1 // A Natureza do Cool, um desafio académico.
02-05-2020, a Equipa do Laboratório.

O conceito de Cool tem uma grande importância nos Estudos de Tendências entendidos como uma abordagem de análise cultural. Infelizmente, a expressão possui uma bagagem cultural com significados que dificultam a sua operacionalização e o próprio uso dentro de um discurso científico. Visto muitas vezes como um conceito superficial, e com “pouca dignidade”, esta percepção só dificulta o exigente trabalho de investigação e de desenvolvimento conceptual que a nossa área, e abordagem, obriga.
Não obstante, a operacionalização deste conceito é fundamental para a categorização de sinais emergentes de mudança no tecido sociocultural, capazes de indicar mutações nas mentalidades. Isto obrigou a um trabalho de reflexão por parte da equipa do nosso laboratório para chegar a uma definição capaz de potenciar a investigação na prática de coolhunting e na análise de sinais em geral. No dia 27 de Abril, Nelson Pinheiro, Suzana Cohen, Ana Marta Flores, Suzana Leonardi, William Cantú, Sarita Oliveira, Illa Branco e Clarissa Lopes discutiram as várias faces, abordagens, características e articulações do conceito de Cool. Para o efeito, os investigadores tiveram em consideração as múltiplas fontes [1] que trabalharam o conceito no passado e procuraram um novo entendimento que seja capaz de definir o mesmo com exatidão e sublinhar a complexidade do mesmo no momento analítico e de categorização de objetos culturais. Foram tidas em consideração seis características-chave: Características-chave: relevante; viral; atual; irreverente; instigante; descontinuidade.
Assim, o cool é uma qualidade, um conjunto de características que são impressas em objectos, de artefactos a representações e gestos. Dentro da complexidade deste conceito, sublinhamos seis características. O Cool é relevante, ele faz sentido no seu momento e está em sintonia com mentalidades emergentes e com os desafios do momento com um potencial para marcar e ter impacto através de diferentes associações abstractas e sentimentais. Ele é viral e isto é uma das suas principais características, pois ele está associado ao contágio e à promessa de sucesso de propagação das ideias que representa, saltando de objeto em objeto. O Cool é atual, no sentido em que endereça questões prementes, mas também irreverente, pois apesar de ter em si um germe provocador e atrevido, a sua aparência de novidade e muitas vezes de vanguardismo pode se articular, em alguns casos, com uma atitude de rebeldia, de não-conformidade ou até de resistência. Por fim, Por ter em seu ADN a sedução e o apelo à atenção, o Cool é instigante e contém em si uma proposta de descontinuidade, podendo em alguns casos representar uma ruptura dos padrões vigentes.

[1] Fontes a considerar:
DINERSTEIN, J. The origins of cool in postwar America. University of Chicago Press, 2017.
GLADWELL, Malcolm. “The coolhunt: who decides what’s cool? Certain kids in certain places–and only the coolhunters know who they are”. The New Yorker, 1997.
GLOOR, Peter; COOPER, Scott. Coolhunting: chasing down the next big thing. New York: Amacon, 2007.
GLOOR, Peter; KRAUSS, Jonas S.; NANN, Stefan. “Coolfarming – How Cool People Create Cool Trends”. Boston: MIT Center for Collective Intelligence & Galaxyadvisors, 2009.
HEATH, J.; Potter, A. (2005). The Rebel Sell: Why Culture Can’t be Jammed. Toronto: Harper Perennial.
LIU, A. The laws of cool. Knowledge Work and the Culture of Information. University of Chicago Press, 2004.
MOSIELSKI, J. M. T. (2012). Coolhunting: Evaluating the Capacity for Agency and Resistance in the Consumption of Mass Produced Culturally-Relevant Goods. Carleton University.
NOAH, Kerner e Gene Pressman. Marcas Cool – como criar produtos que se destacam e modas que permanecem. Tradução de José Nogueira. Lua de Papel, 2008
ROHDE, Carl. “Serious Trendwatching”. Fontys University of Applied Sciences and Science of the Time, 2011.

 

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