitura do ADN Cool – Este sinal, relacionado com práticas significantes associadas ao vinil, é instigante e inspirador. É uma revisitação do vinil sem destruir a memória e as práticas que estavam ligadas ao objeto. O sinal dialoga com o repertório simbólico do vinil e traz uma nova perspectiva e um novo tipo de “relacionamento”. O sinal coloca não só em discussão a própria ideia da produção, mas também o seu consumo, articulando conceitos de alimentação e de música não apenas na teoria, mas também na prática ao permitir a entrega do objeto, de acordo com o gosto do membro do clube. A criação de um perfil musical do membro e a possibilidade de entregar o produto no conforto da casa do filiado está em sintonia com práticas crescentes.

Tribos Urbanas e Estilos de Vida – A prática de ouvir e colecionar o vinil gerou diferentes grupos de várias idades que se dedicam ao vinil, participando de espaços de partilha e de certa forma uma “resistência” a outros tipos de formas de consumir música. O vinil desencadeia um conjunto de memórias e de rituais que vão muito além de apenas “clicar” em uma música. Adquirir o vinil, ver a capa, ler o texto de introdução, os títulos, as músicas, ligar a vitrola, ouvi-la chiar, o silêncio e o momento tão esperado de poder ouvir a música são uma experiência única que torna-se uma paixão.

Inovação e Fórmula Cultural – A fórmula aqui é uma composição de imagem que mostra artistas, músicas em formato de vinil e elementos relacionados com práticas de alimentação,  num contexto destacado pelo fundo amarelo claro. O prato branco, o pano quadriculado e os talheres suportam a ideia de uma refeição. O vinil destaca-se pela sua centralidade na imagem e pelo fato de surgir como um “alimento”. Este truque consiste no cérebro reconhecer no início o objeto como uma panqueca, para rapidamente desconstruirmos o objeto como vinil. A composição permite uma rede de associações entre as imagens que geram novas ligações sobre a nostalgia, o consumo do objeto e o próprio vinil.

Insights Estratégicos – A reafirmação e exploração dos conceitos e narrativas em volta do vinil desempenham uma função influente tanto para uma releitura das práticas passadas como para novas práticas. De fato, está aqui em discussão uma revisitação de objetos do passado com novos potenciais para o futuro. O passado não é regulador, mas pode nos induzir uma visão mais completa para as nossas experiências com a música. As nossas práticas e experiências estão constantemente em revisão.

Tendências Socioculturais – As macro tendências associadas são as Narrativas Ancoradas e o Redesenho de Estilos de Vida. Em relação às Narrativas Ancoradas, a revisitação e ressignificação do vinil produz um diálogo entre o passado e a experiência do indivíduo que cria novas narrativas. O Redesenho de Estilos de Vida aparece na alteração do conjunto de práticas ligadas ao vinil. Existe uma grande mudança na forma de adquirir. O vinil era um objeto que se encontrava em feiras de antiguidades, antiquários e em algumas lojas especializadas. A necessidade de sair em busca do objeto torna-se desnecessária, trazendo uma certa facilidade e conforto. Podemos questionar, contudo, se diminui o efeito de  encontrar “um tesouro perdido”.

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Processo de análise:

Gomes, Nelson P. e William A. Cantú (2021). “Cultural Mediations Between Branding and Lifestyles: A Case Study Based Model for the Articulation of Cultural Strategies and Urban Tribes” in R. Goonetilleke et al. (eds.) Advances in Physical, Social & Occupational Ergonomics. Switzerland: Springer.

Outras referências a considerar
Gomes, N.P., C.A. Lopes, W.A. Cantú, G. Prado (2021). “Análise Estratégica de Tendências Socioculturais: uma triangulação de métodos científicos” in DAT Journal, v.6, nº1, 213-228.
Holt, D., Cameron, D. (2010): Cultural Strategy – Using Innovative Ideologies to Build Breakthrough Brands. Oxford: Oxford Press.
Dragt, E. (2018). How to Research Trends: Workbook. BIS Publishers, Amsterdam.
Rohde, C. (2011). “Serious Trendwatching”. Fontys University of Applied Sciences and Science of the Time, Tilburg.
Barthes, R. (1986). Elements of Semiology. Hill and Wand, New York.
Barthes, R.(1991). Mythologies. Noonday, New York.
Cova,B., Cova,V.(2002). “Tribal Marketing: The tribalization of society and its impact on the conduct of marketing” in Eur. J. Mark., 36(5/6), 595–620.

 

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