Mapa de tendências
Macro Tendência
Narrativas Ancoradas
As estórias e os diferentes elementos simbólicos são as bases narrativas para criar processos de identificação, de comunicação, de desconstrução da memória e de imersão nas experiências quotidianas cada vez mais narradas e “gamificadas”.
Micro Tendências Associadas: Fronteiras das Narrativas e do Medo, Realidades “Gamificadas”, Narrativas das Origens, Arquipélagos Urbanos e Digitais, iNostalgia, Linguagens (in)flexíveis
Descrição:
Esta tendência sublinha a importância dos repositórios simbólicos e os processos de construção de narrativas. O seu papel e disseminação são tão grandes, que quase ganha uma dimensão superior às restantes macro tendências.
Num mundo em constante e crescente mudança – cada mais plural, fluido e líquido – estes repositórios atuam como âncoras. Eles permitem uma construção simbólica com base (1) em elementos sólidos das memórias coletivas e (2) numa personalização tanto criativa como mimética. O resultado são construções fluidas – entre o passado e a experiência individual – já não projetadas para o futuro, mas sim para um presente.
Estas estórias e narrativas são criadas com base nas fontes simbólicas e fruto de uma curadoria que procura gerir uma fluidez entre memória e a personalização criativa das estórias. São reciclagens sígnicas num constante processo de revisão dos significados, uma contínua revisitação dos símbolos que se encontram nos espaços físicos e digitais e que geram novas formas de narrar e de envolver os públicos. Isto, considerando uma imersão que ultrapassa as diferentes fronteiras do real e da perceção.
Através de estórias, os diferentes produtores de significado ganham personalidade; as narrativas ganham um maior papel como lazer “gamificado”; os espaços criam narrativas a ser experienciadas; as comunidades geram processos de reconhecimento e identificação que transitam entre o coletivo e a construção individual; criam-se processos de relação entre públicos, artefactos e instituições; o autêntico é debatido e redesenhado/revisitado.
A legitimidade do processo e das narrativas fica emaranhada na fluidez das referências e das camadas das estórias, onde o reconhecimento de autoridade tem um papel cada vez maior.
A crise da liquidez começa também agora a receber as suas maiores críticas, mas a solidez totalitária ainda é uma estrutura longe do coletivo.
Micro Tendências Associadas
Descrição:
O presente tem vindo a ser construído em cima de rápidas e sucessivas rupturas nas narrativas vigentes. A sensação de ameaça foi novamente introduzida pela pandemia de Covid-19, e continua a estar presente com o escalar da violência no leste da Europa, um medo construído com base numa proximidade inesperada dos maiores temores da Humanidade.
É cabal que o medo e a expetativa de risco estejam mais evidentes no dia-a-dia de todos. Nestes momentos de violenta fragmentação, há oportunidades para recriar narrativas e modificar os repositórios simbólicos.
O mundo ficou mudou com estas experiências dos últimos dois anos, à medida que as histórias se fizeram mais comuns e as lutas mais próximas. Isto aproxima a linguagem, as fontes de saber, a partilha de relatos e a empatia por pessoas e culturas de todo o mundo. A crescente distância aumenta esta necessidade e interesse.
Associação a macro tendências:
Narrativas Ancoradas + Redesenho de Estilos de Vida.
Descrição:
O processo de jogo, o escape aos acontecimentos diários, leva a uma intensificação de processo de gamificação. As mecânicas de jogos entram cada vez mais em diferentes domínios e alteram não só as realidades como a ligação entre comunidades e grupos.
O lazer está rapidamente a expandir-se para o domínio digital com marcas a infiltrarem os mundos digitais, concertos no meio de vídeojogos e uma nova perspetiva sobre aventuras digitais. Aliás, há muito a dizer sobre o próprio conceito de jogo. Para muitos, as comunidades tribais digitais, estes mundos complexos já não são apenas jogos, mas a sua principal realidade, aquela a que dedicam as suas paixões e tempo. Isto gera fortes comunidades de estilos de vida com práticas e representações próprias.
Nos supermercados, espaços de restauração, na escola, na praça público, em tudo vemos processos de gamificação e de articulação entre o físico e o digital. As narrativas, comunidades e dinâmicas digitais estão a crescer e têm um grande potencial no contexto do fim da fronteira entre o físico e o digital.
Associação a macro tendências:
Narrativas Ancoradas + Identidades Protagonistas + Ligações Ergonómicas
Descrição:
O orgulho das origens é algo em longo destaque nas últimas décadas. As nossas macro tendências também sublinham isto claramente. Contudo, há mutações nas mentalidades em jogo que opõem um orgulho positivo pelas suas identidades e origens que dão lugar a sentimentos de identificação, de pertença e de comunidade, até ao extremo dos localismos e nacionalismos que, além de diferenciar, também excluem – que deixam o outro de fora e que querem montar fronteiras. Este é mais um elemento que sublinha as fortes polarizações atuais e que leva a diferentes choques nos discursos e nas práticas.
Associação a macro tendências:
Narrativas Ancoradas + Identidades Protagonistas.
Descrição:
A experiência na cidade difere entre os seus habitantes, a partir de uma matriz fortemente relacionada com o acesso ao próprio espaço urbano. No cenário das grandes cidades observamos a formação de novas zonas, dispersas no espaço coletivo mas centrais em termos de referenciais identitários, culturais e da produção de identidades.
Estas ilhas compõem um arquipélago de realidades que entram em contato no convívio quotidiano, provocando encontros de descoberta e tensão entre identidades, práticas, representações e discursos mediados por diversas manifestações socioculturais. Falamos de cidades híbridas como espaços não fixos que possibilitam navegações. Aliás, como a nossa filiação identitária é plural, muitas vezes navegamos pelos diferentes espaços identitários, de realidade em realidade, de narrativa em narrativa, articulando o divergente através da vivência dos espaços.
Estes últimos, para além do ambiente físico, ganham dimensões virtuais a partir de conteúdos digitais interativos que podem ser acedidos em qualquer lugar. O fluxo e a interação globais, físicos e digitais, atingem um novo escopo de possibilidades, ligando pessoas a espaços através da promoção de experiências que agora podem ultrapassar e misturar limites anteriores.
Associação a macro tendências:
Narrativas Ancoradas.
Descrição:
O sentimento de nostalgia, já não enquanto saudade idealizada do passado, promove representações, práticas e artefactos anacrónicos, influenciando comportamentos, espaços e produtos nas dinâmicas atuais. Esta tendência tem ao seu alcance o repertório simbólico e o contexto em que habitam os artefactos e a memória coletiva. Aliás, é uma sólida micro no contexto macro das narrativas e identidades. Muitas vezes, é uma construção idealizada através da memória, da narrativa, ou da construção de outro.
Uma articulação e hibridização entre a nostalgia de algo vivenciado e de algo sonhado, ou assimilado por contacto secundário. Uma convergência de memórias e de imaginários, agora com um novo “storytelling” potenciado pelas redes sociais e capaz de influenciar mitos e visões políticas. Neste mundo em constante mudança, mas também preso a uma perpetuidade consciente de crises que esgotaram o futuro, as memórias fortes e os símbolos mais sólidos são guias, uma segurança, e uma estabilidade que permitem ainda navegar as mutações de identidades e padrões de produção/consumo cultural.
Esta micro tendência vai para além da coisa, sublinhando-se a importância do sentido que, sendo sempre algo individual, parte da estrutura coletiva e não privada – é partilhado, mas também cada vez mais artificial. Valendo-se de referenciais consolidados no imaginário coletivo, o desenho de experiências; de obras audiovisuais; e de outras soluções ao nível de produtos culturais e serviços recorrem à adaptação ou atualização de narrativas já existentes num constante “remake” do repositório simbólico global.
Associação a macro tendências:
Narrativas Ancoradas.
Descrição:
Cada vez mais, importa estar contextualizado nos repositórios simbólicos mais pertinentes do momento. Do digital, ao mundo dos jogos, e à crescente pulverização de comunidades urbanas surgem cada vez mais dialectos com um potencial para separar e/ou juntar indivíduos. Isto obriga a uma fluência cultural cada vez mais plural e capaz de gerar articulações inovadoras entre diferentes ambientes e grupos.
A crescente velocidade de mudança das linguagens, dos objetos e das práticas aliada à crescente mutação e mudança do cool promove uma necessidade de atualizar constantemente as literacias do quotidiano para manter um processo atualizado de codificação e de descodificação dos discursos e da produção cultural. As próprias ferramentas, muitas delas digitais como aplicações, moldam as linguagens. Importa ponderar estratégias à luz deste novo sistema de produção de significados e representações.
Associação a macro tendências:
Narrativas Ancoradas + Identidades Protagonistas.
Macro Tendência
Identidades Protagonistas
A discussão crescente sobre as identidades ao nível da tensão entre categorias coletivas, emergentes e reconhecidas, e a fluidez da construção individual da(s) identidade(s) que articulam os movimentos sociais coletivos e o crescente individualismo desta modernidade.
Micro Tendências Associadas: Empatia(s), Corpos políticos, Polarizações, Tribos Cool, Exponencialmente real
Descrição:
Esta tendência sublinha uma tensão, de grande mudança, entre os protagonismos coletivo e individual. Uma tensão entre dois movimentos distintos: (1) as categorias coletivas em debate e (2) o fim das mesmas numa construção individual. Esta ambiguidade resulta num hibridismo e numa revisão constante do conceito de identidade. Uma porosidade pendular que tanto enaltece as categorias como recusa os rótulos.
Uma tendência que sublinha várias representações e construções identitárias em diálogo permanente e perpétuo, na busca por um resultado final que não existe e cujo futuro imaginado muda a cada momento. A tensão entre protagonismos individuais e coletivos é uma oportunidade de construir um processo de discussão que conta com rupturas, catarses, revisitações e questionamentos.
Assim, a ânsia por representatividade surge pela urgência do auto-identificar, auto-pertencer e auto-expressar para além do que reconhecem as autoridades – órgãos governamentais e a sociedade em geral. A equidade nas relações humanas passa a ser o foco principal. Vivenciamos uma constante revisitação de categorias, que também se tornam alvo de contestações, disputas e resistência: a memória oficial parece não bastar enquanto forma de representação de diferentes grupos que coexistem nos mesmos espaços.
Vemos, então, a atualização de ferramentas socioculturais para a manutenção e valorização de memórias coletivas e matrizes identitárias individuais e comunitárias, acompanhando as transformações dos modos de vida e as possibilidades sociais, económicas e tecnológicas. A procura pelas histórias fundadoras não desaparece, agregando uma proposta de reciclagem do olhar sobre o passado que permita a inclusão de matrizes identitárias não hegemónicas enquanto voz ativa; e do peso de novas dinâmicas híbridas e grupais muitas vezes baseadas na partilha de determinadas representações, artefactos e práticas de consumo.
Em simultâneo, verificamos que as denominações e formas de expressões identitárias atuais, e mais tradicionais, não são suficientes na demanda por uma auto-expressão que com o passar dos tempos se tornou mais plural do que nunca. Atualmente, vivemos a expansão de categorias identitárias, uma construção que surge de dentro de cada um para fora e para o visível. A memória é desafiada pelas vozes que surgem de dentro e pela liquidez na construção das arquiteturas identitárias individuais e grupais. Uma construção de identidades protagonistas sem fronteiras e sem restrições.
Micro Tendências Associadas
Descrição:
Por um lado, vemos um processo rápido de reversão da tolerância e de falta de empatia pelo outro que é diferente. Promovido por alguns discursos políticos, artigos de opinião, e pelas dinâmicas das redes sociais, há um sentimento geral de exclusão dos sentimentos, perceções e vivências do outro. O tom jocoso muitas vezes mascara o ataque, a crítica, a desconsideração. São movimentos de reação a discursos liberais das últimas décadas.
Não obstante, esta é mais uma tendência de extremos, pois também temos a empatia positiva das identidades num apoio à revisão das estruturas de poder/políticas e uma maior consideração, presença e discussão das diferentes vozes. Neste momento, a polarização leva a um choque violento entre as duas visões. Sendo difícil prever a evolução futura, este é claramente um momento de reacionarismo por um lado e de resistência(s) por outro. Afinal, muitos não acompanharam as mudanças, que agora estão visíveis no mainstream e causam estranhamento e rejeição, gerando um apego ao conservadorismo para se proteger desse novo mundo desconhecido.
Associação a macro tendências:
Identidades Protagonistas
Descrição:
Num contexto de falta de equidade na representatividade e de confiança nas autoridades e nos media, somos nós corpos políticos, os principais agentes ativos de transformação. Surge assim um movimento de grupos que procuram, de forma coletiva e individual, tomar as rédeas e promover políticas, transformando os sistemas atuais e enfrentando medos e reações adversas das classes dominantes.
A expressão destes corpos políticos é múltipla e já não é uma questão física e material. Ela está latente nos discursos e na rotina online. É uma política orientada não só para ideias, mas também para identidades, sublinhando a reivindicação da existência comum, do direito ao quotidiano e a fruição do que já foi conquistado. É também a liberdade estética dos corpos livres nas suas diferentes expressões.
Associação a macro tendências:
Identidades Protagonistas
Descrição:
Vivemos num mundo polarizado, gerado pelas diferentes perspetivas sobre política, economia, identidades, comunidade, pertença, práticas e crenças. A polarização é uma contra força em relação à pulverização de narrativas, de identidades e de perfis, gerando novos tipos de públicos: polarizados. A polarização vem de fora (do coletivo) para dentro (para o indivíduo) como a negação de algo. Não há meio termo nem lugar para os que não estão nos polos. Sublinhe-se a necessidade de escolher um lado claro, uma escolha imposta. Podemos ser “cancelados” de acordo com o lado escolhido.
A desinformação, a falta de informação, a iniquidade, e o acesso fácil – muitas vezes anónimo ou impessoal – a plataformas sociais para a partilha de opiniões promovem esta violência que se ancora no antagonismo em relação ao outro. Recentemente, vemos que os extremos das polarizações encontram-se entre si. A questão das identidades desperta questões que tocam a polarização e a intolerância, ao passo que também desperta questionamentos progressistas. Curiosamente, esse pensamento questionador e progressista também encontra eco, paradoxalmente, no discurso conservador.
Associação a macro tendências:
Identidades Protagonistas
Descrição:
No seio desta liquidez identitária de uma perene, mas agora em destaque, tensão entre uma matriz individual e comunitária, sai reforçada a discussão sobre a construção de estilos de vida associados aos interesses e traços identitários de cada um. Tal como nas décadas anteriores, eu pertenço a grupos e contruo um estilo de vida, mas a forma como navego nos mesmos é cada vez mais líquida. Eu desenvolvo a minha interpretação das dinâmicas, representações, práticas e artefactos por trás de cada grupo e escolho aqueles que fazem sentido para mim, numa negociação constante com o grupo e com a minha própria voz.
A minha identidade é um mosaico de associações, num guião que escrevo a cada dia, e com isto acabo por contribuir para a reinvenção dos próprios grupos a que pertenço nas diferentes realidades. Aliás, tentando acompanhar as diferentes possibilidades sociais, económicas e tecnológicas, sublinha-se esta tensão entre o coletivo e individual individualismo expressa nos corpos e ultrapassando a fisicalidade: vemos uma crescente pluralidade de avatars e identidades digitais que sublinham os diferentes papéis, interesses, necessidades e associações: a tribalização do digital.
Associação a macro tendências:
Identidades Protagonistas + Ligações Ergonómicas
Descrição:
Num mundo onde existe um excesso de produção de conteúdo e cada vez mais ferramentas e técnicas de manipulação, o consumidor quer identificar-se com narrativas originais que permitam (i) um processo de identificação; (ii) um processo de descoberta e/ou resolução de problema numa dinâmica quase “gamificada”; (iii) o desenvolvimento de competências e de ideias; (iv) um entretenimento imersivo e por vezes interativo. É verdadeiramente um “reality show”, onde rotinas são expostas, promovidas, validadas e/ou vendidas. Sim, de certa forma, os estilos de vida “estão à venda”. Isto obriga as marcas, os influenciadores e a população em geral a um escrutínio crescente – muitas vezes até uma perseguição para encontrar falhas e denunciar. Isto numa perspetiva de grande visibilidade e escrutínio público-privado, podendo homologar indivíduos, personagens, produtos e marcas, entre outros. Estas necessidades e a capacidade de escrutínio obrigam a um excesso na procura pela originalidade e sugerem a necessidade de uma transparência total.
Estamos perante uma fusão e vulnerabilidade entre o físico e o digital (a queda das fronteiras), entre o próprio e o público, pelo que estas identidades protagonistas devem estar acessíveis em todos os momentos e aspetos do quotidiano, permitindo uma imersão total que cria uma tensão no conceito de real e que gera uma exposição num contexto promovido de anti-privacidade consentida. Aliás, a pandemia veio sublinhar ainda mais o fim da divisão entre espaços/momentos privados e públicos, exigindo uma hipérbole do visível em binómios como online-offline, em direto-diferido, físico-digital, ou até entre trabalho-escola-lazer, entre outros. Tudo isto resulta na necessidade de ir a novos níveis para estabelecer relações de afinidade e isso passa também por abrir portas ao nosso quotidiano, ou a formas de produção e logística, numa imersão na vida do outro que influencia grandes grupos.
Associação a macro tendências:
Narrativas Ancoradas + Identidades Protagonistas + Ligações Ergonómicas
Macro Tendência
Ligações Ergonómicas
Cada vez mais, o foco está nas articulações entre utilizador, “gadget” e potencialidades de controlo/ação, bem como no fim das fronteiras entre as realidades física e digital, que sugerem uma promessa de hibridismo em construção.
Micro Tendências Associadas: A pressão do agora, Detox digital, Digitalização dos estilos de vida, Pressão da curadoria perpétua,
Descrição:
Articulações e realidades estão a tornar-se as duas palavras-chave que estão a mudar um largo número de dinâmicas. O desenvolvimento tecnológico aposta em articular funcionalidades para os diferentes estilos de vida dos consumidores e utilizadores. Do trabalho híbrido às aulas online, são várias as manifestações que procuram uma maior articulação entre escola, trabalho, família, lazer, e outros momentos da nossa vida.
Os diferentes dispositivos promovem uma convergência entre funcionalidades, fisicalidades e estilos de vida, sublinhando a internet das coisas, muitas vezes com uma faceta de entretenimento ou até de “gamificação”. Assim, é cada vez mais clara a articulação entre estilos de vida, acesso facilitado/total e dispositivos que servem como extensão do corpo humano, sugerindo até uma naturalização do processo e o fim das fronteiras entre soluções das realidades física e digital.
O fim destas fronteiras altera a forma como trabalhamos, como desfrutamos do lazer, como comunicamos e como vemos a própria realidade.
As nossas realidades e identidades digitais tornam-se tão importantes, ou mais, do que as físicas: são o espaço de dinâmicas comunitárias, de acesso, de promover a voz, de criar e de ser noutro contexto. Um acesso desenhado para as necessidades e desejos de cada indivíduo e de cada comunidade ao nível dos diferentes espaços e momentos do quotidiano. Aliás, transferimos muitas atividades que antes só fariam sentido, ou considerávamos viáveis, no físico para o digital.
Micro Tendências Associadas
Descrição:
Com diferentes aplicações queremos acesso a produtos que chegam à porta de casa o mais rapidamente possível – da comida a jogos de computador, incluindo também vestuário, livros, tecnologia, entre outros. Tudo isto sem falar no acesso à informação e às pessoas. Contudo, há discussões sobre a sustentabilidade deste sistema, a cadeia por trás dele e o impacto que recentes eventos internacionais estão a ter na capacidade de responder a este interesse.
Associação a macro tendências:
Ligações Ergonómicas + Redesenho de Estilos de Vida.
Descrição:
Surge, cada vez mais, a consciência de que há um uso excessivo do domínio virtual e de dispositivos tecnológicos. O que, consequentemente, se traduz numa decadência da privacidade, devido à grande artilha de informação na internet e nas respetivas redes sociais, incluindo cedência de dados, etc. Porém, estar-se ciente da atenção dada ao domínio tecnológico fomenta comportamentos associados à fuga do virtual.
Muitas vezes, esse desejo apoia-se no uso de dispositivos que são fruto do próprio avanço tecnológico. É um paradoxo. Usam-se serviços e produtos criados pelo próprio desenvolvimento da tecnologia, com o objetivo de travar o uso excessivo de dispositivos criados por esse mesmo desenvolvimento tecnológico. Também vemos um controlo das movimentações via telemóvel, o reconhecimento facial, a medição de temperatura como bilhete de acesso a espaços públicos e privados e a partilha de dados de saúde no geral.
Tudo é ampliado numa epidemia de repercussão mundial que tende a modificar as noções de privacidade, de civilidade e de liberdade. Tem lugar um processo de ação e reação: O excesso de informação, a aceleração do tempo, o aumento da pressão, a redução das fronteiras, a polarização, e este controlo, entre outros fatores, geram a necessidade de uma “desconexão” e do cuidado com o corpo e a mente. Mas num mundo onde tudo é controlado, revisto e criticado; onde o dito e o não dito são escrutinados; e onde a falta de privacidade impera cada vez mais, importa problematizar a ideia de uma observação/escrutínio, a vigilância consentida.
Associação a macro tendências:
Ligações Ergonómicas + Redesenho de Estilos de Vida.
Descrição:
A ideia de que agora “tudo”, ou quase, pode ser vivido no digital coloca ainda mais em discussão a premissa de um uso excessivo da tecnologia, gadgets e do digital como um todo.
A ideia de que o digital é negativo não impede em simultâneo uma migração e apropriação digital. Com a massificação do conceito de metaverso, agora “tudo é possível” neste espaço: jogos, concertos, entrevistas de trabalho, postos de trabalho, encontros amorosos, dinâmicas sociais, aulas, entre outros.
Não obstante, o metaverso é uma conceção e uma promessa, ainda não é algo concreto. Essa promessa é a chave de algo que passa pela desmaterialização e que abre a porta para realidades híbridas que fazem mais sentido em várias esferas, do trabalho ao lazer. Isto gera todo um conjunto de processos de digitalização de objetos do mundo físico para a realidade digital, como os concertos digitais e lojas de marcas conhecidas que emergem videojogos, o desenvolvimento da moda digital, o imobiliário digital, os casamentos ou as salas de aula no metaverso.
Para além disto, ainda há muito potencial no próprio cruzamento entre o espaço físico e digital como o Pokemon Go sublinhou e outros têm vindo a trabalhar. Não obstante, para além de questões de privacidade e controlo dos dados, há também que ter em conta como estes espaços e dinâmicas podem ser usadas para gerar mais polarização e efeitos sociais negativos.
Associação a macro tendências:
Ligações Ergonómicas + Redesenho de Estilos de Vida.
Descrição:
O acesso a objetos, espaços e momentos de lazer – músicas, filmes, séries, entre outros – procura uma curadoria à medida que tenta encontrar as expressões, no momento, de desejo dos públicos. Os “influenciadores” são uma das faces desta pressão de uma curadoria que passa de uma autoridade com credenciais para uma autoridade com reconhecimento popular, e onde o conteúdo é rei. Com a pandemia, vemos uma crescente necessidade de acompanhar tudo digitalmente, o que gera um mundo permanente de “reality show/tv” sobre qualquer aspeto quotidiano em direto e que requer uma longa discussão sobre a curadoria de conteúdos.
Associação a macro tendências:
Ligações Ergonómicas.
Macro Tendência
Sistemas Sustentáveis
Da ideia de sustentabilidade ainda influenciada por ideias pré-2012, passamos para uma sustentabilidade regenerativa que devolve ao meio e sublinha não só o papel individual de cada um, como também das comunidades, dos governos, empresas e demais instituições.
Micro Tendências Associadas: Cooperação regenerativa, Organismos colaborativos urbanos,
Descrição:
A preocupação com a sustentabilidade surge a partir da constatação da finitude dos recursos naturais, o desperdício descontrolado, o consumismo e outros fatores que atuam como causas da degradação do meio ambiente. Estas questões são paradigmáticas do momento e o próprio contexto de pandemia levantou questões sobre os resultados do confinamento e do desconfinamento.
Contudo, em destaque surge também o debate sobre a sustentabilidade do sistema socioeconómico. Este contexto colocou sobre a mesa os problemas críticos sobre a forma de trabalhar, de estudar e de fruir, pelo que surge um sentimento coletivo de urgência. Esta tendência pode ser observada em padrões ao nível do comportamento individual, na elaboração de legislação, na gestão, no design, na moda, nos diversos setores.
Procuram-se inovações e soluções que permitam uma maior colaboração para que seja possível encontrar soluções sustentáveis para o desenho societal atual e para o modelo que conhecemos. Aqui os agentes são indivíduos, organizações e empresas que estão a adotar atitudes sustentáveis. Nas suas diversas naturezas, da ecológica à socioeconómica, não se trata de uma tendência grupal, mas sim de uma mudança de paradigma antes restrito a certos grupos e hoje amplamente debatido.
A sustentabilidade é uma pauta central. Com mais informação a circular, vemos uma crescente mutação nas atitudes e nos comportamentos. Mas a sustentabilidade não se restringe apenas a uma mudança na forma de produção e de consumo, visto que há lugares que trabalham a questão, promovendo uma nova maneira de as pessoas se relacionarem com o contexto atual e com o ambiente.
Essas novas relações de interdependência demonstram uma ineficácia de muitas políticas para o impacto zero. Isto estimula tanto indivíduos como organizações a encontrarem soluções em relação ao impacto positivo e recuperação do meio ambiente.
Este é o ponto mais importante e atual da tendência: já não basta reduzir o impacto após o final do ato de consumo ou durante o processo de produção, a mentalidade emergente por trás da sustentabilidade propõe agora atividades e estratégias para reverter o impacto negativo já causado e começar a contribuir de forma ativa e positiva para (i) a recuperação do meio ambiente, numa lógica inversa à da simples contenção dos danos diariamente causados; (ii) a sustentabilidade dos sistemas/estruturas sociais e dos modos de vida; (iii) novas formas de produção com impacto positivo, onde a própria ideia de reaproveitamento pode despertar a atenção, o interesse e a discussão entre grupos e gerações.
Micro Tendências Associadas
Descrição:
A crise ambiental e os desafios económicos e sociais no contexto pós-covid ganharam ainda mais relevância a nível pragmático e nas perceções coletivas. As desigualdades entre ricos e pobres intensificaram-se, os traumas psicológicos da pandemia mostram os seus efeitos tangíveis e a inflação complica as condições de vida numa escala global. A insatisfação e a ansiedade são percebidas a vários níveis sociais, incluindo as empresas, levadas a reduzir o seu impacto ambiental e cada vez mais focadas em atores e recursos.
As grandes cidades, onde a poluição e ritmos de vida frenéticos são o padrão, são os locais onde as ansiedades do nosso tempo impactam, com mais força, práticas e mentalidades. Com níveis de confiança nas instituições a valores historicamente baixos, indivíduos e grupos procuram cada vez mais encontrar soluções autonomamente, em sentido colaborativo.
Assiste-se ao crescimento do fenómeno do coworking, resiliente no contexto da pandemia e promovido cada vez mais por diversas instituições. São locais reunidos em torno de um sentido comunitário, em que a hibridização e a troca entre setores empreendedores e artísticos são o padrão mais evidente.
Eles constroem com o local e contribuem para a mudança e regeneração das áreas em que estão inseridos, espalhando o germe colaborativo. São lugares que proporcionam aprendizagem formal e informal, característica evidente no crescente número de iniciativas de colaboração híbrida no campo universitário. Unidos por uma filosofia ecocêntrica, os atores destas últimas podem mostrar o caminho para o hibridismo entre empreendedorismo, ciência e arte/design. O trabalho colaborativo confere força aos projetos e infunde confiança nos indivíduos perante a incerteza do tempo presente.
Macro Tendências Associadas: Sistemas Sustentáveis.
Descrição:
Comunidades com identidades, representações, práticas e conhecimentos/técnicas específicas juntam-se cada vez mais para produzir, encontrar soluções criativas para os problemas mais presentes e juntar esforços. A dificuldade em transformar “o saber fazer” num meio de sustento e a necessidade, em certos casos, de exercícios criativos leva ao surgimento, e amadurecimento, de grupos enquanto comunidades para suprimir essa(s) necessidade(s) como estruturas cooperativas que geram um fortalecimento do ecossistema produtivo, local e criativo. Por norma, são criados espaços que permitem a colaboração, a multidisciplinaridade, a partilha e a criação numa óptica de crescente democratização dos sistemas de criação conjunta. Eles abordam instrumentos e tecnologias facilitadoras para uma produção com alto valor simbólico e de design onde a impressão de traços identitários e de estórias é muito importante. Não obstante, recorrentemente, recuperam patrimónios tanto simbólicos como de práticas, ancorados em tradições – aqui, fica clara uma relação com a nostalgia, com práticas de produção manuais, como uma passagem quase “hereditária” de conhecimentos. Por um lado, é contraposto à aceleração do mundo que permite uma valorização do local, um sentimento de fazer parte do processo e uma nova forma de compreender a sustentabilidade dos sistemas e da relação produção-consumo; sublinhe-se a procura e o interesse na impressão de identidades e na troca entre os diferentes grupos e comunidades dos espaços. São espaços que marcam a cidade, são comunidades que constroem com o local. Comunidades com uma certa autogestão política e uma autossuficiência e independência, inclusive nos seus próprios códigos de comportamento. No fundo, estamos a falar de organismos dinâmicos que traduzem mentalidades e necessidades emergentes com um propósito positivo. Eles querem provocar uma consciência e participação ativa e cidadã, muitas vezes com uma leitura crítica e criativa das questões do mundo para encontrar por soluções concretas para os problemas encontrados. Não são realidade novas, especialmente fora das grandes cidades. Mas nos principais centros urbanos há uma crescente consciência da finitude dos recursos que atua como motivação e, cada vez mais, há uma visibilidade e exposição destas comunidades. A sua crescente transformação no seio das macro tendências e a ressignificação das práticas coloca estes movimentos noutro patamar, potenciado inclusive por cultura colaborativa assente tanto no património como na tecnologia e no digital. É mais um sinal do sonho do mundo colaborativo.
A visualização mista do físico e do digital no espaço também está também a alterar a mesma como espaço de lazer e atividades. Importa reforçar que esta tendência está relacionada com transformações no trabalho e na educação. Isto levará à diminuição de fluxos nos grandes centros, ao aumento do nomadismo digital, diminuição do trânsito, ofertas de trabalho e de estudo a nível global. Isto está a levar até ao fim de certos espaços comerciais e empresariais e a uma nova visão sobre espaços digitais profissionais.
Macro Tendências Relacionadas:
Redesenho de Estilos de Vida + Ligações Ergonómicas.
Macro Tendência
Redesenho dos Estilos de Vida
Esta tendência sublinha as mudanças nas práticas, mentalidades e comportamentos que estão a surgir nos coletivos fruto das diferentes crises que assolam a Europa nos últimos anos (pandemia, guerra, inflação, energia, efeitos das alterações climáticas, entre outras).
Micro Tendências Associadas: Frugal e Indulgente, Viver a casa, O Futuro está cansado
Descrição:
Esta é uma macro tendência profundamente afetada pela pandemia, pelas guerras, pela fome, pelas desigualdades, pelas alterações climáticas, entre outras crises como a inflação. Este é ainda um processo de mudanças visíveis que, para alguns, sugere até uma desaceleração da globalização. Perante o contexto dos últimos meses, todo um conjunto de práticas foram alteradas desde a forma de trabalhar, de estudar, de viver em família, já para não falar na questão do lazer.
Existe uma grande mudança nas relações, um medo de abrir o espaço privado, e isto teve resultados rápidos que ainda não compreendemos na totalidade. O controlo, a organização e a disciplina pessoal são formas de lidar com uma falsa sensação de segurança, pois as alterações decorrentes do passado recente e do próprio presente obrigam a uma procura pelo equilíbrio. Assim, está em discussão o trabalho híbrido ou remoto, a construção de soluções de formação híbridas, os momentos em família no metaverso, a alimentação, entre outros.
Para além da fluidez, vemos uma maior emergência do papel do próprio indivíduo como coautor e responsável pelas suas escolhas de estilos de vida, seja pela forma como lida consigo e com o mundo, por exemplo ao tomar consciência das suas práticas ambientais.
O olhar para dentro trouxe muitas questões sobre o papel dos indivíduos perante o mundo, mas também trouxe um holofote sobre como lidamos com o nosso bem-estar mental, o exercício físico e o corpo, com o papel do trabalho na nossa vida, como lidamos com o planeta e todos os papéis que representamos como indivíduos dentro da coletividade social. A flexibilidade e a transparência são palavras em alta diante de um sistema social em rápido movimento, e perante um mercado de trabalho com uma rotatividade sem precedentes e que tem de criar formas de se manter atrativo. A pandemia foi um momento para reavaliar valores e prioridades e um gatilho para uma alteração ainda maior nas mentalidades.
A grande mudança prende-se com os sentimentos negativos que surgem com o fim de uma crise para se entrar logo de seguida em novas. Se a questão da saúde mental já era uma pauta muito discutida, a situação só piorou.
Neste contexto, perdemos a esperança no(s) futuro(s) e nos cenários que nos apresentam, fruto do trauma de tantas crises seguidas. Já não é apenas uma questão de promoção da distopia, mas um abalo muito forte na prospeção positiva por um futuro melhor. Isto é cada vez mais substituído por tentar viver cada dia o melhor possível, pois as perspetivas comunicadas sobre o futuro são desoladoras.
O olhar e o foco agora estão no presente, quase promovendo uma negação do porvir num sentimento pré e pós-apocalíptico – um limbo. O processo deste próprio limbo, o fim da certeza, do mundo conhecido, vai afetar a tendências nos próximos meses e sublinhar um sentimento de “purgatório”.
Assim, esta macrotendência é marcada por uma dualidade baseada no contraste entre o “novo” e o “retorno”.
A reconstrução de um mundo melhor e mais justo parece, agora, mais uma utopia e sonho coletivo que rapidamente vai caindo no esquecimento. Vivemos em tempos em que não há mais uma fronteira nítida entre o possível e o inimaginável.